CONCLUSÃO
Nessas curtas reflexões acima postas, vimos que as mulheres, ao longo de toda a trajetória dos movimentos do operariado e do sindicalismo brasileiros, através de todas as suas conquistas e percalços, depararam-se com uma realidade que lhes era definitivamente adversa. Quaisquer que fossem as correntes ideológicas que governavam a essas organizações – cristã, socialista, comunista ou anarquista – indiferentemente foram tratadas como estranhas aos espaços que ocupavam.
Apesar disso, não foram poucas as suas contribuições. Quando não organizavam, já desde fins de século XIX, suas próprias organizações, como as de costureiras e as das indústrias de tecelagem, ingressavam assim mesmo nos ambientes dominados por ambientes, chegando, bem que em minoria, a ocupar posições diretoriais e de cúpula dos sindicatos.
Durante a ditadura militar, também conduziram a funcionamento de diversas associações de auxílio, associações de bairro e de ajuda para presos políticos e exilados. Também participaram ativamente de greves; no entanto, nesse ponto, conforme os escassos relatos da historiografia, comumente compostos por homens, nos permitem concluir que participaram geralmente em posições secundárias e de subalternidade. Sem embargo dos silêncios, vezes frequentes, com seus maridos perseguidos, demitidos e exilados, tiveram que estar a cargo do sustento da família, elas próprias também narrando os eventos de greve, produzindo, certamente, inestimáveis relatos do período, que, por essa razão, imprescindivelmente devem ser objeto da pesquisa histórica, desvelando-nos muitas facetas dessa nossa mesma história, tão fortemente ainda desconhecida por nós outros.
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Notas
[1] PRIORE, M. D.; VENÂNCIO, R. P. O Livro de Ouro da História do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2011, p. 296.
[2] Ibid., p. 297.
[3] SCHMIDT, B. B. “Companheiras!”: As mulheres e o movimento operário brasileiro (1889-1930), p. 1458. Disponível em: < http://www.americanistas.es/biblo/textos/08/08-101.pdf> . Acesso em 29 de nov. 2014.
[4] BATALHA, C. H. M. Formação da classe operária e projetos de identidade coletiva. In: FERREIRA, J.; NEVES DELGADO, L. A. O Brasil Republicano: O tempo de liberalismo excludente – da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 163-164.
[5] Com efeito, em SCHMDIT, op. cit., p. 1459, vemos um exemplo: “em São Paulo, as estatísticas informam que no final do século XIX, 72,74% dos trabalhadores nas indústrias de fiação e tecelagem eram mulheres e crianças. Em 1912, dos 7 estabelecimentos fabris visitados pelos inspetores do Departamento Estadual do Trabalho, num total de 1775 operários, 1340 eram do sexo feminino. Em pelotas e Rio Grande, [...] segundo o Recenseamento de 1920, as mulheres compunham cerca de um terço da mão-de-obra industrial”.
[6] Ibid, 1459-1460.
[7] BATALHA, op. cit., p. 165.
[8] Nos parece de grande representatividade a naturalidade com que, em Ni dios, ni patrón, ni marido, o dono e diretor da indústria de tecelagem aborda uma funcionária recém-contratada, como se se tratasse, ali, de um legítimo direito seu.
[9] LIMA, L. O. Práticas invisíveis: o Movimento Feminista e o Sindicalismo no Brasil. Associativismo, profissões e políticas públicas – III Seminário Nacional de Trabalho e Gênero, p. 11.
[10] FRENCH, J. D. Proclamando leis, metendo o pau e lutando por direitos: A questão social como caso de polícia, 1920-1964. In: MENDONÇA, J. M. N.; LARA, S. H. (Org.). Direitos e justiças no Brasil: ensaios de história social. Campinas: Editora Unicamp, 2006, p. 386-387. Neste capítulo, de extrema importância para compreensão de algumas facetas do período, através da análise dos discursos e práticas dos governos de Washington Luiz e Getúlio Vargas, recorrendo à utilização do aforisma “A questão social é caso de polícia”, supostamente proferido pelo primeiro presidente, o autor busca evidenciar diversas continuidades da relação Estado-operariado na transição entre os governos que acabam por desaparecer em face das incontáveis rupturas assinaladas na narração histórica.
[11] LIMA, L. O. op. cit., p. 6.
[12] Para ver a respeito da dádiva e retribuição durante o governo Vargas, cf. GOMES, A. C. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ, 3ª ed., 2007, p. 246-254.
[13] CORTÊS, I. R. A trilha legislativa da mulher. In: PEDRO, J. M.; PINSKY, C. B. (Org.). Nova história das mulheres. São Paulo: Editora Contexto, 2012, p. 260-286.
[14] GOMES, A. C. Ideologia e trabalho no Estado Novo. In: PANDOLFI, Dulce. (Org.) Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999, p. 53-72.
[15] FRENCH, J. D. op. cit. p. 296 et seq.
[16] GOMES. A. C. Ideologia..., p. 53-72.
{C}[17]{C} SANTANA, M. A. Trabalhadores, sindicatos e regime militar no brasil. In: PINHEIRO, M. Ditadura: o que resta da transição. São Paulo: Editora Boitempo, 2014, p. 171.
[18] GOMES, A. C. Trabalhadores, movimento sindical e greves. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NoGovernoGV/Trabalhadores_movimento_sindical_e_greves> Acesso em: 01 de dez. 2014.
[19] SANTANA, M. A., op. cit., p. 171 et seq.
[20] DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. São Paulo: UNESP, 2004 apud LIMA, L. O., op. cit., p. 8.
[21] ROCHA SILVA, D. R. C.; SCARPELLI, C. D. B. Narrativas femininas e ditadura militar: a atuação das mulheres na greve operária em 1968 em Contagem/MG.
[22] GORENDER, J. Combate nas trevas. São Paulo, Ática, 1987, p.142 apud SANTANA, M. A. Ditadura Militar e resistência operária: O movimento sindical brasileiro do golpe à transição democrática. Política & Sociedade, Florianópolis, nº 13, p. 279-309, out. 2008.
[23] ROCHA SILVA, D. R. C. et alli., op. cit., p. 11; SANTANA, M. A. Ditadura Militar..., p. 288-289.
[24] LIMA, L. O., op. cit., p. 8.
[25] HIRSZMAN, L. ABC da greve. [Filme-vídeo]. Produção e direção de Leon Hirszman. São Paulo, Cinemateca Brasileira, 1990. 1 DVD, 85 min. color. son.
[26] SANDER, J. Corporeidades Contemporâneas: do corpo-imagem ao corpo-devir. Fractal: Revista de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 21 – n. 2, p. 387-408, maio/ago. 2009.
[27] ROLLEMBERG, D. Memórias no exílio, memórias do exílio. In: AARÃO REIS, D.; FERREIRA, J. (Orgs.). As esquerdas no brasil. Revolução e democracia (1964-...). Vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.