Sua empresa está pronta para a chegada de um investidor?

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O financiamento da atividade empresarial é uma necessidade do negócio. Muitas vezes o recurso é proveniente dos atuais sócios. Outras vezes é necessário captar esses recursos fora e a empresa precisa estar preparada para lidar com os novos investidores.

A necessidade de financiamento das atividades empresariais é natural dentro do processo de organização do negócio. Os recursos necessários para o financiamento do empreendimento, inicialmente, são aportados pelos sócios por meio da integralização de capital e, posteriormente, por meio do sistema financeiro através de linhas de crédito para produção, antecipação de recebíveis e tantos outros produtos oferecidos pelos bancos.

Ocorre que o sistema financeiro brasileiro possui as maiores taxas de juros do mundo tornando esse mecanismo excessivamente oneroso para a maioria das empresas e dos empreendedores.

Porém, a busca de investimentos para impulsionar projetos de crescimento das empresas é uma constante em qualquer momento, seja de crise ou não.

 Na crise, é especialmente relevante pois a falta de recursos pode encerrar precocemente atividades empresariais com grande impacto para a economia em geral.

Assim, uma das formas de buscar caminhos alternativos é buscar investidores com recursos financeiros disponíveis e interessados em negócios com perfil específico em troca de um percentual de participação societária.

Este mecanismo de financiamento é muito difundido nos Estados Unidos e na Europa  e tem  ganhado importância no mercado brasileiro. Pode ser chamado de Private Equity, Fundo de Investimento, Investimento-anjo, Investidor Individual e outras nomenclaturas e algumas regras específicas para cada modalidade mas, que no final, designam o mesmo objetivo: investidor não vinculado aos empreendedores iniciais.

Mas qual o perfil de investidor é  mais adequado para o seu negócio: Estratégico ou Financeiro?

Nessa busca por mais recursos, o empresário, muitas vezes, se questiona qual seria o melhor parceiro nesta jornada.

A primeira opção que surge é o do Parceiro estratégico: Trata-se de uma empresa ou empresário atuante no mesmo segmento de negócios ou afim que possa aliar bens, serviços, carteira de clientes, ampliando sua área de atuação e ganhando escala, propiciando assim uma otimização processos e diminuição de custos operacionais e administrativos, multiplicando os resultados do negócio.

Já a segunda opção é o investidor financeiro: pessoa física ou jurídica que disponibiliza os recursos financeiros, mas também agrega competências administrativas de forma a atuar significativamente no controle de custos de toda a ordem, impondo uma organização financeira maior e com metas, abrindo portas no mercado de crédito, mas com prazo para deixar a empresa depois de 5 ou 8 anos após colher os resultados econômicos projetados inicialmente como forma de remuneração do capital investido.

Refletindo sobre as vantagens e desvantagens de cada perfil, o empresário deverá considerar algumas questões que podem ser de grande influência na condução do negócio.

O investidor estratégico é aquele que conhece bem o seu ramo de atuação. Ele pode ser um concorrente, um cliente ou até mesmo um fornecedor.

A aliança com a sua empresa terá o objetivo de consolidar mercado, aumentar market share, dificultando o crescimento de outros concorrentes e passando a ditar algumas regras de mercado.

Essa união pode ter a intenção de diminuir custos operacionais e/ou garantir o abastecimento de determinado bem ou serviço relevante no segmento.

Já o investidor financeiro é normalmente um fundo de investimento privado (FIPE), que atrai empresas que precisam rapidamente ganhar escala pela própria natureza da atividade, para sua perenidade e muitas vezes pelo interesse em crescer para realizar a abertura de capital.

Como é próprio do mercado de capitais, pessoas que trabalham nesse segmento tendem a ser mais arrojadas e audaciosas.

Isso se dá, muitas vezes, pelo estilo direto e objetivo que esses profissionais costumam ter (em geral pessoas analíticas), dando menor relevância à parte relacional (ou emocional), o que faz com que, dependendo do perfil do empresário e de sua equipe, seja bastante difícil manter um relacionamento saudável.

Assim, ao buscar um investidor financeiro, é necessário levar em consideração que a presença de profissionais com este estilo ocorrerá e que a maneira apropriada de lidar e especialmente convencer, é utilizando informações e dados legítimos e acurados.

Desse modo, qualquer que seja a opção do empresário, alguns desafios tendem a ser enfrentados com a chegada desses parceiros. Listamos alguns exemplos:

Metas

Não há como escapar. Tendo ou não a presença de um investidor financeiro, como um fundo de investimento, sua empresa deve ser orientada para o atingimento de metas e resultados.

Se isso ainda não ocorre, certamente deverá evoluir com a chegada dos novos sócios.

E isso é extremamente positivo.

É através da análise de indicadores e resultados que se produz uma gestão eficiente. Analisando estas informações é possível alterar os rumos de uma empresa, buscando corrigir os problemas encontrados.

Mudança de Equipe

É possível que em razão da presença dos novos investidores parte da equipe seja desfeita por demissões e até mesmo voluntárias por parte dos colaboradores que podem não vir a se adaptar à nova gestão e prefiram deixar a empresa.

É importante preparar os colaboradores para esta nova fase da empresa e buscar um discurso de união e cooperação a fim de evitar descontinuidades e especulações sobre o destino da empresa.

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Cultura organizacional predominante

Na união de duas empresas sempre haverá culturas distintas derivadas da origem de seus fundadores ou da influência de outras empresas pelas quais seus dirigentes passaram.

Nesse cenário, certamente uma cultura tende a prevalecer.

O livro Sonho Grande, que conta a história dos fundadores da Ambev, explica como foi imposta a cultura do Banco Garantia, de João Paulo Lemann e Cia em todas as empresas em que foram sócios, mesmo nas quais não eram, a princípio majoritários, como aconteceu com a Interbrew – cervejaria belga dona da Stella Artois – que adquiriu a Ambev (e não o contrário), foi a cultura dos brasileiros que acabou prevalecendo.

Sendo assim, é importante ter em mente que é possível que a cultura da empresa investida prevaleça, mas, da mesma forma é possível que a cultura desse investidor estratégico predomine, o que nem sempre é ruim. Pode ocorrer da nova cultura atrair pessoas mais capazes, outros investimentos, sem contar que pode valorizar a empresa, trazendo chances de melhor retorno aos sócios.

Liderança na gestão

Antes de encontrar um novo sócio seja ele estratégico ou financeiro, dependendo do volume de capital investido, é bom ter em mente que será necessário abrir mão da principal posição de liderança, como o cargo na Presidência ou de CEO na empresa.

É preciso e preparar para este momento, pois as decisões, muitas vezes tomadas individualmente, poderão vir a ser tomadas em conjunto com outros diretores ou por outra pessoa individualmente conforme acordo societário ou de acionistas.

Podemos concluir que o  processo de preparação para a entrada de novos investidores deve ser precedida de uma forte preparação dos sócios, da empresa em si e dos colaboradores.

É um processo complexo que deve ser conduzido de forma profissional para evitar surpresas e conflitos na busca de uma solução de continuidade para o negócio. A segurança jurídica é um fator crítico de sucesso que conduz a negociações transparentes com equilíbrio das partes e benefícios tangíveis para todos.

Apontamos apenas algumas mudanças que podem ocorrer com a chegada de novos sócios, porém, quanto maior a consciência e o preparo para lidar com elas, mais chances de sucesso na  nova fase de crescimento. 

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Sobre as autoras
Luciana Abreu

Especialista em Direito Empresarial, com ênfase em Contratos. Pós graduada em Direito Empresarial, Direito Tributário e MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV.

Mabel Alvarado Santana

Advogada formada pela PUC MG. Possui MBA em Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica pela UNICAMP- SP, MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas/RJ, além de especialização em Direito Tributário IEC – PUC/MG.Atua em Planejamento Juridico Estratégico de Negócios. Professora e Palestrante.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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