Lava jato + governabilidade = regulação da mídia durante a crise

07/03/2015 às 09:16
Leia nesta página:

Se não for regulada e arejada, a imprensa monopolizada conduzirá nosso país a um novo golpe de estado.

A CF/88 garante a publicidade dos atos administrativos em geral (art. 37) e dos atos judiciários em especial (art. 93, IV). Foi, portanto, correta a divulgação pelo STF da lista dos parlamentares investigados por causa da operação Lava Jato. O segredo e a impunidade são características das Ditaduras e não das Democracias, regime em que todo homem público deve ser responsabilizado pelos seus atos. Numa República todos são iguais perante a mesma Lei e nenhum cargo deve conferir imunidade penal automática a quem quer que seja. Mas há um limite.

O limite é imposto pela própria CF/88: a responsabilidade é individual. Cada qual deve ser responsabilizado apenas pelos seus atos. Ninguém pode ser considerado culpado por atos praticados por terceiros. A participação numa quadrilha nunca é presumida, deve ser comprovada. O mandante de um crime só pode ser penalmente imputado se houver prova inequívoca de que ele encomendou ou ordenou a realização do mesmo.

Quando política e Direito Penal se misturam, porém, as coisas ficam muito nebulosas. Se por um lado a atividade política admite a atribuição de culpa por implicação, proximidade, pertencimento ao mesmo partido ou governo; por outro repugna ao Direito Penal a imposição de condenação sem o devido processo legal, por um Tribunal jornalístico ou popular, a atribuição de culpa por suposição e de pena por vingança ou predileção ideológica ou partidária.

Cabe ao Poder Judiciário julgar crimes eventualmente praticados por aqueles que ocupam cargos eletivos. Caso o político não seja, no curso de seu mandato, condenado em última instância pelo Judiciário ou cassado pelos seus pares, a população somente poderá efetuar um julgamento político/eleitoral na próxima eleição. Por isto, a imprensa deveria agir de maneira responsável. A preservação do regime Democrático impõe aos jornalistas o dever ético de não amplificar uma crise que deve ser resolvida dentro dos limites impostos pela CF/88. Não é isto o que estamos vendo.

A imprensa tenta colar a Lava Jato em Dilma Rousseff de todas as maneiras. Primeiro os jornalistas disseram que ela não deveria ser empossada, depois sugeriram que ela poderia ser Impedida e agora afirmam que Aécio Neves não foi processado como parte de um acordo homologado pelo PGR para livrar a cara da presidenta. Surfando nas notícias, notei hoje que uma nova estratégia está sendo utilizada para ferir mortalmente o governo eleito pelo povo brasileiro. A presença de vários parlamentares da base aliada na lista de suspeitos processados no STF comprometeria a governabilidade.

governabilidade é um mantra inventado pelos políticos desonestos para extorquir algo da presidência e pelos jornalistas para enfraquecer um presidente cuja eleição eles não apoiaram. A uns e outros falta o necessário compromisso com o bem estar público, com a preservação do regime Democrático e com a normalidade constitucional. Uns fomentam tempestades para colher benesses, outros amplificam crises porque querem impor a agenda política dos barões da mídia como se eles e somente eles tivessem o direito de escolher quem deve governar e como.

Dilma Rousseff está sendo fuzilada não porque é culpada, mas porque possibilitou e permitiu que até mesmo seus aliados fossem investigados. FHC não fez isto, quando era presidente o PGR que ele nomeou arquivou a esmagadora maioria das denúncias contra seus Ministros e aliados no Congresso Nacional. E mesmo tendo facilitado o acobertamento dos crimes cometidos pelas quadrilhas que vicejaram à sombra de sua imaculada presidência, FHC segue sendo o paradigma de honestidade para esta imprensa totalmente corrompida pelo desejo de poder e de controle das verbas orçamentárias de propaganda.

A verdadeira governabilidade não depende de um ou de outro deputado ou senador. Deputados e senadores podem ser substituídos por suplentes caso percam seus mandatos. Também não depende da inação do PGR como ocorreu sob o governo FHC, cujos 8 anos de presidência poderiam ser chamados de anos dourados do crime organizado estatal. A única coisa de que depende a governabilidade é a seriedade do governo e sua disposição seguir adiante apesar da famigerada e anti-ética oposição da imprensa. Em nome da governabilidade Dilma Rousseff deveria transformar esta crise numa oportunidade para regular a mídia. Só assim ocorrerá a renovação jornalística de que depende a verdadeira reforma politica no Brasil.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos