Lei de incentivo ao esporte.

Novos investimentos brasileiros na formação de cidadãos atletas

30/08/2016 às 11:41
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Reflexão acerca das críticas feitas ao programa de fomento de atletas de alto rendimento tocado pelas Forças Armadas Brasileiras (Programa Atletas de Alto Rendimento – PAAR).

 

 

 

Encerrados os Jogos Olímpicos Rio 2016, um tema foi demasiadamente comentado em artigos publicados na internet - O “apoio” das forças armadas brasileiras aos atletas competidores e não militares de carreira.

De fato, como já era largamente divulgado, os Ministérios da Defesa e do Esporte uniram esforços, em 2008, e criaram, dentre outros, o Programa Atletas de Alto Rendimento – PAAR das Forças Armadas.

O interesse do Ministério do Esporte é mais do que claro - A promoção do desporto nacional.

O que se tem questionado, a meu ver, com bastante parcialidade, pra não dizer pelo puro afã de criticar a Administração Pública, é qual seria o real interesse do Ministério da Defesa. Seria criar uma real fonte de fomento de atletas, o fortalecimento das Forças Armadas, ou um mero mecanismo de marketing para buscar uma melhor imagem perante a sociedade?

Segundo Reportagem veiculada no site da BBC Brasil, o professor Scalércio, professor e pesquisador da PUC Rio, afirma que se trata apenas de estratégia de marketing para ganhar “olhar positivo da sociedade”. Justifica tal afirmação pelo fato de que os atletas beneficiados por este programa não exercem nenhuma função militar, não acordam em quarteis e nem têm serviço de guarda. Por fim, este respeitado pesquisador afirma que as continências prestadas nos pódios são meros acenos ao patrocinador e não um gesto de patriotismo.

Ora, seriam os médicos, advogados e dentistas das forças armadas obrigados a dormir em quarteis e submetidos aos serviços de guarda? Não seria característica importante, inclusive das forças armadas, a especialização e divisão de tarefas? Esta crítica não estaria por desvalorizar algumas atividades importantes das forças armadas?

Vivemos em um país e em uma fase mundial onde se busca, cada vez mais, o afastamento dos conflitos armados e, por isto, nada mais correto que utilizemos toda nossa força pública de trabalho e de verbas para dar exemplos e qualificar a população com campanhas deste tipo. Precisamos nos desvincular do período militar mundial e da ideia truculenta e bélica agregada às forças armadas e dar nova cara a esta tão antiga e respeitada instituição.

Rebatendo também as críticas infundadas e injustas ao PAAR, feitas inclusive por um treinador de atleta olímpico militar campeão que disse que “pegar atleta pronto é muito fácil. Quero ver apoiar a criança ate chegar lá. O dia em que os militares fizerem escolinhas e apoiarem iniciação esportiva, apoiarem treinadores, ai vou tirar o chapéu. Por enquanto, não”, as Forças Armadas informam, por meio do Ministro da Defesa Raul Jungmann, que também possuem projetos de base, e iniciação e terão projeto para atletas paraolímpicos. O projeto Forças no Esporte possui cerca de 20 mil alunos de ensino público praticando esportes e tendo atendimento de saúde em unidades militares.

No que se refere à visibilidade dada ao PAAR, nada mais normal que os resultados cheguem mais cedo com atletas de alto rendimento e isto só tem a contribuir, pois ajuda a difundir e fortalecer estas iniciativas. Importante citar que muitos dos atletas premiados nesta olimpíada são atletas participantes deste projeto e nunca haviam conquistado medalhas olímpias. Ou seja, o não atingimento da meta estabelecida pelo comitê organizador não se deu pela falta de novos medalhistas e sim por perdas em esportes altamente competitivos e que os organizadores contavam como ganhos certos, como handball, judô e voleibol.

O fortalecimento do atleta militar brasileiro já pode ser visto, mormente quando, após o inicio do PAAR, em 2008, o Brasil saiu do 33º lugar nos Jogos Mundiais Militares de 2007 para 1º lugar nos Jogos Mundiais Militares de 2011, tendo permanecido entre os primeiros nos anos seguintes.

Independente da discussão acerca da função das entidades governamentais, entristece ler reportagens que misturam pessimismo com falsas constatações financeiras acerca dos jogos olímpicos, da mesma forma como fazem criticas sem conhecimento e desqualificadas aos projetos de incentivo à cultura, como as recentes à Lei Rouanet.

Um dia após o término dos espetaculares Jogos Olímpicos Rio 2016, fomos surpreendidos por artigo cujo titulo foi “Cada medalha brasileira teve o custo de R$194 Milhões”. Neste artigo registra-se a frustração pelo fato de o dinheiro investido não ter levado o Brasil ao 10º no quadro geral da competição, tendo ficado atrás do canada no número total de medalhas.

É importante esclarecer, aos críticos e aos leitores, que o Canadá é um país de aproximadamente 35 milhões de habitantes, com o 10º PIB per capita, 9º lugar em IDH no mundo e possui taxa de alfabetização de, aproximadamente, 99%, dados de 2010. Enquanto isto, o Brasil é o 61º no PIB per capita, 75º no IDH e possui cerca de 30% da população analfabeta funcional. Ou seja, baseado em qual índice se pretende comparar estes países?

Ademais, utilizando-se da mesma comparação, ao menos esdrúxula, a citada reportagem informa que o investimento feito para a obtenção das medalhas brasileiras foi de R$3,68 bilhões e que isto, se dividido pelas 19 medalhas conquistadas, daria um investimento de R$194 milhões por medalha.

No entanto, faz-se necessário esclarecer que o valor apresentado pelos outros pais seria apenas o valor investido diretamente na formação de atletas olímpicos e que nesta rubrica o Brasil, que possui população quase 10 vezes maior que os países comparados, efetuou investimento de R$328 milhões, conforme registrado no Plano Brasil Medalhas. Tal valor, se comparado corretamente com países que ficaram a frente do Brasil, o Brasil teria feito o equivalente à metade do investimento feito pela Austrália e quase o mesmo investimento feito pelo Canadá.

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O investimento global do Brasil nas olimpíadas, apresentado anteriormente e equivalente a R$3,68 bilhões, fará que os próximos ciclos de atletas olímpicos tenham melhores condições e com investimentos menores, já que as estruturas físicas construídas ainda serão aproveitadas por anos, como acontece com outros países que já passaram por tais investimentos, como Canadá.

 

Comparação com modelo dos Estados Unidos.

Deixando de lado a discussão acerca do PAAR, é importante uma reflexão sobre o porquê dos Estados Unidos ganham tantas medalhas olímpicas.

Durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, o Team USA, como é chamada a equipe dos Estados Unidos, conquistou sua milésima medalha de ouro em Jogos Olímpicos e isto é fruto de planejamento que vai bem além de planos de um comitê olímpico e até de estratégias governamentais.

Independente de todo o investimento público na formação de atletas e cidadãos, o que a meu ver é necessário enquanto não se muda uma cultura nacional, o segredo para todo o sucesso do Team USA é um planejamento para atrair recursos privados.

O Team USA tem um enorme faturamento, que vem todo de empresas privadas. Em 2014, eles tiveram uma receita de 272 milhões de dólares. 41% deste valor, 111 milhões, vieram de direitos de transmissão de imagens de provas das diferentes modalidades. 35% vieram de patrocínios que possuem o direito de usar o nome e marcas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. O restante vem de outras fontes, inclusive doação de pessoas físicas. Desses 272 milhões, 94% é investido nos atletas e despesas relacionadas ao seu desenvolvimento como atleta e como marca e nos centros de treinamentos do Comitê. (http://www.praquempedala.com.br/blog/por-que-os-estados-unidos-ganham-tantas-medalhas-olimpicas-resposta-dinheiro-privado/)

Além desta cultura de investimento privado, o mais importante no modelo norte americano é que suas universidades investem pesado nos atletas, cobrando deles bons resultados tanto acadêmicos quanto nos esportes.

Diferente da realidade atual brasileira, nos Estados Unidos os atletas não têm que optar entre os estudos ou a sequência da vida de atleta, as atividades andam obrigatoriamente juntas.

Imaginem o tamanho do comércio que gira em torno das ligas universitárias dos Estados Unidos. Existem campeonatos municipais, regionais e nacionais de todas as modalidades. Isto mobiliza toda a comunidade para participar, investir em visibilidade durante os jogos, a busca pela venda de produtos necessários aos jogos, mercado de capacitação de profissionais do esporte, contratação de atletas como marcas para agregar valor aos produtos locais, etc.

Esta estrutura criada faz muito mais do que dar condições aos atletas para que foquem no resultado. Muitos brasileiros até chegam ao sucesso, conseguindo conquistar fama e ganhar muito dinheiro. No entanto, a falta de estrutura de educação e capacitação profissional além do esporte é representada por diversos atletas de sucesso que se perdem na depressão, nas drogas e até encontram a falência empresarial posteriormente ao termino da vida desportiva.

Portanto, deve ser criado um sistema de continuidade, saindo das escolas, passando às universidades, chegando aos clubes profissionais e ao final, gerando uma estrutura de apoio e respeito ao atleta, para que continuem a representar como exemplos para as próximas gerações.

Necessitamos no Brasil uma mudança de modelo, onde aproxime entidades privadas que, por delegação, fornecem serviços públicos essenciais, tratados como direitos sociais, tal como as escolas e universidades das necessidades de seus usuários, para que não sejam apenas instituições de passagem e sim instituições presentes na formação dos cidadãos. Em outras palavras, tal como acontece nos Estados Unidos, é necessária a formação de atletas no sistema educacional, com a criação de campeonatos escolares e universitários, com mercados altamente aquecidos e promovidos, para que se tornem autossustentáveis.

 

 

 

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