Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

O bolsonarismo é fascista

Agenda 28/03/2020 às 23:02

Basta-nos ver a negação da realidade. Em meio à pandemia do vírus COVID-19 que ameaça com genocídio, Bolsonaro apega-se ao antiepidemiológico, ao antiespistemológico, à irracionalidade em que o lucro é mais importante do que a vida humana.

O bolsonarismo é de origem fascista, e, se não fosse por muitas outras razões, seria pela implacável trajetória populista, racista, machista, homofóbica, elitista. Porém, como requer a lavra populista, em meio à pandemia do vírus COVID-19 que ameaça com genocídio, apega-se ao antiepidemiológico, ao antiespistemológico, à irracionalidade em que o lucro é mais importante do que a vida humana.

Nesse cálculo econômico está também a lógica política: semear o caos, destilar a desinformação, atuar em meio à contradição , alimentado por robôs virtuais e Fake News, para prover um possível aliado no Estado de Sítio . Nessa lógica, com os olhos no pleito de 2022, a necropolítica () ganha destaque imensurável. São centenas, talvez milhares de mortes pelo COVID-19, sem notificação.

Porque o país está infestado de fascismo – na “nova” versão da necropolítica, ou seja, em nosso caso diferentemente até dos EUA – fazemos política subtraindo a vida e, depois, não notificando a morte. Realmente, é nossa aquela imagem da caveira com capa levando uma foice: a vida humana é só um pedágio para a saúde da economia financista . As maiores vítimas sociais do descalabro antiepistemológico: idosos, trabalhadores precarizados e terceirizados ou de subemprego, pobres e miseráveis ou hipossuficientes. A questão mais dramática é saber se morrem de fome ou dos efeitos da pandemia; de todo modo, a morte é anunciada .

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

A desinteligência diante dos fatos e do “que fazer”, motivada pelo capitalismo escravagista, impiedoso, cruel, (re)formula um sistema apelidado de “isolamento vertical”. Neste conduto econômico devem ser retidos, estigmatizados, alguns dos sempre atacados como improdutivos: crianças, professores, estudantes e idosos .

Se a trabalhadora ou o trabalhador saem para a labuta, por estarem fora do “grupo de risco”, e lá, fora do isolamento, se contaminam, e ao retornarem a seus lares contaminam o restante dos membros, especialmente, os mais vulneráveis, isso, obviamente, não conta no genial cálculo do Estado Fascista. Por isso, imaginemos as semelhanças que a guetualização de campos de refugiados relegados à mais visceral indiganidade tem com o Brasil de 2020: máfia, sicários, fascistas, vírus e a estupidez do "peso do cotidiano". Mas, diferentemente daqui, a lucidez dos (in)formados é chocante, inteligente, faz do realismo sua eloquência, é sutil para não desmoronar o castelo de areia da esperança .

Por aqui, até mesmo a esperança aparece abaixo do fim do poço; pois, neste 2020, a ficção da Pandemia parece sonho de princesa diante da Realpolitik do bolsonarismo .

Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!