Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Cronologias do golpe de 2016

Agenda 06/06/2016 às 12:11

É fato indiscutível na imprensa internacional: o Brasil foi vítima de um golpe de estado. Portanto, precisamos começar a discutir quando ele começou.

Já disse que o golpe começou em 2014 quando da derrota de Aécio Neves. Se levarmos em conta que a deposição de Dilma Rousseff foi urdida pela Embaixada dos EUA para atender os interesses petrolíferos norte-americanos, somos obrigados a admitir que existe uma cronologia alternativa para o golpe de 2016.

O primeiro indício de que o governo brasileiro poderia ser deposto por razões petrolíferas foi dado 08/07/2012, quando o Wall Street Journal criticou a lentidão do Brasil em explorar o Pré-Sal. Eu mesmo comentei esta notícia na oportunidade: O petróleo é nosso ou deles?. Esta notícia foi divulgada durante a crise que envolveu a Chevron: Lobão ameaça Chevron de expulsão se não cumprir determinações da ANP. A petrolífera norte-americana causou um vazamento de petróleo na Bacia de Campos e estava explorando nosso Pré-Sal sem autorização do governo brasileiro.

Aécio Neves iniciou a campanha do golpe após ser derrotado nas eleições, mas não conseguiu ser o seu beneficiário. Um ano após a derrota do candidato tucano, o PMDB se apropriou da pauta econômica do PSDB, ("Uma ponte para o futuro") e passou a liderar o golpe. Enquanto tramava nas sombras, Michel Temer chegou a dizer na TV que o Impedimento de Dilma Rousseff não ocorreria.

O PMDB provavelmente adotou um programa neoliberal tucano por dois motivos: obter o apoio da imprensa brasileira que havia apoiado Aécio Neves e legitimar o golpe de estado perante os norte-americanos. O primeiro objetivo foi amplamente conquistado, o segundo não. A resistência da imprensa internacional ao golpe de 2016 inibiu o apoio imediato do governo dos EUA ao Michel, que parece temer o retorno de Dilma Rousseff ao poder em razão de ainda não ter recebido uma ligação telefônica de felicitações de Barack Obama.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

A liderança de Michel Temer durante a preparação do golpe é evidente e indiscutível. Ele desconversou enquanto tramava. Quando o Impedimento finalmente começou, ele assumiu o papel de vice-presidente que seria levado ao poder por fatos alheios à sua vontade. Empossado, ele passou a não admitir que é um golpista e se diz ofendido sempre que os jornalistas chamam de GOLPE o golpe de 2016.

Temer tramou e agiu de maneira fria e calculista. Durante todo o ano de 2015 ele defendeu publicamente Dilma Rousseff enquanto urdia seu plano de assalto ao poder. Enquanto o PSDB virava saco de pancada do PT nas ruas, o vice-presidente organizou a mudança de orientação econômica de seu partido. Através de seus interlocutores (Eduardo Cunha era um deles), Temer preparou o golpe obtendo o necessário apoio dos parlamentares que queriam se salvar ou se vingar do governo em razão das operações anticorrupção apoiadas por Dilma Rousseff.

É impossível não criticar a direção do PT por ter aceitado Michel Temer como vice de Dilma Rousseff. O problema é que o PT queria ganhar a eleição e precisava do tempo de TV do PMDB. Além disto, é evidente que o partido de Michel Temer enganou o partido de Lula. Como vimos, a mudança de orientação econômica no covil peemedebista somente ocorreu um ano após a reeleição de Dilma.

Durante todo seu primeiro mandato como vice-presidente, Michel Temer foi, pelo menos na aparência, fiel ao projeto de governo inclusivo do PT. Contudo, já em 2006, antes do WSJ criticar a lentidão da exploração do Pré-Sal, ele havia se tornado espião da Embaixada dos EUA. Impossível saber em que momento o próprio Michel Temer começou a alimentar a esperança de chegar ao poder pela via rápida, mas é evidente que isto pode ter ocorrido entre 2006 e sua chegada pela primeira vez ao Palácio do Jaburu.

Na linha de tempo do golpe de 2016, podemos ainda colocar a definição das normas eleitorais que ajudaram a cimentar a ligação promiscua entre o PT e o PMDB. O partido de Lula ligou seu destino a Michel Temer porque precisava de mais tempo gratuito de TV para fazer propaganda de Dilma Rousseff. A televisão, usada pragmaticamente como um instrumento de construção de consensos eleitoreiros, não por acaso foi o principal instrumento utilizado por Michel Temer para destruir a democracia brasileira. Quanto tempo a TV dará ao novo “garoto de recados” que foi entronizado no Palácio do Planalto?

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!