Em 1936, em livro-denúncia antológico – O escândalo do petróleo -, Monteiro Lobato[1] protestava duramente contra os norte-americanos que não queriam que o Brasil explorasse seu petróleo (queriam vendê-lo, obviamente). Ele dizia: “o fedorento sangue da terra passou a ser o sangue da indústria, das finanças, do poder e da soberania dos povos”. Na ocasião o petróleo estava monopolizado (nos EUA) por Standard Oil (Rockefeller) e Royal Dutch & Shell (Deterding).
Como dominaram o petróleo, “dominaram também as finanças, os bancos, o mercado do dinheiro, os governos e as máquinas administrativas”. Essa rede de dominação constitui o que chamamos de “interesses ocultos” (p. 12). Dada a sua área, escreveu um espião – Gustave Grossman -, “a quantidade de petróleo do Brasil talvez seja maior que a de qualquer outro país do mundo”.
A indignação de Lobato contra os monopólios petrolíferos norte-americanos, que sugaram o Brasil durante décadas (tentando esconder que aqui não havia petróleo), é a mesma que sentimos hoje contra as pilhagens e roubalheiras do lulopetismo, que levaram a Petrobras para as águas profundas da falência. Roubos nas estatais sempre existiram (durante o governo FHC também teria havido aquisição fraudulenta de uma petrolífera argentina), mas nunca dentro de um projeto criminoso de poder, que foi a bancarrota (conforme está demonstrando a Lava Jato).
Todos sabem [os abutres estrangeiros assim como os barões ladrões donos do poder no Brasil], dizia Lobato asperamente, “que o brasileiro é uma espécie de criança tonta que realmente só se interessa por jogo, farra, carnavais e anedotas fesceninas (grosseiras)” (p. 14). Sabem “que o Brasil não dá a mínima importância ao estudo” (ainda hoje temos 140 milhões de analfabetos funcionais). Daí nasce o clientelismo eleitoral, alimentado por políticas e políticos corruptos, que são fomentados por setores fortes do mercado sanguessuga (empreiteiras, por exemplo), cuja riqueza, em grande parte, vem do ilícito e das pilhagens.
Com “tapa-olhos” (corrupção), os abutres falaciosos “compraram” várias leis no Brasil (p. 15). Recorde-se: o mais astuto barão ladrão é o que rouba “dentro da lei”.
Além disso (continua a censura de Lobato), “convenceram os indígenas bocós – inclusive nas bombas de gasolina – de que era absurdo existir petróleo no Brasil”. Essa campanha era na época o mesmo que dizer (desde sempre) que nossos governantes e dominantes cleptocratas não são ladrões (contradição terminológica). “Para quem pensa com outras partes do corpo que não o cérebro, argumentos dessa ordem valem ouro” (p. 16).
O estratagema trambiqueiro foi mais longe: botou a ciência no meio de tudo. E “o brasileiro tem uma concepção muito curiosa de ciência – afirmava Lobato (no seu estilo debochado e indignado). Ciência é o que ele não entende. Se entende, é besteira, não é ciência legítima” (p.16).
Fleury Rocha foi o escolhido para dizer e fazer tudo e não explicar nada (“the right man in the right place”). Os abutres, com ele, “conseguiram a sonhada Lei de Minas (que embaraçava a pesquisa e a exploração do subsolo nacional)”. Quem quisesse explorar o subsolo, “teria que entrar por uma das portas da ratoeira” (p. 17). Tudo para evitar que o “estrangeiro” explorasse nossa pátria. Toda grande tramoia traz em si uma embromação linguística. O patriotismo serve, muitas vezes, como o último refúgio dos canalhas (“the last refuge of scoundrels”) (p. 18).
A ratoeira, na verdade, prossegue, porém, já agora, não só para extrair o petróleo, senão também para embolsar o dinheiro que ele produz. Quem entra nas portas do inferno deve perder todas as esperanças (Dante). Os abutres americanos queriam que o Brasil continuasse sendo “comprador” do petróleo deles (não produtor). Daí a Lei de Minas, que no fundo dizia “não tirar petróleo, nem deixar que o tirem”. “Como é fácil vencer no jogo da vida quando se raciocina com a cabeça” (p. 19). No Brasil “o petróleo ficou oficialmente proibido de existir” (p. 27).
E ainda havia artigos jornalísticos na época que indagavam: “Mas, afinal de contas, temos ou não temos petróleo?” (p. 19). É o mesmo que afirmar hoje: afinal de contas, somos ou não somos roubados pelos donos do poder cleptocrata? A resposta é intuitiva. Mas em lugar de reagirmos energicamente contra tudo isso, continuamos “jogando no bicho” (p. 22), para testar a sorte. Os menos resistentes se matam, com a certeza de que vão para o inferno, mas na convicção de que o inferno será um céu em comparação com a corrupção e o mundanismo da vida no Brasil.
Forças organizadas, – em seu desespero Lobato exclamava – “onde está o teu idealismo? Mocidade, que sono é esse? Guatambu das florestas, quando entrarás em ação? Guanxuma dos campos, em que dia te erguerás sob forma duma vassoura imensa? “Something is rotten in the state of Denmark” (Qualquer coisa está podre no reino da Dinamarca – Shakespeare, Hamlet)” (p. 27).
CAROS internautas: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem da nação, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. |
[1] Ver LOBATO, Monteiro. O escândalo do petróleo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.