A GERAÇÃO REPRIMIDA
Esta geração não tinha liberdade de expressão. Atualmente se fala que há uma 'mordaça', isto é, não se pode falar mais nada que é crime. O Código Penal existe de 1940, crimes contra a honra (arts. 138, 139 e 140) existem muito antes das gerações nutrella e mimimi. Na geração reprimida, aos poucos o leitor saberá como ela é, já que são pessoas nascidas antes das década de 1980 e 1990, e há muitas ainda vivas, havia duas liberdade de expressão: uma para quem detinha poder econômico, tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político); outra para quem não detinha poder econômico, não tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, não tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político).
Como a Justiça brasileira, antes de 1988, era acessível para quem tinha dinheiro, quais cidadãos iriam provocá-la? Num país racista e preconceituoso, chamar algum de 'macaco' não era vergonhoso, mas direito à liberdade de expressão. O cidadão 'macaco', sem dinheiro para exigir defesa de sua dignidade — além disto, o 'macaco' era considerado (etiquetado) como criminoso nato, já que possivelmente tinha ocupação e moradia condizentes com o perfil criminoso — ficava calado. Era escutar e se sujeitar ao vexame. E a mulher que fosse atacada por algum homem? Na geração reprimida, a mulher era a reprimida. Aí da mulher que fosse querer exigir sua autonomia da vontade, a sua liberdade sexual, todo peso da Justiça (machista) recairia sobre ela — somente com a Lei Maria da Penha a situação mudou, um pouco.
Falar errado e escrever errado. A geração mimimi e nutella são consideradas analfabetas funcionais ou somente analfabetas. Para a geração reprimida, ‘Essas gerações não sabem escrever certo’. Ao que parece, a geração reprimida sabia escrever, corretamente. Num país de analfabetos, muito antes de 1988 já existiam analfabetos — e ainda existem, porém são analfabetos funcionais; algum progresso nas gerações mimimi e nutella. Parece que toda a geração reprimida tinha um lugar na Academia Brasileira de Letras. Sabiam escrever corretamente sòmente (antes do Decreto-Lei N. º 32/73, de 6 de Fevereiro), vôo, arqüição. A ortografia brasileira tem História sobre mudanças:
História da Ortografia do Português
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Séc XVI até séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de cariz etimológico (a raiz latina ou grega determinava a forma de escrita das palavras com maior preponderância).
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1885 – Até esta altura a grafia é essencialmente etimológica. Nesta data pública-se as Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana.
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1907 – A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações.
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1910 – Implantação da República em Portugal – é nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme a ser usada nas publicações oficiais e no ensino.
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1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita, mas que não foi extensiva ao Brasil.
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1915 – A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a sua ortografia com a portuguesa.
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1919 – A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum.
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1929 – A Academia Brasileira de Letras altera as regras de escrita.
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1931 – É aprovado o primeiro Acordo Ortografico entre o Brasil e Portugal, que visa suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa. Contudo, este acordo não é posto em prática.
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1938 – São sanadas algumas dúvidas quanto à acentuação de palavras.
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1943 – É redigido o Formulário Ortográfico de 1943, na primeira Convenção Ortográfica entre Brasil e Portugal.
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1945 – Um novo Acordo Ortografico torna-se lei em Portugal, mas não no Brasil, por não ter sido ratificado pelo Governo; os brasileiros continuam a regular-se pela ortografia do Vocabulário de 1943.
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1971 – São promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal.
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1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil.
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1975 – A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não é aprovado oficialmente.
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1986 – O presidente do Brasil, José Sarney promove um encontro dos então sete países de língua oficial portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, no Rio de Janeiro. É apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. O Acordo Ortografico de 1986, que resulta deste encontro, é amplamente discutido e contestado pela comunidade linguística, nunca chegando a ser aprovado.
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1990 – A Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro, juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. As duas Academias elaboram a base do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor, de acordo com o seu artigo 3º, no dia "1 de Janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português".
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1995 – O Acordo Ortografico de 1990 é apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde, embora o texto previsse a sua implementação em toda a Lusofonia no início de 1994.
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1996 – O Acordo Ortografico é apenas ratificado por Portugal, Brasil, e Cabo Verde.
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1998 – Na cidade da Praia é assinado o Protocolo Modificativo do Acordo Ortografico da Língua Portuguesa, retirando-se do texto a data de implementação. Mantém-se a condição de que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) devem ratificar as normas propostas no Acordo Ortografico de 1990 para que este seja implementado.
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2002 – Timor-Leste torna-se independente e passa a fazer parte da CPLP.
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2004 – Os ministros da Educação dos vários países da CPLP reúnem-se em Fortaleza, no Brasil, para a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortografico da Língua Portuguesa. Fica assim determinado que basta a ratificação de três membros para que o Acordo Ortografico possa entrar em vigor e Timor-Leste passa a integrar a CPLP.
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2006 – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam o documento, possibilitando a entrada em vigor do Acordo Ortografico de 1990.
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2008 – O Acordo Ortografico de 1990 é aprovado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal, sendo esperada a sua implementação no início de 2010.
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2009 – Entrada em vigor do Acordo Ortografico de 1990 no Brasil e em Portugal. Além de Portugal e do Brasil, também São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau já ratificaram o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortografico de 1990, embora estes últimos não o tenham ainda aplicado. Fica apenas a faltar a ratificação de Angola e Moçambique. (Fonte: Instituto de Linguística teórica e Computacional)
Notem, o que é 'escrever corretamente'? É escrever conforme os acordos ortográficos. Porém, voo ou vôo, auto-escola ou autoescola, celuloide ou celulóide, muda o reconhecimento (significado) pelo leitor? Não. Contudo, a geração reprimida — não só a geração, mas a mentalidade desta geração — necessita, como supercompensação ao Complexo de Inferioridade, de ser infalível. Uma das características preponderante da geração reprimida e não errar, ou seja, ser infalível. Errou, acusações, deboches, vexames, o bullying ou o cyberbullying. Agora imagine, você, mimimi ou nutella debochando de alguma pessoa da geração reprimida. Quando os primeiros computadores de mesa chegaram no Brasil, somente pouquíssimas pessoas podiam comprar. Depois veio a internet discada. A geração reprimida sentiu imensa dificuldade com a nova forma de se comunicar:
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Estou :), e vc?
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;)
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Quando vc vir aqui
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Nao sei acho que log
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Viu qdo mario caiu
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kkkkk
Ou seja, uma nova maneira de se comunicar (linguística) surgiu. E, para o desespero dos reprimidos, um esforço colossal para não serem excluídos do mundo virtual. Quero dizer que mudanças estruturais na forma de viver sempre aconteceram, desde os primeiros passos da espécie humana.
O que é um acordo ortográfico? É uma forma de uniformizar, facilitar a comunicação entre as pessoas. É, por exemplo, o que aconteceu com o Acordo Ortografico de 2009. Claro, concordâncias, uso de vírgula etc., são importantes. Porém, você que é mimimi ou nutella, não se incomode, assim como você não estão, mas poderão, sentados num assento da Academia Brasileira de Letras, muitos intelectuais da geração reprimida também não estão, não tiveram.
Você me diz que seus pais não te entendem/Mas você não entende seus pais/Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo/São crianças como você/O que você vai ser/Quando você crescer (Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo)A letra já diz tudo, nenhuma geração entende a outra. Cada qual, mimimi, nutella ou reprimida, reclamam. Choques de valores entre gerações, sempre existiram, sempre existirão. No Mundo das Ideias, tudo é ordenado, perfeito.
Preguiçosos, desanimados, vagabundos, encostados nas costas dos pais e dos avós. Assim são nomeados, pelos reprimidos, os mimimis e nutellas. A vida nunca foi fácil, fato, mas há considerações relevantes. Antes da Revolução Industrial (1760) não existiam tantas misérias, tantas diferenciações entre classe sociais — pergunte algum advogado trabalhista. Mesmo com o feudalismo, as mazelas da Revolução Industrial superaram o feudalismo. Com a Revolução, o êxodo rural foi altíssimo, artesões tiveram que vender suas terras para, junto com suas famílias, morarem nas cidades — os centros do novo capitalismo. O artesão trabalhava, assim como sua mulher e criança. Mas eles já não trabalhavam em suas terras? Sim, porém, o artesão e sua família eram donos de suas produções, de seus tempos. Nas fábricas, as condições de trabalho eram péssimas, horas exaustivas, condições insalubres e perigosas — parecido com o trabalho escravo contemporâneo.
Pós Segunda Guerra Mundial. Escombros, corpos, tristezas. Pelo instinto de sobrevivência, mãos à obra. Alguns se suicidaram, como ocorreu em 1929 nos EUA. Pelos acontecimentos ocorridos nas duas guerras mundiais, tanto os governantes quanto os governados decidiram unir forças — até então governantes mandavam e desmandavam nas vidas dos governados; um dos motivos da Primeira Guerra Mundial foi a exploração das famílias, que formam os Impérios da época, junto com os nobres, controlavam e ditavam como os não nobres deveriam viver — para que todos (Estado Social) tivessem condições de viverem dignamente.
As gerações posteriores à Segunda Guerra Mundial, até as décadas de 1970 e 1980, tiveram — não todos, pois existiam ainda diferenciações entre pessoas, pelo darwinismo social e, principalmente, pela eugenia — melhorias em suas vidas. Importante. O desmantelamento do Estado Social começou na década de 1970, na Inglaterra, e na década de1980, nos EUA. Antes dessas duas décadas, os pais tinham certeza de que seus filhos iriam estudar e, quando formados, teriam empregos. As exigências do mercado de trabalho antes das duas décadas mencionadas não se comparam às exigências contemporâneas. O formado, em geral, não tinha que fazer doutorado, mestrado; somente o curso superior. Após — explicável pelos avanços tecnológicos — ambas as décadas, não basta somente ter o diploma universitário.
Contudo, serão as novas exigências aos formados contemporâneos, realmente, necessárias? Há discussões sobre os excessos de disciplinas e, consequentemente, sobrecarga aos alunos. Ilógico? Não! tanto é verdade que existem os cursos superiores de tecnólogo. Aliás, em outro artigo — Democracia consolidada. Bacharelado em Direito: por que não pós-graduação em vez de graduação? — propus curso de curta duração para formação de bacharéis em Direito. Se o estudante já sabe o que quer para sua vida, e deseja somente atuar como advogado criminalista, por que ter aula de Direito Civil, Penal, Consumidor? Aprenderia: Direito Constitucional, fundamental; português; interpretação de texto, fundamental; e Direito Penal e Direito Processual Penal. Penso que seria muito melhor: curso rápido, formação profissional muito mais qualificada do que profissional que teve dotas as disciplinas exigidas atualmente, sendo necessário pós-graduação específica (Direito Civil, Direito Penal etc.), caso queira ser proficiente em alguma área do saber.
A geração reprimida tinha imensa vantagem, pouquíssimos estudavam. Logo, o mercado de trabalho não era concorrido, como agora. Nível universitário? O céu na Terra! As metrópoles não eram tão sobrecarregadas de pessoas, não existiam os congestionamentos infernais como há atualmente. Tempo existia, dinheiro, para pouquíssimos.
Diante de tudo isso, pode-se dizer que as gerações mimimi e nutella reclamam muito? Não. Essas gerações enfrentam mercado exigente — muitas exigências aquém da realidade brasileira; quantos caminhoneiros, por exemplos, estão desempregados por não terem conhecimentos sobre as novas tecnologias nos caminhões? Alguns empresários, humanísticos, treinam os caminhoneiros, numa demonstração de Capitalismo Humanitário. Parabéns aos empresários que assim agem — imobilidade urbana, automotores particulares além das capacidades das vias públicas, o que ocasiona maior tempo entre o deslocamento e, claro violência urbana.