A Propagação da Revolução
De 1760 a 1830, a Revolução se limitou praticamente somente à Inglaterra. Era proibido exportar máquinas e técnicas de produção industrial. Mas não foi possível conter por muito tempo os interesses dos fabricantes de equipamentos industriais, desejosos em exportas as máquinas para terem ainda mais lucro.
No ano de 1807, dois ingleses criaram uma fábrica de tecidos em Liège, na Bélgica. Seu desenvolvimento foi bastante rápido, facilitado pela existência de carvão e de ferro nessa região. A França que estivera mergulhada na Revolução Francesa desde 1789, em função disso, teve seu desenvolvimento retardado. Mais tarde, sua tradição de pequena indústria e de produção de artigos de luxo dificultou a concentração industrial e a acumulação de capitais que permitissem a continuidade do desenvolvimento.
Na Alemanha, o progresso veio apenas depois da unificação política, em 1870. O progresso foi devido à existência de ferro e cartão no país. No final do século XIX, a Alemanha superava a Inglaterra no tocante à produção de aço de produtos químicos. Nesta mesma época se dava a industrialização na Rússia, em virtude de investimento de capitais estrangeiros, principalmente franceses.
Na América, os Estados Unidos foram o único país que passaram pela Revolução Industrial, no final do século XIX. Nesse período, os americanos já eram grandes produtores de artigos manufaturados, superando até mesmo a pioneira Inglaterra e a Rússia.
Concentrou-se no Japão a principal industrialização da Ásia, que num certo período de tempo conseguiu implantar a revolução graças à exploração do baixo custo dos salários e das medidas governamentais. Após a Revolução Meiji, em 1868, surgiu um programa sistemático de industrialização do país, visando tornar o Japão uma grande potência pela assimilação da técnica ocidental.
Como um todo, a Revolução Industrial deu condições para uma revolução também nos transportes que, por sua vez, acentuaram ainda mais o processo de industrialismo. Depois do surgimento da locomotiva a vapor, no ano de 1830, as estradas de ferro se multiplicavam. As primeiras foram construídas nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Bélgica. Na França a primeira estrada de ferro foi construída em 1831, mas somente após 1870 elas foram expandidas.
O comércio internacional fez surgir uma especialização mundial da produção, em que os países mais avançados se especializaram na produção industrial e os mais atrasados da Europa, América e Ásia concentraram seus esforços no setor primário, fornecendo alimentos e matérias-primas para os países industrializados. A Europa passou a ser o centro do capital, exigindo novos setores para investimentos, em que foram canalizados para diversos países estrangeiros sob a forma de empréstimos, e utilizados na implantação de vias férreas ou outros empreendimentos semelhantes.
Um outro importante fenômeno que surgiu com a Revolução foi o desenvolvimento do imperialismo, em que o processo de industrialização criou para os países capitalistas uma série de problemas cuja solução dependia da manutenção do ritmo de desenvolvimento industrial.
As potências capitalistas necessitavam de mercados externos que servissem de escoadouro para seu excedente de mercadorias. Precisavam também de minérios e matérias-primas que, muitas vezes, não existiam em seu próprio território e que eram extremamente necessários para produção de artigos industriais, além de mão-de-obra barata e de áreas favoráveis ao investimento seguro e lucrativo de seus capitais.
Tais necessidades fizeram com que os países capitalistas desenvolvessem, na segunda metade do século XIX, uma política de expansão externa que ficou conhecida como imperialismo. A expansão imperialista atingiu, principalmente, a Ásia, África e América Latina. Esses continentes foram divididos em colônias ou áreas de influência das grandes potências industriais. Na passagem do século XIX para o XX a expansão do imperialismo provocou uma série de rivalidades entre as grandes potências pela divisão do mercado mundial, que desencadearam, em 1914, a I Guerra Mundial.
A expansão tecnológica não teve fim com a Revolução Industrial. Ao contrário, na sociedade capitalista atual, ela ainda é vista como um dos fatores que dividem o mundo entre os países chamados “desenvolvidos” e os “subdesenvolvidos”.
Se, por um lado, o desenvolvimento tecnológico trouxe inovações importantes para a sociedade como os avanços na medicina, nas telecomunicações, nos transportes e na produção de bens de consumo, por outro trouxe também o chamado “desemprego estrutural”. Milhares de trabalhadores, no mundo inteiro, estão sendo substituídos por máquinas ou por operários multifuncionais – isto é, por aqueles que desempenham múltiplas funções no sistema produtivo. Mais uma vez, grupos sociais inteiros vão sendo historicamente colocados à margem dos benefícios gerados pelo desenvolvimento econômico.
A Revolução Urbana
A Europa ocidental já possuía uma antiga, porém, significativa, rede urbana, mas boa parte das cidades ainda estava limitada por suas muralhas medievais. Com o aumento da população e a expansão das indústrias, essa cidades cresceram e já na metade do século XIX algumas se tornaram verdadeiras metrópoles, como Londres e Paris.
Sem nenhum planejamento e organização, essas cidades ofereciam duras condições de vida às pessoas por elas atraídas, geralmente originárias do campo. Sem infra-estrutura de saneamento básico e higiene, tornavam-se também focos de doenças e epidemias.
Nas cidades, o modo das pessoas verem o mundo, a natureza e os seres humanos começou a mudar também. Lentamente, o distanciamento da natureza foi se concretizando. O tempo diário passou a ser medido pelo relógio, que regrava o tempo do trabalho e da vida. As atividades comerciais e culturais e as comodidades urbanas se multiplicaram; o acúmulo de conhecimento e a rapidez das informações tendiam a se concentrar nas cidades; estas começaram a mudar cada vez mais rápido.
A vida social fora das fábricas era difícil. Nos bairros populares dos centros urbanos em crescimento, o preço da moradia era alto, não havia saneamento básico nem higiene, muito menos lazer. Em condição social diferente, a burguesia, formada pelos proprietários das fábricas, dos estabelecimentos comerciais e financeiros, também ampliou sua presença na sociedade, ocupando lentamente o lugar político e econômico da antiga nobreza.
A Revolução e as Novas Ideologias
O rápido processo de industrialização gerou uma grande repercussão em vários aspectos da vida social, fazendo gerar um vívido debate sobre a Revolução Industrial e suas consequências para a sociedade. No centro desse debate, estavam trabalhadores e empresários, que tinham interesses totalmente divergentes. Os operários estavam desejosos por condições dignas de trabalho, enquanto do lado oposto a burguesia desejavam somente aumentar seus lucros e fazer crescer ainda mais seus negócios.
A crescente polêmica deste conflito de interesses contribuiu para a elaboração de várias teorias sociais. Algumas dessas teorias justificavam os novos rumos da nova e crescente sociedade industrial capitalista, outras, que se identificavam com os anseios dos operários, denunciavam a exploração do trabalho e pregavam uma sociedade menos injusta e mais livre.
A situação de extrema exploração na qual se encontravam os trabalhadores, além de resultar no nascimento do movimento operário, fez surgirem teorias que condenavam o sistema capitalista e as desigualdades sociais trazidas por ele e propunham novas formas de organização da sociedade. O conjunto dessas teorias ficou conhecido como socialismo.
Entre os criadores das primeiras correntes socialistas modernas, destacaram-se os teóricos franceses conde de Saint-Simon e Pierre-Joseph Proudhon e o britânico Robert Owen.
Saint-Simon criticou o liberalismo econômico e a desumana exploração dos trabalhadores pelos proprietários dos meios de produção. Defendia a extinção das diferenças de classe e a construção de uma sociedade em que cada um ganhasse de acordo com o real valor de seu trabalho. Proudhon afirmava que a propriedade privada era um roubo. Pregava a igualdade e a liberdade para todos os indivíduos, que passariam a viver numa sociedade harmônica, sem a força do Estado. Owen acreditava na organização da sociedade em comunidades cooperativas compostas de operários, em que cada um receberia de acordo com as suas horas de trabalho.
Já os pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels desenvolveram posteriormente a corrente socialista do socialismo científico, também conhecida como marxismo. De acordo com essa concepção, depois de tomar o poder, a classe operária deveria por um fim na propriedade privada dos meios de produção e de troca e criar uma sociedade baseada na associação autônoma dos trabalhadores e em formas coletivas de propriedade. Essa doutrina atribuía ao proletariado a missão histórica de destruir o capitalismo e conduzir a humanidade para uma sociedade igualitária.
Referências
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