Resumo
Este trabalho tem como objetivo expor os conceitos de estratégia e sua aplicação pratica na diplomacia de uma nação. A estratégia diplomática evidencia a evolução do homem em resolver de forma pacifica os conflitos que possam aparecer nas relações internacionais. Atualmente, a estratégia bélica evidenciada por Sun Tzu também pode ser utilizada para fins não bélicos, como em negociações diplomáticas entre dois países soberanos, na consecução dos objetivos dos seus Estados, sem que haja o uso da força.
Palavras-chaves: Diplomacia; Estratégia; Política Externa.
Sumário: 1. Introdução; 2. A Estratégia e sua Importância em um Estado; 3. A Importância do Pensamento Estratégico nas Relações Internacionais; Conclusão; Bibliografia.
1. INTRODUÇÃO
A estratégia é um conceito frequente no âmbito da diplomacia, na verdade é impossível conceber a diplomacia sem a estratégia. A estratégia, entre outros conceitos, é “a arte de coordenar a ação de forças militares, politicas, econômicas e morais implicadas na condução de um conflito ou na preparação da defesa de uma nação”[1]. Apesar disso, o conceito de estratégia não pode ser estático, parado no tempo, trata-se de aplicar os recursos de que dispõem ou de explorar as condições favoráveis de que poderá desfrutar, almejando a aquisição de alvos previamente definidos.
Desde os primórdios das civilizações, os Estados mantem relações externas com outros Estados soberanos, vinculando-se por meio de tratados e alianças, bem como através da “arte do general”, de onde vem o significado da palavra grega “strategia”, que descreve o cargo de comandante de uma armada que comandava as tropas, bem como o cargo de excelência de uma espécie de “ministro de defesa” na antiga Atenas e pretor, em Roma, responsáveis pelas manobras e artifícios militares da nação para seu ataque e defesa.
A primeira análise que se faz sobre a estratégia é que ela tem compromisso com a ação. Os agentes diplomáticos e chefes de Estado necessitam tomar decisões em todo o tempo o que, presuntivamente, lhes comprometerá a fazer alguma coisa, porém nem todas elas serão decisões estratégicas.
Neste trabalho será apresentada a importância do planejamento do jogo de ingerência de um Estado, para reforçar sua posição na comunidade internacional, promover seus interesses e atingir seus objetivos de desenvolvimento.
Por meio de uma abordagem analítica, buscar-se-á mostrar como os Estados tem logrado desenvolver sua capacidade diplomática, fortalecendo seu poder de influência global através do uso de ferramentas politicas, muitas vezes muito mais eficazes que pelo uso da força, proibida pelas Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial.
Por fim, este paper terá função didática, explanando os conceitos da estratégia no desenvolvimento da politica externa de uma nação, bem como sua importância para a manutenção de uma sociedade globalizada e harmoniosa.
2. A ESTRATÉGIA NAS FUNÇÕES DIPLOMÁTICAS
Nenhum Estado ou organização pode planejar todos os aspectos de suas ações atuais ou futuras, mas todos podem beneficiar-se tendo noção para onde estão dirigindo-se e de como pode chegar lá, a isso se chama direção estratégica. Uma estratégia bem concebida destina-se a captar as melhores oportunidades de crescimento e promover a defesa do desempenho futuro contra ameaças externas. Entretanto, a estratégia como “arte de fazer a guerra” como foi concebida originalmente em tempos antigos, não tem mais espaço nas relações internacionais atuais, a não ser em casos estritos de guerra declarada.
Otto Von Bismark um nobre diplomata alemão afirmava no século XIX que “a diplomacia sem armas é como uma canção sem os instrumentos”, mal sabia ele que seria exatamente esse o padrão a ser estabelecido no século seguinte para as relações entre Estados soberanos.
Após a segunda guerra mundial, o mundo passou por drásticas mudanças drásticas em seus pensamentos e filosofias politicas. A manutenção da paz se converteu em prioridade mundial e para isso fora criada as Nações Unidas, que em 1946 através de sua Carta, firmada por 189 países, estabelece não apenas a ilicitude da guerra, como de qualquer outro uso de força ou de ameaça de tal atitude, exceto quando utilizada em justificativa do direito natural de legitima defesa, individual ou coletiva.
O artigo 2° da Carta das Nações Unidas determina que, “os membros da Organização, em suas relações internacionais, se absterão de recorrer a ameaça ou ao uso da força contra a integridade territorial ou a independência politica de qualquer Estado, ou em qualquer outra forma incompatível com os propósitos das Nações Unidas”.
Com isto, a prática da diplomacia se converteu em uma das principais ferramentas dos Estados para fazer com que seus interesses nacionais sejam expandidos. A diplomacia é, não somente a prática de relações internacionais entre Estados por meio de representantes legalmente autorizados, mas também a arte de negociar, tendo como alvo a defesa de direitos e interesses de um povo diante de governos estrangeiros, e a solução de conflitos por meios pacíficos, através da força do Direito.
A função da diplomacia, negociar a manutenção de relações com outro Estado ou organismo, fazendo acordos e defendendo o interesse de uma nação nos âmbitos bilaterais, regionais e multilaterais; informar a seus Estados as condições existentes e a evolução dos acontecimentos em outros países ao redor do globo; representar seu país em eventos internacionais; bem como promover o comercio exterior e a imagem do Estado representado.
Sun Tzu, estrategista bélico, escreveu no século IV a.C. um manual tático chamado “A Arte da Guerra”, compondo os quatro princípios estratégicos basilares, que pode ser utilizado não só para fins militares, mas também para todas as demais áreas que o pensamento estratégico possa atingir. Os princípios expostos são: principio da seleção do local; principio da seleção, organização e concentração de recursos e forças; principio da ação ofensiva e o principio da gestão de reservas e táticas operacionais.
Unindo esses dois conceitos de estratégia e diplomacia, é inevitável entender que para uma boa execução da diplomacia é necessário o uso das ferramentas disponíveis através do pensamento estratégico.
4. A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
O pensamento estratégico nas relações entre dois Estados soberanos, ao que também chamamos de Estratégia Diplomática, deve ser encarado como fundamental nos tempos atuais. Vivemos em um mundo, onde apesar das exceções, a regra de não intervenção de um Estado soberano sobre outro deve ser respeitada. Dessa forma, faz-se necessário um uso da estratégia para executar os objetivos nacionais no âmbito internacional sem o uso da força militar ou da guerra.
A estratégia diplomática deve ser baseada em uma interdisciplinaridade de órgãos de planejamentos para que possa ser eficaz. Estabelecer metas e meios de consecução dessas metas, sem obstar nas regras do direito internacional, só poderá ser conseguido respeitando o outro participante do jogo diplomático.
Um dos exemplos primordiais que tivemos na história mundial, inclusive recente, foram as negociações entre EE.UU. e URSS, na crise dos treze dias ou crise dos misseis de Cuba, durante a Guerra Fria. Se não houvesse a utilização de estratégia diplomática neste episodio emblemático da nossa historia, a população mundial sofreria ainda hoje com as consequências de uma guerra mundial de nível atômico. Os esforços diplomáticos de inúmeros países foram fundamentais para não só evitar uma guerra de proporções nucleares, quanto para a assinatura do Tratado de Não proliferação de Armas Nucleares por 58 países, em 1968.
As agencias de relações exteriores de um Estado devem estar atualizadas constantemente sobre tudo o que acontece no mundo, inclusive com previsões de possíveis futuras ações de determinados Estados que poderão afetas positiva ou negativamente os seus propósitos nacionais, assim como os seus órgãos de defesa.
Cercar-se das ferramentas necessárias para a proteção da nação e do desenvolvimento do seu povo deve ser um caráter do Estado e não do governo posto sobre este, pois ainda que este último caia a posição do Estado não mudará. E isso só é possível de ser efetivado em nível internacional, através de um programa de politicas e de analises aplicadas que envolvam os poderes estatais e a população.
Ao contrário da guerra, a diplomacia busca efetivar cooperações e intercâmbios entre os participantes, e para isto é necessário um staff preparado e dedicado funcionalmente a negociações diretas e quase pessoais, e não de materiais e equipamentos pesados.
Adaptando Sun Tzu ao contexto diplomático, o diplomata brasileiro, Paulo Roberto (2011) afirma que há cinco fatores primordiais para a elaboração de uma estratégia diplomática, quais sejam:
a) Doutrina: se manifesta nos fundamentos norteadores da diplomacia, nos valores basilares da sua execução e nas normas orientadoras que guiam esta execução na prática do cenário internacional.
b) Interação entre a conjuntura e a estrutura: se baseia na análise do tempo, imprimindo ações no presente e analisando suas consequências no futuro.
c) Condicionantes econômicos e geopolíticos: estes representam o fator espaço, onde e em que local os agentes diplomáticos deverão atuar na consecução de determinado objetivo.
d) Comando: diz respeito às lideranças diplomáticas de uma nação, indicar ao restante do corpo diplomático, a estes subordinados, os objetivos pelos quais eles devem trabalhar com afinco.
e) Disciplina: trata-se de construir uma organização e métodos para aplicação dos fatores anteriores de forma uniforme.
Portanto, a elaboração de uma estratégia politica implica na análise das possibilidades e obstáculos que cercam o atingimento de objetivos nacionais, bem como participação de todos os instrumentos estatais disponíveis para a consecução destes objetivos por meios diplomáticos, mas com o apoio das forças armadas e da coletividade econômica do país.
4. CONCLUSÃO
Exercer o papel diplomático de um Estado, nas condições atuais das relações internacionais, se faz por meio de fortes pressões sociais e humanitárias que devem ser levadas em consideração. A diplomacia não é só a relação pacífica, ou de “não guerra” entre os Estados, mas também a representação dos anseios de todo um povo em atingir objetivos para o seu desenvolvimento.
A despeito da legitimidade que possam ostentar essas demandas, é conveniente que o Estado, em especial seu aparelho diplomático, preservasse sua largueza de ação e ampla margem de opções, de maneira a escolher as melhores vias para alcançar os objetivos nacionais desse Estado. É preciso levar em consideração que, em uma mesa de negociações entre dois Estados soberanos há diversos fatores envolvidos que não só o interesse de uma determinada nação ou povo. É preciso aliançar-se, coordenar-se e muitas vezes, adaptar-se aos interesses do outro para efetivamente conseguir avançar na consecução dos fins que se propõem.
Diante do exposto, é inegável a necessidade de desenvolver um pensamento estratégico através da análise dos fatores contingentes, bem como dos entraves que poderão ocorrer nas negociações é ativar todas as possibilidades de sucesso e promover o alargamento dos resultados da política externa de uma nação.
BIBLIOGRAFÍA
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[1] Michaelis: Moderno dicionário da Lingua Portuguesa.(2014). São Paulo: Companhia Melhoramentos.