Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/44731
Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

A Vale e o vale

A Vale e o vale

Publicado em . Elaborado em .

Uma história triste em Minas Gerais, a lamentável posição da Vale diante de uma tragédia.

"Minha Redação de Casa

Era uma vez uma mineradora grande, que guardava a lama de resíduos em suas barragens. 

As barragens, entretanto, eram mal construídas e não comportavam mais a quantidade de dejetos; as barragens se romperam. 

E assim acaba a nossa história. 

E assim acabam as histórias de vidas inteiras..."

...

A lama descendo engoliu bicho que fala, e bicho que pasta, e até bicho que voa. Engoliu veículos e muros, e igrejas e ainda escolas. Engoliu as plantas e as casas e os aconchegos tão sagrados de famílias inteiras. 

Causa estranheza o silêncio sepulcral de uma empresa bem "modesta", que chamávamos antigamente de Companhia Vale do Rio Doce (foi assim que aprendi no colégio), e que agora só se chama Vale.

Essa companhia é controladora da metade da Samarco, a grande vilã do episódio. E está calada, como se não existisse. Não diz nada, e apenas observa. Perinde ac cadaver.

Dessa forma, em meio a todo esse mar de lama eu ainda me pergunto: 

Por que o silêncio, Vale?

- Porque o silêncio vale...

Ou cadê o vale, hoje encoberto?

Ou cadê a Vale? Encoberta o encoberto, Vale? 

Isso vale? Ou isso não vale? Ou apenas isso não, Vale?

As ações da Vale despencaram em todo o Mercado; só que a ausência das ações no vale despencaram todo o próprio vale! E levaram junto o mercado; e a padaria; e lavouras; e as gentes todas que estavam no caminho. 

Vale vale Vale... Mas não vale a pena. Aliás, Vale tem pena?

Vamos ver o quanto vale para o vale a vida humana. Vamos ver o quanto vale tudo isso para a tal da Vale.

E encerro hoje, exaurido e estarrecido, com estrofe de um genial poeta, sobrenome Andrade, também lá das nossas Minas, e que clama em sincero e impotente desespero pela gente que ficou sem nada:

"... Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?

(...)’


Autor

  • Andre Rodrigues Costa Oliveira

    Andre Rodrigues Costa Oliveira é advogado e consultor militante em Brasília-DF, também com atuação em diferentes Unidades da Federação. MBA Executivo pelo Instituto COPPEAD-UFRJ (administração e negócios), Doutorando pela Universidade Católica Argentina - UCA. Docente em instituições de ensino superior de graduação e pós-graduação, palestrante e conferencista.

    Textos publicados pelo autor

    Fale com o autor

    Site(s):

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelo autor. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi.