Como já se tornou hábito, o presidente norte-americano, Barack Hussein Obama nem esperou dissipar a fumaça dos disparos de San Bernardino (Califórnia, EUA) para bradar seu repetitivo discurso contra o fácil acesso às armas de fogo no país e tentar usar o ataque para convencer congressistas a apoiarem leis mais restritivas. Poucas vezes, porém, vimos o presidente errar tanto em tão pouco tempo.
A primeira reação de Obama, ao saber do ataque sobre o qual ainda não dispunha de nenhum detalhe, foi dizer que a única certeza que havia é que esses atos seguem um padrão nos EUA e não são vistos em nenhum outro lugar. Por mais irônico que seja, o presidente disse isso na França, exatamente onde, há menos de um mês antes de seu discurso, mais de uma centena de parisienses foram mortos por terroristas com fuzis AK-47. No mínimo, uma gafe diplomática gritante, que não se atenua por qualquer fixação desarmamentista do chefe norte-americano.
O ataque da Califórnia, por sua vez, nada teve nada em comum com os assassinatos em massa tão utilizados como argumento pelo presidente. Não foi uma ação insana de um psicopata qualquer, que sai disposto a matar até ser morto pela polícia ou, na iminência da captura, tirar a própria vida. Foi um típico ato terrorista, posto em prática por pessoas ligadas ao Estado Islâmico, após minudente preparo, inclusive quanto à fuga. Tudo diferente de qualquer padrão, a ponto de, embora relutante em ter de se afastar da cartilha democrata – a partidária –, o próprio FBI qualificar o ato como de terror, e não como mass shooting.
Não bastasse “esquecer” os ataques da desarmada Paris e invocar um padrão que não existia no caso de San Bernardino, Barack Obama igualmente desconsiderou que o palco da tragédia foi a Califórnia, estado que tem uma das legislações mais restritivas quanto a armas nos EUA. Lá, os fuzis automáticos utilizados para matar as vítimas já são proibidos, assim como é proibido ter armas com mais de 10 munições no carregador ou portar qualquer tipo delas ostensivamente em público – open carry. E as restrições, como visto, de nada adiantaram para conter os terroristas. Talvez até tenham facilitado o ataque, ao eliminar a chance de contraposição.
A realidade que a cegueira ideológica do presidente norte-americano não vê é clara: a exemplo de Paris, o que houve na Califórnia foi um típico ato terrorista, praticado por radicais islâmicos, com armas em condições já proibidas, e vitimando pessoas que não tinham como sequer esboçar uma reação. Uma situação diante da qual não é necessário muito esforço para perceber que a cantilena de maior restrição legal às armas de fogo não produz nenhum efeito, exatamente porque não foi sequer cogitada diante dos ataques em solo francês.
Causa, em verdade, espécie a diferença de tratamento dos atos terroristas de Paris e o ataque de San Bernardino. Na capital francesa, onde ter armas é proibido, não houve dúvida de que indivíduos disparando fuzis contra aglomerações de pessoas era um ato de terror. Nos EUA, contudo, a exata mesma conduta parece mudar totalmente suas feições, e o único terror que se admite é aquele direcionado às armas, mesmo que para tanto se deixe de lado todo o resto, inclusive os terroristas. Uma terrível seletividade conceitual.