Foros especiais e privilegiados para políticos e ocupantes de cargos públicos; cargos vitalícios; mordomias e sinecuras; medidas clientelistas, fisiológicas e patrimonialistas; tratamentos honoríficos ridículos e esdrúxulos; privilégios e regalias para aqueles que vivem no andar de cima, enquanto os que moram no andar de baixo comem o pão que o diabo amassou ...
Já passou mais do que da hora do Brasil abolir práticas políticas e sociais, que até podem ser legais, mas são imorais, anacrônicas e que, em sua essência desnuda, representam uma série de penduricalhos herdados de um passado que não serve de espelho para o presente, nem exemplo para o futuro. A todo defensor dessas benesses devemos dizer, em alto e bom som: DESAPEGA,PÔ!
É inadmissível, a um país que se quer civilizado, conviver com exemplos como esses. Os cargos vitalícios, por exemplo, remetem-nos ao tempo das monarquias absolutistas, portanto, incompatíveis em nossa República. O foro privilegiado é, em verdade, um “desa-foro”.
A Constituição Federal não poderia ser mais cristalina ao impor que todos são iguais perante a lei, devendo esta ser aplicada incondicionalmente, doa a quem doer. Se um político, empresário ou funcionário público comete uma ação criminosa, como corromper ou se deixar corromper, deve ser punido no rigor da lei, como bem vem fazendo a Operação Lava Jato. Nesse contexto, não há como o foro privilegiado prevalecer nos tempos de hoje, com a única finalidade de salvar a pele de seus ocupantes através de um julgamento diferenciado.
Outra excrescência é o tradicional recesso dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, como se não fossem suficientes as férias normais, aplicáveis a todos os outros trabalhadores. Mais uma prática abominável é o número excessivo de cargos comissionados, cabide de emprego para apadrinhados políticos e as promoções (típicas do serviço público) sem merecimento.
O profissional de qualquer área e também o homem público devem ser respeitados e reconhecidos por sua atuação meritória, honesta e socialmente útil.
Intoleráveis são também a gratuidade com que se distribuí, por aí, os títulos de ‘doutores’ direcionados a quem nem título acadêmico tem. As mordomias dos políticos já não encontram espaço nas nações desenvolvidas, a ponto de pouquíssimas Repúblicas preservarem a existência de reis e rainhas, simbolismo anacrônico de uma época remota e desigual.
Basta de mordomias! Chefes de Estados, políticos e magistrados devem residir em suas próprias casas e utilizar os serviços públicos de transporte, sem benesses, sem ajuda de custo, sem auxílio-vestuário e, imoralidade maior, auxílio- moradia para quem ganha muito bem e (pasmem) até trabalha na própria cidade.
É oportuno destacar que a corrupção se traduz numa ambivalência de valores, de modo que enxergamos apenas a corrupção praticada por políticos, empresários e lobistas. Mas, quando diz respeito ao cotidiano das pessoas comuns, não a reconhecemos.
O tal do “jeitinho brasileiro” - esse traço deletério da nacionalidade e que parece pairar, soberano, acima das divisões de classes socais – se assemelha a uma praga enraizada e de difícil combate, haja vista a enorme quantidade de atestados médicos para justificar ausências prolongadas no trabalho, o furto do sinal da TV a cabo, a sonegação de impostos, os “gatos” da iluminação pública e muitas outras tramoias toleradas como males corriqueiros e menores de uma gente que evoca a famigerada Lei de Gérson para levar vantagem em tudo. Atenção, vampiros, carrapatos e sanguessugas: DESAPEGA, PÔ!