Spinoza e a educação transformadora

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Referências:

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

BUCHNER, Luiz. Força e Matéria. Lisboa: Livraria Chardron, de Lello e Irmão Ltda., 1926.

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Referências:

MIRANDA, Karine. Spinoza e o conhecimento como a educação pode ser transformadora e libertadora. Disponível em: http:// webcache.googlerisercontente.com/search? Q=cacje: atBckcczqj:seer.uece.be%.3F.journal%3DPRF%3Darticle%article%26ap%3Download%%  Acesso em 6.11.2016.

ABREU, Luís Machado de. O lugar de Pedagogia em Spinoza.

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SPINOZA, B. de. Ética: demonstrada dos geômetras. Tradução e notas Joaquim de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 1989 (Coleção “Os Pensadores”, v.2).

CHAUÍ, Marilena. Espinoza: uma filosofia da liberdade. São Paulo: Moderna, 1995.


Notas

[1] Baruch é nome próprio judaico usado desde os tempos bíblicos até os dias de hoje. Relaciona-se a Berakhá ou Brachá que corresponde ao nome dado às bênçãos no Judaísmo. Na cultura judaica, o nome Baruch é um dos mais tradicionais na escolha do nome hebraico que, em geral, possui uma relação com um ente querido já falecido ou até um amigo da família. Outra característica da escolha do nome Baruch é a combinação com a primeira letra do nome civil. Registram-se na Bíblia: Baruch benNeriah que foi escriba do profeta Jeremias; Baruch filho de Zabbai, um dos reconstrutores do Muro de Jerusalém; Baruch, filho de Col-Hozeh que era membro da Tribo de Judá que se estabeleceu em Jerusalém.

[2] Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus como Maimônides, Bem Gherson, Ibn Ezra, HasdaiCrescas, IbnGabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também de Giordano Bruno.  Ganhou notoriedade pelas suas posições opostas à superstição (a sua frase Deus sive natura, "Deus, ou seja, a Natureza" é um conceito filosófico, e não religioso), e ainda devido ao fato de a sua ética ter sido escrita sob a forma de postulados e definições, como se fosse um tratado de geometria.

[3] Uriel da Costa ou Acosta (1585-1640) foi filósofo judeu de nacionalidade portuguesa, descendente de judeus da Espanha. Nascido no Porto como nome de Gabriel da Costa Fiúza, sua família era judaica, mas tinha-se convertido ao catolicismo, conforme foi imposto pelo Rei Dom Manuel I. Uriel convenceu a sua família a regressar ao judaísmo e, então, tiveram que se mudar para Amsterdã. Onde foram perseguidos pelas autoridades da sua comunidade judaica por causa das suas perspectivas filosóficas (tal como Spinoza) e acabaria se suicidar. Em seu livro Exemplar humanae vitae relatou a sua experiência como vítima da intolerância religiosa. Uriel foi uma das figuras do romance “Expulsão do Inferno” de autoria de Robert Menasse.

[4] Segundo a tradição judaica rabínica, a Torá escrita foi entregue por Deus para Moisés no Monte Sinai em conjunto com a Torá Oral, que seria o conjunto de ensinamentos e especificações de como cumprir os mandamentos da Torá escrita e que, originalmente foram transmitidos de maneira oral de geração a geração através dos sábios do povo no correr de mais de 3 300 anos e finalmente compiladas na Mishná e no Midrash no ano de 200 da Era comum. De acordo com o pensamento rabínico, não é possível estudar a Torá escrita sem antes estudar a Torá oral.

Os judeus caraítas e os judeus samaritanos, naturais da Síria e Palestina, recusam a Torá oral e, aceitam apenas os escritos da Torá como revelação divina.  Os cristãos oficialmente também não aceitam a Torá oral, apesar de muitas tradições cristãs estarem baseadas na Torá oral falada na época de Cristo

O judaísmo se diferencia de todas as outras religiões pelo fato de não se ter originado de uma única pessoa.  Todas as outras começaram a partir de um indivíduo que, através de seus ensinamentos, arregimentava adeptos e convertidos.  Apenas o judaísmo foi criado por D’us, ao reunir três milhões de pessoas no sopé do Monte Sinai, ocasião em que, pela primeira e única vez, revelou-se abertamente.

[5] Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã puniu Spinoza com o chérem, o equivalente hebraico a excomunhão católica, pelos seus postulados sobre Deus em sua obra, pois defendeu que Deus é o mecanismo imanente da natureza e, a Bíblia, em obra metafórico-alegórica que não requer leitura racional e que não exprime a verdade sobre texto. Conforme Will Durant, seu chérem pelos judeus de Amsterdã, tal como ocorrera com as atitudes que levaram à retratação e posterior suicídio de Uriel da Costa em 1647, fora como que um gesto de "gratidão" por parte dos judeus para com o povo holandês. Embora os pensamentos de da Costa não fossem totalmente estranhos para o judaísmo, vinham contra os pilares da crença cristã. Os judeus, perseguidos por toda Europana época, especialmente pelos governos ibéricos e pelos governos luteranos alemães, haviam recebido abrigo, proteção e tolerância dos protestantes de inspiração  calvinista dos Países Baixos e, assim, não poderiam permitir, no seio de sua comunidade, um pensador tido como herege.

[6] Entre os anos 1654 a 1656, dirigiu os negócios de sua família, mas, em junho desse ano, foi acusado de heresia e excomungado, tendo que abandonar a comunidade judaica. Mudou-se então de cidade, passando a morar em Leyden e, mais tarde, em Haia, onde passou a viver de seu trabalho como polidor de lentes de telescópios e microscópios, tendo exercido tal ofício que aprendera ainda na sinagoga até o fim de sua vida. Há quem interprete tal fato de forma metafórica, entendendo que seu ofício até a morte foi aperfeiçoar e possibilitar melhor visão e compreensão dos fenômenos observados.

[7]Martial Gueroult (1891-1976) foi um filósofo e historiador notável pela análise das obras de autores modernos, em especial, as de Descartes. Ele integrou a École Normale Supérieure em 1912 e, é logo em seguida convocado ao serviço militar por três anos.

Gilles Deleuze (1925-1995) foi um filósofo francês. Para Deleuze, "a filosofia é criação de conceitos" (O que é a filosofia?), coisa da qual nunca se privou ("máquinas-desejantes", "corpo-sem-órgãos", "desterritorialização", "rizoma", "ritornelo" etc.), mas também nunca se prendeu a transformá-los em "verdades" a serem reproduzidas.

A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao complexo de Édipo (vide “O Antiédipo - Capitalismo e Esquizofrenia” escrito com Félix Guattari), à falta de algo. A sua filosofia é considerada como uma filosofia do desejo.

Com a crítica radical do complexo de Édipo, Deleuze consagrou uma parte de sua reflexão à esquizofrenia. Segundo ele, o processo esquizofrênico faz experimentar de modo direto as "máquinas-desejantes" e, é capaz de criar (e preencher) o "corpo-sem-órgãos".

Seu intuito sempre foi o de explorar as suas potencialidades, ao máximo. Em “Mil Platôs”, Deleuze e Guattari enfatizaram a necessidade de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prendam a qualquer preceito moral.

Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um "trapo" através de experimentações, que inicialmente poderiam ser positivas, mas que depois são regulamentadas por uma moral subjetiva: "a queda de um processo molecular em um buraco negro”.

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos.  Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 04 de novembro de 1995.  Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "Para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida"

[8] Alexandre Matheron é um estudioso da obra de Spinoza. Ele foi um membro do Partido Comunista Francês desde que era um estudante até 1957 e, mesmo depois de 1964 a 1978. Ele é o irmão de Georges Matheron, criador da geoestatística.

[9] O racionalismo é corrente filosófica que iniciou com a definição de raciocínio como operação mental, discursiva e lógica que usa uma ou mais proposições para extrair conclusões, ou seja, se uma ou outra proposição for verdadeira, falsa ou provável. Essa era a principal noção ao conjunto de doutrinas conhecidas tradicionalmente como racionalismo. É a base da Filosofia principalmente por priorizar a razão como o caminho para se alcançar a verdade. 

O racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma causa inteligível, mesmo que essa causa não possa ser demonstrada empiricamente, tal como a causa da origem do universo. Privilegia-se a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como meio de acesso ao conhecimento.

Considera a dedução, o método superior de investigação filosófica. René Descartes, Baruch Spinoza

Gottfried Wilhelm Leibniz que introduziram o racionalismo na filosofia moderna. Hegel, por sua vez, identifica o racional com o real, supondo a total inteligibilidade deste último. As ideias de René Descartes influenciaram diversos pensadores, entre os quais se destacam o holandês Spinoza e o alemão Leibniz.  Leibniz era filósofo, matemático e político. Desenvolveu o cálculo infinitesimal, utilizado até os dias de hoje.  Defendeu o racionalismo, afirmando - tal como Descartes - que algumas ideias e princípios existem em nós e são percebidos pelos sentidos, mas não provêm deles. Como exemplos de conhecimentos inatos, ele citava os conceitos da geometria, da lógica e da aritmética.

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[10] Empirismo corresponde a uma teoria do conhecimento que afirmou que o conhecimento vem apenas, ou principalmente, a partir da experiência sensorial. O método indutivo, por sua vez, afirma que a ciência como conhecimento só pode ser derivada a partir dos dados da experiência. Essa afirmação rigorosa e filosófica acerca da construção do conhecimento gera o problema da indução.

Empirismo, sob esse nome, surge na idade moderna como um fruto maduro de uma tendência filosófica que se desenvolve principalmente no Reino Unido desde a Idade Média. Muitas vezes, verifica-se em oposição ao chamado racionalismo, mais característico da filosofia continental.  Hoje a oposição empirismo-racionalismo, como a distinção entre o analítico-sintético, é geralmente entendida de forma contundente, como era nos tempos antigos, mas sim, uma ou outra posição devida às questões metodológicas heurísticas ou atitudes vitais, em vez de princípios filosóficos fundamentais.  Em relação ao problema dos universais, empiristas muitas vezes simpatizam com as críticas e continuam nominalistas conforme começou no final da Idade Média.

[11] René Descartes (11596-1596) foi filósofo, físico e matemático francês. Durante a Idade Moderna, foi também conhecido com Renatus Cartesius. Notabilizou-se principalmente por seu revolucionário trabalho na filosofia e na ciência, mas também obteve o reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria, gerando a chamada geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Foi uma das figuras-chave na Revolução Científica. É considerado o fundador da filosofia moderna e o pai da matemática moderna, sendo um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspira até hoje contemporâneos e as várias gerações de filósofos.

[12] Mais do que uma mera opção ou um simples discordar das objeções de Descartes quanto à disposição sintética, estão implícitos nesta opção spinozista pela síntese as distinções existentes entre os dois sistemas.  Dentre elas, podemos citar a dualidade substancial de Descartes e a substância única em Spinoza, a distinção existente entre os conceitos cartesiano e spinozista de entendimento finito e infinito, que dada à consideração inicial de Deus como causa imanente em Spinoza, ou como causa transcendente em Descartes, têm em cada um destes autores uma conotação particular. Por sua vez, a consideração cartesiana de Deus como causa transcendente e a consideração spinozista de Deus como causa imanente, ocasiona a diferença na concepção do entendimento divino e humano na Filosofia de Descartes e de Spinoza.

Devido a esta diferença quanto à causalidade, o entendimento divino e o humano serão heterogêneos de uma forma especifica em cada um destes filósofos.

Donde, a distinção entre a natureza da causa do entendimento em Descartes e Spinoza terá como conseqüência a não aceitação por parte de Spinoza da heterogeneidade total entre o entendimento divino e humano. Esta especificidade resultará em Descartes na precedência do conhecimento do efeito sobre o conhecimento da causa; em Spinoza, ocorrerá justamente o contrário: a precedência do conhecimento da causa sobre o conhecimento do efeito,  ocasionando a recusa spinozista em utilizar o método analítico preconizado por Descartes.

[13] A ordem geométrica conforme traçada por Euclides, consiste em partir de definições evidentes por si mesmas, que não necessitam de demonstração, de axiomas que são proposições ou juízos que igualmente não precisam necessidade de demonstração, porém, diferenciam-se das definições porque têm uma maior abrangência de proposições que serão demonstradas a partir dos axiomas, das definições ou de proposições anteriormente demonstradas, acompanhadas por corolários e/ou escólios, que são consequências extraídas das proposições ou observações que possuem por finalidade explicitar o sentido das proposições antecedentes, esclarecendo o próprio sentido ou resolvendo alguma possível polêmica ocasionada por alguma objeção.

Tal ordem fora descrita por Spinoza em diversas passagens, cujo significado nos remete à forma alongada em que os temas foram tratados, o que consistiu basicamente num desenvolvimento discursivo dos assuntos sem economia de termos, de explicação ou de raciocínio, ou seja, os temas não seriam expostos de forma concisa ou breve. Semelhante às Regulae de Descartes, este desenvolvimento discursivo seria basicamente dedutivo e lógico, pois, como vimos, Trata-se de partir descobrindo como as ideias simples e as complexas se conectam entre si.

[14]Por atributo entendo que o intelecto percebe a substância como constituindo a essência dela. Spinoza fez distinção entre as qualidades de Deus ou propriedades divinas ou atributos, reservando a estes últimos, uma significação substantiva e aos próprios uma significação qualificativa.

[15] Na filosofia de Spinoza, a alegria e a felicidade são conceitos diferentes, Aliás, o conceito de afeto de alegria ou laetitia surgiu no início da parte III da Ética, quando o filósofo está analisando a origem e a natureza dos afetos. A ideia de felicidade ou felicitas só apareceu no final, na parte V, da obra Ética, onde o filosofo analisa a potência do intelecto ou a liberdade humana.

Conclui-se que a Ética de Spinoza é ontologia do necessário, que se pode deduzir uma ontologia da alegria. Por isso mesmo, que na experiência humana de afetos como processo libertador que leva à felicidade é determinado pela experiência da alegria.

[16]Essas foram as derradeiras linhas da carta 21 de Spinoza in litteris: Para que precisas de mais milagres?

"Para que tantas explicações?

Não me procures fora!

Não me acharás.

Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti."

Baruch Spinoza.

Trata de Deus segundo Spinoza, portanto Deus está dentro de nós, é a substância, está em tudo e em todos. Palavras muito pertinentes ao tempo contemporâneo.

[17]  A noção de Ética começa com a definição notum per se (ou não demonstrável) que não define nenhuma coisa e, sim, uma propriedade.

[18] No Tratado Teológico-Politico Spinoza afirma que o fim último do Estado é libertar cada indivíduo do medo, para que possa viver em segurança e preservar seu direito natural a existir e agir. Dessa forma, o mais violento dos Estados é aquele que nega aos indivíduos a liberdade de dizer e ensinar o que pensam. O homem no estado civil renuncia ao direito de agir sobre sua própria lei, mas não o de raciocinar e julgar.  O Estado segundo Spinoza é uma construção natural, resultado da união de homens. Assim, o direito do soberano vem do direito natural, conduzido pelas partes ao todo. O direito natural não desaparece por completo com o surgimento do Estado.

Este tem como finalidade promover a paz; consequentemente, o melhor governo é aquele que no qual os homens vivem em concórdia e as leis são observadas sem violação. Da mesma forma, o Estado fundado na razão e por ela dirigido é o mais poderoso, pois depende de si próprio. Também o Estado mais livre é aquele no qual as leis se fundamentam na reta razão. Dessa forma, o melhor Estado vive sob a razão, e os súditos lhe são obedientes pela vontade livre e não por coação.  (In: Rocha, Claudio de Souza. Os fundamentos da Democracia em Benedictus de Spinoza. Disponível em: http://www.uece.br/cmaf/dmdocuments/2011_os_fundamentos_da_democracia.pdf  Acesso em 06.12.2016).

[19]  No Apêndice da parte I da Ética, Spinoza nos apresenta a forma como a consciência acalma esta angústia, através da tripla ilusão, a saber: ilusão das causas finais (finalidade), ilusão dos decretos livres (liberdade) e ilusão teológica. Sobre estas, Deleuze afirma que “a consciência é apenas um sonho de olhos abertos”, lembrando-nos a seguinte passagem da Ética: Assim, uma criancinha acredita apetecer livremente, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão da sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferia ter calado. (EIII, P2, S).

[20]  A tabula rasa não teria atraído a Spinoza como adequada denominação para a mente por sua concepção da natureza da mente foi totalmente diferente. Não sabemos tudo. O conhecimento absoluto e eterno é contrário à natureza humana. Spinoza não enfatizou a distinção entre coisas possíveis e coisas contingentes

[21] Pascal Sévérac é professor doutor substituto da Université de Paris I e Diretor do Programa do Collège International de Philosophie. Afirmou in litteris: “Spinoza, de fato, na Ética, visa conduzir-nos, "como que pela mão, até a beatitude da mente, ou seja, a um afeto de amor divino, que nasce de a mente agir apreendendo as coisas mediante o mais alto gênero de conhecimento a ciência intuitiva". (In: Conhecimento e afetividade em Spinoza. Disponível em: http://www.martinsfontespaulista.com.br/anexos/produtos/capitulos/591740.pdf  Acesso em 07.12.2016).

[22] Tudo o que existe tem propensão a se manter existindo como o que é e essa é a essência dos seres em geral.  Nos homens esse instinto de conservação gera as emoções que são uma mistura desordenada das ideias.  A alegria e a tristeza são as principais emoções, a alegria conserva e a tristeza deprecia o ser.

O amor e o ódio ocorrem quando a alegria e a tristeza se ligam a algo externo ao sujeito.

[23] Humberto Mariotti, nascido no Brasil, iniciou sua carreira como médico e psicoterapeuta.

Na década de 1970, nos EUA, tomou contato pela primeira vez com a área de conhecimento chamada de ciências da complexidade que viria a se consolidar na década seguinte.  Humberto é hoje referência nacional e internacional. No Brasil, foi o pioneiro na criação da disciplina gestão da complexidade, inicialmente para MBAs e agora ampliada para outras áreas. Além das atividades como pesquisador independente, terapeuta e autor, Humberto tem viajado pelo Brasil e exterior, onde vem realizando cursos,  palestras e seminários. Tem também uma extensa produção de livros, artigos e ensaios sobre o tema complexidade e correlatos (vide: http://www.humbertomariotti.com.br/

[24] Comênio foi filósofo tcheco que combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de tudo para todos e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os sentimentos da criança. A Didática Magna de Comênico marcou o início da sistematização da pedagogia no Ocidente.

[25] Johannes Clauberg (1622-1665) foi teólogo e filósofo alemão. Foi também fundador e reitor da primeira Universidade de Duisburg, onde lecionou de 1655 a 1665. Ele é conhecido como dotado de escolástica cartesiana. Foi um dos primeiros professores das novas doutrinas na Alemanha e comentador exato e metódico em seus escritos. Sua teoria de ligação entre a alma e o corpo é, em alguns aspectos análoga à de Malebranche, . Sua visão em relação de Deus com as suas criaturas é realizada para configurar o panteísmo de Spinoza. Todas as criaturas existem somente através da energia criativa e contínua do Ser Divino, e não são mais independentes de sua vontade, do que são os nossos pensamentos independentes de nós, ou melhor, menos, pois existem pensamentos em si a força em cima de nós quer queiramos ou não.

[26] Sobre o direito, Spinoza afirma que existe no mundo um ordenamento essencial, e dele vem o direito natural que tem por origem Deus. O direito natural é para o filósofo as normas que dirigem a natureza.

As regras através das quais a natureza se ordena estendem-se até o limite do seu poder.  Se o homem seguir as leis da natureza, estará seguindo também as leis de Deus.

Se os homens seguirem as regras e ensinamentos recomendados pela razão, o direito natural irá se expressar através dessa razão, que é a natureza do homem. Em sociedade o Estado é o detentor do poder e do direito, mas se o Estado seguir a razão que é própria de cada um dos indivíduos que o compõe ele também estará seguindo o direito natural. O Estado limita o poder dos indivíduos, mas não invalida o seu direito natural. O direito do Estado é limitado pelas leis da natureza.

[27] Partindo da consideração da potência de Deus como essentia actuosa, ou seja, de sua realidade ativa a partir da qual necessariamente são produzidos os modos enquanto efeitos imanentes de Deus, podemos dizer que nada na Natureza é contingente, e isso porque, conforme vimos, aquilo que existe na Natureza não é produzido, em Spinoza, pela vontade de Deus, mas por sua infinita potência ou essentia actuosa.

[28] George Orwell, nascido Eric Blair, inglês de origem indiana, autor do clássico da literatura política, 1984, faz uma versão fabulística da crítica ao socialismo totalitário como opção ao capitalismo. Como em 1984, na Animal Farm, Orwell é direto.

O enredo interessa apenas na medida em que leva o leitor a compreender que, não importa o sistema político, o problema está sempre no vazio do poder e na repetição das mesmas estruturas de exploração do trabalho. Mais que uma crítica a um sistema político, como muitos pensaram, Orwell critica um modo de produção que não sobrevive sem a espoliação da produção do trabalho e a subversão do valor do trabalho à ordem do capital.

[29] As paixões tristes como necessárias: inspirar paixões tristes é necessário ao exercício do poder.

E Spinoza diz, no “Tratado teológico-político”, que esse é o laço profundo entre o déspota e o sacerdote: eles têm necessidade da tristeza de seus súditos.  Eis que, vocês compreenderão com facilidade que ele não toma "tristeza" num sentido vago, ele toma "tristeza" no sentido rigoroso que ele soube lhe dar: a tristeza é o afeto considerado como envolvendo a diminuição da potência de agir. (Trecho de uma aula de Deleuze sobre as ideias, os afetos e afeccções em Spinoza.

[30] O livre-arbítrio existe no sentido de que o homem tem o poder de dizer a verdade, se ele quiser, mas não que ele tenha o poder de ser louco ou delirante.  A educação está em harmonia com o universo posto que não colida com outros fenômenos naturais, exceto enquanto tal oposição possa expressar a vontade Deus. Não poderá colidir com a vontade de Deus.

[31] Se os atributos não têm existência separada da existência, se eles são a substância ela mesma que se expressa através dele, se expressa através dele, eles devem ser concebidos por si mesmos, serem eternos e infinitos, ainda que em seu gênero, sejam infinitos, ainda que em seu gênero e não absolutamente como a substância.

[32] Referem-se ao monismo que é o nome dado as teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo, em metafísica ou a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por oposição ao dualismo ou pluralismo que aponta a afirmação de realidades separadas. A origem do monismo na filosofia ocidental remonta aos pré-socráticos, como Zenão de Eléia, Tales de Mileto, Parmênides. Spinoza é considerado monista por excelência, posto que defenda que se deve considerar a existência de uma única coisa, a substância, da qual tudo o mais são modos. Hegel defende um monismo semelhante dentro do contexto de absolutismo racionalista.

[33]Enfim, a escolha ocorreria sem causa. E a mente considera diversas possibilidades de ação e elege uma ou algumas como melhores enquanto que julga outras como piores. Mas, ainda que um curso de ação pareça ser melhor do que outros, há sempre a opção em negá-lo. A física newtoniana fornece boa metáfora para o determinismo enquanto que para o indeterminismo, fornece a física quântica. Não é possível, com base no conhecimento das condições nas quais um elétron se encontra, determinar seu movimento.

Se ele foi para A e não para B, ou vice-versa, isso não se deve a motivo algum. Da mesma forma, não há nenhum motivo que leve João, ao invés de levantar-se, a dormir mais ou ainda a levantar-se, ele simplesmente quis assim e esse querer não obedece a nenhuma relação causal.

Para que o livre arbítrio seja possível, duas condições são necessárias, a saber: 1:que a ação humana possa ser explicada por meio de causas finais, que não seja, portanto, fruto do acaso; 2. que essas causas não determinem a ação.

Afinal negar o livre-arbítrio é como negar o movimento dos corpos, os argumentos de Zenão de Eléia estão aí há milênios. Ainda que não consigamos entender a liberdade da escolha humana, é mais razoável crer que seu funcionamento está além da capacidade de nossa razão (que é capaz de elucidar alguns pontos) do que afirmar que a inteligência humana e a realidade se encontram em total e irreparável contradição

[34]O nosso conhecimento é imperfeito e ao tratar de questões morais e valores como problemas humanos, Albert Einstein escreveu referindo-se a Spinoza, o grande filósofo holandês. Conforme escreveu Stuart Hampshire que era um filósofo inglês, Spinoza ampliou o pensamento de Descartes e Galileu, que diziam que a linguagem da natureza era a matemática.

Para Spinoza era necessária outra linguagem, a que descrevesse as atividades dos indivíduos. Com isso, trouxe a responsabilidade ética de volta para o homem. Cada coisa tenta, com os poderes que tem, preservar sua existência. Não é por acaso que Spinoza muito influenciou Freud e também Lacan, mesmo quando Freud tenha mantido tal influência em segredo.  Aliás, conforme nos ensinou Spinoza, o indivíduo exerce sua liberdade através do uso da razão e da imaginação. E, as vezes o preço dessa liberdade, às vezes, seja a incompreensão dos que o cercam.

[35] Existe um panteísmo assumido por Spinoza e declarava que Deus como um único ser independente. Destacou o filósofo holandês que as coisas que Deus criou diferem dele, a saber: 1. Elas existem para além dele mesmo; 2. Elas têm qualidades que ele não possui; 3. Deus não faz parte de sua essência; 4. Coisas podem ser imaginadas, mas Deus não pode; 5. Além disso, a proposição citada acima, refere-se às coisas infinitas e, não as coisas finitas.

[36]  A metafísica de Spinoza trouxe a definição de substância como causa em si mesmo, ou causa sui, existindo por si, e, por si concebida. Já a definição de atributo como o que o intelecto percebe como constituindo a essência da substância. Registram-se oito definições no livro de Ética de Spinoza da causa sui que é coisa finita em seu gênero, a de substância, a de atributo, a de Deus, a de coisa livre e a eternidade. Sete formas escritas como notae per se, ou seja, princípios universalmente aceitos, evidente s e indemonstráveis que são a base de nosso raciocínio. Somente a definição de Deus será demonstrada nas proposições da obra Ética.

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Sobre a autora
Gisele Leite

Professora universitária há três décadas. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. Pesquisadora - Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Presidente da Seccional Rio de Janeiro, ABRADE Associação Brasileira de Direito Educacional. Vinte e nove obras jurídicas publicadas. Articulistas dos sites JURID, Lex Magister. Portal Investidura, Letras Jurídicas. Membro do ABDPC Associação Brasileira do Direito Processual Civil. Pedagoga. Conselheira das Revistas de Direito Civil e Processual Civil, Trabalhista e Previdenciária, da Paixão Editores POA -RS.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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