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Licitação sustentável

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05/07/2014 às 09:28

Resumo:


  • As licitações públicas são procedimentos administrativos que buscam a proposta mais vantajosa para a Administração Pública, devendo obedecer a princípios constitucionais como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem como princípios específicos como isonomia e julgamento objetivo.

  • A sustentabilidade nas licitações é uma exigência constitucional e infraconstitucional, visando o desenvolvimento nacional sustentável, e deve ser considerada na escolha das propostas, indo além do critério de menor preço, para incluir aspectos ambientais e sociais.

  • Os princípios ambientais como o da obrigatoriedade da intervenção estatal, da precaução e prevenção, do poluidor pagador, do equilíbrio e da solidariedade intergeracional devem ser observados nas licitações sustentáveis, garantindo a preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Este trabalho foi desenvolvido com o intuito de analisar, de forma sucinta, uma nova realidade que surge na Administração Pública, qual seja, a sustentabilidade das licitações.

INTRODUÇÃO

Para desenvolver suas atividades, o Estado necessita contratar serviços e bens. Para isso, deve buscar a proposta mais vantajosa existente no mercado e que atenda aos requisitos definidos pela Administração. A esse procedimento dá-se o nome de licitação.

As licitações devem obedecer a princípios constitucionais intrínsecos aos atos administrativos: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, conforme art. 37, caput, da Constituição Federal (2012), além dos princípios específicos, contidos na lei geral de licitações, Lei Federal nº 8.666/93 (2012), como: vantajosidade, economicidade, isonomia, vinculação ao instrumento convocatório e julgamento objetivo.

A sustentabilidade consiste, em sentido amplo, na harmonização de objetivos sociais, econômicos e ambientais, ou seja, o desenvolvimento econômico e social aliado à preservação ambiental. E ainda, segundo Freitas (2011, p.41) “[...] a sustentabilidade, bem assimilada, consiste em assegurar, hoje, o bem-estar físico, psíquico e espiritual, sem inviabilizar o multidimensional bem-estar futuro”.

No panorama do ordenamento jurídico brasileiro, assim como em qualquer ramo de direito, as licitações estão em constante mutação a fim de se adaptar ao cenário atual. Surge, então, a noção de sustentabilidade das licitações, já fundamentada pela Constituição Federal (2012), mas agora expressamente citada pela Lei de Licitações (2012) como um de seus objetivos, conforme redação trazida pela Lei nº 12.349/10 (2012) ao seu art. 3º: “[...] a licitação destina-se a garantir    a observância do princípio constitucional da isonomia, [...] e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável [...]”.

Nesse sentido, dispõe também o art. 225, da Constituição Federal (2012), de que é dever do Estado e da coletividade defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, e ainda, o art. 174, da Carta Magna (2012), traz o Estado como agente regulador da atividade econômica. Fica evidente, pois, o papel essencial das contratações públicas sustentáveis como forma de incentivo ao mercado econômico, ante a grande escala de contratações, além de dar o exemplo à atividade privada.

Tendo em vista, portanto, os mandamentos constitucionaise também os princípios que regem as licitações públicas, há de se analisar quais as características de uma proposta mais vantajosa para a Administração e se apenas a característica do menor preço há de ser considerada. Necessário, ainda, o estudode formas efetivas de implementação de uma licitação sustentável.

Assim, o objetivo geral desse trabalho é discorrer sobre os princípios que regem as licitações sob o aspecto da sustentabilidade.

Os objetivos específicos são: analisar as disposições constitucionais relativas ao meio ambiente e também a legislação infraconstitucional aplicável à sustentabilidade das licitações, de forma a orientar os Administradores Públicos e os profissionais que trabalham diretamente com licitações nas diversas esferas da Administração, e também analisar de que formas o Estado pode efetivamente implementar a sustentabilidade em suas contratações sem infringir as normas e princípios que as direcionam, sem contudo esgotar o entendimento sobre o tema.

O trabalho divide-se em capítulos, sendo que no primeiro será analisado o entendimento doutrinário a respeito das licitaçõese também do conceito de sustentabilidade, através da revisão de literatura.

No segundo capítulo abordar-se-á, brevemente, o conceito de licitação, juntamente com seus princípios, para ambientar o assunto principal.

Em seguida, no capítulo terceiro, será abordado o conceito de sustentabilidade, de forma concisa, e também se analisarão as licitações sustentáveis, abordando seu conceito e legalidade, bem como as normas específicas aplicáveis às licitações sustentáveis.

Por fim, o capítulo quarto elencará e explicaráos princípios que se aplicam às licitações sustentáveis.

Para tanto, será utilizada a metodologia de pesquisa em doutrinas, artigos de internet e legislação, de forma a garantir o teor jurídico e científico do trabalho.


1 CONCEITO DE LICITAÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS

Afirma Stroppa (2012, p. 02) que:

As atividades estatais podem ser classificadas em dois grandes grupos: o das atividades-fim – que justificam a existência do Estado – e as atividades instrumentais (ou atividades-meio) que servem apenas ao seu aparelhamento, possibilitando a realização do primeiro grupo de atividades.

Interessa ao presente estudo as denominadas atividades instrumentais do Estado, em especial as licitações, que, como ensina Meirelles (2011, p. 283), podem assim ser definidas:

[...] como o procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse, inclusive o da promoção do desenvolvimento econômico sustentável e fortalecimento de cadeias produtivas de bens e serviços domésticos.

A licitação decorre de disposição constitucional (2012), contida no artigo 37, inciso XXI, que foi regulamentada pela Lei Federal nº 8.666, de 21/06/1993 (2012). Reza o citado artigo da Carta Magna (2012) que ressalvados os casos específicos na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública. Ou seja, a regra é a obrigatoriedade de utilização de licitação por todos os órgãos da Administração Pública direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estado, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 1º, parágrafo único da Lei de Licitações (2012), ficando as exceções para os casos expressamente contidos na lei, a saber: casos de dispensa de licitação, previstos no art. 24 da Lei Federal nº 8.666/93 (2012) e casos de inexigibilidade de licitação, contidos no art. 25 do mesmo diploma legal (2012).

Para Meirelles (2011, p.286/287):

Segundo o art. 3º da Lei de Licitações, os princípios que regem a licitação, qualquer que seja a sua modalidade, resumem-se nos seguintes preceitos: procedimento formal; publicidade de seus atos; igualdade entre os licitantes; sigilo na apresentação das propostas; vinculação ao edital ou convite; julgamento objetivo; adjudicação compulsória ao vencedor e probidade administrativa. A lei destaca aqueles princípios mais específicos da licitação; mas, obviamente, como o próprio art. 3º revela, os demais princípios constitucionais também são aplicáveis no estudo desse instituto.

Tais princípios serão, posteriormente, objeto de melhor análise neste trabalho.

Quanto ao procedimento licitatório, este pode ser dividido em duas partes: fase interna e fase externa.

De acordo com o entendimento do TCU (2010, p.139/140), a primeira inicia-se com a abertura do processo licitatório, fundamentada pela necessidade de adquirir algo para o funcionamento do Estado (atividade-meio). Nesta fase se definirá o objeto a ser licitado, com suas características específicas, valor médio de mercado, comprovação de recurso para amparar a despesa, definição da modalidade licitatória e tipo de licitação a ser utilizada ou critério de julgamento (preço, técnica e preço, ou somente técnica).

A fase externa, ou fase executória, inicia-se com a publicação do instrumento de convocação – edital ou convite – dependendo da modalidade licitatória. Após a publicação, qualquer pessoa poderá requerer esclarecimentos ou impugnar a licitação motivadamente. Na sequência, não havendo impugnação ou após o saneamento de eventual irregularidade, serão recebidas pelo órgão licitante a documentação e proposta dos interessados em participar. Haverá, então, o julgamento das propostas e análise dos documentos, adjudicando-se o objeto ao vencedor. Abrir-se-á, por conseguinte, prazo para recurso; após, homologação do certame pela autoridade competente, empenho da despesa e assinatura do contrato (TCU, 2010, p. 279).

No que se refere às finalidades da licitação, estas podem ser extraídas do próprio texto positivado, ou seja, do que consta do art. 3º, da Lei nº 8.666/93 (2012), em que o legislador assim colocou: “A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável [...].”

Ademais, como afirma Bertoli (2009), não basta ao Poder Público selecionar a melhor proposta. Deve, além disso, selecionar dentre os interessados, aqueles que possuem idoneidade sob o ponto de vista jurídico, econômico, técnico, fiscal, social, securitário e trabalhista, a fim de garantir-se quanto à efetiva entrega do objeto licitado, não bastando, portanto, a mera análise do preço.

Ainda, segundo Bertoli (2009), no caso da licitação sustentável, deve-se acrescer como preocupação do gestor público a busca de um meio ambiente saudável em suas compras, atentando para os produtos que não venham a prejudicar a natureza, e caso não seja possível, faça opção por aqueles que menos danos causem. 

1.1 Princípio da isonomia

É o princípio maior das licitações, pois dele decorrem todos os outros a fim de garantir a igualdade entre os licitantes.

Por esse princípio, previsto no art. 37, XXI, da CF (2012), impede-se que a Administração dê tratamento igual aos desiguais ou desigual aos iguais, ou favoreça uns em detrimento de outros dentro do certame licitatório.

Importante salientar que ao selecionar a melhor proposta, inevitavelmente ocorre uma diferenciação. No entanto, como ensina Justen Filho (2010, p.68) não se admite, porém, a discriminação arbitrária, produto de preferências pessoais e subjetivas do ocupante do cargo público.

Nesse diapasão, são permitidas diferenças que tenham relevância para a Administração e desde que devidamente justificadas nos autos. 

1.2 Princípio da impessoalidade

Este princípio está intimamente ligado ao princípio da isonomia, uma vez que as decisões devem pautar-se por critérios objetivos, sem levar em consideração condições pessoais do licitante (DI PIETRO, 2009, p. 358). 

1.3 Princípio da publicidade

Previsto no art. 3º da LGL (2012), o princípio da publicidade possui dois objetivos: 1) levar ao conhecimento dos interessados a existência de licitação, permitindo o maior número de participantes possível; 2) permitir a fiscalização dos atos praticados.

Para Di Pietro (2009) a publicidade “[...] é mais ampla possível na concorrência, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o valor do contrato dispensa maior divulgação”. 

1.4 Princípio da vinculação ao instrumento convocatório

Para Di Pietro (2009, p. 360), esse princípio pode assim ser entendido:

Trata-se de princípio essencial cuja inobservância enseja nulidade do procedimento. Além de mencionado no art. 3º da Lei nº 8.666/93, ainda tem seu sentido explicitado no artigo 41, segundo o qual “a Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada”. E o artigo 43, inciso V, ainda exige que o julgamento e classificação das propostas se façam de acordo com os critérios de avaliação constantes do edital.

Trata-se, portanto, de mais um princípio decorrente do caráter isonômico e impessoal das licitações, uma vez que não poderão ser considerados requisitos diversos dos previamente estabelecidos em edital, no decorrer do julgamento de uma licitação. 

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1.5 Princípio do julgamento objetivo

Segundo Meirelles (2011, p.291), esse princípio visa afastar o discricionarismo na escolha das propostas, obrigando os julgadores a aterem-se ao critério prefixado no instrumento convocatório.

É, por conseguinte, decorrência da vinculação ao instrumento convocatório, afastando qualquer decisão tendente a favorecer o participante levando em conta caráter pessoal não relacionado ao objeto licitado. 

1.6 Princípio da economicidade

Princípio intimamente relacionado à eficiência contida no art. 37 da CF (2012). Por ele, analisa-se a atividade administrativa sob o prisma econômico, equalizando custo e benefício, como explica Justen Filho (2010, p. 64):

A economicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos. Toda atividade administrativa envolve uma relação sujeitável a enfoque de custo-benefício. O desenvolvimento da atividade implica produção de custos em diversos níveis.

Para isso, analisa-se o preço praticado no mercado e a qualidade do produto adquirido, de modo que o preço contratado não seja maior do que a média de mercado e que a qualidade do bem seja condizente com a necessidade da Administração. 


 2 SUSTENTABILIDADE E LICITAÇÃO SUSTENTÁVEL           

2.1 Sustentabilidade

É inegável que a humanidade passa por iminente perigo de inviabilizar sua existência na Terra. O consumo desmedido de recursos naturais, a degradação ambiental, a emissão aguda de gás carbônico causadora do efeito estufa, dentre outros fatores, estão deixando o planeta em condições que podem não comportar a vida humana em médio prazo.

Para FUNDAP (2009):

Sempre que um bem de consumo é produzido, o meio ambiente contribui para essa produção; de alguma forma, o meio ambiente é atingido, seja pela extração da matéria-prima, seja pela energia empregada na fabricação, seja pelo transporte dos produtos já fabricados, seja pelo descarte das embalagens e/ou dos resíduos resultantes do produto após seu consumo.

Assim, como afirma Freitas (2011, p.56), é necessário realizar a transição para uma cultura do desenvolvimento, caracterizada de baixo carbono, alta inclusão, trabalho seguro e decente, em substituição à economia baseada em combustíveis fósseis (recursos naturais não renováveis) e nos vícios da política.

Importante consignar que, ao se falar em meio ambiente, não se o restringe ao meio ambiente natural. Aqui, tanto quanto na seara do Direito Ambiental, meio ambiente deve ser entendido como o lugar onde habitam os seres vivos (Sirvinskas, 2011, p. 90), incluindo o meio ambiente natural, cultural e do trabalho.

Destarte, ante a análise desse amplo conceito de meio ambiente, pode-se chegar à uma definição de sustentabilidade como afirma a  doutrinadora Sachs (apud MENEGUZZI, 2011, p. 21):

Abordaria a sustentabilidade como a busca pela harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos, que foi inicialmente chamada de ecodesenvolvimento e posteriormente, desenvolvimento sustentável, elencando como os três objetivos da sustentabilidade: 1) preservação potencial da natureza para a produção de recursos renováveis; 2) limitação do uso de recursos não renováveis; e 3) respeito e realce para a capacidade de autodepuração dos sistemas naturais.

Segundo Freitas (2011, p. 40/41):

[...] eis o conceito proposto para o princípio da sustentabilidade: trata-se do princípio constitucional que determina, independentemente de regulamentação legal, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar físico, psíquico e espiritual, em consonância homeostática com o bem de todos.

2.2 Conceito e legalidade da licitação sustentável

A preocupação com o crescimento desenfreado e com o consumo desmedido foi evidenciada internacionalmente pela primeira vez na I Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972 (FUNDAP 2009). Nesse passo, editou-se no Brasil a Lei nº 6.938/81 (2012) que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (SOUZA, 2011, p. 103/104).

Para Paulo de Bessa Antunes (apud SIRVINSKAS, 2011, p. 157), a política nacional do meio ambiente “deve ser compreendida como o conjunto dos instrumentos legais, técnicos, científicos, políticos e econômicos destinado à promoção do desenvolvimento sustentado da sociedade e economia brasileiras”.

Seus objetivos estão contidos no próprio texto da Lei 6.938/81 (2012):

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

Nesse passo, conclui-se que a harmonização do desenvolvimento socioeconômico com observância à qualidade ambiental está intimamente relacionada com o conceito de sustentabilidade. Dessa forma, os princípios que norteiam a PNMA devem também servir de orientação à sustentabilidade, pois aquela é uma das principais fontes desta.

São princípios da PNMA conforme art. 2º, incisos I a X da Lei nº 6.938/81 (2012):

I. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI. Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII. Recuperação de áreas degradadas;

IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X. educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Conclui Souza (2011, p. 106) que o objetivo maior da Política Nacional do Meio Ambiente é o estabelecimento de padrões que tornem possível o desenvolvimento sustentável, por meio de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção.

Importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 (2012) recepcionou a Lei nº 6.938/81 (2012). Assim, a PNMA vem dar efetividade ao contido no art. 225, caput, da CF (2012), consubstanciado no direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (Sirvinskas, 2011, p. 157).

Estabelece o art. 225, caput, da CF (2012): “que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

O mesmo ocorre na esfera econômica, pois, o inciso VI, do art. 170, da CF (2012), com redação dada pela EC nº 42/03 (2012), enfatiza a defesa do meio ambiente como princípio a ser observado na ordem econômica, além da valorização do trabalho humano e da livre iniciativa.

Infere-se, portanto, da análise dos citados dispositivos constitucionais, que a adoção de critérios sustentáveis nas compras públicas já guardava amparo constitucional, levando a crer que a utilização do poder de compra do Estado é um instrumento essencial para infundir a sustentabilidade na iniciativa privada.

Nesse sentido, para que não restasse dúvida ao intérprete, alterou-se a redação do art. 3º da Lei nº 8.666/93 (2012), através da Lei nº 12.349/2010 (2012), incluindo-se a promoção do desenvolvimento nacional sustentável como um dos objetivos da licitação.

Para Corson (apud FERREIRA, 2011, p. 131):

Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz hoje as necessidades dos indivíduos, sem destruir os recursos que serão necessários no futuro. É baseado no reconhecimento de que, para manter o acesso aos recursos que tornam a nossa vida diária possível, devemos admitir os limites de tais recursos.

A corroborar com esse entendimento, a Lei nº 12.187/2009 (2012), que instituiu a Política Nacional sobre Mudanças do Clima, em seu art. 6º, XII, elencou, como um dos seus instrumentos, o estabelecimento de critérios de preferência nas licitações e concorrências públicas, inclusive nas parcerias público-privadas para propostas que propiciem maior economia de energia, água e outros recursos naturais e redução de gases de efeito estufa e de resíduos.

No entanto, como afirma Eduardo Fortunato Bim (apud MENEGUIZZI, 2011, p. 31), a Lei nº 12.187/2009 (2012) previra apenas licitações sustentáveis de resultado, que gerem maior economia de energia, água e outros recursos naturais ou reduza a emissão de gases de efeito estufa e de resíduos, não estipulando, de forma clara e direta, sobre a escolha dos materiais, exigência de certidões, ou cadastramento, ou técnicas de produção, ou prestação.

Já a Lei nº 12.305/2010 (2012), que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevê, em seu art. 7º, XI, a prioridade nas aquisições e contratações governamentais de produtos reciclados e recicláveis, bem como de bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis.

Licitação sustentável, por consequência, pode ser compreendida como as contratações no âmbito da Administração Pública que se pautam pelo consumo sustentável, além dos princípios contidos na LGL.

Para Meneguzzi (2011, p. 21):

Seria contratar (comprar, locar, tomar serviços...) [...] levando em conta que o governo é grande comprador e grande consumidor de recursos naturais, os quais não são perpétuos: acabam. Como o governo compra muito poderia estimular uma produção mais sustentável, em maior escala, além de dar o exemplo.

No campo da normatização da sustentabilidade das licitações, merece destaque o Decreto nº 7.746, de 05 de junho de 2012 (2012), o qual regulamenta o art. 3º da LGL para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela Administração Pública Federal, e institui a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP.

O decreto data do dia mundial do meio ambiente, e também, não por acaso, foi publicado às vésperas da realização da Rio +20 – Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável.

Em que pese ser notória a viabilidade jurídica das contratações sustentáveis, o referido decreto é de inaugural e de suma importância, pois discorre como deverão ser inseridos critérios ambientais nas licitações.

Nos primeiros artigos (2º e 3º) dispõe-se que os entes estatais poderão adquirir bens e contratar serviços e obras considerando critérios e práticas de sustentabilidade objetivamente definidos no instrumento convocatório, seja veiculados como especificação técnica do objeto ou como obrigação da contratada.

Já o parágrafo único do art. 2º, assegura nesses casos o respeito ao princípio da isonomia e da impessoalidade ao afirmar que a adoção de critérios e prática de sustentabilidade deverá ser justificada nos autos e preservar o caráter competitivo do certame.

O art. 4º do decreto em questão elenca as diretrizes de sustentabilidade, de forma não taxativa:

I - Menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e água;

II - Preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local;

III - Maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia;

IV - Maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local;

V - Maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;

VI - Uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; e

VII - Origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos bens, serviços e obras.

Note-se que as diretrizes do Decreto nº 7.746/12 (2012) compatibilizam-se com os princípios da PNMA, e não poderia ser de outra forma, uma vez que a Lei 6.938/81 (2012) é a norteadora das ações relacionadas com meio ambiente no Brasil.

Diante do exposto, conclui-se que a avaliação da sustentabilidade de um produto implica no estudo do seu ciclo de vida, ou seja, da origem da matéria-prima, passando pela mão de obra utilizada, sua vida útil e, por fim, o descarte do produto. 

2.3 Normas aplicáveis às licitações sustentáveis

Renova-se aqui a importância do Decreto 7.746/2012 (2012) pela regulamentação que trouxe o aspecto prático de inclusão de critérios socioambientais nas licitações.

Além do art. 2º, citado anteriormente, que esclarece que os critérios e práticas de sustentabilidade poderão ser incluídos na descrição do objeto ou como obrigação da contratada, o art. 5º permite que se exija no instrumento convocatório para aquisição de bens, que estes sejam constituídos por material reciclado, atóxico ou biodegradável, entre outros critérios de sustentabilidade.

Quanto aos serviços de engenharia e obras, estabelece o art. 6º do decreto que devem ser especificados de modo a proporcionar a economia da manutenção e operacionalização da edificação e a redução do consumo de energia e água, por meio de tecnologias, práticas e materiais que reduzam o impacto ambiental.

Torres (2011, p. 115) ressalta que, ao especificar o objeto licitado, a Administração faz um inevitável direcionamento do certame, o que é inerente ao processo licitatório, pois, a Administração deve descrever de forma inequívoca o que pretende adquirir.

Segundo o mesmo autor (2011, p. 116), por outro lado, em que pese a importância da especificação do objeto a ser licitado, em alguns casos a descrição vai além da esfera técnica e adentra a esfera normativa editada por órgão de proteção ao meio ambiente, os quais estabelecem parâmetros obrigatórios no padrão de consumo da sociedade em geral.

Analisa Terra et al (2011, p. 232) que nessas situações, nas quais os órgãos de proteção ao meio ambiente exercem sua função normativa, o cumprimento dos critérios de qualidade ambiental deixa de ser uma decisão discricionária da Administração e passa a ser cogente, por força de disposição legal. E conclui: “Por conseguinte, ao inseri-los na descrição do objeto da licitação, a Administração poderá dispensar a elaboração de justificativa técnica, bastando, na hipótese, a remissão ao diploma normativo aplicável”.

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Sobre o autor
Alexandre Pedra

Agente Estadual de Trânsito. Consultor em Licitações e Contratos. Pregoeiro. Especialista em Direito Administrativo.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

PEDRA, Alexandre. Licitação sustentável. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4021, 5 jul. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/28499. Acesso em: 23 dez. 2024.

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