Artigo Destaque dos editores

A responsabilidade civil objetiva do Estado por suas condutas administrativas omissivas

Exibindo página 3 de 3
Leia nesta página:

7. Conclusão

Diante do contexto trazido e da análise acerca da responsabilidade civil do Estado por suas condutas omissivas, nota-se que o instituto sofreu uma extensa e paulatina evolução, atribuída mormente à doutrina francesa.

Em primeiro plano, o marco inicial de transição entre a doutrina subjetiva da culpa civil e a teoria objetiva do risco foi a consagração da culpa administrativa, também conhecida por faute du service. Essa exige do particular que haja comprovação do elemento subjetivo consistente na culpa anônima da Administração ou falha da máquina estatal, isto é, não basta a verificação do nexo de causalidade entre o comportamento do Estado e o dano, é chamada a responsabilidade subjetiva.

Seguindo a linha evolutiva, é consagrada a responsabilidade objetiva do Estado pelos danos causados aos particulares, exigindo-se do lesado apenas a prova da relação de causalidade entre a conduta estatal e o dano provocado, independentemente da falha do serviço ou, ainda, da culpa do agente causador do resultado lesivo.

O fundamento da responsabilidade objetiva é a teoria do risco administrativo, que dispõe acerca da responsabilidade do Poder Público diante das atividades exercidas, haja vista que o desempenho da máquina estatal gera riscos para a coletividade. Assim, se essa atuação da Administração é em prol de todos, a reparação dos danos advindos dela deve ser custeada por toda a sociedades, por meio do Estado, e não apenas pelos sujeitos lesados, como forma de garantir a igualdade dos indivíduos em face dos encargos públicos.

No Brasil, nota-se que a Constituição Federal acolhe, em seu art. 37, § 6º  a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de direito público e de direito privado prestadoras de serviço público, pelos prejuízos que seus agentes causem a terceiros, cabendo o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Ocorre que a doutrina pátria tradicional agasalha o entendimento de que a responsabilidade civil do Estado por suas omissões administrativas é de natureza subjetiva. Todavia, tal linha intelectiva é insustentável diante de simples leitura do Texto Constitucional, uma vez que a própria Constituição não faz qualquer distinção entre as condutas positivas e negativas, logo não cabe ao interprete fazê-la, restringindo de forma indevida a intenção do constituinte brasileiro de 1988.

Ademais, a Carta Magna de 1988 é uma Constituição do Estado Social e de cunho intervencionista. Nesse ínterim, não se coaduna com os valores nela albergados a exigência, em relação à vítima, da prova da culpa do serviço quanto às omissões estatais.

Portanto, resta claro que o sentido que melhor se adéqua à teleologia do art. 37, § 6º, da Constituição Federal é o de que a Administração responde objetivamente pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros, seja por ação ou omissão.

Nesse diapasão, conclui-se que a Constituição Federal de 1988 visa à proteção do direito do lesado ao efetivo ressarcimento pelos prejuízos suportados. Assim, tendo em vista que a omissão estatal pode acarretar diretamente o dano provocado ao particular, é evidente a conclusão de que a responsabilidade civil do Estado por suas condutas omissivas é objetiva, logo não é exigível do ofendido a prova da culpa do serviço ou dos agentes administrativos, afastando-se qualquer celeuma acerca do elemento subjetivo da conduta da Administração.


8. Referências Bibliográficas

AGUIAR DIAS, José. Da responsabilidade civil. 10. ed. rev. e atual. v. I. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

______. Da responsabilidade civil. 10. ed. rev. e atual. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2004.

BRUNINI, Weida Zancaner. Da responsabilidade extracontratual da Administração Pública. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 17. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

______. Manual de Direito Administrativo. 24. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 6. ed. rev. e atual. e aum. São Paulo: Malheiros, 2005.

CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev. atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2007.

______. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm, 2008.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 21. ed. rev. e atual. v. 7. São Paulo: Saraiva, 2007.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

______. Direito administrativo. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2003.

GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 10. ed. rev. atual.e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

LAZZARINI, Álvaro. Estudos de Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 22. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2007.

PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. 4. ed. rev. e atual. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2006.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 18. ed. rev. . v. 4. São Paulo: Saraiva, 2001.

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Caio Marinho Boaventura Santos

Advogado, Graduado pela UCSAL, Pós Graduado em Direito do Estado pelo JusPodivm/LFG.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

SANTOS, Caio Marinho Boaventura. A responsabilidade civil objetiva do Estado por suas condutas administrativas omissivas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4056, 9 ago. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30770. Acesso em: 22 dez. 2024.

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos