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O trabalho na Bíblia: bênção ou maldição?

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Este texto busca demonstrar a incorreção da assertiva doutrinária no sentido de que a Bíblia convalidaria a insistente conotação desagradável que se atribui à palavra “trabalho”, ligando-a a uma noção de pena ou fardo.

INTRODUÇÃO

Noutro escrito, quando se tratou da delicada questão da saúde mental dos trabalhadores3, ousou-se consignar, ainda que meramente en passant, algo de um antigo incômodo acadêmico: a insistente conotação desagradável que se atribui à palavra “trabalho” e sua frequente correlação com o texto bíblico.

No particular, entendemos que se há invocação doutrinária da Sagrada Escritura, então autorizado está, cientificamente, o aprofundamento de reflexões conducentes à genuína exegese bíblica.

Eis o objetivo deste breve arrazoado: partindo do contexto bíblico, lançar um pouco mais de luz à questão, de modo a demonstrar a incorreção dessa recorrente assertiva doutrinária no sentido de que a Bíblia convalidaria esse tal traço negativo a respeito da origem e do sentido do trabalho humano.


O TRAÇO INSISTENTEMENTE NEGATIVO DA PALAVRA “TRABALHO” E SUA VENTILADA LIGAÇÃO AO (CON)TEXTO BÍBLICO

Verdadeiramente, constitui “lugar comum” nas lições juslaborais a afirmativa de que o trabalho, na perspectiva bíblica, constitui um sacrifício. Que o trabalho, em si, é esforço, é dor. Nessa linha, geralmente se invoca um preceito bíblico dizendo que o trabalho envolve aquilo que alcançamos do suor do próprio rosto. Segue a passagem sempre citada: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela fostes formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Bíblia Sagrada, Gênesis 3.194).

Reside nessa visão um acentuado sentido de enfado, canseira. Percebe-se, pois, envolto na palavra “trabalho”, um insistente traço de desagradabilidade, como se lhe fosse algo verdadeiramente imanente e intrínseco.

É bem de ver que tal conotação fica mesmo reforçada quando nos deparamos com os estudos etimológicos que cercam a palavra “trabalho”. Veja-se que o termo grego pónos, que significa trabalho, porta a mesma raiz da palavra latina poena. Para muitos, porém, a origem do termo “trabalho” tem a ver com tripaliare, em alusão ao tripalium, instrumento de três pontas usado em processos de tortura. Em ambas as ideias vige, pois, um intenso sentido de dor e sofrimento.

Depois de lidar com toda essa etimologia, no tocante à palavra “trabalho”, Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes acentuam essa tradição carregada de valores, no que toca ao “trabalho”, de sorte que, “através dos tempos, veio sempre o vocábulo significando fadiga, esforço, sofrimento, cuidado, encargo, em suma, valores negativos, dos quais se afastavam os mais afortunados”5.

Ratificando essa desagradável questão terminológica, leciona a Professora Aldacy Rachid Coutinho, verbis:

“Nas mais variadas línguas, a expressão trabalho trouxe acorrentado o significado da dor. De um lado, o português trabalho, o francês travail e o espanhol trabajo, remontam à sua origem latina no vocábulo trepalium ou tripalium, um instrumento de tortura composto de três paus ferrados ou, ainda, um aparelho que servia para prender grandes animais domésticos enquanto eram ferrados. Por denotação, do seu emprego na forma verbal – tripaliare –, passa a representar qualquer ato que represente dor e sofrimento. [...] De outro lado, a expressão italiana lavoro e a inglesa labour derivam de labor, que em latim significava dor, sofrimento, esforço, fadiga, atividade penosa. Seu correspondente grego era ponos, que deu origem à palavra pena”6.

Recorde-se que essa noção de “fuga” do trabalho, encarando-o como uma prática destinada aos de menor valia social, imperou de modo sobranceiro na Antiguidade Clássica. Em Atenas, a política, a guerra, o esporte e a prática de pensar eram tidas como atividades dignas, ao passo que o ato de trabalhar detinha uma clara conotação negativa, daí o porquê de sua prática recair sobre os ombros de estrangeiros (metecos) e escravos.

Essa estruturação social era por demais favorável aos cidadãos atenienses: enquanto os escravos se dedicavam aos mais variados serviços, aqueles poderiam lançar-se tranquilamente à política e à filosofia, já que a riqueza produzida pelos escravos era transferida, total ou parcialmente, ao seu proprietário7. Não sem razão, Aristóteles, no alto da sua sabedoria, admitia a escravatura, porque conveniente aos interesses socioeconômicos da época8.


O SENTIDO BÍBLICO DO TRABALHO: LABOR (GÊNESIS 2) VERSUS LABUTA (GÊNESIS 3)

Mas é chegada a hora de desfazer esse equívoco, atinente à crença de que o relato bíblico, contido em Gênesis, atrai algum sentimento aviltante no que respeita ao trabalho. Mesmo para aqueles que não tenham a Bíblia como um livro espiritual, mas apenas como um livro histórico, pensamos que seja importante essa explicação.

É interessante saber, então, que quando a Bíblia fala em “suor do rosto”, no tocante ao trabalho, faz isso em Gênesis, capítulo 3. Ocorre que já em Gênesis, capítulo 2, antes do homem “errar”, antes de recair no que se chama “queda”9, quando ainda envolvido, segundo a teologia, em um ambiente de perfeição, marcado por um contato diário e prazeroso com Deus, pois bem, já nesse Capítulo 2 vemos Deus ofertar trabalho para Adão.

Deveras, atribuiu-lhe, naquela ocasião, segundo as Escrituras, as tarefas de lavrar e guardar o Jardim do Éden. Segue o texto bíblico: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Bíblia Sagrada, Gênesis 2.1510). Além disso, Deus deu ao homem a honra de conferir nome a todos os animais criados, como se vê da seguinte passagem bíblica: “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos...” (Bíblia Sagrada, Gênesis 2.19-2011).

Entretanto, com a queda, e só a partir daí, uma triste “sentença” foi prolatada. Para bem melhor contextualizar a questão, confira-se o trecho bíblico:

“E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás?

Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo e me escondi.

Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?

Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.

Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste?

Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

Então, o SENHOR disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida.

Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará.

E a Adão disse: Visto que atendeste à voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenei não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fatiga obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.

Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.

No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste tomado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Bíblia Sagrada, Gênesis 3.9-1912).

Note-se que os efeitos nefastos do pecado, teologicamente falando, foram múltiplos, atingindo diferentes alvos. A serpente, representando o mal, foi sentenciada a um estado de rebaixamento, humilhação e degradação espirituais, simbolizada pela ênfase no rastejo e no se alimentar do pó. A mulher foi sentenciada a ter de enfrentar uma das sensações mais terríveis que um ser humano pode enfrentar: as dores do parto. Já o homem recebeu a juízo de trabalho árduo até a sua morte, num solo cheio de espinhos13. Perceba-se que também a própria natureza sofreu os deletérios efeitos da queda do homem, já que até o solo foi amaldiçoado, vez que suscitaria de si não apenas frondosas e frutíferas árvores, mas igualmente “espinhos e cardos”, dificultando a vida e o labor do homem14. Segundo William Menzies e Stanley Horton:

“A própria natureza sofreu devido à queda. Até o solo foi amaldiçoado (Gn 3.14-24). Não somente o mal moral se transformou em uma nuvem escura sobre o mundo. A queda ocasionou também o mal natural, pelo mesmo caminho. As pestilências, doenças e secas que têm amaldiçoado a humanidade – fazendo com que sua labuta seja realmente o comer pelo “suor de seu rosto” – resultam da rebeldia inicial do homem contra Deus, no jardim do Éden”15.

Nesse particular, William Macdonald ensina que o homem foi sentenciado a “obter alimento de uma terra amaldiçoada com cardos e abrolhos. Isso significa que ele teria de trabalhar o resto da vida em fadigas e com o suor do rosto até retornar ao pó”16. Já Warren Wiersbe assim interpreta o texto bíblico em estudo, verbis:

“Eva teria dores de parto, mas Adão sofreria diariamente ao trabalhar no campo. Ao esforçar-se para obter seu alimento, Adão se depararia com obstáculos e teria de labutar e de suar para conseguir a colheita; isso serviria para lembrá-lo de que sua desobediência havia afetado a criação (Rm 8.18-23). Além disso, enquanto lavrasse o solo, se lembraria de que um dia morreria e voltaria para o solo de onde havia vindo. Adão, o jardineiro, tornou-se Adão, o labutador”17.

Também é digna de nota a reflexão esposada por R. W. Mackey, como segue:

“Abundância e cooperação existiam em um ambiente de equilíbrio. As condições físicas da terra estavam em equilíbrio: escuridão e luz, terra e água, plantas e animais, seres humanos e animais, homem e mulher. Esse jardim, criado com maestria pelo maravilhoso Pai, era um modelo de ordem e, neste sentido, apto para uma existência infinita (Gn 3.22). No entanto, tudo isso mudou. As condições econômicas começaram com os eventos relatados em Gênesis 3. (...) Uma consequência do pecado foi o advento da escassez. (...) A abundância se tornou escassez devido à introdução de “espinhos e abrolhos”. As boas coisas se tornaram difíceis de cultivar, enquanto coisas potencialmente produtivas, mesmo quando deixadas sem cuidados especiais, se deterioram. A iniciativa humana para a existência se tornou uma luta contra as circunstâncias iniciada pelo pecado. A escassez se aliou ao suor. Seria possível extrair o fruto da terra, mas impregnado de esforço e ansiedade constante. (...) Adão teria agora que competir arduamente em meio às condições arruinadas da terra – espinhos e abrolhos”18.

O que concluímos disso? Que o trabalho, biblicamente falando, em sua origem, é uma expressão de prazer, um elemento que integra a realidade humana como elevado fator de felicidade. Deus ensina ao homem que o trabalho deve fazer parte da sua vida, como fator de concreção de realização pessoal. Ensina, enfim, que trabalhar integra de forma expressiva um quadro mais amplo, tendente a produzir felicidade ao viver humano.

Já o capítulo 3 de Gênesis aponta para um outro quadro. Ali, o homem, teologicamente, já caiu, afastou-se da perfeição, de modo que soa mesmo imperioso que, ao cuidar desse assunto, sempre tracemos essa distinção entre o trabalho como prazer, encontrado em Gênesis 2, e o trabalho como sacrifício, encontrado em Gênesis 3, distinção essa comumente olvidada em nossos manuais. Quando “caiu”, incidiu sobre o homem o duro encargo de viver do trabalho, da labuta, do seu esforço, enfim, do suor de seu próprio rosto...19 Já não haveria o prazer de antigamente, quando da ambiência espiritualmente perfeita de Gênesis 2. Em síntese bem apertada, é isso20.

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Logo, tal como afirma William Macdonald, devemos mesmo observar que “o trabalho não é uma maldição (...). A maldição está mais ligada à tristeza, à frustração, ao suor e ao cansaço que acompanham o trabalho”21. Não é outro o ensino de Charles Colson e Nancy Pearcey, para quem “o trabalho, que originariamente era criativo e satisfatório, se tornaria uma questão de fatigante labuta e trabalho pesado”22. Trazemos à colação, ainda, o que ensina André Biéler:

“Para ser um homem autêntico, realizado, em plena posse de sua humanidade, deve o ser humano trabalhar (...). De princípio, o trabalho era alegre, desprovido de toda fadiga que o marca hoje. (...) A corrupção da humanidade, porém, privou-a da graça que acompanhava o trabalho. (...) de espontâneo e agradável que era, tornou-se o trabalho para o homem uma obrigação, a que se deve submeter por obediência. (...) pondera Calvino que a maldição não abole completamente a bênção que se associava primitivamente ao trabalho; perduram nele ´sinais´ que dão ao homem o gosto do labor” (grifamos)23.

Cumpre deixar bem claro, todavia, que o fato de, teologicamente, hoje, o homem ter sido lançado ao trabalho árduo para poder sobreviver em nada quer significar que o trabalho, em si, mesmo depois da queda, expressa algo negativo.

Muito pelo contrário, o trabalho continua sendo uma bênção para a vida do homem. Mesmo a tradição judaica, nada obstante o juízo divino que se seguiu à queda, continua vendo o trabalho como um sinal de grandeza humana, de sorte que todo judeu precisa ter uma profissão24.

É preciso estar atento, portanto: o trabalho, no fundo, à luz da teologia bíblica, nunca foi uma maldição, seja antes, seja depois da queda. Mesmo defronte da tragicidade do pecado humano e do amplo juízo divino que dela decorreu, o trabalho continua ligado ao homem como fator de dignificação individual, coletiva e até espiritual.

Mais ainda: o trabalho, em verdade, revela-se, na Bíblia, como elemento indispensável no plano de Deus para a humanidade. Com efeito, destaca Samuel Escobar, verbis:

“A doutrina bíblica da criação apresenta Deus como uma divindade ativamente trabalhadora, que fez os seres humanos como trabalhadores à sua imagem. Esse ensinamento percorre todo o Antigo Testamento e culmina em Jesus, que era um homem trabalhador antes de se tornar um pregador itinerante. Paulo, o maior dos missionários do Novo Testamento depois de Jesus, combinou seu trabalho apostólico com a confecção de tendas”25.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso objetivo, com esta breve exposição, foi a de clarificar a questão do trabalho na Bíblia, quando percebemos que, primeiramente, é preciso distinguir trabalho, enquanto valor, e labuta, enquanto esforço.

O trabalho é tão antigo quanto o próprio homem. Sempre o acompanhou, seja quando se deleitava no Jardim de Éden, seja quando dele foi expulso.

Antes, o trabalho, realizado sem oposições naturais ou espirituais, por si só dignificava o homem, enchia-lhe de alegria, de sentido existencial e preenchimento espiritual. Sem resistências, os resultados do mister laborativo eram naturais e proveitosos.

O que se tem de novo é que, com a queda, agregou-se ao labor humano o elemento do suor, ou seja, o desgaste, a perda26.

Não que o trabalho, em si, tenha se convolado em dor, em sofrimento, mas sim que o seu desenrolar, necessariamente, há de ser operacionalizado com uma ou outra espécie de resistência ou prejuízo, de ordem natural, existencial ou mesmo espiritual27 – na linguagem bíblica, em meio a “espinhos e cardos”.

Deus nunca nos mandou parar de trabalhar. Pelo contrário, o trabalho atrai e continuará atraindo bênçãos ao homem. Moisés estava trabalhando quando Deus o chamou (Bíblia Sagrada, Êxodo 3.1), o mesmo ocorrendo, por exemplo, com Davi (Bíblia Sagrada, 1 Samuel 16.11), Gideão (Bíblia Sagrada, Juízes 6.11), Pedro (Bíblia Sagrada, Marcos 1.16) e muitos outros personagens bíblicos. Paulo ensinou: “Contudo, vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais e a diligenciardes por viver tranquilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos” (Bíblia Sagrada, 1 Tessalonicenses 4.1128), exortando, com mais vigor, que “se alguém não quer trabalhar, também não coma” (Bíblia Sagrada, 2 Tessalonicenses 3.1029).

O próprio Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Bíblia Sagrada, João 5.1730).

A verdade, contudo, é que essa natural dificuldade emprestada ao mister laboral ganhou, máxime no âmbito do regime capitalista, um espectro mais forte. Além das dificuldades suscitadas pela própria natureza, eis que o homem, também e principalmente, tem ajudado sobremaneira na fixação dessa percepção do trabalho enquanto algo inferior, pequeno, a ser desvalorizado.

Isso advém, em grande parte, da irrefreável ânsia humana em acumular riquezas materiais. Não sem razão o coração do homem tem falhado em captar toda a grandeza e sublimidade do trabalho... O anseio pelo contínuo e voraz acúmulo de bens terrenos tem revelado uma faceta cruel e dramática de toda essa discussão: a exploração do homem pelo próprio homem. Noutras palavras: o amor pelas coisas e o uso das pessoas – quando deveria se dar justamente o contrário31.

Infelizmente, quanto mais o tempo passa, mais difícil tem se tornado o refrear desse sórdido amor ao dinheiro que o homem, perdido na loucura de suas propensões carnais, ousou por completo se entregar.

Nada obstante, ressaltamos, aqui, que o problema não está no trabalho, mas no modo como passamos a enfrentá-lo e enxergá-lo. O problema, igualmente, não está no dinheiro, mas na forma como nos relacionamos com o dinheiro.

É essa a perspectiva que deve nos influenciar quando da leitura do famoso versículo bíblico que declara que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus” (Bíblia Sagrada, Mateus 19.24). A leitura completa de todo o texto bíblico (Bíblia Sagrada, Mateus 19.16-30) demonstra a atitude de um jovem rico que, instado por Jesus a se desprender de seus muitos bens para segui-Lo, optou por manter-se apegado à sua riqueza terrena.

A lição espiritual ali ofertada gira em torno do fato de que o verdadeiro problema daquele jovem rico não estava em seus bens, mas em seu coração, em seu amor, seu exagerado apego, sua inapelável inclinação aos bens materiais que possuía. Não sem razão, noutra porção bíblica, Paulo esclarece que não o dinheiro, em si mesmo, mas sim “o amor ao dinheiro é raiz de todos os males” (Bíblia Sagrada, 1 Timóteo 6.1032) (grifamos).

O ponto nevrálgico, portanto, não está nas coisas, no ambiente do homem, na sua exterioridade. O cerne da questão está no próprio homem – em sua essência, em seu próprio coração.

De qualquer forma, a realização pessoal continua sendo inteiramente possível. Deus não nos privou desse gozo e continua nos proporcionando essa esperançosa possibilidade.

Que esse caminho, malgrado ferrenhamente juncado de espinhos e abrolhos, não esmoreça nossa fé.

O benefício social e a satisfação espiritual no e pelo trabalho continuam sendo importantes alvos em meio a essa longa e tormentosa jornada humana.

Porque, acima de tudo, na Bíblia, trabalho – reafirmamos – é bênção e não maldição.

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Sobre os autores
Ney Maranhão

Professor Adjunto do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará (Graduação e Pós-graduação). Doutor em Direito do Trabalho e da Seguridade Social pela Universidade de São Paulo - Largo São Francisco, com estágio de Doutorado-Sanduíche junto à Universidade de Massachusetts (Boston/EUA). Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho pela Universidade de Roma/La Sapienza (Itália). Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará. Ex-bolsista CAPES. Professor convidado do IPOG, do Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA) e da Universidade da Amazônia (UNAMA) (Pós-graduação). Professor convidado das Escolas Judiciais dos Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª (SP), 4ª (RS), 7ª (CE), 8ª (PA/AP), 10ª (DF/TO), 11ª (AM/RR), 12ª (SC), 14ª (RO/AC), 15ª (Campinas/SP), 18ª (GO), 19ª (AL), 21ª (RN), 22ª (PI), 23ª (MT) e 24 ª (MS) Regiões. Membro do Instituto Goiano de Direito do Trabalho (IGT) e do Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Magistratura e do Ministério Público do Trabalho (IPEATRA). Membro fundador do Conselho de Jovens Juristas/Instituto Silvio Meira (Titular da Cadeira de nº 11). Membro do Conselho Editorial da Revista de Direito do Trabalho – RDT (São Paulo, Editora Revista dos Tribunais). Ex-Membro da Comissão Nacional de Efetividade da Execução Trabalhista (TST/CSJT). Membro do Comitê Gestor Nacional do Programa Trabalho Seguro (TST/CSJT). Juiz Titular da 2ª Vara do Trabalho de Macapá/AP (TRT da 8ª Região/PA-AP). Autor de diversos artigos em periódicos especializados. Autor, coautor e coordenador de diversas obras jurídicas. Subscritor de capítulos de livros publicados no Brasil, Espanha e Itália. Palestrante em eventos jurídicos. Tem experiência nas seguintes áreas: Teoria Geral do Direito do Trabalho, Direito Individual do Trabalho, Direito Coletivo do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Direito Ambiental do Trabalho e Direito Internacional do Trabalho. Facebook: Ney Maranhão / Ney Maranhão II. Email: [email protected]

Platon Teixeira de Azevedo Neto

Juiz do Trabalho (TRT da 18ª Região - GO). Mestrando em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Membro do Instituto Goiano de Direito do Trabalho (IGT). Presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho da 18ª Região (AMATRA 18 – biênio 2011-2013). Professor universitário. Email: [email protected]

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MARANHÃO, Ney ; AZEVEDO NETO, Platon Teixeira. O trabalho na Bíblia: bênção ou maldição?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3967, 12 mai. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/28299. Acesso em: 3 dez. 2024.

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