um mau exemplo

27/11/2017 às 10:24
Leia nesta página:

Os políticos brasileiros, em sua maioria, não honram os mantados que lhes foram conferidos pelos brasileiros

                        Um mau exemplo

                         

                       No Brasil atual não é necessário vidência para antever o futuro. O corporativismo parlamentar e o fato de a maioria de nossos edis estar dentro do mesmo balaio acabam por usurpar o outrora encantador papel dos videntes.  Com aquiescência de Michel Temer, presidente da República, que é chefe da Nação e do Estado, que se diz constitucionalista, a sua defesa apresentou na ação em que é denunciado por obstrução da justiça, além de outros crimes, pelo ex-Procurador da República Rodrigo Janot, atribuindo a este a pecha de “pistoleiro” e outras expressões depreciativas, impróprias a qualquer pessoa que se prima pela boa educação, sobretudo pelo respeito. Ao iniciarmos o curso de Direito Processual, aprendemos desde logo, que a defesa deve-se basear unicamente contra os fatos alegados e não contra as pessoas e que as expressões injuriosas o juiz mandará risca-las, e se forem proferidas, cassará a palavra. Esse procedimento é adotado nos juízos estaduais de primeira estância. Ai do acusado ao ser interrogado sobre fatos relatados na denúncia, responder ao juiz:  “ o senhor deve perguntar a ele”... Se o réu chamar o Promotor de Justiça de pistoleiro, qual será a atitude a ser tomada pelo juiz? A denúncia oferecida contra o presidente será examinada pelo Conselho de Ética da Câmara, cujo o relator é o deputado Bonifácio Andrada que acumula dezenas de mandatos eletivos, o que não deixa de ser uma realidade brasileira, pois os nossos representantes no Congresso Nacional, salvo honrosas exceções, são filhos, netos e todo tipo de parentesco, descendentes de antigos governadores, senadores, deputados  e vereadores, que sempre tiveram influência nos destinos do Brasil, e principalmente, nos seus estados de origem, que alguns eram e são considerados dono deles. A meu ver, ao contrário do que consta na mídia, o relatório vai ser favorável ao recebimento da denúncia, pois este é o momento e talvez único, em que o deputado relator, terá oportunidade de se manifestar sobre os seus conhecimentos jurídicos, visto que muitos o julgam um jurista. Caso contrário, ele terá uma melancólica passagem pela Câmara dos Deputados. Mas, de qualquer forma, com o parecer contrário ou a favor, a denúncia vai ser rejeitada no plenário da Câmara dos Deputados, cujos componentes, muitos deles, estão implicados em inquéritos, em delações premiadas e estão preocupados em se elegerem nas próximas eleições, para se beneficiarem do fórum privilegiado. E assim haverá impunidade, mais impunidade... A outra situação mais preocupante é a expectativa do julgamento da Adin que discute se é   constitucional a competência do STF para afastar parlamentares de suas funções, aplicando-lhes medidas cautelares. O interessado, neste caso, é o senador Aécio Neves. Se os ministros do STF decidirem que a competência cabe ao Congresso Federal, no caso o Senado, não haverá crise entre os dois poderes e Aécio será, ao final, absolvido pelos seus pares, permanecendo a impunidade até que não tenha nenhum mandato. Entretanto, se o STF decidir que é de sua competência, os senadores vão à represália, pois como diz o ditado “não se fala de forca em casa de enforcado”, isto porque, como já disse, muitos de seus colegas estão no mesmo barco e este salvará Aécio que andará livre e solto. Como se vê, nenhuma dessas situações, a meu ver, não resolve a barafunda criada. Não se pode defender uma democracia onde impera a impunidade, a desfaçatez, o desrespeito de seus representantes. Com essas reflexões, procurei a entender a fala do general Mourão que manifestou sua opinião política, sendo malhado pela a imprensa em geral, como se ele fosse “um judas”, atacando-o de golpista. Ora, interpretei assim a suas palavras: o doente precisa de medicamentos (estes estão nas instituições da República), agora, se os remédios não debelarem a moléstia, o médico então lançará o último recurso que é uma intervenção cirúrgica. O Brasil não merece um presidente que ao se defender de uma denúncia, admite que seus defensores escrevem palavras desairosas contra o seu acusador. Isto é um mau exemplo.     

                            José Edson de Andrade Neves

                             Belo Horizonte, 8 de outubro de 2017

                                                                                                                                                                                        

Sobre o autor
José Edson de Andrade Neves

Advogado militante em Belo Horizonte, graduado pela Faculdade de Direito da UFMG, em Belo Horizonte, pos graduado em Ciências Penais, pela Faculdade Gama filho

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Corrupção que assola o País pelos maus políticos.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos