VIOLÊNCIA DOMÉSTICA LATERAL: É NECESSÁRIO DENUNCIAR
Violência doméstica é um crime silencioso. Pouco se sabe sobre a figura do criminoso, pois não há um perfil diagnosticável para ele como acontece na maioria dos demais crimes definidos em lei. A grande maioria dos casos de violência doméstica ocorre de forma silenciosa. Em público, os agressores são pessoas boas, amigáveis, e prezam por manter uma relação saudável com a sua parceira.
As manifestações de violência surgem de maneiras triviais. Desde um tapinha no braço ou um beliscão por motivos de ciúmes, até chegar ao descontrole total. Logo, a violência doméstica pode ser considerada como um desvio de personalidade progressiva, que se propaga na relação por meio de uma sequência de acontecimentos, cada vez mais violentos e frequentes, em que o agressor se utiliza da força que detêm sobre a vítima para fazer valer sua vontade.
A manifestação física de violência é a ultima a ser acionada pelo agressor. Sabemos que existem outras formas de violência que antecedem esta. A psicológica, a moral, a patrimonial e até mesmo a sexual. Tais violências funcionam como vetores que, inevitavelmente, levam a vítima ao mesmo desfecho, fatal ou não.
Entretanto, apesar de ser um crime de ação penal pública incondicionada, ou seja, que independe de representação da vítima, os casos mais graves, por serem silenciosos, só vem à tona com a própria representação da vítima. Não ceder à forca do agressor é ato preciso e não voluntário. O primeiro, e mais difícil passo é aceitar que é vitima de alguma forma de violência doméstica.
As respostas de conformismo com as agressões sofridas no relacionamento são em parte determinadas pelo interesse pessoal “sui generis” consciente que porventura a vítima tem em relação ao agressor. Não raro, a vítima, tão envolvida emocionalmente, acredita que a metamorfose do ciclo de seu relacionamento pode ser revertida, e retornar ao que era na gênese (primeiro encontro).
Ficar atento aos sinais é primordial na luta contra a violência doméstica. Muito mais doloroso que a violência física em si, é o abandono por parte dos amigos e de pessoas do convívio da vítima. O estigma e o sentimento de impotência quando ela não consegue por si só tomar uma atitude para cessar a violência doméstica e a banalização da relação abusiva. Isto é a chamada "violência lateral”.