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Prisão domiciliar: decisão do STF autoriza o recolhimento domiciliar de mulheres gestantes ou com filhos menores

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22/08/2019 às 11:10

Resumo:


  • O Supremo Tribunal Federal concedeu prisão domiciliar a mulheres condenadas por tráfico de drogas que sejam mães de crianças ou estejam grávidas.

  • A decisão deve beneficiar cerca de 14.750 mulheres em todo o país, conforme levantamentos do Departamento Penitenciário Nacional.

  • A legislação brasileira prevê a substituição da prisão preventiva pela domiciliar em casos específicos, como gestantes, mulheres com filhos menores de 12 anos e homens únicos responsáveis pelos cuidados dos filhos menores de 12 anos.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS

É sabido que atualmente o Brasil ostenta a terceira colocação de maior população carcerária do mundo, acima de 700 mil presos.

Somente em Minas Gerais, são aproximadamente setenta mil presos, e 63.737 mandados de prisão em aberto.

Com tanta gente confinada, certamente o país não consegue garantir os direitos assegurados à população encarcerada, e nem mesmo quem esteja fora do sistema prisional, quem nunca praticou crime, quem recolhe regularmente seus tributos, e sempre contribuiu com sua força laboral para o crescimento social.

Temos direitos garantidos, instrumentos de garantias, mas materialmente não há condições de implementar todos os direitos previstos, em razão de diversos fatores, inclusive a corrupção sistêmica, e claramente, se sabe, ninguém pode ser suprimido de um direito por ineficiência ou inoperância do Estado, restando ao Poder Judiciário a missão de fazer concretizá-los ainda que efetivados em parcelas.

E hoje em dia, esta parcela reprimida, de direitos aviltados, são as mulheres presas cujos direitos lhes são negados.

Assim, segundo a Lei de Execução Penal, os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.

Nos estabelecimentos penais, faltam até policiais do sexo feminino para atender os interesses das mulheres.

E mais que isso. Com a entrada em vigor da Lei nº 13.257, de 2016, que modificou o Código de Processo Penal, em seu artigo 318, foi ampliado o rol de direitos à concessão de substituição da prisão preventiva para domiciliar a gestante,  mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos e homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos, sendo necessário para a substituição, que o juiz exija prova idônea dos requisitos estabelecidos no artigo em apreço.

Aqui a Lei não especificou qual foi a natureza do crime praticado pela mulher, se hediondo ou não, se violento ou não, ficando claro que se o crime envolveu um descendente, por exemplo, e se punido com pena de reclusão, inevitavelmente, por questões imperativas, o Juiz de Direito deve enfrentar a questão dos efeitos específicos do artigo 92, II, do Código Penal, com nova redação determinada pela recente Lei nº 13.715 de 24 de setembro de 2018, acerca da incapacidade ou não para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado.

Portanto, direito assegurado por lei não se discute, ele existe para ser efetivamente cumprido. Se a Lei assegura a substituição da prisão preventiva em prisão domiciliar, nos casos elencados na legislação pertinente, inclusive, o direito e interesse do homem, caso seja ele o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos, caberá a Justiça efetivá-lo em nome da realização propositiva e da imposição normativa.

A decisão do STF encontra-se respaldo legal, é fruto da edificação do próprio homem, é questão de ação humanista, havendo convocação geral dos agentes de promoção da Justiça, nos exatos limites de sua atribuição ou competência, sem vaidades e sem estrelismos, tudo voltado, é claro, para a efetivação dos direitos assegurados, colocando o homem no centro das atenções, como protagonista de um mundo juncado de valores e sintomas de eticidade, e assim, estaremos diante de uma sociedade melhor para se viver.

Em voto contrário, o ministro Luiz Edson Fachin, aduz com singular sabedoria e clareza:

"(...) Não se dessume do Código de Processo Penal ou das normas internacionais de proteção à pessoa humana, diretriz interpretativa que inviabilize ao magistrado a aplicação, desde que justificada e excepcional, da prisão preventiva. No entanto, tal como asseverou o e. Ministro Ricardo Lewandowski, isso não significa que a sua substituição pela domiciliar fique a critério exclusivo do magistrado.

As alterações do Código de Processo Penal promovidas pela Lei 13.257/2016, que dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância, sinaliza para a teleologia de sua aplicação: um plus em relação a mera faculdade, sem, porém, consubstanciar um dever imediato.

Com efeito, a Lei vem a concretizar o disposto no art. 227 que dispõe ser “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

No mesmo sentido, a Declaração de Kiev (2009), em seu artigo 4.2, estabelece que sempre que os interesses das crianças estiverem envolvidos, o melhor interesse da criança deve ser o fator determinante em relação ao encarceramento de mulheres, o que implica pôr os interesses da criança em absoluta prioridade. Tais dispositivos são objeto de detalhada proteção no âmbito da Convenção de Direitos das Crianças.

Com efeito, logo no artigo 3.1 da Convenção, estabelece-se que “todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança”.

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Por fim, a meu aviso, permissa maxima venia, a decisão do STF não poderia alcançar cegamente a todos os casos de forma indeterminada, sob pena de supressão da vontade do julgador, devendo o juiz de direito que preside o processo analisar CONCRETA e INDIVIDUALMENTE, caso a caso, e uma vez comprovados cabalmente os requisitos da substituição, conforme artigo 318, parágrafo único, do CPP, fazer a substituição, em consonância com a decisão do voto vencido, todavia, mais coerente, do ministro LUIZ EDSON FACHIN, que assevera: "defere-se a ordem de habeas corpus coletivo exclusivamente para dar interpretação conforme aos incisos IV, V e VI do art. 318 do Código de Processo Penal, a fim de reconhecer, como única interpretação constitucionalmente adequada, a que condicione a substituição da prisão preventiva pela domiciliar à análise concreta, justificada e individualizada, do melhor interesse da criança, sem revogação ou revisão automática das prisões preventivas já decretadas".

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Sobre o autor
Jeferson Botelho Pereira

Jeferson Botelho Pereira. Ex-Secretário Adjunto de Justiça e Segurança Pública de MG, de 03/02/2021 a 23/11/2022. É Delegado Geral de Polícia Civil em Minas Gerais, aposentado. Ex-Superintendente de Investigações e Polícia Judiciária de Minas Gerais, no período de 19 de setembro de 2011 a 10 de fevereiro de 2015. Ex-Chefe do 2º Departamento de Polícia Civil de Minas Gerais, Ex-Delegado Regional de Governador Valadares, Ex-Delegado da Divisão de Tóxicos e Entorpecentes e Repressão a Homicídios em Teófilo Otoni/MG, Graduado em Direito pela Fundação Educacional Nordeste Mineiro - FENORD - Teófilo Otoni/MG, em 1991995. Professor de Direito Penal, Processo Penal, Teoria Geral do Processo, Instituições de Direito Público e Privado, Legislação Especial, Direito Penal Avançado, Professor da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais, Professor do Curso de Pós-Graduação de Direito Penal e Processo Penal da Faculdade Estácio de Sá, Pós-Graduado em Direito Penal e Processo Penal pela FADIVALE em Governador Valadares/MG, Prof. do Curso de Pós-Graduação em Ciências Criminais e Segurança Pública, Faculdades Unificadas Doctum, Campus Teófilo Otoni, Professor do curso de Pós-Graduação da FADIVALE/MG, Professor da Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC-Teófilo Otoni. Especialização em Combate à corrupção, crime organizado e Antiterrorismo pela Vniversidad DSalamanca, Espanha, 40ª curso de Especialização em Direito. Mestrando em Ciências das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória/ES. Participação no 1º Estado Social, neoliberalismo e desenvolvimento social e econômico, Vniversidad DSalamanca, 19/01/2017, Espanha, 2017. Participação no 2º Taller Desenvolvimento social numa sociedade de Risco e as novas Ameaças aos Direitos Fundamentais, 24/01/2017, Vniversidad DSalamanca, Espanha, 2017. Participação no 3º Taller A solução de conflitos no âmbito do Direito Privado, 26/01/2017, Vniversidad DSalamanca, Espanha, 2017. Jornada Internacional Comjib-VSAL EL espaço jurídico ibero-americano: Oportunidades e Desafios Compartidos. Participação no Seminário A relação entre União Europeia e América Latina, em 23 de janeiro de 2017. Apresentação em Taller Avanco Social numa Sociedade de Risco e a proteção dos direitos fundamentais, celebrado em 24 de janeiro de 2017. Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad Del Museo Social Argentino, Buenos Aires – Argentina, autor do Livro Tráfico e Uso Ilícitos de Drogas: Atividade sindical complexa e ameaça transnacional, Editora JHMIZUNO, Participação no Livro: Lei nº 12.403/2011 na Prática - Alterações da Novel legislação e os Delegados de Polícia, Participação no Livro Comentários ao Projeto do Novo Código Penal PLS nº 236/2012, Editora Impetus, Participação no Livro Atividade Policial, 6ª Edição, Autor Rogério Greco, Coautor do Livro Manual de Processo Penal, 2015, 1ª Edição Editora D´Plácido, Autor do Livro Elementos do Direito Penal, 1ª edição, Editora D´Plácido, Belo Horizonte, 2016. Coautor do Livro RELEITURA DE CASOS CÉLEBRES. Julgamento complexo no Brasil. Editora Conhecimento - Belo Horizonte. Ano 2020. Autor do Livro VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. 2022. Editora Mizuno, São Paulo. articulista em Revistas Jurídicas, Professor em Cursos preparatórios para Concurso Público, palestrante em Seminários e Congressos. É advogado criminalista em Minas Gerais. OAB/MG. Condecorações: Medalha da Inconfidência Mineira em Ouro Preto em 2013, Conferida pelo Governo do Estado, Medalha de Mérito Legislativo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, 2013, Medalha Santos Drumont, Conferida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, em 2013, Medalha Circuito das Águas, em 2014, Conferida Conselho da Medalha de São Lourenço/MG. Medalha Garimpeiro do ano de 2013, em Teófilo Otoni, Medalha Sesquicentenária em Teófilo Otoni. Medalha Imperador Dom Pedro II, do Corpo de Bombeiros, 29/08/2014, Medalha Gilberto Porto, Grau Ouro, pela Academia de Polícia Civil em Belo Horizonte - 2015, Medalha do Mérito Estudantil da UETO - União Estudantil de Teófilo Otoni, junho/2016, Título de Cidadão Honorário de Governador Valadares/MG, em 2012, Contagem/MG em 2013 e Belo Horizonte/MG, em 2013.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

PEREIRA, Jeferson Botelho. Prisão domiciliar: decisão do STF autoriza o recolhimento domiciliar de mulheres gestantes ou com filhos menores. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 24, n. 5895, 22 ago. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/69977. Acesso em: 22 dez. 2024.

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