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A ascensão feminina nos meios militares: a ruptura do paradigma da predominância masculina no militarismo

Agenda 06/04/2015 às 17:12

Este artigo tem por objetivo contextualizar a longa jornada histórica dos movimentos feministas no mundo e no Brasil, e o caminho pela ascensão feminina no militarismo, lato sensu. Bem como, analisar a inserção e ascensão das policiais militares...

RESUMO

Este artigo tem por objetivo contextualizar a longa jornada histórica dos movimentos feministas no mundo e no Brasil, e o caminho pela ascensão feminina no militarismo, lato sensu. Bem como, analisar a inserção e ascensão das policiais militares em uma seara predominantemente masculina, sua percepção dentro da instituição Brigada Militar considerando a crescente ruptura de paradigmas.

Palavras-chave: mulher, policiais militares, Brigada Militar.

ABSTRACT

This article has the objective to contextualize the long historic journey of the feminist movements in the world and in Brazil, and the path of career ascent for females in militarism (police force), broadest sense. Also, it analyzes the insertion and ascent of female police officers in a field predominantly occupied my males, and the perception inside the Military Police considering a crescent rupture in paradigms.

Key Words: woman, military police officers.

Introdução

As questões de gênero não abarcam somente a vida na sociedade civil, abarcam também a vida na caserna, nos meios militares, onde a figura feminina ainda é uma criança engatinhando.

Nesse cenário tornar-se imprescindível conhecer o passado para entender a evolução e a forma como procederam e procedem as conquistas femininas, a fim de abalizar as dificuldades correlatas da ascensão profissional e social da época à atualidade.

Nesse aspecto o presente artigo prima em demonstrar a inserção e ascensão da mulher no militarismo, em especial, na Brigada Militar, e como vislumbram-se dentro da instituição em face das ações do sexo masculino.

O contexto histórico da mulher na sociedade

As mulheres foram fadadas ao silêncio, a sociedade patriarcal e machista, impôs uma fronteira entre os sexos, de um lado o homem que sempre pode tudo e de outro a mulher restrita aos afazeres domésticos e a família, sendo a peça subsidiária do homem. Historicamente, a participação da mulher na esfera extradoméstica esteve sempre ligada ao afastamento do homem por motivo de guerras.[2]

Na Grécia e em Atenas ocupavam posições equivalentes aos escravos, tendo como função primordial a reprodução e criação dos filhos, eram responsáveis por manter diretamente a subsistência do homem, tecendo, cultivando os alimentos e preparando-os até a mesa, sendo-lhes proibidas as atividades públicas, consideradas nobres, como: filosofia, política e artes. [3]

Notavelmente as construções culturais influenciaram a dominação masculina e em decorrência desta formou-se uma ideologia que a mulher é sempre inferior ao homem nas atividades externas, e, nas internas, somente a mulher, sabe desempenhá-las com louvor.

Desta forma, que movimentos conhecidos como feministas lutam incansavelmente para que seja repensado e recriado “a identidade de sexo sob uma ótica em que o individuo, seja ele homem ou mulher, não tenha que adaptar-se a modelos hierarquizados, e onde as qualidades “femininas” ou “masculinas”  sejam atributos do ser humano em sua globalidade”[4]

Essa busca por espaço é diária, diferente de séculos atrás, onde na Idade Média mulheres que se insurgiam contra as ideias pertencentes exclusivamente ao sexo masculino eram queimadas, apenas por serem mulheres, como afirmou o inquisitor Jacques Sprenger “se hoje queimamos as bruxas é por causa do seu sexo feminino”[5]

Ainda, no período renascentista a mulher que trabalhava enfrentou uma cultura depreciativa[6], no entanto diante da necessidade econômica da época está manteve-se laborando, mas sua mão de obra era explorada, desvalorizada em relação ao homem que recebia o dobro pelo mesmo trabalho realizado[7].

As Universidades, mundo externo, até meados do século XIV não contemplavam figuras do sexo feminino,[8] atualmente são maiorias, segundo dados do Ministério da educação, em 2009, as mulheres na graduação presencial representavam 55,1% do total de matrículas e 58,8% das concluintes dos cursos. E na educação à distância esses números são maiores, pois 69,2% das matrículas são femininas e 76,2% dos concluintes. [9]

            Após 1940 conquistaram alguns revindicações, como o direito ao voto, a concorrerem a cargos eletivos, ingressarem nas instituições escolares e a participar do mercado de trabalho, embora de forma bastante restrita. [10]

Em face desta restrição a história moderna registra que as primeiras vozes de contestação feminina se dirijiam eram justamente contra a desigualdade sexual e uma busca por mais acesso a educação e ao trabalho.”[11]

Nos primórdios do capitalismo surge Ann Hutchinson, americana e religiosa, uma das primeiras mulheres a dar voz à luta feminista, pregava que: “o homem e a mulher foram criados iguais por Deus, contrariando assim os dogmas calvinistas da superioridade masculina.” Acabou sendo banida em 1637.[12]

Na França em meio a Revolução Francesa surgiram inúmeras publicações revelando a relação trabalhista e a situação de desigualdade legal e política, e principalmente a prostituição, a qual atingia em Paris cifras assustadoras, no final do século XVIII, para cada cinco mulheres solteiras, uma era prostituta.[13]

“Segundo Rousseau, a mulher deveria ser educada e encontrar sua realização “natural” e colocar-se a serviço do homem, desde a infância até a idade adulta”. [14]Contudo, contrariando as ideais de Rousseau, ideólogo da Revolução Francesa, Mary Wollstonecraft na Inglaterra, contestava a existência de diferenças naturais no caráter de inteligência, pois segundo ela “a inferioridade da mulher adviria unicamente de sua educação”.[15]

Na Revolução Industrial as mulheres, homens e crianças submetiam-se a jornadas intensas de trabalho, compartilhando condições desumanas, no entanto, sofriam uma “superexploração advinda das diferenças salariais.” Em Paris as mulheres recebiam a metade do valor pago aos homens pelo mesmo número de horas trabalhadas sob a justificativa que elas tinham quem as sustentasse.[16]

Logo, com o passar do tempo às indústrias preferiram a mão de obra mais barata, a feminina, consequentemente os sindicatos lhe fecharam as portas por considerá-las concorrentes desleais. A partir de então nasce inúmeras figuras femininas liderando movimentos, imbuídas pela busca da igualdade.

No século XIX, “através de uma luta constante por seus direitos, as mulheres trabalhadoras romperam o silêncio e projetaram suas reivindicações na esfera pública".[17] Homens e mulheres buscavam lado a lado avanço nas relações operárias.

Em 08 de março de 1857, as mulheres operárias da indústria têxtil, na cidade de Nova Iorque saíram às ruas protestando contra os baixos salários e a jornada de doze horas de trabalho. Foram violentamente reprimidas, feridas, presas e algumas assassinadas. Ficando o dia 08 de março consagrado como o Dia Internacional da Mulher.[18]

Diverso da classe operária o movimento pelo sufrágio universal, o direito do voto feminino, envolvia todas as classes, prolongou-se nos Estados Unidos e na Inglaterra por 7 décadas. No Brasil, por 40 anos, a contar da Constituinte de 1891.”[19]

Com as guerras mundiais a mão de obra feminina é retomada nas indústrias, eis que, os homens estavam na linha de frente na batalha, mas com o fim da guerra, os homens retomam a posição e as mulheres são relocadas a condição feminina, sob a ideologia da “rainha do lar”. Novamente o trabalho externo da mulher é desvalorizado, tido como suplementar ao do homem.[20]

Diante da conjuntura política do Brasil em 1932, período do Estado Novo, freou-se qualquer crescimento de movimentos sociais, o que perdurou até 1964 (golpe militar), onde começaram a surgir grupos femininos focados na Anistia. Em meados de 1971 foram editados jornais e artigos informativos sobre direitos, saúde e educação da mulher.[21]

No âmbito jurídico da legislação brasileira, o Código Civil de 1916, trata a mulher como incapaz até o ano de 1962 quando foi revogado.[22]

No Brasil o movimento feminista tem-se mobilizado com o fim de trazer a público a condição inferiorizada da mulher, assim como a frequente violência física e mental sofrida.[23] Pois ainda há muito que se evoluir, como podemos observar através da reportagem da revista época de março de 2014, onde uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA - buscou a opinião de brasileiros sobre a violência contra a mulher.

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Os resultados foram preocupantes, porque a maioria acredita que a culpa é da mulher de ter sido vítima de estupro, por mostrar o corpo e não se comportar como deveria, além disso, acreditam que a mulher deve obediência ao marido e somente sente-se realizada ao ter filhos e constituir família. [24]

A pesquisa revela com certeza reflexos da história, de uma cultura marcada pela discriminação, entre dois seres iguais, criados para completarem-se, mas transformados pela sociedade em seres diferentes, um superior ao outro, talvez por ideologias próprias para uma dominação masculina e/ou centralização de poder em mãos de poucos, utilizando-se de meios ardilosos e infundados, como ocorre também com o racismo e as diferentes classes sociais, ou simplesmente porque a sociedade impôs esta presunção e ela irraizou-se ao longo dos anos, perpetuando como absoluta a afirmativa: “homens e mulheres são diferentes!”, até que o sentimento de inferioridade aflorasse no sexo feminino e começaram a somar pensamentos positivos para destruição destas correntes.

No militarismo a inserção feminina não fugiu do contexto histórico, o sexo feminino foi ultrapassando barricadas e trincheiras, começando timidamente na procura de espaço e conquistando campos ainda desconhecidos para as mulheres, como passaremos a abordar:

A inserção e ascensão feminina no militarismo

No Brasil, onde apenas homens participavam da linha de frente, Maria Quitéria foi a primeira a romper este elo e alistou-se no exército em Salvador, contra a vontade do pai. Conta-se que disfarçou-se de homem e quando sua identidade foi descoberta lhe transferiam para um Batalhão, contudo criaram um saiote para sua farda. Quitéria se destacou pela bravura e destreza no manejo das armas, chegando a receber honra de 1˚ Cadete, além de outras homenagens. Há inclusive uma medalha militar com seu nome.[25]

No Rio Grande do Sul- RS, Anita Garibaldi a “heroína dos dois mundos” é outra figura conhecida, além de valente e destemida, na Revolução Farroupilha seguiu ao lado do revolucionário Garibaldi, com quem permaneceu até o fim da sua vida.[26]

Na Brigada Militar Olmira Leal de Oliveira, Cabo Toco, Patrona da Primeira Turma de Policiais Militares do Rio Grande do Sul, incluiu em 1923 como combatente e enfermeira, participando nos movimentos revolucionários de 1923, 1924 e 1926. Deixando a Brigada Militar em 1932. Por ser mulher não tinha direito a receber salário do governo do Estado, vivendo humildemente na periferia de Cachoeira do Sul. Dez anos antes de sua morte, após sua história virar música, foi lhe reconhecido o direito pelo governo do Estado a vencimentos, passando a receber o soldo de 2˚ Sargento, falecendo em 1989.[27]

A revista Mulheres na Segurança Pública do ano de 2013 aponta que as mulheres começaram a fazer parte deste cenário predominantemente masculino em 1970, na Polícia Militar de São Paulo, outros Estados também passaram incorporá-las, porém na maioria das vezes em quadros de ascensão separados.[28]

As primeiras mulheres ingressaram oficialmente nos quadros da Brigada Militar em 1986, possuíam curso superior nas áreas de psicologia, serviço social, enfermagem, nutrição, educação física e direito, segundo relatos a orientação era para que atuassem apenas com crianças e idosos.[29] A carreira seguia em quadros separados, isto é, homens de um lado e mulheres de outro, elas atingiam o Posto máximo de Major, ficando impedidas de chegar ao Posto de Coronel e comandar unidades maiores, situação que perdurou por uma década.

Como o cenário evoluiu, as mulheres passaram a buscar seus espaços e estão em crescente ascensão dentro da Brigada, embora representem apenas onze por cento do efetivo e no oficialato como o efetivo é reduzido os números presumidamente são menores.[30][31] Desempenham funções que eram exclusivamente masculinas como a função de mergulhador do Corpo de Bombeiros do Estado, onde em 2008 a soldado Cláudia Zasso e Roseane Militz Carvalho, ao lado de dezoito homens e após cinquenta e cinco dias de treinos exaustivos, habilitaram-se para a função.

Em entrevista, a mergulhadora Roseane revelou que optou por tornar-se uma mergulhadora da Brigada Militar pelo desafio de não ter nenhuma mulher na atividade, de ouvir de todos os homens que jamais alguma mulher iria conseguir, por ser um curso muito rigoroso e difícil, e, também por gostar da atividade operacional. Ainda, ao ser questionada quanto à percepção da sociedade quando se depararam com uma mergulhadora mulher, referiu que: “Na maioria das vezes as pessoas ficam surpresas quando a veem entrando na água e saindo com o corpo (cadáver), pois acham que tem que ter muita coragem. Acho que me veem como uma pessoa que esta quebrando paradigmas e conquistando mais um lugar nesse espaço antes ocupado só por homens.”

Na Banda de Música da Brigada a pioneira em 2009 foi a Sd Taiara Rodrigues Cabreira, seguida da Sd Andressa Domingues Garcia, atualmente labutam ao lado de homens, levando a magia da música à sociedade gaúcha.

Nas artes marciais, disciplina ministrada aos policiais militares do RS, Isabel Cristina dos Santos, Ten. Dos Santos, é a única desde o ano de 2000 a ministrar aulas aos alunos em formação e em Curso de Aperfeiçoamento. Foi convidada a lecionar após vencer o campeonato nacional de combate Kuoshu (Kung Fu), no final de 1999, em Campinas-SP. Ao ser interpelada sobre haver ou não discriminação contra a mulher na corporação disse que: “Antigamente, pode ter existido, mas hoje não há mais espaço para atitudes discriminatórias, seja pela condição feminina, seja porque é gordo, baixo, magro, feio ou bonito demais, etc. O respeito deve ser recíproco, há espaço e função para vários perfis e ambos os gêneros em nossa instituição.”

Dentre esse crescimento paulatino das mulheres na caserna militar, Nádia Rodrigues da Silveira Gerhard, a Ten. Cel. Nádia, destaca-se como a primeira mulher a assumir um Batalhão policial no Estado do Rio Grande do Sul, incluiu em 1989, formada em Letras, e reafirma: “- Fazíamos segurança de colégio, ajudávamos a atravessar idosos, coisas assim. Demorou até mostrarmos que poderíamos atuar com homens e mulheres lado a lado ...[32] Eleva a bandeira feminina, trabalhando com Projetos Sociais voltados para a mulher, como a Patrulha Maria da Penha, que reforça o combate contra a violência doméstica e familiar.

Passados vinte e sete anos da incorporação da primeira turma, há mais mulheres exercendo cargos de chefia, comando, direção. Em que pese, haver setores que ainda não foram explorados por elas, a exemplo do Grupo de Ações Táticas Especiais – GATE e do Batalhão de Aviação, e outros tantos haverem um número pouco significativo como o Grupo de Busca e Salvamento – GBS, seja por razões próprias ou resquícios ainda do passado.

Mas, nota-se que se iniciou uma longa caminhada em busca de um novo modelo cultural junto às instituições militares, focado na equidade de gênero, com o ínfimo de reforçar o pensamento de Aristóteles e tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua igualdade. [33]

A percepção feminina e militar nas questões de gênero na Policia Militar do Rio Grande do Sul

A Instituição militar é um braço do Estado Democrático de Direito e para que um Estado garanta o pleno exercício da democracia, é indispensável existir entre homens e mulheres, igualdade de direitos e mecanismos que garantam a não-discriminação entre os sexos. Por este fundamento que existe políticas pública para mulheres, as quais são consideradas pessoas em situação de vulnerabilidade, sendo vítimas, principalmente na discriminação de gênero, e, por esta razão são mais suscetíveis à violência física e psicológica.

Dentre este enfoque que surgiu a necessidade de uma pesquisa dentro da Instituição, Brigada Militar, a fim de apurar se há alguma forma de violência, física ou psicológica, que ainda precise ser enfrentada.[34]

Após, elaborou-se uma pesquisa entre setembro e outubro de 2014 com cento e sete policiais militares femininas da Brigada Militar, atuantes em várias unidades operacionais do Estado, abordando o que levou-as a incluir na Brigada Militar; escolaridade; matrimônio; tempo de serviço na corporação; posto ou graduação; intenção de seguir na carreira; local de trabalho (Operacional ou Administrativo); a que consideram o grande número de mulheres no serviço administrativo; se consideram-se privilegiadas nos testes de aptidão física, eis que, fazem exercícios diferentes e distância menores do que os homens; a que consideram o pouco interesse das mulheres da corporação em desenvolver ou aperfeiçoar-se em atividades como defesa pessoal, aulas de tiro, salva-vidas, aviadora, mergulhadora; se alguma vez ouviram de seus colegas do sexo masculino expressões como:  “ - Não tinha que ter fem[35] na Brigada!”; se concorda que a disputa pelo “poder”, pode ser o grande fator da discriminação entre “negros e brancos”, “pobres e ricos” e “homens e mulheres”; se há discriminação da mulher dentro da Brigada Militar, e se a mulher adquiriu consciência que deve buscar seu espaço na sociedade.

Aplicou-se a pesquisa por meio de questionário online, onde as policiais não precisaram identificar-se, a fim de tentar-se apurar de forma mais real possível às informações sem que houvesse qualquer medo de represálias. As respostas foram objetivas, sendo possível apenas uma resposta para cada pergunta.

Da pesquisa participaram: 72 soldados, 12 sargentos, 4 tenente, 16 alunas-oficiais, 1 capitã, 1 major e 1 tenente-coronel. Destas 58% possuem curso superior, 36% ensino médio, 4% ensino fundamental e 2% além de concluírem o curso superior tornaram-se mestres. Estes dados confirmam que cada vez mais a mulher busca o conhecimento e aperfeiçoamento intelectual.

Entre as respostas chamou atenção o grande número de policiais femininas que possuem uma relação afetiva com policias do sexo masculino, totalizando 42% das entrevistadas que mantém relação conjugal para 58% que não possuem.

A decisão de inclusão na Brigada pelo sonho de ser militar é de 39%, lado a lado com a possibilidade da estabilidade que é de 38%, 16% pela possibilidade de ascensão que a carreira oferece, 4% por outros motivos e apenas 3% por ser o único concurso que obtiveram êxito.

Das policiais pesquisadas, 31 possuem 20 a 25 anos de serviço, 30 estão entre 11 e 19 anos, 29 com 5 a 10 anos e 17 com o tempo mínimo de 2 a 4 anos de trabalho na corporação.

Em relação a seguirem na carreira, em 14% persiste a dúvida, 18% decidiram por procurar outra carreira e apenas 68% pretendem continuar na atividade de policial militar, embora a maioria tenha decidido ingressar na instituição policial pelo sonho de ser militar.

Referente ao local de trabalho do efetivo feminino entrevistado, 53 atuam no policiamento administrativo e 54 no policiamento operacional, e segundo estas a opção do grande número de mulheres desenvolverem suas tarefas no administrativo é pela praticidade da escala, seguida pela vontade própria e ainda pelas visões machistas que consideram que as mulheres não possuem condições de trabalhar na linha de frente.

No exame que avalia a condição física do militar estadual, há algumas peculiaridades em relação à aplicação dos testes, a qual considera idade e sexo, portanto a avaliação é diferenciada para determinar se o policial está apto ao desempenho das funções. Exemplificando: homens mais novos correm alguns metros a mais e realizam o teste da barra, já os mais velhos, percorrem alguns metros a menos e substituem a barra pelo apoio. As mulheres de acordo com a idade, igualmente diminuem as distâncias a serem percorridas, à medida que ficam mais velhas, contudo ao comparar-se homens e mulheres, há alguns exercícios que não são aplicados a ambos, como: a barra.

Isto posto, interpelou-se as policiais se achavam-se privilegiadas em relação aos policiais masculinos, no teste de aptidão física, por percorrerem na corrida uma menor distância, bem como por fazerem apoio (flexões de braço) com os joelhos no chão, sendo que aos homens não é permito o joelho no solo, além de fazerem menos abdominais e não terem o exercício da barra. 90% não sentem-se privilegiadas.

No que tange ao pouco interesse das policiais militares em desenvolver ou aperfeiçoar-se em atividades como defesa pessoal, aulas de tiro, salva-vidas, aviadora, tripulante, mergulhadoras, revela a pesquisa que 30% atribuem ao comando a falta de oportunidade da instituição, 29% por falta de tempo em razão da família, 28% por falta de interesse da própria policial, 11% falta de conhecimento da atividade e 2% por ausência de força física.

Destarte, quando a pesquisa aborda se em algum momento da carreira ouviram a expressão: “Não tinha que ter fem. na Brigada!” ou ainda “ Tinha que ser Fem!”, os números são alarmantes, pois 96% ouviram estas expressões, o que comprova de forma indireta a existência de “violência psicológica” na instituição.

Contribuindo para a constatação desta “violência psicológica” no campo profissional, foi perguntando diretamente se achavam que havia discriminação da mulher dentro da Brigada Militar e 82% das policiais entrevistas consideram existir.

Todavia, 96% consideram que a mulher adquiriu a consciência que deve buscar seu espaço na sociedade, assim como 78% concordam que a disputa pelo “poder” dentro da sociedade, pode ser o grande fator da discriminação entre “negros e brancos”, “pobres e ricos” e “homens e mulheres”.

Logo evidente a ascensão feminina no ambiente militar, em especial na Brigada Militar, o que representa uma ruptura de paradigmas, mas a pesquisa balizou que existe um longo caminho para a mulher alcançar o patamar de equidade com os homens, no meio militar, pois na história da corporação, como mencionamos alhures, há pouco tempo às mulheres alcançaram o direito ao Posto de Coronel, entretanto ainda nenhuma conseguiu atingir postos de chefia em Nível Estadual como Comandante Geral ou Subcomandante-Geral da Brigada.

Considerações Finais

Por fim, acompanhou-se a evolução da sociedade com a presença feminina, como as mulheres inseriram-se no militarismo, a conquista de seus espaços, e finalmente com a pesquisa obteve-se a percepção feminina sobre a equidade de gênero na seara policial militar do Rio Grande do Sul, sendo possível identificar uma ruptura de paradigmas no decorrer dos anos, observado a ascensão de várias policiais militares em lugares predominantemente masculinos, o que demonstra que a mulher adquiriu parcialmente consciência do seu espaço no meio militar.

No entanto, esta entrada no meio masculino causa resistência, em face da dominação masculina da profissão e suas consequências são as mais variadas possíveis, podendo ser expresso por palavras discriminatórias, ou por atos. Mas, estes aspectos ficam atrelados ao meio social e profissional no qual o homem foi ou esta submetido a séculos, desta forma para que ocorra a inserção feminina é indispensável uma preparação, uma adequação do local e do ambiente de trabalho e principalmente a aceitação.

Na Brigada Militar do Estado RS é visível que não houve um programa de inserção das mulheres e que todas que elevaram-se a um patamar considerável foi por vontade própria, rompendo paradigmas, fazendo história, que não diverge de um passado ainda recente, onde mulheres embrenhadas em serem mais que “rainhas do lar” ofertaram a vida para serem livres e iguais em direitos e deveres ao sexo masculino. Mas a luta é árdua e constante, pois não trata-se de dias e sim anos, de uma cultura patriarcal e dominadora, assim a discriminação somente sucumbirá com esforço mutuo e constante de ambos os gêneros, homens e mulheres caminhando juntos, para que a sociedade se solidifique e engrandeça a humanidade.

Referências Bibliográficas

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O QUE É FEMINISMO. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos.

[2] O que é feminismo. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos. p.16-17.

[3] Idem, ibidem. p. 12.

[4] O que é feminismo. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos. p. 9.

[5] Idem, ibidem. p. 24.

[6] Idem, ibidem. p. 26.

[7] Idem, ibidem. p. 27.

[8] Idem, ibidem. p. 28.

[9] Ministério da Educação. MULHERES SÃO MAIORIA ENTRE OS UNIVERSITÁRIOS REVELA CENSO. Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16227:mulheres-sao-maioria-entre-os-universitarios-revela-o-censo&catid=212&Itemid=86. Acesso em: 29 set. 2014.

[10] O que é feminismo. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos. p. 49.

[11] Idem, ibidem. p. 28.

[12] O que é feminismo. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos. 30.

[13] Idem, ibidem. p. 33.

[14] Idem, ibidem. p. 35.

[15] Idem, ibidem. p. 36.

[16] Idem, ibidem p. 39.

[17] Idem, ibidem. p. 41.

[18] O que é feminismo. Branca M. Alves/ Jacqueline Pitanguy. Editora Abril Cultural/Brasiliense. Coleção Primeiros Passos.. p. 41.

[19] Idem, ibidem. p. 44.

[20] Idem, ibidem. p. 50.

[21] Idem, ibidem. p. 71-72.

[22] Idem, ibidem. p. 73.

[23] Idem, ibidem. p. 74.

[24] ÉPOCA. A culpa é delas. É o que pensam os brasileiros sobre a violência contra a mulher. Disponível em http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/03/b-culpa-e-delasb-e-o-que-pensam-os-brasileiros-sobre-violencia-contra-mulher.html. Acesso em: 29 set. 2014.

[25] Disponível em http://3.bp.blogspot.com/-QSgetT32WG4/T2UmsoQAPpI/AAAAAAAAEGg/6C3VV-E1LsU/s1600/M-3.JPG. Acesso 11 agosto de 2014.

[26]Disponível em http://2.bp.blogspot.com/-P69aSrIf_7w/T2UmxWuDQRI/AAAAAAAAEGw/P9YrBmbHGRg/s1600/M-5.JPG. Acesso 11 de agosto 2014.

[27] Disponível em http://www.museucachoeira.com.br/index.php?area=municipio&id=13. Acesso 11 de

agosto de 2014.

[28] BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA. (SENASP). MULHERES NAS INSTITUIÇÕES DE SEGURANÇA PÚBLICA:Estudo Técnico Nacional. Brasília, 2013. p. 10

[29] Disponível em http://grupocentauro.blogspot.com.br/2011/04/pioneiras-em-proteger.html. Acesso em: 12 agosto de 2014.

[30]Disponível em http://www.onacional.com.br/estado/35538/policiais+recebem+coletes+adaptados+ao+corpo+feminino. Acesso em: 14 out. de 2014.

[31] Disponível em http://www.centraldocidadao.rs.gov.br/conteudo/1105/qual-o-efetivo-total-da-brigada-militar. Acesso em: 14 out. de 2014.

[32] Diário Gaúcho. Disponível em http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2012/07/conheca-nadia-gerhard-a-primeira-mulher-a-assumir-um-batalhao-policial-no-estado-3828659.html. Acesso em: 12 agosto de 2014.

[33] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

[34] LEI nº 11.340/2006. [...]Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

[35] “fem” – designação da policial feminina na polícia militar.

Sobre a autora
Michele da Silva Vargas

Bacharel em Direito na UNISC. Bacharel em Ciências Militares pela Academia de Polícia Militar do Rio Grande do Sul.

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