Nada nem ninguém proporciona ao Brasil mais empregos do que as micro, pequenas e médias empresas. Mas essas heroicas instituições estão seriamente ameaçadas dentro de nosso cenário econômico. Ao longo de mais de uma década advogando para empresas com problemas econômicos e financeiros, posso, com toda segurança, relacionar os principais motivos que levam uma empresa a fechar suas portas. Entender esses motivos e tentar combater suas causas é muito importante para evitar que essas verdadeiras fábricas de empregos e riquezas deixem de existir e, junto com elas, os milhões de postos de trabalho gerados com suas atividades.
Dentre as principais causas que torturam as finanças das empresas, destacamos a excessiva carga tributária. Em alguns casos, os tributos consomem mais da metade de todo o faturamento das empresas, afetando de maneira intensa a capacidade dessas empresas de honrarem suas obrigações. Essa fome de impostos, taxas e toda sorte de contribuições devora a liquidez das empresas, pois são obrigações que devem ser pagas no vencimento e à vista, sob pena de, não o fazendo, sujeitar os empresários a pesadas multas, que passam de 50 % do valor principal dos tributos.
Em segundo lugar está a burocracia a que estão submetidas as organizações, tanto para funcionar, quanto para obter recursos junto a instituições financeiras. A cada dia o poder público inventa novas exigências, que transformam a administração burocrática das empresas em uma insana gincana de papéis e transmissões eletrônicas de arquivos.
Se a empresa não consegue sua regularidade burocrática, não consegue ter acesso às melhores linhas de crédito do mercado nos bancos oficiais, como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, restando, apenas, empréstimos caros, com taxas de juros impagáveis e prazos cruéis.
Surge, assim, um verdadeiro ciclo vicioso: como as empresas têm de pagar seus tributos e demais custos (salários, contas de energia elétrica, aluguel etc.) à vista, e como muitas vezes recebem a prazo de seus clientes, as empresas são obrigadas a tomar recursos caros junto aos bancos e financeiras. O que era para ser crescimento, passa a ser quase uma rolagem de dívida, fazendo, assim, nascer o processo de endividamento que poderá levar à extinção da organização. Nasce aí uma pequena bola de neve que cresce a cada dia de funcionamento.
Outro fator que sangra os cofres das empresas é a existência de pesados encargos trabalhistas. A cada real pago de salário, uma empresa pode desembolsar até quase oitenta centavos, somente em encargos sociais. Isso, além de aumentar ainda mais as dificuldades das empresas em honrar seus pagamentos, ainda limita (e muito) as possibilidades de crescimento dos negócios e de abertura de novas vagas de emprego.
Destacamos, ainda, o crescimento da inadimplência como um dos principais males que atacam as empresas. Ao contrário do que se imagina, nossa economia não está aquecida. Os salários dos servidores públicos está defasado há anos (o que tem gerado uma onda de greves pelo país afora). Na iniciativa privada, o desemprego e os baixos salários da maioria da população retiram de grande parte dos consumidores sua capacidade de pagamento, fazendo com que as pessoas passem a comprar a prazo e, infelizmente, deixar de honrar alguns compromissos, afetando de forma intensa os caixa das organizações. Pronto! Esse é o cenário no qual as nossas empresas tentam sobreviver.
Obviamente, eu não poderia deixar de registrar o principal motivo que faz uma empresa falir: sua administração! A forma como os empresários gerenciam as suas empresas é que vai definir se elas terão futuro ou se serão, apenas, algumas das milhares de empresas que fecham as portas antes de completar um ano. Isso mesmo, inúmeras empresas que começam a funcionar, encerram suas atividades antes de completarem seu primeiro ano de vida. E os atos de seus dirigentes definirão se essas organizações vão sobreviver, vingar e crescer ou se vão, apenas, engrossar as estatísticas de casos de insucessos.
Cabe aos sócios-administradores determinar, de forma clara, qual o verdadeiro negócio da empresa. E isso tem de começar muito antes do próprio início de suas atividades. É fundamental fazer uma pesquisa do mercado onde se deseja atuar e analisar, com seriedade, se o negócio é viável, de fato, ou apenas uma boa ideia surgida em determinado momento.
Gerir uma empresa é coisa séria e aqueles que resolverem dedicar sua vida a esta atividade devem estar prontos para as inúmeras horas de dedicação que deverão doar. Horas que serão retiradas do lazer, dos filhos, da família, de si mesmo.
Muitas empresas nascem da insatisfação das pessoas com seus empregos atuais ou em momentos de transição, entre um emprego e outro. Quando se trabalha como assalariado, tudo parece fácil. Quase todo funcionário tem a solução para a empresa onde trabalha: acha que seu “patrão” não sabe nada e que ele (funcionário) faria melhor. Tudo parece simples até o momento em que o então empregado, hoje patrão, vê-se diante da montanha formada por obrigações, contas e decisões. Obrigações a cumprir, contas a pagar e decisões a tomar. Aí a história muda!
Conheci um microempresário quase falido, do setor de transportes. Quase chorando, ele me confessou: “antes de mexer com esse negócio, eu tinha um bom emprego, tinha salário, tinha paz. Agora, tenho dívidas e pessoas me ligando, ofendendo, cobrando. Antes eu tinha nome limpo, agora não posso comprar nem um pneu a prazo.” Instantaneamente, eu respondi, como se a resposta àquele desabafo sempre estivesse pronta em minha mente: vamos imaginar que o senhor estivesse agora com 70 anos, aposentado pela previdência, olhando para o passado e perguntando-se: “como teria sido minha vida se eu tivesse sido um empresário, se eu tivesse comprado um ou dois caminhões?”. Pelo menos, o senhor tentou. E deve sentir orgulho disso!
Este pequeno empresário não chegou a falir, graças a Deus e ao nosso humilde trabalho na gestão de suas dívidas. Mas, assim que pagou seus credores, limpou seu nome, vendeu os dois caminhões e trabalha hoje como motorista “fichado” em uma empresa de transporte de cargas. Uma coisa tenho certeza: ele nunca mais verá o seu “patrão” da mesma forma. Ele aprendeu, na própria carne, a respeitar o esforço e o mérito daqueles que têm a coragem de reunir pessoas, de empreender, de gerar riquezas.
Como sempre, concluo deixando alguns conselhos. Aos que já são empresários, organizem suas empresas. Trabalhem com custos reduzidos. Administrem o fluxo de caixa. Não caiam na tentação de “crescer antes da hora”. Estamos em uma economia complexa. Coisas estão acontecendo na Europa e no mundo que podem afetar muito nossa vida por aqui. Pensem antes de contrair dívidas. Adotem uma gestão de segurança, nestes próximos meses, sem que seja tirado de vocês o prazer de sonhar com o sucesso e com o crescimento de seus empreendimentos. Valorizem seus bons funcionários. E principalmente, valorizem a vida, o tempo com seus familiares. O tempo com seus filhos, maridos e esposas. Visitem seus pais, seus irmãos que moram longe (ou perto, mas com que não falam há meses, anos). Laços de amor são eternos e cada segundo perdido é um segundo a menos para se viver, para se sonhar.
As empresas não são eternas, mas os valores que servirem de alicerce para a sua fundação podem atravessar décadas e até mesmo séculos. Assim, se quiserem que suas empresas durem, construam-nas sobre rochas de caráter. Mas nunca, repito, nunca deixem de sonhar. Pois são os sonhos que movem o mundo e nos mantêm vivos! E não há nada melhor do que estar vivo e, principalmente, sentir-se vivo! Que Deus os abençoe!