A guerra ideológica e o recrutamento de crianças e adolescentes ao tráfico de drogas e ao terrorismo

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Seja jovem das periferias, das favelas ou de condomínios luxuosos, todos querem ter uma personalidade, que seja respeitada. Quanto mais se exige do ser humano a condição de “super-homem”, mais o homo sapiens se sente inferiorizado.

Persuasões como “O Estado não lhe ajuda em nada!”, “Seus pais não lhe compreende!”, “Você tem potencialidades, acredite em você!”, “Você será respeitado por todos!”, “O que faz ou fará é por uma causa nobre!”, “Há conspirações para dominar todos!” etc. São algumas técnicas usadas pelos jihadistas.

Não muito diferente, os narcotraficantes também usam de algumas técnicas para persuadirem os jovens: “O Estado não lhe ajuda em nada!”, “Seus pais não lhe compreende!”, “Você tem potencialidades, acredite em você!”, “Você será respeitado por todos!”, “O que faz ou fará é por uma causa nobre!”.

As desigualdades sociais e as dificuldades materiais, causadas pelo Estado, o preconceito étnico, a autoridade desmedida dos pais — não dialogar com os filhos, mas ordenar a fazer, e pronto —, sementes das discórdias as quais podem levar a desentendimentos e dolorosos atos futuros.

No Brasil, as desigualdades sociais se devem ao darwinismo social e a eugenia que se instalaram, e se perpetuam, no seio da nação. A internet é um amplo campo à oportunidade de estudos ao conhecimento da personalidade do povo. Por exemplo, as discriminações aos negros, aos LGBTs, às pessoas com necessidades especiais, às pessoas conforme o tipo laboral que desempenham etc. Diante disso, pode-se delinear o comportamento do povo. As leis brasileiras têm avançado aos Direitos Humanos, mas ainda não são suficientes para mudar a mentalidade forjada nas discriminações, nos tabus e nos dogmas. O resultado diário mostra que o Brasil é um país bárbaro.

A partir da década de 1990, alguns avanços sociais — Estado do bem-estar social — o Brasil conseguiu, seja na proteção e conscientização, no que diz respeito ao acesso dos párias às Universidades, através das cotas raciais, à habitação, como Minha Casa Minha Vida, ao lazer, ao empreendedorismo. Infelizmente, os escândalos de corrupção envolvendo o PT, os avanços sociais podem estar comprometidos, se algo não reverter à situação presente.

As UPPs foram, sem sombra de dúvida, uma demonstração aos narcotraficantes de que o Estado não é fraco, como se pensava. Apesar dos acontecimentos funestos, como ações de policiais corruptos, as reações dos narcotraficantes, que incitam as populações às ações truculentas, como queimar ônibus, mesmo diante de tudo isto, as UPPs representam avanços na Segurança Pública.

Contudo, mesmo diante desses avanços, o Brasil, ainda, infelizmente, apresenta abissal desigualdade social do orbe. A insatisfação é geral, pelos noticiários de corrupção envolvendo o PT, as “regalias” dadas aos condenados do Mensalão e do Lava Jato, quando se compara aos criminosos de crimes comuns, isto é, não de colarinho branco, a recessão, seja qual o nome que se dê a ela, pois o povo não quer saber de nome técnico, mas de ter e manter qualidade de vida.

Os narcotraficantes brasileiros oferecem aos jovens das favelas melhorias em suas vidas: respeito; ascensão econômica; idolatria. Respeito, de seus pais, das pessoas da comunidade, afinal, será temido; ascensão econômica, com o dinheiro do tráfico poderá comprar o que desejar e, ainda, ajudar a família; idolatria, uma arma na mão é condição de ser idolatrado pelas garotas.

Seja jovem das periferias, das favelas ou de condomínios luxuosos, todos querem ter uma personalidade, que seja respeitada. Quanto mais se exige do ser humano a condição de “super-homem”, mais o homo sapiens se sente inferiorizado. O sentimento de inferioridade data dos primórdios da humanidade. Ao tentar se adaptar ao ambiente que o cercava, deuses, tatuagens, adornos, rituais, superstições, tudo foi criado para “confortar” o animal humano amedrontado com a própria sombra. Dizer que a humanidade contemporânea superou o medo milenar é engodo. O instinto de grupo ainda existe, e jamais deixará de existir; ser diferente é um desconforto, pois pode causar discriminações, preconceitos e expulsão do grupo.

Existem rituais para a admissão do indivíduo [seja aceito] no grupo, estes rituais “sagrados” estão no tipo de comportamento, de indumentária, de vocabulário, de crença, do local onde reside, do emprego. Ser diferente é não estar respeitando o ritual “sagrado” convencionado pelo grupo. Não é de se estranhar que a adesão ao “contrato social” causa perturbação emocional, e até orgânica. A liberdade tem limites, os limites convencionados como sendo os melhores para todos, mesmo que “todos” representam “minoria”. É o caso de uma sociedade aristocrática.

O ambiente não determina comportamento, mas influencia. As condições psíquicas de um grupo tem forte influência na formação psíquica do novo cidadão. Nos primeiros anos de vida, a criança aprende por condicionamento às determinações dos genitores. Na adolescência, as divergências acontecem, entre os padrões comportamentais do grupo e do próprio adolescente, conduto, algo universal a todos os seres humanos existe: reconhecimento, por parte dos outros membros do grupo, de que existe, tem pensamentos, opiniões próprias. Desconfortavelmente, o adolescente procura uma personalidade que o faça sentir “importante” no seio do grupo, os ídolos [“semideuses”] são os seres humanos que irão suprir o desconforto emocional do jovem que ainda não tem sua personalidade formada.

Não podemos esquecer de que há um endeusamento do ser humano, como sendo um deus contra tudo e contra todos, o dominador incansável a conquistar pela força bruta. Livros de oratória e de linguagem corporal ensinam os indivíduos parecerem “destemidos”, “invencíveis”, “suprainteligentes”, “supra-habilidosos”. O mercado de trabalho exige pessoas assim. Por décadas, empresas selecionaram para seus quadros pessoas que agiam com enérgica decisão, que demonstrassem autoridade de um semideus aos subordinados. Essa concepção de mandante implacável tem suas bases axiológicas na escravidão, na relação de soberanos e servos. E a relação entre empregadores e empregados, gerentes e subordinados não deixam de ser um resquício da concepção “deuses e mortais”.

Diante da competitividade ferrenha, que é exigido pelo Capitalismo, pois sem consumismo não há Capitalismo, ou melhor, meritocracia exige pessoas com qualidades “superiores”, existe uma formação psíquica nos jovens que os exaurem em seus limites emocionais. Os pais “zelosos”, então, exigem que suas proles façam várias atividades quase ao mesmo tempo, pois a globalização, a meritocracia exige pessoas instruídas, sábias, competitivas, destemidas. Os esportes para os futuros cidadãos empreendedores servem como preparação mental e física aos desafios da vida humana. O mercado de trabalho e o empreendedorismo exigem “super-heróis”.

As máquinas estão a serviço do ser humano, sendo que estas máquinas devem funcionar pelo exaustivo laborar dos próprios seres humanos, no caso, os proletariados. As riquezas devem circular em velocidade cada vez mais rápida. As saciedades dos consumidores devem ser aplacadas como transmissão de dados na web. Os recursos naturais devem estar presentes como uma fonte perto da fábrica. A pressa não tem tempo de esperar, tudo deve ser rápido, pois a competitividade exige, os consumidores, hipnotizados pelas publicidades dissonantes, também exigem efeitos rápidos. O narcótico do ciclo — extração, manufatura, publicidade e consumo; reciclagem, publicidade e consumo — é sensação passageira, e o dependente ser humano necessita mais e mais de doses maiores do narcótico “felizes”.

O assunto exposto pode parecer desconexo, mas não o é. Os jovens são influenciados por comerciais e músicas que ostentam o supérfluo, o complexo de inferioridade. Pensar que influenciam somente os adultos é sofisma. Deste a metade do século XX, os alvos são tantos os jovens quanto os adultos. O jovem de hoje é o adulto de amanhã, e consumista, proletariado ou empreendedor complexado. As publicidades invocam o bem-estar pelo consumo exagerado — sempre apelando para o complexo de super-homem —, o Estado se mostra incapaz de assegurar redução da desigualdade, o caos é como uma massa de bolo fermentado. Ao calor das emoções humanas, quando não atendidas, ou não conseguidas pela precária condição econômica, eclodem revoltas contra qualquer contrato social, porque parece desumano.

E assim, diante do caos mundial, gerado pelas inúmeras violações de Direitos Humanos, mesmo nos países cujas democracias estão consolidadas, mas que exploram, com suas transnacionais, as riquezas de outros países, através da mão de obra escrava, como faz a China, nada mudará. E onde há revolta, ganância e ódio, há aproveitadores, como são os traficantes e os terroristas.

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Se a pobreza, pela desigualdade social, é oportunidade de captar futuros membros para o tráfico ou para o terrorismo, a riqueza, incentiva pelas publicidades ideológicas ao consumismo ou condição de bem-estar, o que leva a ganância, também oferece oportunidade à captação ao tráfico ou terrorismo. Ser pobre é invocado como condição degradante, ser rico é condição de vida magnânima, mas que deve ser conquistada com unhas e dentes. Na cabeça de um jovem, nada resta se não confusão. Claro que pobreza impede o indivíduo obter o mínimo de subsistência para viver dignamente, contudo a riqueza, de uma pessoa, de um grupo, ou de uma nação, não tem se demonstrado como solução final para o ser humano se sentir feliz, como é comumente divulgado pelos comerciais.

Se riqueza fosse sinônimo de felicidade, países ricos não teriam depressivos, suicidas, como é o caso dos EUA e do Japão. Honra, invencibilidade, destreza, o “super-homem” deve existir num mundo de perfeição imperfeita. O século XXI representa tudo o que ser o ser humano é em seu íntimo, as consequências das guerras, os desastres naturais, as corrupções, o tráfico de droga que atingem até os países desenvolvidos. O Estado social pode existir, mas de nada adiantará se não mudar o comportamento humano, ou melhor, a sua mentalidade, de que sua existência depende do equilíbrio em seus atos. Quando há desiquilíbrio, há harmonia. Tanto a pobreza quanto a riqueza, duas extremidades, são perniciosas à vida humana, e até planetária. A riqueza de uma nação, mesmo neste século, tem servido ao empobrecimento de outra nação. O desperdício tem sido um gravíssimo problema nos países, e o desperdício leva a extração perigosa para se obter o necessário, o cultivo perigoso com agrotóxicos etc.

Tudo está interligado, pois as necessidades humanas, no contexto, são básicas. A cooperação entre os povos deve ser a diretriz para diminuir as guerras. O amadurecimento psíquico da humanidade, onde não há divisões e diferenças pelos conceitos de “superior” e “inferior”, é possível pela humildade, de que todos são irmãos de uma mesmo orbe, todos adoecem, têm o mesmo ciclo de vida, como nascer e morrer. Se nos primórdio da humanidade, como acontecia nas tribos primitivas, a solidariedade era o comportamento correto, como o Homo Sapiens pode se sentir “evoluído” pela sua grotesca atitude egolatria?

O prenúncio de uma nova guerra mundial está tão evidente quanto o próprio degelo. Se as nações não cooperarem para diminuírem as diferenças sociais em todos os países, se cada nação não se deixar corromper por ideologias sectárias, se os governantes não agirem para criarem políticas eficientes ao Estado social, e controlar a crescente máquina perversa do Estado liberal, se os profissionais não visarem apenas o lucro, mas o respeito à vida, talvez, a humanidade não sucumba pela própria loucura.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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