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Jornalista do vazamento IstoÉ, preservando Aécio, praticou canalhice? Lula e família denunciados pelo tríplex: “quo vadis”?

Agenda 10/03/2016 às 09:47

Aécio, Renan, Lobão, Jucá e Raupp teriam também sido citados por Delcídio em sua delação premiada. Se a jornalista da IstoÉ viu isso e só informou parte dos fatos, praticou uma canalhice monstruosa, porque não se apegou à verdade e, ademais, fez todos...

Aécio, Renan, Lobão, Jucá e Raupp teriam também sido citados por Delcídio em sua delação premiada. Se a jornalista da IstoÉ viu isso e só informou parte dos fatos, praticou uma canalhice monstruosa, porque não se apegou à verdade e, ademais, fez todos nós de idiotas. A delação por si só não prova nada (no entanto). Ela é apenas fonte de prova.

Lula e sua esposa foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica (crimes relacionados com tríplex de Guarujá). Aos seus dois filhos e outros acusados, além desses, foram imputados mais dois crimes. Eles serão citados e apresentarão defesa preliminar. Depois a denúncia será recebida ou rejeitada. O que derruba a presunção de inocência são as provas.

Se o Lula for nomeado ministro, o que ocorre com o processo? Já veremos.

Antes: a verdade morreu diante de algumas canalhices midiáticas? Se a jornalista sabia de todas as demais delações do Delcídio (se sabia) e não nos informou, perdeu sua conexão com a verdade. Isso significa flertar com o inferno e ignorar Protágoras, que dizia: “O humano é a medida de todas coisas”.

Quem informa fatos pela metade (sabendo do todo) nos trata como tolos e imbecis (como meros sujeitos-sujeitados-receptor ou recipiente). E não mede as consequências do ato. Proscreve na raiz o “Penso, logo existo” (de Descartes).

Seguindo o filósofo José Pablo Feinmann[1], durante toda Idade Média quem sabia da verdade era Deus (vigorava o poder pastoral – Foucault). A quem mentia e se arrependia restava o confessionário (a CIA da Igreja). Quem não se arrependia, o destino era a Inquisição. Descartes muda isso em parte (pensamos por nós mesmos, não por seres sobrenaturais).

Mas foi Kant quem revolucionou: “Todo conhecimento começa pela experiência” (pelo mundo dos fatos, pelo substrato empírico, pela materialidade das coisas). Há fatos (e não só interpretações, como queria Nietzsche). Mas a “verdade” se fixa pelas interpretações. Dai dizer Foucault que a “verdade” é a luta de interpretações.

Mas interpretações são uma coisa e inventar fatos ou narrar fatos pela metade é totalmente diferente. Isso já adentra o terreno maquiavélico da canalhice.

Por força da delação do Delcídio (especula-se) Aécio teria se envolvido naquela propina da Petrobrás para enterrar uma CPI dessa empresa. Sérgio Guerra (ex-presidente do PSDB) teria recebido R$ 10 milhões. Nesse imbróglio estaria Aécio. Vamos ver as provas. De qualquer modo, de tudo isso já deveríamos ter sabido pela IstoÉ (se ela sabia de tudo).

Importa saber (de todo agente público) se ele é um ladrão ou um capacitado para a atividade pública. Quando a mídia se comporta inveridicamente, desrespeita o sujeito (e nos trata como objeto).

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Quanto a Lula: qualquer que seja a dialética histórica (estamos seguindo novamente o filósofo Feinmann), seus três momentos são: afirmação, negação da afirmação e negação da negação.

A denúncia do MP de São Paulo faz uma afirmação (Lula praticou lavagem de dinheiro e falsidade ideológica). Ele e sua família negam a afirmação. Somente as provas poderão “negar a negação” (e estabelecer a “verdade”, ainda que seja só processual, limitada).

O terceiro momento é a síntese de tudo. Esse é o momento da totalidade (e a totalidade é o verdadeiro, dizia Hegel).

Síntese que todo Brasil espera ansiosamente. A polícia e a Justiça não podem investigar este ou aquele corrupto: tem que investigar a corrupção, que é inimiga do nosso crescimento e fonte de enriquecimento, sobretudo dos barões ladrões (= ladrões cleptocratas).

E se o Lula for nomeado ministro? Passa a ter foro especial (no STF) e altera-se a competência dos inquéritos e processos imediatamente. Ele, nesse caso, sairia da jurisdição da Justiça paulista assim como da Vara Criminal de Sérgio Moro.

Acho que Lula e todos os demais agentes públicos do país (Aécio, FHC, Renan, Cunha etc.), acusados de desvio de dinheiro público, devem ser devidamente investigados (conforme a lei). Todos!

A historiografia e a Justiça dirão, ademais, se verdadeira ou não a seguinte frase de 1998, atribuída ao Lula: “No Brasil é assim: quando um pobre rouba vai para a cadeia, mas quando um rico rouba vira ministro”. Critica-se o Lula por muitas coisas (assim também como o elogiamos pela evolução dos indicadores sociais, aproveitando-se de um momento econômico favorável), mas em vários momentos ele diz grandes verdades sobre nosso País. Vejamos se acertará ou não (desta vez).

CAROS internautas que queiram nos honrar com a leitura deste artigo: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. 

[1] Ver FEINMANN, José Pablo. Filosofía política del poder midiático. Buenos Aires: Planeta, 2013, p. 586-589.

Sobre o autor
Luiz Flávio Gomes

Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Jurista e Professor de Direito Penal e de Processo Penal em vários cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. Autor de vários livros jurídicos e de artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998), Advogado (1999 a 2001) e Deputado Federal (2019). Falecido em 2019.

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