Capa da publicação Abandono afetivo pode tirar poder familiar?
Capa: Sora

O abandono afetivo como motivo ensejador da destituição do poder familiar

Exibindo página 4 de 4
27/11/2015 às 15:25

Resumo:


  • O abandono afetivo nas relações familiares é um tema que gera controvérsias no âmbito jurídico, especialmente em relação à possibilidade de responsabilização civil por danos morais decorrentes dessa ausência de afeto.

  • Enquanto alguns entendem que não se pode obrigar juridicamente alguém a amar e que a indenização por abandono afetivo poderia monetarizar o sentimento, outros defendem a aplicabilidade da responsabilidade civil como forma de compensação pelos danos emocionais causados pelo abandono.

  • A destituição do poder familiar pode ser uma medida aplicada em casos de abandono afetivo, visando proteger os interesses da criança ou do adolescente, sendo possível a supressão do sobrenome do genitor no registro de nascimento como forma de desvinculação dos laços familiares.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o que foi alegado e objetivando uma análise do exercício do poder familiar frente ao abandono afetivo, é possível concluir que a Constituição Federal inovou no conceito das prerrogativas do poder-dever, no âmbito das relações familiares, em face das quais foi desconstituída a soberania do pátrio poder, exercido pelo chefe da família, a saber, o pai, em busca de uma isonomia de obrigações entre os cônjuges.

A esse respeito, família pode ser compreendida como uma relação baseada na afetividade e na solidariedade, por buscar mecanismos que visem a assegurar a convivência familiar e a proteção integral da criança e do adolescente, pelo menos conforme expõem os juristas e doutrinadores do âmbito do direito de família.

A Carga Magna é muito clara ao impor prerrogativas aos pais como garantidores de direitos e deveres aos menores, no sentido de desempenharem um papel de salvaguarda frente aos riscos à integralidade física e psíquica da criança e do adolescente, oferecendo um lar digno e respeitoso e uma estrutura que vise a garantir proteção integral e um desenvolvimento saudável.

Nesse sentido, analisou-se a possibilidade de destituição do poder familiar tendo como motivo ensejador o abandono afetivo, sendo possível concluir que o entendimento dos Tribunais se constrói, majoritariamente, no sentido da viabilidade da interposição de ação civil na busca da perda da relação familiar, diante de provas concretas de que houve um abandono afetivo que configurou inviável a manutenção do vínculo entre o genitor e o filho.

Posicionam-se os Tribunais nesse sentido, pois aquele que abandona não merece permanecer com o vínculo familiar e obter vantagens em face do filho abandonado. Nesse sentido, a doutrina ressalta que a destituição do poder familiar não exime das obrigações alimentícias e da sucessão hereditária, por se tratar de uma facilidade que seria conferida àquele que abandona sua prole.

O procedimento da perda do poder familiar em face do abandono afetivo deixa a desejar para aqueles que objetivam se desligar completamente de algum vestígio da frustrada relação familiar. Uma vez concedida por sentença judicial, a destituição dessa relação ficará averbada no registro de nascimento, gerando uma anotação ao lado do nome da pessoa excluída dessa relação. Sendo possível ainda, ingressar com outra ação que vise à supressão do sobrenome do sujeito passivo no registro de nascimento.

O que se espera é o desvinculamento de qualquer laço frente à destituição do poder familiar, tendo reflexo automático na retirada do sobrenome no registro de nascimento. Há, ainda, a possibilidade da total retirada do nome no documento público, em virtude do princípio da liberdade e igualdade, e já que a lei garante que a maioridade civil da pessoa faz com que ela esteja apta a praticar atos sob a sua própria responsabilidade, de modo que, assim, caberia a ela a escolha de tal supressão do nome.

Nessa perspectiva, se não existiu afetividade ou qualquer vínculo que atestasse interesse do genitor em manter os laços familiares, é cabível a destituição do poder familiar pelo abandono afetivo, com a possibilidade de ser retirado o sobrenome.

Em decorrência do princípio da imutabilidade do nome e da indisponibilidade do sistema registral, não é viável a supressão total do nome do genitor, assunto em torno do qual caberia uma discussão por parte dos juristas e doutrinadores, versando sobre a natureza absoluta de tais princípios. O tema, enfim, deve ser tratado, em determinados casos, como um ônus levado a vida toda pelo filho, o que poderia ensejar responsabilidade pelos danos sofridos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Código Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002.

ALMEIDA, Renata B.; RODRIGUES, Walsir Edson. Direito Civil: Famílias. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2010. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/42814/da-natureza-juridica-do-afeto-nas-relacoes-paterno-materno-filiais-principio> Acesso em: 02 de out. 2015.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO STJ. Filho abandonado poderá trocar sobrenome do pai pelo da avó que o criou. Disponível em: <https://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/%C3%9Altimas/Filho-abandonado-poder%C3%A1-trocar-sobrenome-do-pai-pelo-da-av%C3%B3-que-o-criou> Acesso em: 07 de nov. de 2015.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO COM INFORMAÇÕES DO STJ. Filho consegue na Justiça retirar sobrenome do pai que o abandonou. 2015. Disponível em: <https://www.ibdfam.org.br/noticias/5578/Filho+consegue+na+Justi%C3%A7a+retirar+sobrenome+do+pai+que+o+abandonou> Acesso em: 07 de nov. de 2015.

ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES DE PESSOAS NATURAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO – ARPEN-SP. Averbação. Disponível em: <https://www.arpensp.org.br/index.cfm?pagina_id=195. > Acesso em: 07 de nov. de 2014.

BULSING, Karine Machado. A destituição do poder familiar como fator de exclusão sucessória. Revista eletrônica do curso de direito da UFSM, v. 8, n. 1. 2013. p. 166.

CARBONNIER, Jean. Droit civil 2: la familia. 20. Ed. Paris: Presses Universitaires, 1999.

CHAVES, Cristiano de Farias; ROSENVALD, Nelson. Direito das famílias. 2º ed. 3ª triagem, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2010, p. 90.

___________. Direito das famílias. 3º ed., Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2012, p. 169.

COMEL, Denise Damo. Do poder familiar. São Paulo: RT., 2003, p. 288-289

DIAS, Maria Berenice. Afeto e Estruturas Familiares. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2010. p. 201-216.

DIAGIÀCOMO, Murillo José. Consulta: Poder Familiar – Restituição – Fundamentos, 2013. Disponível em: <https://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1550> Acesso em: 05 de out. de 2015.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

FERREIRA, Luiz Antônio Miguel. A Destituição Do Poder Familiar Pelo Abandono. 2013. Disponível em: <https://www.pjpp.sp.gov.br/wp-content/uploads/2013/12/20.pdf > Acesso em: 07 de out. de 2015.

FERREIRA, Luiz A. Miguel. A destituição do poder familiar pelo abandono. 2013. Disponível em: <https://www.pjpp.sp.gov.br/wp-content/uploads/2013/12/20.pdf> Acesso em: 07 de out. de 2015.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 428.

LÔBO, Paulo. Direito civil: família. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 295.

MACHADO, Gabriela S. Linhares. Análise doutrinária e jurisprudencial acerca do abandono afetivo na filiação e sua reparação. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/23666/analise-doutrinaria-e-jurisprudencial-acerca-do-abandono-afetivo-na-filiacao-e-sua-reparacao> Acesso em: 06 de out. de 2015.

MARIN, Brunna; CASTRO, Caroline. Abandono afetivo e o ordenamento jurídico brasileiro. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/25122/abandono-afetivo-e-o-ordenamento-juridico-brasileiro > Acesso em: 07 de out. de 2015.

RIBEIRO, Simone C. Cesar. As inovações constitucionais no Direito de Família. 2002. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/3192/as-inovacoes-constitucionais-no-direito-de-familia> Acesso em: 29 de out. de 2015

RISTOW, Caroline B. Back. O preço do abandono afetivo. 2015. Disponível em: <https://carolinebback.jusbrasil.com.br/artigos/160493935/o-preco-do-abandono-afetivo > Acesso em: 08 de out. de 2015

RISTOW, Caroline B. Back. O preço do abandono afetivo. 2015. Disponível em: <https://carolinebback.jusbrasil.com.br/artigos/160493935/o-preco-do-abandono-afetivo > Acesso em: 07 de out. de 2015.

ROTHENBURG, Walter Claudius. Princípios constitucionais. Porto Alegre: Fabris, 1999. p. 65.

SANTOS, Marina A. de Souza. Da natureza jurídica do afeto nas relações paterno/materno-filiais: princípio. 2015. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/42814/da-natureza-juridica-do-afeto-nas-relacoes-paterno-materno-filiais-principio> Acesso em: 02 de out. 2015.

STOLZE, Pablo. Novo Curso de direito civil: Direito de família - as famílias em perspectiva constitucional. v.6 2 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012. p.978

SKAF, Samira. Responsabilidade civil decorrente de abandono afetivo paterno – filial. 2011. Disponívelem:<https://ibdfam.org.br/_img/artigos/Responsabilidade%20Civil%2021_09_2011.pdf> Acesso em: 05 de out. 2015.

TEPEDINO, Gustavo. A disciplina da guarda e a autoridade parental na ordem civil-constitucional. In: Afeto, ética, família e o novo Código Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 313.

TOMIZAWA, Guilherme; MOREIRA, J. Destituição do poder familiar: punição ou garantia de direitos? Anima Revista Eletrônica. Disponível em: <https://www.anima-opet.com.br/pdf/anima6/Destituicao_do_poder_familiar.pdf > Acesso em: 02 de nov. de 2015.

TORRES, A. C. F., do Amaral Costa, C. L. N., de Oliveira Silva, B. V., dos Santos, D. A., dos Santos Filho, E. T., da Conceição Campos, J., ... & Rios, N. M. R. Destituição do poder familiar. Caderno de Graduação-Ciências Humanas e Sociais-UNIT, 2013, p.215.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.365-366.


Nota

1 De acordo com Pablo Stolze, (2012, p. 978) a responsabilidade civil deriva da transgressão de uma norma jurídica preexistente, impondo, ao causador do dano, a consequente obrigação de indenizar a vítima.

Assuntos relacionados
Sobre a autora
Milena Cibelle Siqueira

Militante em todas as áreas do Direito, ênfase em Direito Penal.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Trabalho realizado como conclusão do curso de direito

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos