O texto referido busca resgatar e explicitar reflexões sobre possibilidades de como podemos designar a cidade ou o espaço urbano como um espaço geográfico com extensão limitada, em oposição ao espaço rural circundante.
- Para Henry Lefebvre (2000) e Ana Fani A. Carlos (1992) a existência da cidade está associada:
- divisão social e técnica do trabalho
- divisão territorial do trabalho
- desenvolvimento e acúmulo tecnológico
- produção de excedente agrícola
- sistema de transporte e de comunicação e
- certa concentração espacial de atividades não agrícolas.
Pode-se dizer que uma cidade é uma área urbanizada, que se diferencia de outras espaços através da combinação de vários critérios, como a aglomeração de população, a densidade demográfica, a ocupação da população em atividades secundárias e terciárias, a diversidade das funções econômicas;
- No Brasil, desde 1938, a legislação federal define que toda a sede municipal, independente do tamanho de sua população ou da extensão de sua área territorial, é reconhecida como cidade, e sua população como urbana.
Entendemos a cidade como espaço urbano, sendo que compreende-se o espaço urbano não como simples palco da atividade humana, mas como produto social e histórico. Como resultado da atividade de uma série de gerações que, através de seu trabalho social acumulado, age sobre ele, modificando-o, transformando-o, humanizando-o, tornando-o cada vez mais distanciado do meio natural.
Nessa perspectiva, a produção do espaço urbano, da cidade, resulta da dinâmica de determinada sociedade que, ao reproduzir-se, imprime na organização espacial e na paisagem urbana suas marcas correspondentes.
Diante da divisão social e territorial do trabalho, as formas espaciais assumidas na produção do espaço urbano, refletem a contradição entre um processo de produção socializado da cidade e sua apropriação privada, e revelam a contradição entre interesses e necessidades da reprodução do capital, de um lado, e do desenvolvimento da sociedade como um todo, do outro lado. (Ana Fani A. Carlos, 1992).
A ideia de urbano transcende aquela de mera concentração do processo produtivo na cidade, assim, “o urbano é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar, sentir, enfim é um modo de vida”. (Henry Lefebvre,1991).
O espaço urbano é também um condicionante social que se dá através do papel que as obras fixadas pela sociedade - as formas espaciais - desempenham na reprodução das condições de produção e das relações sociais de produção;
Pensar o desenvolvimento urbano não deve ser apenas o lado econômico, mas também o socioespacial, no sentido de possibilitar a mudança das relações sociais e do espaço social na cidade, buscando ampliar a justiça social e a qualidade de vida;
Tais observações sobre os conceitos de cidade e urbano tiveram o objetivo não só de discutir esses conceitos, mas sobretudo de alertar para o fato de que os conceitos se constituem em elementos fundamentais para a interpretação da realidade. Por meio deles buscamos compreender o real.
No caso do conceito de cidade, tendo como referência o contexto brasileiro, podemos, considerar a população dedicada ao trabalho no campo, não aprisionando o conceito ao se considerar apenas como cidades as aglomerações sedentárias que se caracterizam pela presença de população voltada exclusivamente para as atividades urbanas.
Relativo ao conceito de urbano, o que é importante no conhecimento é a coerência com as referências assumidas. Conceitos e teorias são, portanto, imanentes uns aos outros.
Essa é a idéia fundamental desse texto que busca, por meio da discussão sobre os conceitos de cidade e urbano contribuir para a discussão sobre o que é cidade e o que é urbano no Brasil .
O caminho do conhecimento exige rigor e método. Muitas certezas se tornam incertezas durante o percurso, enquanto que outras encontram soluções; o que importa é que por meio da consistência teórica e conceitual é possível contribuir para a compreensão do real.