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O ensino da hemoterapia na formação médica.

A importância do estudo pormenorizado dos riscos e reações transfusionais e das técnicas de conservação e gerenciamento do sangue nos cursos de medicina

Agenda 03/02/2016 às 10:01

A inclusão da disciplina Hemoterapia nos cursos de Medicina, favorece um estudo pormenorizado da medicina transfusional e das novas técnicas de gerenciamento e conservação do sangue, uma vez que é um dos procedimentos mais utilizados no mundo.

                        A hemoterapia tem sido utilizada na sociedade moderna por mais de 100 anos e atualmente representa o procedimento mais comum utilizado no mundo todo, tendo sido classificada como um dos cinco procedimentos utilizados de forma excessiva e desnecessária. Somente nos Estados Unidos, cerca de 60 a 70% das transfusões de sangue e derivados são inadequadas ou não indicadas.                    

                        O mau uso e o uso excessivo dos componentes do sangue, bem como as sequelas resultantes do uso inapropriado, aumentam consideravelmente o risco de morbidade.

                        Embora haja um consenso entre os profissionais da saúde de que a transfusão possa melhorar o resultado clínico de certos pacientes, estudos mostram que o uso restritivo da transfusão têm demonstrado um resultado mais benéfico em relação às terapias convencionais.

                        O uso clínico apropriado do sangue e derivados requer um conhecimento teórico profundo e prático da hemoterapia, pois trata-se de um procedimento complexo que exige conhecimentos específicos em todo seu processo.

                        O aumento da preocupação com os efeitos adversos associados à transfusão de sangue trouxe um crescente entusiasmo pelas técnicas de conservação e gerenciamento do sangue, abrindo uma grande oportunidade para a introdução dessas novas técnicas na educação médica.

.                      De forma que rever a formação dos profissionais médicos, investindo em capacitação permanente e atualização constante, torna-se essencial para a qualidade do profissional e para a qualidade dos cuidados com o paciente.

                        O conhecimento dos estudantes de medicina trará mais segurança em termos cirúrgicos, os pacientes obterão melhores resultados, haverá uma diminuição das infecções e das doenças transmissíveis, reduzirá o tempo das intermações hospitalares e a mortalidade..

                        Sendo a transfusão de sangue um dos tratamentos mais utilizados no mundo e tendo em vista o alto índice de complicações graves e mortalidade resultante das transfusões, surge uma questão: Por que são dedicadas tão poucas horas ao estudo da Hemoterapia nos cursos de medicina?

                        A inclusão da disciplina Hemoterapia nos cursos de graduação em Medicina, favorece um estudo pormenorizado dos hemocomponentes e hemoderivados, da medicina transfusional, seus benefícios e malefícios, riscos e índices de mortalidade e das técnicas de gerenciamento e conservação do sangue.            

                        Esta pesquisa justifica-se uma vez que estudos recentes mostram que “mais de 70% das escolas médicas dedicavam menos de duas horas de seu tempo ao estudo das práticas transfusionais, sendo que o restante das escolas não dedicavam tempo algum para o tema.”[1] Segundo a American Medical Association and The Joint Commission (2012), a transfusão de sangue é o quinto tratamento mais utilizado no mundo, sendo que a incidência de complicações graves e de mortalidade é altíssima. Há um excesso de transfusões desnecessárias realizadas de forma contínua, trazendo inúmeras complicações, longas internações hospitalares, infecções e mortes. Desta forma, sendo a transfusão de sangue um procedimento complexo e de alto risco, é imprescindível uma educação profunda e específica para uma atuação profissional competente.

                        A falta de conhecimento em procedimentos terapêuticos pode reduzir a segurança nos centros cirúrgicos e causar danos significativos aos pacientes.

                        Segundo O’Brien et al., verifica-se um grande déficit no conhecimento da hemoterapia:

 “A medicina transfusional é uma importante e complexa subespecialidade da patologia. A transfusão envolve riscos e benefícios consideráveis. Embora exista um treinamento colaborativo na medicina transfusional, a maioria das decisões em transfundir são realizadas por médicos sem nenhum treinamento formal.”[2] (tradução livre)

                        Para Karafin et al., se as escolas médicas não oferecerem treinamento hemoterápico adequado pela prática baseada em evidências, o uso das transfusões será sempre à critério de profissionais que se basearão em experiências clínicas individuais, onde erros continuarão a ocorrer. Para tanto faz-se necessário um treinamento médico em todos os estágios na educação da medicina transfusional, que afirma que:

“É preciso aumentar o número de atividades educacionais para médicos e outros profissionais da saúde de modo a desenvolver programas efetivos de gerenciamento do sangue do próprio paciente.”[3] (tradução livre)

Bibliografia:

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FLAUSINO, Gustavo de Freitas; NUNES, Flávio Ferreira; CIOFFI, Júnia Guimarães Mourão; PROIETTI, Anna Bárbara de Freitas Carneiro. 2015. Teaching transfusion medicine: current situation and proposals for proper medical training. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4318849/> Acesso em: 26/11/2015.

GOMES, Romeu; BRINO, Rachel de Faria; AQUILANTE, Aline Guerra; AVÓ, Lucimar Retto da Silva de. 2009. Aprendizagem Baseada em Problemas na formação médica e o currículo tradicional de Medicina: uma revisão bibliográfica. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-55022009000300014&script=sci_arttext> Acesso em: 26/11/2015.

KARAFIN, M. S.; BRYANT, B. J. (2014), Transfusion medicine education: an integral foundation of effective blood management. Transfusion, 54: 1208–1211. doi:10.1111/trf. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/enhanced/doi/10.1111/trf.12658/> Acesso em: 26/11/2015.

O'BRIEN, K. L.; CHAMPEAUX, A. L.; SUNDELL, Z. E.; SHORT, M. W.; ROTH, B. J. (2010), Transfusion medicine knowledge in Postgraduate Year 1 residents. Transfusion, 50: 1649–1653. doi: 10.1111/j.1537-2995.2010.02628.x. Disponível em: <http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1537-2995.2010.02628.x/abstract;jsessionid=607DF8CEF421E30ECC1BD508369E68DE.f01t03> Acesso em: 26/11/2015.

MAIA, José Antônio. Metodologias problematizadoras em currículos de graduação médica. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022014000400018&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 26/11/2015.

SILVA, Karla F. N.; SOARES, Sheila; IWAMOTO, Helena H. 2009. A prática transfusional e a formação dos profissionais de saúde. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v31n6/aop9309.pdf> Acesso em: 26/11/2015.

SILVA, Enis Donizetti. Avaliação e Auditoria e A transfusão de sangue no Brasil e no mundo. Aula ministrada pelo Dr. Enis Donizetti Silva em 25/03/2015. Disponível em: <https://saespcongressos.org.br/aulas_PEC_programa_de_educacao_continuada_transfusao#Artigos_mais_revelantes> Acesso em: 26/11/2015.

STRAUSS, Ronald G. Transfusion Medicine Education in Medical School: only the first of successive steps to improving patient care. Volume 50 (8), 2010. Disponível em:  <https://www.deepdyve.com/lp/wiley/transfusion-medicine-education-in-medical-school-only-the-first-of-N0PK0VTa9E> Acesso em: 26/11/2015.


[1] Avaliação e Auditoria e A transfusão de sangue no Brasil e no mundo. Aula ministrada pelo Dr. Enis Donizetti Silva em 25/03/2015

[2] Avaliação e Auditoria e A transfusão de sangue no Brasil e no mundo. Aula ministrada pelo Dr. Enis Donizetti Silva em 25/03/2015.

[3] O'Brien, K. L., Champeaux, A. L., Sundell, Z. E., Short, M. W. and Roth, B. J. (2010), Transfusion medicine knowledge in Postgraduate Year 1 residents. Transfusion, 50: 1649–1653.

[4] Karafin, M. S. and Bryant, B. J. (2014), Transfusion medicine education: an integral foundation of effective blood management. Transfusion, 54: 1208–1211. doi:10.1111/trf.12658.

Sobre a autora
Elaine Cristine Franco

Graduada em Direito, Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior, Paralegal, Pesquisadora de Ética, Bioética e Biodireito, Tradutora.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Analisar a necessidade de um estudo pormenorizado de problemas reais relacionados à hemoterapia, estudar fatos e soluções atuais, pesquisar novas técnicas e tecnologias, diagnosticar falhas e lacunas no ensino, estabelecer a realidade como técnica pedagógica, com o objetivo de implantar um processo de aprendizagem eficaz e contemporâneo aos estudantes de medicina para uma formação de qualidade.

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