Feminismo: a liberdade feminina, mas de quais mulheres?

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As mulheres, antes dos movimentos feministas, tinham o dever de ser Amélia, mas as mulheres deste início de século, da classe C, poderão ser Amélia pela crise financeira, ou até pelo indecoroso piso salarial mínimo.

Há muitos artigos sobre a emancipação da mulher. A Segunda Guerra Mundial, o avanço tecnológico e a pílula anticoncepcional, alguns acontecimentos que proporcionaram a voz ativa do sexo feminino.

Infelizmente, neste século, as mulheres ganham salários menores que a dos homens e, ainda, há discriminações quanto à capacidade das mulheres no mercado de trabalho, principalmente na política.

Acredito que muitos cidadãos acreditam que há emancipação das mulheres. O rompimento com a imagem de "Amélia" — dona de casa dedicada ao lar, ao marido e aos filhos — parece algo típico do século XX, não sendo mais possível neste século.

No entanto, quais mulheres conseguiram, na visão das feministas, romper o costume de que lugar de mulher é no fogão? Para as classes sociais — antiga classe média, pois existe a Nova Classe Média, e a classe alta — elevadas, sim, houve a liberdade da mulher em relação aos deveres do lar.

Não mais era possível conceber a Amélia, as mulheres passariam a ter a liberdade de escolha entre ser doméstica ou proletariada. Com o tempo, a mulher pode escolher ser proletariada ou empreendedora. Contudo, quem educava, alimentava, asseava, levava para escola os filhos da mulher feminista? Simples, a mulher da classe D — estou usando a classificação antiga de estratificação social [A, B, C e D] para ficar fácil ao entendimento de muitos leitores, pois há classificações diferentes quanto ao tipo de classe social, são elas: da ABEP - Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa e do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Logo, dizer que houve uma evolução feminina, o sair do fogão, no Brasil, só foi possível graças às empregadas domésticas da classe D. Estas mulheres permitiram que as ex-donas de casa [domésticas] das classes A, B e C pudessem constituir um novo modelo de mulher brasileira: independentes, dos maridos e, consequentemente, financeiramente.

Claro que as mulheres das classes A e B já eram independentes, quanto aos afazeres do lar, muitos antes dos movimentos feministas brasileiros. As mulheres destas classes continuavam a manter o padrão social desde o Império brasileiro. Ou melhor, desde a escravidão negra. A PEC das Domésticas, que se materializou em direitos trabalhistas para as exploradas empregadas domésticas, representa um avanço extraordinário na evolução social.

De exploradas, agora, possuidoras de direitos que garantem a dignidade da pessoa humana dos trabalhadores domésticos. Todavia, tema central deste artigo, a "liberdade" da mulher, ao domínio econômico do homem e, consequentemente, a oportunidade de escolher o que deseja ser, só foi possível graças às mulheres da classe D. Sem estas, não haveria a possibilidade premente de mudanças no paradigma social de sexo versus deveres.

Enquanto as mulheres das classes A e B desfrutavam da liberdade dos movimentos brasileiros feministas, as mulheres das classes C, e principalmente a D, não desfrutavam das liberdades feministas. As proles das classes sociais A e B, geralmente, eram criados, quase que literalmente, pelas empregadas domésticas da classe D. As mulheres da classe C, com o baixo poder aquisitivo de seus maridos, não podiam desfrutar dos avanços sociais causados pelos movimentos feministas.

Se há emancipação da mulher, a mulher da classe D proporcionou o sucesso do feminismo no Brasil. Ou seja, a ruptura da dependência econômica da mulher ao marido. Outro fator também ao sucesso do feminismo fora o controle sobre o próprio corpo, isto é, o não querer ser mãe antes de se formar em curso Universitário, ou passar em concurso público. A gravidez passou a ser um empecilho ao movimento feminista.

Importante tecer considerações sobre a classe C. A geração de mulheres independentes desta classe devem agradecer às suas genitoras as quais se dedicaram de corpo e alma ao sucesso [feminista] profissional. Enquanto as genitoras trabalhavam, exaustivamente, para o bem-estar de todos, as filhas tinham tempo — já que encontravam comida pronta, roupa lava, residência asseada — para se dedicarem aos estudos ou a vida profissional.

O surgimento de shoppings no Brasil proporcional as mulheres da classe C possibilidade de emancipação financeira. Quanto ao acesso aos estudos mais avançados, como a graduação Universitária, o crédito estudantil possibilitou às mulheres desta classe a possibilidade de avançarem ao conhecimento técnico — e melhor condição financeira.

Fato social que possibilitou às mulheres da classe C conseguir se emancipar aconteceu na década de 1990, no caso, os emergentes. Das periferias, ou de bairros com populações de média renda per capta, ocorreram migrações para localidades antes inóspitas. As possibilidades de novos empreendimentos favoreceram aos maridos. Compra de propriedades e investimentos proporcionaram aos homens da classe C elevação no padrão econômica. As esposas, por sua vez, puderam desfrutar dos benefícios do novo padrão econômico de seus maridos. A contratação de empregada doméstica — classe D — possibilitou as esposas "emergentes" de estudarem, se livrarem das tarefas domésticas. Conseguiram, assim, participarem dos movimentos feministas, e se tornaram feministas.

E agora, com os direitos trabalhistas dos empregados domésticos, como ficará a classe C? Sendo o Brasil um eterno oscilador econômico, sempre para pior, as mulheres da classe C, possivelmente, terão que retornar ao antigo posto de suas avós: Amélia. A diferença será pela condição da política econômica gerada pelas altíssimas remunerações [subsídios] dos agentes políticos, pelas improbidades administrativas.

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As mulheres, antes dos movimentos feministas, tinham o dever de ser Amélia, mas as mulheres deste início de século, da classe C, poderão ser Amélia pela crise financeira, ou até pelo indecoroso piso salarial mínimo. Só o futuro nos mostrará o novo padrão social das mulheres.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

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