William Waack no Império Romano

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A Carta Cidadã considera que todos são dignos. Autonomia da vontade e erros. A mesma Carta objetiva que a sociedade, pelo contrato social humanístico, crie condições para ressocializar

Já é notícia quase passada, mas não custa nada ponderar.

O ex-jornalista da Rede Globo de Televisão foi exposto:

“Tá buzinando por quê, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é… é preto. É preto!”

Por que ele proferiu tal frase? Será ele um racista ou preconceituoso contra a etnia negra? Aliás, está difícil para a maioria das pessoas decidir se fala 'preto', 'negro' ou 'afrodescendente'. Claro, chamar uma pessoa pela sua cor epitelial soa estranho. 'Oi, por favor, qual é o seu nome!", é mais simples. Pensemos — e Immanuel Kant exige que cada pessoa pense por si mesma, não pensar pelo 'efeito manada' — sobre a possibilidade de um alienígena surgir na terra. Sua cor é azul. 'Oi, azulão!', o chamamento. Logicamente, o 'azulão' deve ter algum nome. Agora vamos imaginar duas pessoas cujas cútis são brancas.

'Olá, Branco, como vai?'
'Estou bem, Srº Branco!'

Ou dois negros:

'Bom dia Sr.ª Negra, como vai?'
'Um pouco melhor da dor de cabeça. Srº negro, por favor, poderia compra um remédio para mim?'

Nada demais? Agora, vamos transladar isso para o documento de registro civil.

'Nome:

(  ) Branco

(  ) Negro

Agora vamos imaginar professor chamando algum aluno, sendo 10 (dez) negros, 10 (dez) brancos e 10 (dez) indígenas. Dos dez negros, seis são homens; dos dez brancos, três são mulheres. Inexistindo nome (prenome ou sobrenome). Dificílimo.

" Negra do lado esquerdo, por favor, levante! "
" Branco sentado do lado direito da última fileira, por favor, levante! "
Professor, seu lado direito ou o dos alunos?"

Faz tempo. Lembro-me de uma entrevista, duas pessoas, uma mulher e um homem. O homem não tinha excesso de pigmentação epitelial característico de pessoas — estou me baseando no reconhecimento que tem no Brasil de diferenciação entre branco e negro, a cor da pele — negras. Pois bem, a mulher chamava o convidado de 'Meu Negro!'. Fico pensando, diante das polarizações em nosso país, qual seria a reação dos telespectadores caso esse homem dissesse 'Minha Negra!' ou 'Negra, veja bem...". Há polarizações que levam aos intermináveis discursos sobre direitos e deveres, comportamento social etc.

E quem é negro ou branco? Cor da pele, da forma de se vestir, de se gesticular? Houve pesquisa (mapeamento genético) sobre celebridades brasileiras. Já que estamos bem perto do carnaval, o que o leitor acha sobre Neguinho da Beija-Flor? Negro ou branco? Pela cor da pele, negro. Todavia, o carnavalesco possui, segundo pesquisa, mais gene europeu do que africano.

RELACIONAMENTO HUMANO

Liberdade e intimidade. Se duas pessoas são amigas — amizade não quer dizer fazer, falar qualquer coisa enquanto a outra pessoa deve aceitar, prontamente; muito menos, quem fala não tem bola de cristal para saber do ânimo de quem ouve. Por isso, as cordas vocais e a capacidade de dialogar —, e há anuências quanto aos apelidos etc., não há crime (danos morais). Depende, claro, em cada caso concreto. Dois amigos, sendo um patrão e o outro empregado. O amigo empregado não discorda totalmente do amigo patrão, pelo simples motivo, aquele depende do emprego. Amizade de verão, outro verão e, possivelmente, tudo é esquecido. Entretanto, o convívio diário gera estresse considerável. Uma palavra proferida diante de situação estressante pode ser pior do que uma facada.

A relação humana — aprendi isto quando tinha lá meus 16 anos de idade — é semelhante à folha de jornal; esta, uma vez amassada, ficará com as marcas. Os acontecimentos, quaisquer que sejam, mesmo os não perceptíveis pela consciência, são registrados pelo cérebro evolutivo. Comendo sanduíche? Sabor agradável? Sua atenção está no sanduíche, mas, sem você perceber, seu cérebro, através dos cinco sentidos físicos, registra tudo ao seu redor. Disto, é possível explicar os traumas inconscientes.

E o caso do jornalista? Quem se lembra do acontecimento entre Luís Roberto Barroso e Joaquim Barbosa? Barroso chamou Barbosa de" negro de primeira linha ". Será que Barroso, na época, era racista e/ou preconceituoso? E se Barroso dissesse" Um negro com alma de branco! ", será que há real intenção racista e preconceituosa por parte de Barroso?

MENTE, CÉREBRO E CULTURA

Como eu disse alhures, o cérebro capta tudo, através dos cinco sentidos, independentemente da vontade do Homo Sapiens Sapiens Conflictus. O cérebro, em certo momento, comporta-se como um ente personalizado, isto é, como se tivesse 'vontade própria'. Os renomados filósofos, como Immanuel Kant, diziam que o ser humano é dono de seu destino, de seus pensamentos. Buda, por exemplo, também dizia que cada ser humano é responsável pelo próprio destino (Karma). Jesus Cristo também dizia que cada qual é livre (livre arbítrio), sendo assim, cada qual escolhe qual caminho quer trilhar. De certa maneira, todos estão corretos; por outra, depende de cada caso concreto.

Kant dizia que a razão sempre deve estar acima das emoções; Jesus dizia" Vigiai e Orai! ", enquanto Buda recomendava a meditação aos seus discípulos como forma de não cair na efemeridade do Maya.

E quanto aos registros das vivências, elas deixam de existir seja pela meditação, pela vigilância constante ou meditação? Sinto dizer, não. Nos momentos mais estressantes, toda informação, inconsciente, pode ser externalizada, a catarse. O adulto de hoje, a criança de ontem. E a criança é influenciada pelos pais, pelos professores, pela sociedade e pelas leis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dizer que o jornalista é, peremptoriamente, racista e preconceituoso, pela infelicíssima frase, sem perscrutar toda sua vivência — nasceu, foi educado pelos pais, pelos professores, pela sociedade; sua vida dentro e fora do âmbito laboral —, como de qualquer Homo Sapiens Sapiens Conflictus, é querer condenação do tipo romana (a.C.) — banir, sem comida, sem água; sair dos limites do Império Romano. Os perigos quanto à falta de proteção do utilitarismo romano. Que tipo de 'civilização' os brasileiros querem?

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Se William Waack foi racista ou preconceituoso, o que dizer de Barroso? Ninguém tem a capacidade, a não ser através da hipnose — não surte efeito em todas as pessoas — de saber o que está nas profundezas da mente de outra pessoa. A antiga frase" Preto correndo é ladrão! "já diz, por si mesma, estereótipo de 'criminoso nato'. Usar ressonância magnética para saber qual área cerebral é diferente do ser humano 'normal'?

Da mesma forma que as crianças 'brancas' cresceram em ambientes racistas e preconceituosos, as crianças 'negras' também foram criadas em ambientes racistas e preconceituosos. Uma pessoa escravizada, seja qual for, qual a sua concepção de vida, qual imagem pessoal terá de todas as pessoas (transferência) parecidas com os seus algozes?

Término da Segunda Guerra Mundial. Todos os alemães, nazistas ou não, eram detestáveis, monstruosos etc. Vinganças privadas, dos prisioneiros dos campos de concentração nazistas, dos soldados, dos generais etc. das Forças Armadas dos Aliados da Segunda Guerra Mundial.

Olhos atentos a qualquer deslize. Dedos ríspidos apontados para o 'incivilizado', clamores de 'justiça' cujos olhos se assemelham à 'Lua de Sangue'.

Tempos sombrios: tempos de Inquisição, de Coliseu e anti Cesare Beccaria.

Queimem os infiéis em praça pública.
Guilhotinem até não sobrar mais ninguém.
Bane o condenado, sem água, sem comida, sem emprego, para fora do Império Romano.
Lancem bombas incendiárias nos presídios.

A CRFB de 1988, pelo visto, serve para ser queimada em noites de inverno.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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