(I) Considerações Iniciais
A Ciência da Informação está sendo desafiada a pensar a globalização do mundo. No fim do século XX, quando se anunciava o século XXI, ela já se defrontava com dilemas que se abrem com a globalização das coisas, pessoas e idéias. Existem processos e estruturas sociais, econômicos, político-educacionais, culturais e outros que apenas começam a ser estudados. Além do que é local, regional e nacional, colocam-se problemas novos e fundamentais com a emergência da Sociedade da Informação Globalizada. As fronteiras geográficas e históricas, educacionais, culturais e civilizatórias parecem modificar-se diariamente em direções e formas surpreendentes.
Hoje, as informações são registradas nos mais variados suportes físicos, gráficos e não gráficos (livros, coleções de fotografias, discos, filmes, vídeo - tapes periódicos, mapas, etc.) formando o acervo de uma Biblioteca e comprovando que vivemos na era da comunicação de massa, e a informação que nos chega, além dos meios tradicionais (impressos), também através da imagem e do som.
A Biblioteca Escolar, espaço dinâmico e integrante da Escola, envolvida no processo ensino-aprendizagem, precisa estar equipada de material de boa qualidade para desempenhar sua função de agente educacional, proporcionando aos alunos oportunidades de crescimento e enriquecimento cultural, social, intelectual e momentos de lazer através de livros científicos e de leitura recreativa. Os serviços de Biblioteca devem ser planejados e direcionados para a utilização efetiva do acervo que a compõe, estando o profissional bibliotecário comprometido com a Educação, e também, com a preservação de seu patrimônio.
Atualmente, não mais se pode pensar em escrita e leitura como unidimensionais. Sem dúvida o texto escrito e lido sempre teve e continua a ter uma dimensão fundadora inalienável. Mas a ela somam-se muitas outras interfaces que permitem ao leitor, atribuir e construir novos e coerentes significados para o que lê e interpreta.
É na escola, pela mediação do professor e com a ajuda do livro didático que os estudantes aprenderão a ler, a escrever e a enxergar sua própria realidade e a realidade do outro. Essa relação é essencial ao jovem, que pelo contato e exploração de diferentes textos e por meio de ações intermediadas, o aluno passará a interagir com seus pares, a produzir um conhecimento partilhado e com isto consegue representar oralmente e por escrito, sob vários registros verbais, seu pensamento, sua experiência prévia de vida e seu conhecimento coletivo de mundo.
(II) Objetivos
Ler significa não só ver as letras do alfabeto e juntá-las em palavras, mas também estudar a escrita, decifrar e interpretar o sentido, reconhecer e perceber.
A medida que um bom leitor descobre o significado literal de uma passagem, ele se envolve em vários passos, isto é, faz referência, vê implicações, julga a validade qualidade, eficiência ou adequação das idéias, compara os pontos de vista de autores diferentes, aplica as idéias adquiridas às novas situações, soluciona problemas e integra as idéias lidas com as experiências prévias.
Fascinante! A aprendizagem da leitura sempre se apresenta intencionalmente como algo mágico, senão enquanto ato, enquanto processo da descoberta de um universo desconhecido e maravilhoso. Parodiando Paulo Freire: "ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém educa a si mesmo; os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo". Refletindo melhor se poderia dizer: ninguém ensina ninguém a ler. O aprendizado é, em última instância, solitário, embora se desenvolva na convivência, cada vez mais com os outros e com o mundo, naturalmente!
A leitura é importante em todos os níveis educacionais. Portanto, deve ser iniciada no período de alfabetização e continuar nos diferentes graus de ensino. Ela constitui-se numa forma de interação das pessoas de qualquer área do conhecimento.
A leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento. Está intimamente ligada ao sucesso do ser que aprende. Permite ao homem situar-se com os outros. Possibilita a aquisição de diferentes pontos de vista e alargamento de experiências. É também um recurso para combater a massificação executada principalmente pela televisão. Para ele, o livro é ainda um importante veículo para a criação, transmissão e transformação da cultura.
Através do hábito da leitura, o homem pode tomar consciência das suas necessidades (auto educar-se), promovendo a sua transformação e a do mundo. Pode praticar o exercício dialético da libertação.
O livro pode ser considerado como precioso recurso de ensino. No entanto, não é tão popular como o giz, o quadro negro, o lápis e o caderno. É grande o número de livros editados, com inúmeros títulos diferentes que poderiam, se bem utilizados, concorrer para a melhoria da qualidade do ensino.
O professor tem a liberdade de escolher as obras didáticas para seus alunos em função do conhecimento que tem dos livros, da escola e dos alunos. Pode ainda usar de materiais impressos para o ensino de sua disciplina: dicionário, revistas, jornais, etc... e, até mesmo, elaborar seus próprios textos, incentivando assim as muitas formas de ler.
O livro constitui o mediador na comunicação escrita entre o professor e o aluno. Através dele, se valoriza um ensino informativo e teórico. Por esse motivo, se torna necessário a formação de leitores que possam trabalhar esse material.
Existe no Brasil um volume significativo de produção editorial. No entanto, apenas pequena parcela da população tem acesso aos livros produzidos, levando-se em conta a idade da população e os hábitos de leitura, bem como o baixo poder aquisitivo desta.
O aumento de leitores significa acesso às informações mais objetivas. Com isto passarão a ser críticos da realidade, além de tentar transformar essa realidade a partir do que foi conhecido e construído durante as leituras.
O problema da falta de hábito de ler já começa nas primeiras séries do primeiro grau, em razão dos textos utilizados serem muitas vezes ultrapassados e alienados dos problemas da realidade, não constituindo nenhuma motivação para o aluno. O mercado está cheio de livros didáticos sem sustentação filosófica e teórica e, muitas vezes, ainda conta com a incompetência profissional do educador para orientar corretamente esta prática.
As leituras oferecidas principalmente aos alunos de segundo grau tendem mais para o conservadorismo e reprodução da ideologia ultrapassada.
É preciso lembrar que a educação do ser humano envolve sempre dois fatores: formação e informação. Por isso, os conhecimentos transmitidos as novas gerações devem ser trabalhados com os valores e costumes para que ocorra a sobrevivência e evolução da cultura. Os textos podem ser utilizados na realização de objetivos educacionais tanto para formar como para informar.
O que se pergunta, dentro de uma dimensão pedagógica é "Como desenvolver o hábito da leitura em nossos alunos quando o professor, na sua formação profissional, não aprendeu os procedimentos pedagógicos para este fim, sendo que ele próprio não possui o hábito da leitura?"
A motivação para leitura envolve curiosidade e abertura a novos conhecimentos e informações. Os alunos lêem normalmente para as provas e estas leituras são sempre escolhidas pelo professor.
O segmento adolescente é o mais resistente à leitura. Preferem as informações mais passivas, obtidas pela TV. Este quadro é modificado quando os alunos encontram assuntos específicos de seu interesse. Portanto, é necessário que se valorize a leitura em sala de aula, em todas as disciplinas.
Segundo Rangel (1990), ler é uma pratica básica, essencial para aprender. Nada substitui a leitura, mesmo numa época de proliferação dos recursos audiovisuais e da Informática. A leitura é parte essencial do trabalho, do empenho, de perseverança, da dedicação em aprender. O hábito de ler é decorrente do exercício e nem sempre constitui-se um ato prazeroso, porém, sempre necessário. Por este motivo, deve-se recorrer a estímulos para introduzir o hábito de leitura em nossos alunos.
(III) a presença e o lugar da leitura na escola
A escola tem por responsabilidade proporcionar aos seus alunos condições para que estes tenham acesso ao conhecimento. Nesse ciclo de criação e recriação do conhecimento, próprio da vida escolar, a leitura ocupa, sem dúvida alguma, um lugar de grande destaque.
Se é relativamente fácil constatar a presença de leitura na escola, torna-se um pouco mais difícil discutir as condições concretas de produção de leitura. A relevância e a necessidade do ato de ler para professores e alunos são irrefutáveis, porém, é necessário analisar criticamente as condições existentes e as formas pelas quais esse ato é conduzido no contexto escolar. O discurso e o bom senso mostram que a leitura é importante no processo de escolarização das pessoas, porém, os recursos reais para a prática da leitura na escola podem, entretanto, contrapor-se àquele discurso.
Assim, a dimensão quantitativa (mais ou menos leitura) e a dimensão qualitativa (boa ou má leitura) do processo, dependem das condições escolares concretas para a sua produção.
O caráter livresco do ensino e as formas autoritárias através dos quais os livros são apresentados em sala de aula, tendem a contribuir com a docilização dos estudantes, gerando a falsa crença de que tudo que está escrito ou impresso é necessariamente verdadeiro.
Os processos de memorização do conteúdo (textos, apostilas ou livros apostilados) impedem que o leitor se torne sujeito do trabalho que executa.
Freire (1985) chama isto de "educação bancária" – o professor passa para o aluno um conjunto de informações apenas para encher a cabeça do aluno. Daí a passividade, o amortecimento da crítica e da criatividade, o consumo mecânico e não significativo das idéias propostas nos textos, etc.
A leitura de textos, tomada como fins em si mesmos, em função da mistificação daquilo que está escrito, gera uma outra conseqüência nefasta para a formação do leitor. Se um texto, quando trabalhado não proporcionar um salto de qualidade no leitor para a sua visão de mundo, tanto no aspecto social, quanto no cotidiano do leitor, a leitura perde a sua validade.
Na leitura onde não existe compreensão de idéias, será melhor uma mera reprodução de palavras ou trechos veiculados pelo autor do texto. Infelizmente, esse tipo de leitura é uma constante nas escolas brasileiras de primeiro e segundo graus e até mesmo no terceiro grau.
Muitas vezes, a estruturação de um trabalho escrito aparece repleto de outros autores, permanecendo no nível de mera edição ou colagem, conforme fulano, segundo sicrano, a voz do estudante não soa dentro do trabalho que ele próprio produziu. Tal problema não ocorre ao acaso e nem por culpa total dos estudantes, é uma decorrência da não integração curricular entre as diferentes disciplinas ofertadas pela escola.
Sem dúvida, a busca do conhecimento pode e deve ser mediada pela leitura de determinados textos, porém, o ato pedagógico vai exigir muito mais do que isto.
A formação e manutenção de bibliotecas escolares ainda não se transformou em preocupação política na realidade educacional. Além disso, são poucos os professores que visitam a biblioteca para conhecer os seus recursos e tentar um trabalho integrado com os bibliotecários. Essa prática seria um meio de colaborar com os alunos para a investigação de determinados assuntos.
O caráter propedêutico do ensino brasileiro conjugado ao fenômeno da transferência de responsabilidade (repasse da aprendizagem real dos alunos para a série seguinte ou grau) constituem o cerne daquelas expectativas, fazendo com o que o professor de uma determinada série pressuponha a existência de habilidades pré-adquiridas pela turma em séries anteriores.
Muitas das reclamações dos professores, do aluno que chega às suas mãos sem pré-requisitos, são frutos de radical apego ao programa pré-estabelecido. O aluno tem que seguir em frente apesar das dificuldades encontradas.
Os alunos, numa situação de desespero, principalmente por sentirem-se incapazes de realizarem as tarefas propostas, desmotivam-se, aparecendo como resultado a repetência e a evasão escolar. Surge também o "pacto da mentira": os alunos fingem que leram e compreenderam os textos e os professores fingem que acreditam. Daí a importância de eliminar os "ledores" e formar os "leitores", tão necessários a nossa sociedade brasileira.
Mostrar o valor da leitura aos educandos não é uma tarefa difícil, pois esse processo, bem estruturado, com supervisores e/ou bibliotecários, significa uma possibilidade de repensar o real pela compreensão mais profunda dos aspectos que o compõem.
No ensino, não basta discutir ou teorizar o valor da leitura. É preciso construir e levar a prática que a leitura venha a ser cada vez mais sedimentada na vida do educando.
Ler é um ato libertador. Quanto maior vontade consciente de liberdade, maior terá que ser o índice de leitura.
O professor brasileiro, dado a sua condição de oprimido, também é carente de leitura. O número excessivo de aulas bloqueia os momentos para leitura. Além disso, o salário não é suficiente para comprar livros e enriquecer o seu intelecto.
Não existem bibliotecas especializadas para atender aos cursos de licenciatura, sendo que esses tocam por alto a pedagogia da leitura.
Um dos efeitos da leitura é o aprimoramento da linguagem, da expressão, tanto individual como coletivamente.
Uma sociedade que sabe se expressar, sabe dizer o que quer, é menos manobrável.
No plano familiar, verifica-se a influência de uma estrutura social onde impera o utilitarismo, o consumismo e a alienação. A troca social de informações é preenchida com o uso de televisão, vitrine de moda e conceitos de filmes.
A crise do livro e da leitura no Brasil é uma característica normal dentro da classe trabalhadora. Essa disfunção na área de leitura, em verdade cumpre uma função muito clara, a de bloquear o crescimento e a emancipação do povo.
A reflexão a respeito disto fica a nível de que como instrumento facilitador do desencadeamento do habito de leitura, a biblioteca brasileira, de modo geral, carece de estruturação para assumir tal responsabilidade.
(IV) Considerações finais
Podemos considerar três motivos básicos para a valorização da leitura: (a) Informação, (b) Conhecimento, (c) Prazer, que estão associados ao fato de que o texto a ser lido e criticamente analisado por um leitor é sempre um trampolim para uma compreensão mais profunda e objetiva do contexto humano. Considerando que qualquer linguagem sempre possui um referencial de mundo/realidade, ser leitor é capaz de apreender os referenciais inscritos em qualquer mensagem e também os existentes num texto, o que significa compreender a dinâmica do real e compreender-se como um ser que participa desta dinâmica.
A Reforma do Ensino, consubstanciado na Lei nº: 9394/96, cuja direção aponta para a educação formativa do cidadão, preocupada com os métodos e recursos, portanto, mais educação do que adestramento, visando fornecer, através do ensino unificado de primeiro e segundo graus, a formação necessária para o desenvolvimento das potencialidades do educando, extinguido a escola verbalista e centrada no professor. Preconizou uma educação onde o aluno é o principal agente, sob orientação do professor. No entanto, para que os ideais da Reforma sejam alcançados, é preciso que a escola seja estruturada de modo que a aprendizagem dependa em grande parte da leitura de textos.
A consecução desses ideais parece exigir uma reflexão mais profunda sobre a aprendizagem da leitura, posto que o ensino da leitura é um processo contínuo e que o professor, independentemente da disciplina, responde em grande parte, pelo êxito ou fracasso desse processo.
Um exemplo de valorização da leitura é apresentada pelo Projeto Farol do Saber, nome inspirado na célebre Biblioteca de Alexandria, que constituiu-se, na Idade Antiga, em importante centro cultural e econômico, aproximando povos e iluminando a Antigüidade com a luz do conhecimento. O referido projeto, elaborado e executado pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, prevê a implantação de mini bibliotecas de bairros, diferente porém de uma biblioteca comum. É um ponto de referencia disseminador da cultura e do saber, onde as atividades propostas são desenvolvidas de maneira a despertar o interesse e a participação voluntária de seus freqüentadores.
Os Faróis do Saber surgem como antídoto ao conhecimento "acabado", "pronto" e "certo", ao discurso de "certezas" do mestre, para se tornarem um espaço gerador do espírito crítico e de questionamento, propiciando o acesso ao livro, a recriação do conhecimento.
Os objetivos dos Faróis do Saber são:
(a) oportunizar o acesso aos bens culturais, resgatando o fenômeno literário e o prazer do texto;
(b) criar condições que favoreçam a prática da leitura, pesquisa, informação e reflexão, instrumentos para a formação e exercício da cidadania;
(c) suprir as bibliotecas de livros, periódicos e bens culturais, tendo em vista o interesse e as expectativas do usuário.
Claro está, para que a situação de carência de bibliotecas e desvalorização da leitura mude, é preciso muito mais que isso. O projeto Farol do Saber abrange só Curitiba, a capital. Quando teremos Faróis do Saber espalhados pelo Paraná todo? Pelo Brasil todo? Enfim, quando haverá uma política educacional orientada para a capacitação crítica dos indivíduos?
(V) Referências Bibliográficas
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989.
AGUIAR, Vera Teixeira de. Leituras para o primeiro grau: critérios de seleção e sugestões. In: ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 85-106, 1991. (Série Novas Perspectivas).
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: de leitor ao navegador. São Paulo, Unesp, 1999.
DIAZ BORDENAVE, Juan, PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 10 ed. São Paulo: Autores Associados Cortez, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
LAJOLO, Marisa. Leitura em crise na escola, Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.
MANGEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 16. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. (Série Primeiros Passos).
RANGEL, Mary. Dinâmica de leitura para sala de aula. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
REYES, Antonio Basanta. Temas para debate. Espanha-Madri, 2000.
SILVA, Ezequiel T. Leitura na escola e na biblioteca. Papirus, 1986.
SILVA, Ezequiel T. Elementos de pedagogia da leitura, São Paulo: Martins Fontes, 1993.
SILVA, Ezequiel T. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. São Paulo: Cortez - Autores Associados, 1981.
SUIADEM, Emir. Biblioteca Pública e Informação à Comunidade. São Paulo: Global, 1995.