"Minha Redação de Casa
Era uma vez uma mineradora grande, que guardava a lama de resíduos em suas barragens.
As barragens, entretanto, eram mal construídas e não comportavam mais a quantidade de dejetos; as barragens se romperam.
E assim acaba a nossa história.
E assim acabam as histórias de vidas inteiras..."
...
A lama descendo engoliu bicho que fala, e bicho que pasta, e até bicho que voa. Engoliu veículos e muros, e igrejas e ainda escolas. Engoliu as plantas e as casas e os aconchegos tão sagrados de famílias inteiras.
Causa estranheza o silêncio sepulcral de uma empresa bem "modesta", que chamávamos antigamente de Companhia Vale do Rio Doce (foi assim que aprendi no colégio), e que agora só se chama Vale.
Essa companhia é controladora da metade da Samarco, a grande vilã do episódio. E está calada, como se não existisse. Não diz nada, e apenas observa. Perinde ac cadaver.
Dessa forma, em meio a todo esse mar de lama eu ainda me pergunto:
Por que o silêncio, Vale?
- Porque o silêncio vale...
Ou cadê o vale, hoje encoberto?
Ou cadê a Vale? Encoberta o encoberto, Vale?
Isso vale? Ou isso não vale? Ou apenas isso não, Vale?
As ações da Vale despencaram em todo o Mercado; só que a ausência das ações no vale despencaram todo o próprio vale! E levaram junto o mercado; e a padaria; e lavouras; e as gentes todas que estavam no caminho.
Vale vale Vale... Mas não vale a pena. Aliás, Vale tem pena?
Vamos ver o quanto vale para o vale a vida humana. Vamos ver o quanto vale tudo isso para a tal da Vale.
E encerro hoje, exaurido e estarrecido, com estrofe de um genial poeta, sobrenome Andrade, também lá das nossas Minas, e que clama em sincero e impotente desespero pela gente que ficou sem nada:
"... Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
(...)’