5. CONCLUSÃO
Em que pesem os enormes avanços tecnológicos que tem experimentado nas últimas décadas, a humanidade tem muito mais razões para lamentar do que para festejar.
Ao se apropriar das novas tecnologias e utilizá-las com o auxílio do neoliberalismo na reestruturação produtiva, o capitalismo inseriu a sociedade numa lógica destrutiva, em que a produção de mercadorias passou a ser colocada acima de valores essenciais, como a igualdade, a solidariedade etc. Hoje a presença de bolsões de pobreza e a degradação ambiental são realidades até mesmo no coração do primeiro mundo. No terceiro mundo, 2/3 dos trabalhadores estão em situação muito pior, pois foram pegos pelas mudanças quando ainda não tinham nem sequer conquistado os principais direitos econômicos e sociais.
Na continuidade da lógica destrutiva, já é o próprio estado de bem-estar-social quem está sendo aos poucos desmontado, servindo para suprir o capital com novos mercados e mercadorias, advindas da privatização de serviços públicos indispensáveis como a saúde, a educação, a segurança, a previdência e a assistência.
Os sindicatos e partidos políticos foram afetados enormemente pela reestruturação produtiva e ainda estão a procurar caminhos para a retomada de uma resistência.
Desse modo, podemos concluir que a questão social hoje é aquela que se manifesta nos problemas e estragos causados na sociedade pela reestruturação produtiva e pelo neoliberalismo, bem assim, que são grandes os obstáculos a serem superados para que se possa enfrentá-la.
A reação há que ser buscada pela via da retomada da consciência de classe e por um projeto baseado na solidariedade numa dimensão nacional e internacional, o que demanda grandes esforços de mudança no sindicalismo, principalmente visando a agregar em torno dos sindicatos e de novas formas de enfrentamento todo o universo das “pessoas-que-vivem-do-trabalho”, ou seja, não apenas aqueles que estão em empregos estáveis, mas, especialmente, os desempregados e os trabalhadores em condições precárias de todo o mundo.
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Nota
01 Quanto à existência de diferentes manifestações da questão social em diferentes países, conforme o padrão da proteção social que cada um desses países proporciona à população, é algo que podemos apreender em Esping-Andersen (1994), quando este autor aponta os problemas mais atuais enfrentados por vários deles. Ao tratar desses problemas, o citado autor, mesmo sem fazê-lo expressamente, proporciona uma visão atualizada e panorâmica da questão social no mundo capitalista contemporâneo.
ABSTRACT: This article aims to examine the metamorphosis of the working world in the late twentieth century and, from confronting the situation of workers before and after these transformations, identify what is today the social issue in Brazil and worldwide, but also point out prospects for the working world in this century.
Keywords: Working world. Metarmorphosis. Workers. Transformations. Social issue. Prospects.