O bolsonarismo é de origem fascista, e, se não fosse por muitas outras razões, seria pela implacável trajetória populista, racista, machista, homofóbica, elitista. Porém, como requer a lavra populista, em meio à pandemia do vírus COVID-19 que ameaça com genocídio, apega-se ao antiepidemiológico, ao antiespistemológico, à irracionalidade em que o lucro é mais importante do que a vida humana.
Nesse cálculo econômico está também a lógica política: semear o caos, destilar a desinformação, atuar em meio à contradição , alimentado por robôs virtuais e Fake News, para prover um possível aliado no Estado de Sítio . Nessa lógica, com os olhos no pleito de 2022, a necropolítica () ganha destaque imensurável. São centenas, talvez milhares de mortes pelo COVID-19, sem notificação.
Porque o país está infestado de fascismo – na “nova” versão da necropolítica, ou seja, em nosso caso diferentemente até dos EUA – fazemos política subtraindo a vida e, depois, não notificando a morte. Realmente, é nossa aquela imagem da caveira com capa levando uma foice: a vida humana é só um pedágio para a saúde da economia financista . As maiores vítimas sociais do descalabro antiepistemológico: idosos, trabalhadores precarizados e terceirizados ou de subemprego, pobres e miseráveis ou hipossuficientes. A questão mais dramática é saber se morrem de fome ou dos efeitos da pandemia; de todo modo, a morte é anunciada .
A desinteligência diante dos fatos e do “que fazer”, motivada pelo capitalismo escravagista, impiedoso, cruel, (re)formula um sistema apelidado de “isolamento vertical”. Neste conduto econômico devem ser retidos, estigmatizados, alguns dos sempre atacados como improdutivos: crianças, professores, estudantes e idosos .
Se a trabalhadora ou o trabalhador saem para a labuta, por estarem fora do “grupo de risco”, e lá, fora do isolamento, se contaminam, e ao retornarem a seus lares contaminam o restante dos membros, especialmente, os mais vulneráveis, isso, obviamente, não conta no genial cálculo do Estado Fascista. Por isso, imaginemos as semelhanças que a guetualização de campos de refugiados relegados à mais visceral indiganidade tem com o Brasil de 2020: máfia, sicários, fascistas, vírus e a estupidez do "peso do cotidiano". Mas, diferentemente daqui, a lucidez dos (in)formados é chocante, inteligente, faz do realismo sua eloquência, é sutil para não desmoronar o castelo de areia da esperança .
Por aqui, até mesmo a esperança aparece abaixo do fim do poço; pois, neste 2020, a ficção da Pandemia parece sonho de princesa diante da Realpolitik do bolsonarismo .