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Segunda Guerra Mundial: o uso de crystal meth e benzedrina

Qual o limite do Estado em exigir certos comportamentos aos cidadãos?

Agenda 16/11/2016 às 14:36

A busca pela superioridade é desde a aurora humana. Seres humanos buscam ser invencíveis, principalmente em relação ao utilitarismo patriótico. O artigo serve de alerta sobre o "super-homem" ideológico.

A Segunda Guerra Mundial foi um dos acontecimentos históricos que mais causou horror à humanidade. Como a humanidade, durante o ápice da civilização, assim considerados por alguns, pôde cometer crimes bestiais? Hannah Arendt resumiu tudo em “banalidade do mal”.

“Entendam que a tradição ocidental parte do pressuposto de que os piores atos que o homem pode cometer resultam de seu egocentrismo. Mas nesse século em que vivemos, o mal se revelou de uma forma muito mais radical do que se podia prever.

Sabemos agora que o pior mal, o mal radical, nada tem a ver com motivos humanamente compreensíveis e imorais, como o egocentrismo. Pelo contrário, está ligado principalmente ao seguinte fenômeno: o de tornar o homem supérfluo.

O sistema reinante nos campos de concentração visava a convencer os prisioneiros de que eles eram supérfluos antes de serem mortos. Nos campos, as pessoas tinham que aprender que a punição aplicada a elas não se devia ao delito. Que a exploração não se dava para trazer vantagem a ninguém, e que o trabalho não servia para gerar lucro.

O campo é um lugar onde cada fato, cada gesto, por definição, se despojava de qualquer sentido. Em outras palavras, cria-se o absurdo. Se for verdade que na fase final do totalitarismo surge um mal absoluto, absoluto por que não pode ser imputado à razão humana, logo é igualmente verdade que sem ele, sem o totalitarismo, nunca se teria conhecido a natureza do mal radical.

Pensar nas consequências e agir em nome do bem comum, todavia, se o bem comum, na realidade, visa o bem egocêntrico, onde cada qual, para ter alguma qualidade de vida, deve se comportar simetricamente ao cotidiano egocêntrico.”

O mal egocêntrico ganhou outra forma, além da irracionalidade humana. Talvez, o que Anna não sabia era o fato de que a banalidade do mal fora motivada por drogas lícitas. A superioridade ariana se caracterizava por homens altos, olhos claros, rosto quadrado, o que destoava das morfologias dos oficiais e do próprio Hitler. Hitler queria uma Nação de homens invencíveis, pois a raça ariana assim era. Nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, os nazistas invadiram vários países da Europa. Além da superioridade bélica, os soldados nazistas pareciam super-homens: não dormiam, marchavam sem parar, carregavam pesos [kits de sobrevivência] como se carregassem isopor. No fracasso à invasão da União Soviética, os soldados nazistas percorreram quilômetros, sem parar, sob efeito do Crystal Meth. Mesmo com seus pés já gangrenados, pelo intenso frio, os “superiores” arianos não paravam.


Crystal Meth versus benzedrina

Os Aliados, principalmente os britânicos, desconfiaram das resistências supra-humanas dos soldados nazistas. O segredo foi revelado quando capturaram um piloto nazista. Ele estava morto, mas tinha um kit médico em sua cintura; vários remédios, entre injetáveis e orais. Os farmacêuticos britânicos fizeram vários testes para descobrirem os componentes químicos. Nos primeiros estudos, não conseguiram identificar um comprimido; mais tarde, descobriram que se tratava de anfetamina. Crystal Meth, o nome da droga usada pelos civis e, principalmente, os soldados nazistas. A anfetamina [Crystal Meth] garantia doses de autoconfiança, e capaz de até vencer o instinto de conservação. Os Aliados, então, para vencer os imbatíveis soldados nazistas, começaram a desenvolver suas drogas — lembre-se do filme Capitão América — para tornarem seus soldados em super-homens.

As vitórias dos Aliados — Dia D, expulsão dos nazistas [Raposa do Deserto] no norte da África — foram possíveis pelo uso da droga benzedrina. Hitler tinha um médico particular que aplicava [intravenosa], o Crystal Meth. Os Aliados verificaram que o Führer, em seus discursos mais eloquentes, estava sob efeito de anfetamina [Crystal Meth]. Os japoneses, os famosos camicazes, possivelmente estavam sob efeito de metanfetamina, desenvolvida pelos japoneses em 1919 — já que a maioria dos soldados japoneses usava a metanfetamina.


COBAIAS HUMANAS

Os Campos de concentração nazistas serviam também para as diversas experiências científicas dos médicos nazistas. Os “testadores de calçados” andavam em pistas especialmente construídas para os testes. O piso era o mais inóspito possível. Além de andar sobre os pisos, cada testador tinha que carregar uma mochila com, pelo menos, 30 kg [trinta quilogramas]. Não podiam para nada, os limites físicos e os limites dos calçados eram testados. Muitos desses “testadores” morriam de exaustão; antes de morrerem, tinham os pés desfigurados pelos pisos irregulares. Em certos momentos, grupos eram divididos: sem anfetamina e com anfetamina. Com anfetamina, a resistência era maior. Com os pés em carne viva, após gastar os sapatos, continuavam a caminhar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A banalidade do mal não foi tão somente o seguir das ordens, o egocentrismo, mas o agir sob efeito de drogas. Oficiais e soldados consumiam, largamente. Montgomery encomendou mais de 100.000 [cem mil] comprimidos de benzedrina para suas tropas. Rommel e Montgomery, dois dos maiores comandantes das divisões blindadas na Segunda Guerra Mundial. Ambos usaram e abusaram das drogas para encorajar os seus soldados. A ilação mais importante da Segunda Guerra Mundial e o uso de drogas: quais os limites dos Estados em criar competições e doutrinar os cidadãos quanto à superioridade?

No início do século XXI, pretéritas superioridades — étnica, morfológica, estratificação social, religiosa, política — estão sendo revividas, se é que se pode dizer que deixaram de existir na vigência do século XXI. O Estado Islâmico, a vitória de Donald Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia, exemplo de que cada Estado deseja se manter superior. A independência dos Estados, diante do multiculturalismo trazido pela globalização, tem causado diversos enfrentamentos. Falar em superioridade cultural não é possível, quando se aborda os direitos humanos. Nenhum Estado pode cometer crimes internos contra os direitos humanos, e isto vem causando gravíssimos diálogos e enfrentamentos corpóreos. Os refugiados são vistos como estorvos — há medo legítimo de que alguns possam ser terroristas —; o aborto, sem interferência estatal, não é desejado pelos fieis religiosos, e é combatido veementemente; as manifestações populares pelos direitos civis, políticos, principalmente os direitos sociais, culturais e econômicos, são consideradas anarquismos disfarçados de direitos humanos; a liberdade sexual da mulher é considerada como libertinagem — e principalmente os homens se acham no direito de estuprarem mulheres que se vestem com pouca roupa; os candidatos usam do populismo para se candidatarem, ou serem reeleitos; os Estados gastam mais com armamento do que os direitos sociais; a crise planetária ambiental não comove os empresários. Enfim, o século XXI deveria estar sintonizado com o bem-estar da humanidade, porém, a banalidade do mal está mais do que viva: entranhada nas almas. As guerras bélicas, com armas de destruição em massa são iminentes, o colapso ambiental já, há muito tempo, assola o planeta.

Existe, ainda, tempo para mudar o quadro caótico mundial? Sim, a boa vontade aliada ao ser humano frágil; não mais o super-homem na condução da humanidade. Seres humanos são frágeis, e o uso das drogas, para enfrentarem ambientes e momentos hostis, ou até para superação das provas de vestibulares, Enem etc. — neste aspecto, candidatos se entopem de cafeína e outros estimulantes — é um prova viva da loucura humana, sem limites. A eugenia está presente no cotidiano humano: o corpo, o rosto, a fala, o comportamento, a escrita, a inteligência. Numa neurose coletiva, o mal da civilização, seres humanos não se reconhecem como seres vivos, mas seres supramateriais [invencíveis].


Referências

Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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