Vida (in) comum e (des) amor conjugal: os «demônios» da ruptura

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Ó Membro do Ministério Público da União/MPU/MPT/Brasil (Fiscal/Public Prosecutor); Doutor(Ph.D.) Filosofía Jurídica, Moral y Política/ Universidad de Barcelona/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Teoría Social, Ética y Economia/ Universitat Pompeu Fabra/Barcelona/España; Mestre (LL.M.) Ciências Jurídico-civilísticas/Universidade de Coimbra/Portugal; Postdoctorado (Postdoctoral research)/Center for Evolutionary Psychology da University of California/Santa Barbara/USA; Postdoctorado (Postdoctoral research)/ Faculty of Law/CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel/Schleswig-Holstein/Deutschland; Postdoctorado (Postdoctoral research) Neurociencia Cognitiva/ Universitat de les Illes Balears-UIB/España; Especialista Direito Público/UFPa./Brasil; Profesor Colaborador Honorífico (Associate Professor) e Investigador da Universitat de les Illes Balears, Cognición y Evolución Humana / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana (Human Evolution and Cognition Group)/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España.

Ò Doutora (Ph.D.) Humanidades y Ciencias Sociales/ Universitat de les Illes Balears- UIB/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Filogènesi de la moral y Evolució ontogènica/ Laboratório de Sistemática Humana- UIB/España; Mestre (M. Sc.) Cognición y Evolución Humana/ Universitat de les Illes Balears- UIB/España; Mestre (LL.M.) Teoría del Derecho/ Universidad de Barcelona- UB/ España; Investigadora da Universitat de les Illes Balears- UIB / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España.

[1] Como disse em certa ocasião Samuel Johnson: “O segundo matrimônio é o triunfo da esperança sobre a experiência”. Para que nos entendamos: 1. não é nossa intenção, em absoluto, defender a moralista e incondicional ideia de fidelidade no matrimônio: “allá cada cual con su pariente/a y con su conciencia”; 2. seria um despropósito não reconhecer nossa limitada maestria e experiência pessoal na prática do divórcio/separação como para pretender esgotar completamente o tema; e 3. admitimos que o natural curso dos acontecimentos demonstra que, nas coisas do querer, nem sempre uma ruptura tem que ser necessariamente uma destruição obrigada: depende das «limitações psicobiológicas» diferentes em cada pessoa – que não se veem, mas que temos todos, que são reais e muitas vezes insuperáveis (P. Malo) –; quer dizer, da maneira como cada pessoa se enfrenta ao conflito, à confusão e ao sofrimento gerados pelo torvelinho da dissolução (posto que não somos iguais em capacidade de esforço e de autocontrole, em força de vontade, em constância, em temperamento, em interesse pela comida e pelo sexo, em inteligência, na capacidade para preocupar-nos e para superar os problemas, etc...etc., e como resultado de que estas «limitações psicobiológicas invisíveis» são distintas em cada indivíduo, o que uma pessoa é capaz fazer e/ou tolerar resulta – ou pode resultar – impossível para outra).

[2] Os estudos sobre a evolução das relações conjugais, por exemplo, ilustram como a memória trata de minimizar as dissonâncias cognitivas. As pessoas que se consideram felizes ao casar-se, mas cuja relação se deteriorou de maneira progressiva entre os cinco e dez anos seguintes, quando se lhes pergunta de forma individual sobre a qualidade de sua relação tendem a recordar que se sentiam infelizes desde o primeiro momento, quando em realidade não é certo. Quanto mais negativa seja a opinião acerca da relação conjugal no presente, piores serão as lembranças dessa relação no passado. Da mesma maneira, as pessoas divorciadas se inclinam a valorar sua relação retrospectivamente de forma que lhes ajude a justificar sua ruptura. (L. R. Marcos)

[3] Nota bene: Segundo John Tooby, nossa mente está acostumada a pensar em termos de um só causa, em termos lineares e, ademais, temporais: o que vem antes é a causa do que vem depois. Contudo, assinala o autor, se queremos entender melhor as coisas temos que pensar que os resultados são causados por um “nexus” ou confluência de fatores (incluindo a ausência de circunstâncias que impediriam o fato): ante qualquer fato a lista de fatores “que intervienen es probablemente infinita (y azarosa). Pero nuestra mente evolucionó para extraer de la situación el elemento que podemos manipular y conseguir un resultado favorable, estable y seguro para nosotros.” Para dizer a verdade, parece que somente há um sucesso único no mundo, que é tudo o que sucede; e há uma única rede de causalidade, que é tudo o que existe.

[4] “Medio siglo de investigación psicológica ha demostrado que cuando la gente trata de evaluar intuitivamente los riesgos o predecir el futuro, sus cabezas activan estereotipos, eventos memorables, impresiones subjetivas, incidentes escogidos selectivamente, escenarios vivos y narrativas morales”. (Steven Pinker)

[5] Seguramente o amável leitor (a), como ser humano que é, estará neste momento pensando que isto só ocorre com as outras pessoas. Supina insensatez. Basta com que seja humano, disponha de um equipo sensorial humano e tenha um cérebro humano para abandonar a cautela, buscar e encontrar padrões e narrações para interpretar a própria realidade, e sentir como irrefutavelmente reais as acolhedoras ficções e veleidades que se inventa. É natural nossa tendência a negar a relevância dos fatos, a rechaçar instintivamente as debilidades que nos caracterizam, a criar “pontos cegos” mentais no que à verdade se refere, e um longo etcétera. Somos o que somos!

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[6] http://emporiododireito.com.br/sobre-o-mito-e-a-maldicao-do-eu-parte-1-por-atahualpa-fernandez/

[7] http://emporiododireito.com.br/dissonancia-cognitiva-autoengano-e-ignorancia-autoimposta-parte-1-por-atahualpa-fernandez/

[8] Sobra dizer que estas suposições amiúde se sobrepõem e consideramos o sujeito de nosso desamor, ao mesmo tempo, como “ignorante”, “idiota” e “malvado”. Neste caso, não temos mais remédio que entregar-nos sem resistência aos motivos contaminantes que determinam nosso proceder: a «tormenta perfeita».

[9] Somos, definitivamente, uma espécie maldita que tem que aprender tudo, inclusive a amar e a fazer amor.

[10]https://www.researchgate.net/publication/273898846_MATRIMONIO_VIDA_EM_COMUM_E_AMOR_CONJUGAL

[11] Sandra Murray e John Holmes realizaram amplas investigações sobre o modo em que os amantes e os cônjuges se vêm um ao outro. Seus estudos puseram de manifesto que as pessoas têm uma visão idealizada de seus companheiros (as). Exageram os atributos positivos e minimizam os defeitos. Em realidade, descobriram que esta classe de glorificação do companheiro (a) é um fator que contribui ao êxito da relação. As relações nas quais os companheiros se vêm com este prejuízo positivo tendem a durar mais e a ser mais satisfatórias para ambos os membros. Em uma linha similar, os psicólogos que estudam as relações descobriram que as pessoas que tem relações mais satisfatórias tendem a mentir-se a si mesmas respeito as suas opções de ter outros (as) companheiros (as). Do mesmo modo que a gente realça mentalmente as qualidades (positivas) do cônjuge ou do amante, as qualidades de companheiros (as) potenciais fora da relação com frequência se vêm com uma dureza irracional. Neste caso, as positivas se passam por alto ou se minimizam, e as negativas se incham ou embelecem. Necessitamos ver a nossa companheira (o) muito próxima à perfeição, e a todos os demais como terrivelmente cheios de defeitos e debilidades. (Robert Feldman)

[12] Em resposta a uma pergunta formulada por Eve Ekman sobre o modo mais adequado de evitar emoções destrutivas no matrimônio, o Dalai Lama disse o seguinte: “Visualizar os aspectos negativos do companheiro e, relativizando-os, baixá-lo do pedestal da idealização e considerá-lo como um ser humano. Desse modo  – disse -, as expectativas que se faz sobre a outra pessoa serão mais realistas e também será menos provável que se sinta desiludido.

[13] Com a palavra, Bob Marley: “La verdad es que todo el mundo te va a hacer daño. Sólo tienes que encontrar la persona por la que merece la pena sufrir”.

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Sobre os autores
Atahualpa Fernandez

Membro do Ministério Público da União/MPU/MPT/Brasil (Fiscal/Public Prosecutor); Doutor (Ph.D.) Filosofía Jurídica, Moral y Política/ Universidad de Barcelona/España; Postdoctorado (Postdoctoral research) Teoría Social, Ética y Economia/ Universitat Pompeu Fabra/Barcelona/España; Mestre (LL.M.) Ciências Jurídico-civilísticas/Universidade de Coimbra/Portugal; Postdoctorado (Postdoctoral research)/Center for Evolutionary Psychology da University of California/Santa Barbara/USA; Postdoctorado (Postdoctoral research)/ Faculty of Law/CAU- Christian-Albrechts-Universität zu Kiel/Schleswig-Holstein/Deutschland; Postdoctorado (Postdoctoral research) Neurociencia Cognitiva/ Universitat de les Illes Balears-UIB/España; Especialista Direito Público/UFPa./Brasil; Profesor Colaborador Honorífico (Associate Professor) e Investigador da Universitat de les Illes Balears, Cognición y Evolución Humana / Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog. Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB)/Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB/España; Independent Researcher.

Marly Fernandez

Doutora em Humanidades y Ciencias Sociales pela Universitat de les Illes Balears- UIB (Espanha). Mestra em Cognición y Evolución Humana pela Universitat de les Illes Balears- UIB (Espanha). Mestra em Teoría del Derecho pela Universidad de Barcelona- UB (Espanha). Pós-doutorado (Filogènesi de la moral y Evolució ontogènica) pelo Laboratório de Sistemática Humana- UIB (Espanha). Investigadora da Universitat de les Illes Balears- UIB pelo Laboratório de Sistemática Humana/ Evocog (Espanha). Membro do Grupo de Cognición y Evolución humana/Unidad Asociada al IFISC (CSIC-UIB) do Instituto de Física Interdisciplinar y Sistemas Complejos/UIB (Espanha).

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