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Justiça, o lado moral na internet — Parte IV. Gerações mimimi e nutella versus geração reprimida

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Agenda 06/07/2018 às 11:09

A GERAÇÃO REPRIMIDA

Esta geração não tinha liberdade de expressão. Atualmente se fala que há uma 'mordaça', isto é, não se pode falar mais nada que é crime. O Código Penal existe de 1940, crimes contra a honra (arts. 138, 139 e 140) existem muito antes das gerações nutrella e mimimi. Na geração reprimida, aos poucos o leitor saberá como ela é, já que são pessoas nascidas antes das década de 1980 e 1990, e há muitas ainda vivas, havia duas liberdade de expressão: uma para quem detinha poder econômico, tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político); outra para quem não detinha poder econômico, não tinha algum familiar na polícia ou nalguma Forças Armadas, não tinha algum conhecido ou familiar ocupando cargo eletivo (político).

Como a Justiça brasileira, antes de 1988, era acessível para quem tinha dinheiro, quais cidadãos iriam provocá-la? Num país racista e preconceituoso, chamar algum de 'macaco' não era vergonhoso, mas direito à liberdade de expressão. O cidadão 'macaco', sem dinheiro para exigir defesa de sua dignidade — além disto, o 'macaco' era considerado (etiquetado) como criminoso nato, já que possivelmente tinha ocupação e moradia condizentes com o perfil criminoso — ficava calado. Era escutar e se sujeitar ao vexame. E a mulher que fosse atacada por algum homem? Na geração reprimida, a mulher era a reprimida. Aí da mulher que fosse querer exigir sua autonomia da vontade, a sua liberdade sexual, todo peso da Justiça (machista) recairia sobre ela — somente com a Lei Maria da Penha a situação mudou, um pouco.

Falar errado e escrever errado. A geração mimimi e nutella são consideradas analfabetas funcionais ou somente analfabetas. Para a geração reprimida, ‘Essas gerações não sabem escrever certo’. Ao que parece, a geração reprimida sabia escrever, corretamente. Num país de analfabetos, muito antes de 1988 já existiam analfabetos — e ainda existem, porém são analfabetos funcionais; algum progresso nas gerações mimimi e nutella. Parece que toda a geração reprimida tinha um lugar na Academia Brasileira de Letras. Sabiam escrever corretamente sòmente (antes do Decreto-Lei N. º 32/73, de 6 de Fevereiro), vôo, arqüição. A ortografia brasileira tem História sobre mudanças:


História da Ortografia do Português

Notem, o que é 'escrever corretamente'? É escrever conforme os acordos ortográficos. Porém, voo ou vôo, auto-escola ou autoescola, celuloide ou celulóide, muda o reconhecimento (significado) pelo leitor? Não. Contudo, a geração reprimida — não só a geração, mas a mentalidade desta geração — necessita, como supercompensação ao Complexo de Inferioridade, de ser infalível. Uma das características preponderante da geração reprimida e não errar, ou seja, ser infalível. Errou, acusações, deboches, vexames, o bullying ou o cyberbullying. Agora imagine, você, mimimi ou nutella debochando de alguma pessoa da geração reprimida. Quando os primeiros computadores de mesa chegaram no Brasil, somente pouquíssimas pessoas podiam comprar. Depois veio a internet discada. A geração reprimida sentiu imensa dificuldade com a nova forma de se comunicar:

Ou seja, uma nova maneira de se comunicar (linguística) surgiu. E, para o desespero dos reprimidos, um esforço colossal para não serem excluídos do mundo virtual. Quero dizer que mudanças estruturais na forma de viver sempre aconteceram, desde os primeiros passos da espécie humana.

O que é um acordo ortográfico? É uma forma de uniformizar, facilitar a comunicação entre as pessoas. É, por exemplo, o que aconteceu com o Acordo Ortografico de 2009. Claro, concordâncias, uso de vírgula etc., são importantes. Porém, você que é mimimi ou nutella, não se incomode, assim como você não estão, mas poderão, sentados num assento da Academia Brasileira de Letras, muitos intelectuais da geração reprimida também não estão, não tiveram.

Você me diz que seus pais não te entendem/Mas você não entende seus pais/Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo/São crianças como você/O que você vai ser/Quando você crescer (Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo)A letra já diz tudo, nenhuma geração entende a outra. Cada qual, mimimi, nutella ou reprimida, reclamam. Choques de valores entre gerações, sempre existiram, sempre existirão. No Mundo das Ideias, tudo é ordenado, perfeito.

Preguiçosos, desanimados, vagabundos, encostados nas costas dos pais e dos avós. Assim são nomeados, pelos reprimidos, os mimimis e nutellas. A vida nunca foi fácil, fato, mas há considerações relevantes. Antes da Revolução Industrial (1760) não existiam tantas misérias, tantas diferenciações entre classe sociais — pergunte algum advogado trabalhista. Mesmo com o feudalismo, as mazelas da Revolução Industrial superaram o feudalismo. Com a Revolução, o êxodo rural foi altíssimo, artesões tiveram que vender suas terras para, junto com suas famílias, morarem nas cidades — os centros do novo capitalismo. O artesão trabalhava, assim como sua mulher e criança. Mas eles já não trabalhavam em suas terras? Sim, porém, o artesão e sua família eram donos de suas produções, de seus tempos. Nas fábricas, as condições de trabalho eram péssimas, horas exaustivas, condições insalubres e perigosas — parecido com o trabalho escravo contemporâneo.

Pós Segunda Guerra Mundial. Escombros, corpos, tristezas. Pelo instinto de sobrevivência, mãos à obra. Alguns se suicidaram, como ocorreu em 1929 nos EUA. Pelos acontecimentos ocorridos nas duas guerras mundiais, tanto os governantes quanto os governados decidiram unir forças — até então governantes mandavam e desmandavam nas vidas dos governados; um dos motivos da Primeira Guerra Mundial foi a exploração das famílias, que formam os Impérios da época, junto com os nobres, controlavam e ditavam como os não nobres deveriam viver — para que todos (Estado Social) tivessem condições de viverem dignamente.

As gerações posteriores à Segunda Guerra Mundial, até as décadas de 1970 e 1980, tiveram — não todos, pois existiam ainda diferenciações entre pessoas, pelo darwinismo social e, principalmente, pela eugenia — melhorias em suas vidas. Importante. O desmantelamento do Estado Social começou na década de 1970, na Inglaterra, e na década de1980, nos EUA. Antes dessas duas décadas, os pais tinham certeza de que seus filhos iriam estudar e, quando formados, teriam empregos. As exigências do mercado de trabalho antes das duas décadas mencionadas não se comparam às exigências contemporâneas. O formado, em geral, não tinha que fazer doutorado, mestrado; somente o curso superior. Após — explicável pelos avanços tecnológicos — ambas as décadas, não basta somente ter o diploma universitário.

Contudo, serão as novas exigências aos formados contemporâneos, realmente, necessárias? Há discussões sobre os excessos de disciplinas e, consequentemente, sobrecarga aos alunos. Ilógico? Não! tanto é verdade que existem os cursos superiores de tecnólogo. Aliás, em outro artigo — Democracia consolidada. Bacharelado em Direito: por que não pós-graduação em vez de graduação? — propus curso de curta duração para formação de bacharéis em Direito. Se o estudante já sabe o que quer para sua vida, e deseja somente atuar como advogado criminalista, por que ter aula de Direito Civil, Penal, Consumidor? Aprenderia: Direito Constitucional, fundamental; português; interpretação de texto, fundamental; e Direito Penal e Direito Processual Penal. Penso que seria muito melhor: curso rápido, formação profissional muito mais qualificada do que profissional que teve dotas as disciplinas exigidas atualmente, sendo necessário pós-graduação específica (Direito Civil, Direito Penal etc.), caso queira ser proficiente em alguma área do saber.

A geração reprimida tinha imensa vantagem, pouquíssimos estudavam. Logo, o mercado de trabalho não era concorrido, como agora. Nível universitário? O céu na Terra! As metrópoles não eram tão sobrecarregadas de pessoas, não existiam os congestionamentos infernais como há atualmente. Tempo existia, dinheiro, para pouquíssimos.

Diante de tudo isso, pode-se dizer que as gerações mimimi e nutella reclamam muito? Não. Essas gerações enfrentam mercado exigente — muitas exigências aquém da realidade brasileira; quantos caminhoneiros, por exemplos, estão desempregados por não terem conhecimentos sobre as novas tecnologias nos caminhões? Alguns empresários, humanísticos, treinam os caminhoneiros, numa demonstração de Capitalismo Humanitário. Parabéns aos empresários que assim agem — imobilidade urbana, automotores particulares além das capacidades das vias públicas, o que ocasiona maior tempo entre o deslocamento e, claro violência urbana.

Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

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