Amantes, FHC, Renan... as ideias do povo é que precisam fazer sexo

29/02/2016 às 09:57
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A vida pessoal dos que estão no poder é discutida com base em moralidade.

É chegado o momento de as ideias do povo brasileiro fazerem sexo[1]. Durante 516 anos, mirando o poder público, só falamos do sexo dos donos do poder (classes dominantes e reinantes). Ao longo da história, quantos rios de tinta e verborragia foram gastos para falar de amantes de FHC, Lula, Collor, Ademar de Barros, Renan, D. Pedro I, D. Pedro II etc.?

FHC teria pago pensão para sua amante por meio de um contrato de trabalho falso feito por uma concessionária de lojas nos aeroportos brasileiros (Brasif). A pensão da amante de Renan foi paga pela empreiteira Mendes Júnior. Collor teria usado o poder para ter amante famosa. No último debate da campanha de 1989 não se falou de outra coisa senão da amante de Lula.

Um país exaurido, com 150 milhões de analfabetos funcionais, mergulhado em profundas crises (política, econômica e sociais), tem que progredir e varrer da vida pública todos os seus “heróis sem caráter” (macunaímicos). A Operação Lava Jato deveria ser o ponto de partida para uma evolução comportamental.

Todo mundo sabe que a corrupção é errada[2]: O sociólogo sueco Bo Rothstein afirma que “[os delinquentes econômicos cleptocratas, leia-se] os corruptos sabem que essa prática é imoral e danosa para a sociedade. Mas isso não é suficiente para evitá-la; não basta internalizar os efeitos malignos para a sociedade de uma prática; impõe-se criar os incentivos (e obstáculos) adequados para que as pessoas não se envolvam nela”. Nossa tolerância mucanaímica é que precisa ser proscrita.

Quem, por corrupção, incompetência e pilhagens eleitorais, afunda uma das maiores empresas petrolíferas do mundo (Petrobras), esse é o caso do lulopetismo e seus comparsas, claro que deveria ser rifado do jogo político (pela via jurídica ou pelo voto).

Quem, para complementar os rendimentos de seu filho extraconjugal e de sua ex-amante no exterior, é suspeito de ter sido beneficiado por um contrato falso de uma empresa concessionária de lojas nos aeroportos (duty free – Brasif), claro que deve ser desmascarado e desacreditado (porque um falso herói).

O dono da Brasif (Jonas Barcelos), a propósito, confirmou que ajudou FHC (sem pedido dele) e mandou recursos para o exterior para Mirian Dutra, que foi amante do ex-presidente nos anos 80-90. Tudo feito por meio de um contrato fictício de trabalho (o crime de falsidade, desde logo, é inequívoco)[3]. A relação extraconjugal entre FHC e Mirian esgota a dualidade sexo e poder (sedução, desejos e gozos recíprocos). A parte do dinheiro (na trilogia) vem agora: o dono da Brasif tinha e tem excelentes conexões com as cortes (tanto de FHC como de Lula).

Em 1997, quando o governo FHC reduziu de US$ 500 para US$ 300 dólares o máximo que se podia comprar nas lojas duty free dos aeroportos, seu poder de influência falou mais alto. Prontamente a mudança foi abandonada (e voltou o valor original). Antonio Palocci, ex-ministro da fazenda no governo lulopetista, foi consultor da Brasif, que foi vendida em 2006 para a empresa suíça Dufry (e nisso teria havido “ajuda” – envolvimento – de membros do governo petista – ver Ricardo Noblat). Isso justificaria a postura amena do PT no affair FHC.

É preciso se indignar! (Stéphane Hessel)

As mentiras que todas as grandes lideranças contam (impunemente), cada uma tentando preservar hipocritamente perante seus cegos sectários uma honra impoluta de que não desfrutam (a emenda do segundo mandato de FHC foi “comprada” – ele mesmo admitiu isso à Folha), nos deixa cada vez mais contristados e abatidos, mas mesmo assim é preciso ter agudeza de espírito para examinar com imparcialidade o fluxo veloz de mentiras e decepções que nos assombram e encabulam.

O que há de pior para o predomínio da razão, no entanto, é a postura do inimigo carregado de fel e de desbriamento, porque mais facilmente tomado pela mesma cegueira dos fanáticos, ainda quando esteja diante de uma espantosa e avantajada verdade.

Já não haveria nenhuma necessidade de ficar explorando o tétrico e pútrido cenário nacional, protagonizado por barões ladrões de todas as colorações ideológicas e partidárias, desde o Brasil colônia. Mas ocorre que é preciso se indignar!

É preciso deixar palavras ressoando, ao sabor dos ventos áridos em todos os tempos tortuosos. Vale a pena sempre pesar o que realmente importa para uma vida coletiva comum. Quem vive sem nenhuma bandeira inspiradora não vive, existe!

As ideias necessitam acasalamento

Nas outras espécies animais o nascimento, crescimento, amadurecimento e a morte atendem a programas da natureza. O humano é distinto, porque ele pode progredir em cada etapa da vida (infância, adolescência, idade adulta, idade madura), levando em conta suas experiências pretéritas (Adam Ferguson).

Uma flecha e um computador com inteligência artificial retratam níveis de conhecimentos muito diferentes. Já progredimos bastante (mas precisamos de mais conhecimento). A natureza humana não muda em algumas coisas: busca por comida, por prazer sexual, cuidado com os filhos, concorrência por status, ânimo lucrativo (ganância), evitar dor, medo de altura, medo de insetos e de cobras etc. Isso é natura.

A natura muda lentamente e é fruto da evolução genética (decorrente da prática sexual). A cultura humana pode mudar rapidamente, em virtude da evolução das ideias (que devem se acasalar, se juntar). Singapura e Hong Kong eram dois países completamente corruptos (muito mais que o Brasil hoje). Mudaram nas décadas de 50/60, do século XX (agora ocupam os primeiros lugares na Transparência Internacional).

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Nossa capacidade de aprendizado social é incrível (adaptação darwiniana). Nossa tendência para a imitação (G. Tarde) é inevitável. Acasalando-se nossas ideias e iniciativas, incrementamos nossa inteligência coletiva. O corpo humano é fruto da evolução dos genes em bilhões de anos. As sociedades com pouquíssima corrupção são consequência da evolução cultural das ideias e dos comportamentos. É preciso que nossas ideias e nossos comportamentos façam sexo[4].

Podemos ser melhores seres humanos. O canto do mundo que habitamos (Brasil) pode ser muito melhor do que as burras e corruptas elites nos mostraram até aqui. Quem criou os trilhos só prosperou quando se encontrou com a locomotiva. Que seria da roda sem o aço? A cultura só evolui quando trocamos experiências. A troca está para a evolução cultural como o sexo está para a evolução biológica[5].

CAROS internautas: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem da nação, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. 

[1] Ver RIDLEY, Matt. O otimista racional. Tradução Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro: Record, 2014.

[2] Ver http://www.pol.gu.se/digitalAssets/1350/1350652_2007_3_rothstein.pdf, consultado em 30/12/15.

[3] Ver BERGAMO, Mônica – http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740563-fhc-usou-empresa-para-me-bancar-no-exterior-afirma-ex-namorada.shtml, consultado em 25/02/16.

[4] Ver RIDLEY, Matt. O otimista racional. Tradução Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 14-15.

[5] Ver RIDLEY, Matt. O otimista racional. Tradução Ana Maria Mandim. Rio de Janeiro: Record, 2014, p. 16.

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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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