Extensão ou Comunicação?

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O direito ao conhecimento

Em tempos de Fake News e de “pós-verdade”, quando a mentira vale mais do que o conhecimento, é urgente revisitar os melhores pensamentos e ações sobre Educação. A Educação que se desdobra como conhecimento por meio da “visão de mundo concreta” – e se é concreta advém da práxis: um agir que transforma, negando e superando as negações anteriores.
A “Educação para a verdade” – contra todos os engodos e máscaras sociais – é aquela que aposta no “desvelamento” das situações, na exibição das causas. É a Educação que produz consciência: tendo-se paciência com a ciência, isto é, com o conhecimento. Trata-se da Educação – como ensinou Paulo Freire – que é intransigente com inverdades ou meias-verdades: uma meia-verdade é uma mentira inteira.
Nos termos da Pedagogia de Paulo Freire, trata-se de sair do estágio da “consciência intransitiva”, do homem social em existência bruta, bem ilustrado no quadro Abaporu (Tarsila do Amaral). Desembocando na “consciência transitiva”, acima dos interesses vegetativos, ou seja, de quem não se preocupa somente com a subsistência, com alguma folga para dialogar com a própria realidade: talvez revivendo a fase dos “porquês”.
O ato pedagógico teria desfecho para além do ciclo da incompreensão original, quando, por fim, fosse desvelada a “consciência crítica”. A crítica, como se sabe, é radical, pois deve buscar a raiz das questões, não apenas a aparência das flores: inclusive porque a flor pode ser carnívora e não destinada ao olfato ou paladar de quem a “desconhece”. Portanto, só a educação crítica produz conhecimento. E o conhecimento, como veremos, é o oposto da ideologia: em antagonismo, em sinal de eliminação, quando vigora a regra do “ou...ou”. Ou ideologia, ou conhecimento.
 Na verdade, a ideologia tem o mesmo efeito que as manifestações de Fake News: notícia mentirosa. Na era da pós-verdade, a mentira conta mais. Mesmo que tenhamos muitas definições de ideologia (centenas) há um sentido comum de encobrimento, de pensamento labiríntico que o conhecimento não alcança.
Destacamos algumas aparições/versões “ideológicas”: visão de mundo; ilações; inverdades; conjunto de valores; vontades inconfessáveis; senso comum; crença inquestionável; um véu de obscuridades (“fortes indícios”); uma prospecção limítrofe do real; a doutrinação que anula ensinamentos de doutrinas válidas; a dissonância cognitiva; dominação pela vontade de outrem; ou a limitação pelas obviedades.
Em alguns casos é engodo mesmo, do tipo “teoria da conspiração”. O que aproxima a Fake News da ideologia é a mentira que carrega ou (re)cria, a exemplo dos robôs digitais (bots): 30% dos 50 milhões de seguidores de Trump são robôs mentirosos. O presidente dos EUA – assim como muitos outros – promove a extensão de suas “inverdades” (bots) ao invés de comunicar a realidade dos argumentos. O efeito costuma ter êxito, a contar de sua vitória eleitoral, porque as pessoas se interessam cada vez menos pela reflexão acerca dos fatos.
Afinal, refletir muitas vezes é um ato penoso, uma vez que não se admite – em termos científicos, quer dizer, reais – a concepção de que “contra fatos não há argumentos”. Mais do que isso, em muitos casos o tal engodo é justamente a ideologia. Quem lança mão do compartilhamento de Fake News pode até questionar interiormente sua origem duvidosa, mas a atração de dizer algo que se pensa, sem que para isso seja preciso usar as próprias palavras, tem uma grande força. Há muitas versões sobre os fatos, assim como sobre a história e tudo o que fazemos: não há neutralidade e mesmo a objetividade restará nula se a premissa inicial for falsa ou meio-verdadeira. O animal político produz intenções, inúmeros sentidos remexidos em ideologias e sentimentos, vontades nem sempre reveladas.
Portanto, a “Educação para a verdade” – sem escorregar no óbvio ululante – é produtora de conhecimento, própria da investigação radical que não flerta com as aparências ou interpretações fracionadas e não comprometidas, ou seja, improváveis, sem comprovação que leve à transformação das mesmas alegações que geram as inverdades de suas premissas.

Vinício Carrilho Martinez . Professor da UFSCar/ Ded
Caroline Janjácomo. Mestranda no PPGCTS/ UFSCAR.
Vivian Guilherme. Mestranda no PPGCTS/ UFSCAR.

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Sobre os autores
Vivian Guilherme Marques

Jornalista Mestranda em Ciência, Tecnologia e Sociedade Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR

Caroline Janjácomo

Publicitária. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR. Email:

Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

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