CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo o que foi exposto, ficou evidente que o movimento sofístico representou um tipo de pensamento novo em diversos aspectos. Foi uma novidade para a época que a pesquisa filosófica dos sofistas deixasse em segundo plano a reflexão da physis e desse uma guinada em direção à problemática do ser humano. Também foi algo inédito o fato desses sábios itinerantes não terem uma cidadania fixa e a consequência mais extraordinária desse acontecimento foi a total liberdade de pensamento expressa em suas obras. Além disso, através do ensino da retórica esses homens de conhecimento enciclopédico possibilitaram aos seus discípulos discutirem assuntos diversos nas assembleias e nos tribunais sempre de maneira magistral.
Mas, o mais importante contributo dos sofistas foi, certamente, auxiliarem na ampliação do poder político nas cidades-estado gregas. Por meio do ensino da areté política, os sofistas possibilitaram aos demais cidadãos que participassem ativamente dos assuntos relacionados à pólis e ocupassem cargos de destaque, antes restritos à classe aristocrática. Por essa razão os sofistas são considerados os verdadeiros representantes do espírito democrático da Grécia Clássica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS
1 De acordo com Ferreira (2004, p. 15), Heródoto conta um episódio esclarecedor a tal respeito. Quando da segunda invasão persa a maioria dos Estados gregos discutiam a possibilidade dos cidadãos abandonarem suas cidades e se retirarem para o Peloponeso onde construiriam uma cidade fortificada para impedirem o avanço do poderoso exército do rei Xerxes.
2 De acordo com a douta lição de Nicola Abbagnano (2007) em sua grandiosa obra Dicionário de Filosofia, eleatismo foi uma doutrina que floresceu em Eléia (Magna Grécia) entre os séculos VI e V a.C.. A doutrina eleática tinha como fundamentos principais: a) a unidade, imutabilidade e necessidade do ser, expressa pela frase: ‘Só o ser é e não pode não ser’; b) acessibilidade do ser só para o pensamento racional e condenação do mundo sensível como aparência.
3As especulações naturalistas chegaram ao ponto de se anularem mutuamente. O eleatismo contradizia o heraclitismo, os pluralistas contradiziam os monistas. Para alguns o princípio era uno, para outros múltiplos, para outros infinitos, para outros inexistia um princípio. Para uma corrente tudo era móvel, para outra tudo era imóvel.
4 Para Jaeger (2013) a areté está relacionada com o ideal de homem que se quer formar, devendo ser entendida, portanto, como sinônimo de excelência humana. Ele enfatiza ainda que a areté na Grécia Clássica deve ser entendida também como areté política, isto é, como aptidão intelectual e oratória.
5 Segundo Jaeger (2013), os sofistas chamavam a areté política de techne política. Eles utilizavam esse termo para exprimir o poder e o saber que o político adquire por meio da ação.
6 Assim como na obra ‘O Príncipe’ de Nicolau Maquiavel.