As crises econômicas derrubam os governos? O que diz a maior pesquisa mundial sobre o tema.

16/03/2016 às 10:10
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Se os resultados do levantamento dos economistas alemães forem válidos para o atual contexto brasileiro (de inflação, desemprego, corte de crédito, diminuição do consumo e da renda, baixo crescimento econômico, baixíssimo índice de popularidade de Dilma.

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Não é nenhuma novidade que as agudas crises econômicas ou econômicofinanceiras (as que agravam a capacidade de consumo da população, a inflação, o desemprego, o crescimento econômico, a diminuição da renda e o crédito das classes médias e populares, particularmente quando acompanhadas de outras crises – política e ética) geram enorme descontentamento na população, que prontamente joga a culpa nos governantes de plantão.

O que nós não sabíamos, em termos mundiais, era quantificar em termos eleitorais o desgaste. Três economistas alemães cuidaram do tema: Manuel Funke, Moritz Schularik e Christoph Trebesch.[1] Eles analisaram mais de 800 eleições em países ocidentais ao longo dos últimos 150 anos e mapearam 100 crises financeiras. Podemos extrair desse trabalho três conclusões:

Primeira: “a política tende a dar uma guinada forte para a direita [ou extrema-direita] logo após as crises financeiras. Em média, os votos na extrema-direita [ou direita ou centro-direita] aumentam em cerca de um terço nos cinco anos seguintes a crises bancárias sistêmicas”[2].

No que diz respeito às crises bancárias (financeiras), “a Grande Depressão dos anos 1930 que se seguiu ao crash de Wall Street em 1929 é o exemplo mais saliente e preocupante que vem à mente, mas a tendência pode ser observada mesmo nos países escandinavos, na esteira de crises bancárias no início da década de 1990”[3].

Se a tendência e a média mundiais forem válidas para o Brasil (ou aqui seria tudo diferente?), 1/3 do eleitorado deixaria o lulopetismo (de esquerda conservadora) para sufragar algum candidato de centro-direita ou de direita ou de extrema-direita.

Considerando-se que a vitória lulopetista em 2014 foi muito apertada, sua derrota doravante seria inevitável. Mas será que os números já combinaram tudo isso com os russos do time adversário?

Segunda: a segunda conclusão que se pode extrair do levantamento de Funke, Schularik e Trebesch é que “se torna mais difícil governar após crises financeiras” [leia-se, após a queda do governante].

Duas são as razões: “a ascensão da extrema direita [ou da direita] acontece num cenário político normalmente fragmentado, com maior número de partidos, e uma parcela menor dos votos vai para o partido no governo; assim, fica mais difícil produzir ações legislativas decisivas; ao mesmo tempo, ocorre um surto de mobilização extraparlamentar: mais greves, greves mais prolongadas e maiores manifestações de protesto. O controle das ruas pelo governo não é tão firme. O número médio de manifestações antigovernamentais triplica, a frequência de distúrbios violentos dobra e greves gerais aumentam em pelo menos um terço”.[4]

Terceira: “esses efeitos vão, gradualmente, diminuindo”. Duram uns cinco anos, porém, esse período parece válido depois que a crise passa definitivamente.

No caso do Brasil estamos ainda no epicentro de uma aguda crise econômica, que tende a se agravar na medida em que aumenta a crise política (irmã gêmea), que somente agora está entrando em sua fase derradeira.

A esperança que o Lula representava em 2002 virou pó para a maioria da população, que já apresenta forte rejeição a seu nome (metade dos eleitores).

Se os resultados do levantamento dos economistas alemães forem válidos para o atual contexto brasileiro (de inflação, desemprego, corte de crédito, diminuição do consumo e da renda, baixo crescimento econômico, baixíssimo índice de popularidade de Dilma, queda no PIB per capta, retração na indústria e no comércio etc.) e se considerarmos a pequena diferença de votos nas eleições de 2014, passa a ser razoável (no mínimo crível) supor a vitória de um bloco de oposição nas próximas eleições.

Há efervescência eleitoral: quem transmitir mais confiança ao eleitorado em relação a efetivas mudanças com segurança ganha as próximas eleições. A era lulopetista, se todos os números estiverem corretos, está com seus dias contados. Um velho ditado diz: “Não há bem que sempre dure, não há mal que nunca acabe”.

Outra constatação feita por Howard Davies[5] diz o seguinte: “na primeira onda de eleições pós-crise de 2008, em vários continentes, a mensagem dos eleitores foi clara num sentido, e nebulosa em outro. Fosse qual governo estivesse no poder quando a crise irrompeu, quer de esquerda ou de direita, foi destronado e substituído por um governo de orientação oposta”.

Isso valeu para os EUA (saiu Bush e entrou Obama), Reino Unido, França e incontáveis outros países. Uma das exceções foi a Alemanha de Angela Merkel. A França “mudou da direita para a esquerda e o Reino Unido passou da esquerda para a direita”. O veredicto dos eleitores sobre seus governos foi mais ou menos idêntico: as coisas deram errado durante seu mandato, então você cai fora.

A repulsa ao governante chega no limite do insuportável quando o governo não governa, quando o presidencialismo não tem presidente eficiente, quando o presidente perde sua legitimação e por aí vai.

CAROS internautas que queiram nos honrar com a leitura deste artigo: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. 
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[1] Ver DAVIES, Howard, Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises, consultado em 30/12/15.

[2] Ver DAVIES, Howard, Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises, consultado em 30/12/15.

[3] Ver DAVIES, Howard, Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises, consultado em 30/12/15.

[4] Ver DAVIES, Howard, Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises, consultado em 30/12/15.

[5] Ver DAVIES, Howard, Valor Econômico: http://www.valor.com.br/opiniao/4372636/consequencias-politicas-das-crises, consultado em 30/12/15.

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Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Estou no www.luizflaviogomes.com

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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