A hemoterapia tem sido utilizada na sociedade moderna por mais de 100 anos e atualmente representa o procedimento mais comum utilizado no mundo todo, tendo sido classificada como um dos cinco procedimentos utilizados de forma excessiva e desnecessária. Somente nos Estados Unidos, cerca de 60 a 70% das transfusões de sangue e derivados são inadequadas ou não indicadas.
O mau uso e o uso excessivo dos componentes do sangue, bem como as sequelas resultantes do uso inapropriado, aumentam consideravelmente o risco de morbidade.
Embora haja um consenso entre os profissionais da saúde de que a transfusão possa melhorar o resultado clínico de certos pacientes, estudos mostram que o uso restritivo da transfusão têm demonstrado um resultado mais benéfico em relação às terapias convencionais.
O uso clínico apropriado do sangue e derivados requer um conhecimento teórico profundo e prático da hemoterapia, pois trata-se de um procedimento complexo que exige conhecimentos específicos em todo seu processo.
O aumento da preocupação com os efeitos adversos associados à transfusão de sangue trouxe um crescente entusiasmo pelas técnicas de conservação e gerenciamento do sangue, abrindo uma grande oportunidade para a introdução dessas novas técnicas na educação médica.
. De forma que rever a formação dos profissionais médicos, investindo em capacitação permanente e atualização constante, torna-se essencial para a qualidade do profissional e para a qualidade dos cuidados com o paciente.
O conhecimento dos estudantes de medicina trará mais segurança em termos cirúrgicos, os pacientes obterão melhores resultados, haverá uma diminuição das infecções e das doenças transmissíveis, reduzirá o tempo das intermações hospitalares e a mortalidade..
Sendo a transfusão de sangue um dos tratamentos mais utilizados no mundo e tendo em vista o alto índice de complicações graves e mortalidade resultante das transfusões, surge uma questão: Por que são dedicadas tão poucas horas ao estudo da Hemoterapia nos cursos de medicina?
A inclusão da disciplina Hemoterapia nos cursos de graduação em Medicina, favorece um estudo pormenorizado dos hemocomponentes e hemoderivados, da medicina transfusional, seus benefícios e malefícios, riscos e índices de mortalidade e das técnicas de gerenciamento e conservação do sangue.
Esta pesquisa justifica-se uma vez que estudos recentes mostram que “mais de 70% das escolas médicas dedicavam menos de duas horas de seu tempo ao estudo das práticas transfusionais, sendo que o restante das escolas não dedicavam tempo algum para o tema.”[1] Segundo a American Medical Association and The Joint Commission (2012), a transfusão de sangue é o quinto tratamento mais utilizado no mundo, sendo que a incidência de complicações graves e de mortalidade é altíssima. Há um excesso de transfusões desnecessárias realizadas de forma contínua, trazendo inúmeras complicações, longas internações hospitalares, infecções e mortes. Desta forma, sendo a transfusão de sangue um procedimento complexo e de alto risco, é imprescindível uma educação profunda e específica para uma atuação profissional competente.
A falta de conhecimento em procedimentos terapêuticos pode reduzir a segurança nos centros cirúrgicos e causar danos significativos aos pacientes.
Segundo O’Brien et al., verifica-se um grande déficit no conhecimento da hemoterapia:
“A medicina transfusional é uma importante e complexa subespecialidade da patologia. A transfusão envolve riscos e benefícios consideráveis. Embora exista um treinamento colaborativo na medicina transfusional, a maioria das decisões em transfundir são realizadas por médicos sem nenhum treinamento formal.”[2] (tradução livre)
Para Karafin et al., se as escolas médicas não oferecerem treinamento hemoterápico adequado pela prática baseada em evidências, o uso das transfusões será sempre à critério de profissionais que se basearão em experiências clínicas individuais, onde erros continuarão a ocorrer. Para tanto faz-se necessário um treinamento médico em todos os estágios na educação da medicina transfusional, que afirma que:
“É preciso aumentar o número de atividades educacionais para médicos e outros profissionais da saúde de modo a desenvolver programas efetivos de gerenciamento do sangue do próprio paciente.”[3] (tradução livre)
Bibliografia:
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[1] Avaliação e Auditoria e A transfusão de sangue no Brasil e no mundo. Aula ministrada pelo Dr. Enis Donizetti Silva em 25/03/2015
[2] Avaliação e Auditoria e A transfusão de sangue no Brasil e no mundo. Aula ministrada pelo Dr. Enis Donizetti Silva em 25/03/2015.
[3] O'Brien, K. L., Champeaux, A. L., Sundell, Z. E., Short, M. W. and Roth, B. J. (2010), Transfusion medicine knowledge in Postgraduate Year 1 residents. Transfusion, 50: 1649–1653.
[4] Karafin, M. S. and Bryant, B. J. (2014), Transfusion medicine education: an integral foundation of effective blood management. Transfusion, 54: 1208–1211. doi:10.1111/trf.12658.