Thomas Hobbes, pensador inglês que viveu entre os anos de 1588 e 1679, trouxe questões relevantes para a ciência política, algumas permanecendo atemporais. Hobbes inaugura sua pesquisa ao tratar do “estado de natureza”, em que os homens viviam de maneira insegura, na iminência de serem atacados, sem uma força governamental que lhes garanta a vida, a liberdade e a propriedade, sem, portanto, a tutela do Estado. Diante disso, para que seja garantido e que haja a segurança na sociedade, os homens, por meio de um mútuo acordo, transferem todas as forças daquela sociedade a um soberano (ou Assembleia), surgindo, assim, o Estado. Esse governo que se forma é forte, autoritário (simbolizado pelo autor na figura do Leviatã) e tem como principal pressuposto garantir a segurança da sociedade.
Em tempos de covid-19, tem-se a real necessidade de os governos, de maneira racional, mostrarem sua soberania, controlarem e subsidiarem um maior número de setores da sociedade, de maneira a garantir a segurança, a paz e a saúde. Lembrando que não se trata de uma defesa da ditadura, mas, ao contrário, de um regime democrático, que verse sobre a autonomia do Estado, se fortalecendo em tempos de crise.
No Brasil, o governo anuncia auxílios a pessoas carentes, micro e pequenos empreendedores e empresas que se encaixem nos requisitos. Grupos liberais que até pouco tempo defendiam a não intervenção do Estado em questões econômicas, já mostram que o atual contexto urge por medidas estatais diretas na economia, caindo por água abaixo a ideia de autorregulação do mercado (“mão invisível” de Adam Smith) pelas empresas competidoras. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump trouxe e colocou em vigor o Ato da Produção de Defesa, uma lei dos anos 1950, que tem como objetivo aumentar a produção da iniciativa privada de suprimentos necessários para combater a crise de saúde, como máscaras e aparelhos que ajudam pacientes a respirar, fazendo com que, na prática, o governo tenha autoridade sobre a produção.
A partir de uma interpretação extensiva, a semelhança, nesse aspecto, entre o autor e a contemporaneidade, é evidente, visto que um governo (Estado) fraco, sem forças para suprir as atuais carências, sem soberania e autonomia, seria inviável, assim, um combate efetivo ao covid-19. Por fim, talvez uma frase de Thomas Hobbes que simbolize o ato perigoso das pessoas de saírem de casa sem necessidade: “o homem é o lobo do homem”.