Amplamente disseminada durante os últimos meses, uma das maiores recomendações é o isolamento social. Para evitar contaminar-se e contaminar outros, é necessário adotar comportamentos como lavar as mãos frequentemente, não tocar o rosto e praticar distanciamento social, isolando-se em casa ou em uma comunidade (World Heath Organization, 2020).O problema é que o sistema educacional também parou, mudando drasticamente a rotina de milhares de estudantes por todo o mundo e prejudicando aqueles que não têm acesso ao conteúdo ministrado ou instrumentos para aprendizagem – livros didáticos e internet.
Mundialmente, apenas 55% das casas têm acesso a internet e mais de um bilhão de estudantes estão impossibilitados de participar das aulas remotas em inúmeros países (BROOM, 2020). Nos Estados Unidos, os alunos estão ausentes nas aulas como nunca visto antes. Com a maioria dos prédios escolares fechados e as aulas sendo transmitidas remotamente, os estudantes de baixa-renda que não possuem acesso a computadores e internet não conseguem acompanhar os encontros online (GOLDSTEIN, 2020). Pesquisas mostram que em 62% dos estados americanos a maior parte das pessoas não possuem acesso a internet com o mínimo de velocidade necessário e mais de 21 milhões de pessoas não tem acesso de forma alguma (HOLPUCH, 2020). No México, que possui uma realidade mais próxima à brasileira, os estudantes de zonas rurais e indígenas e de cidades e bairros afastados também sofrem com a falta de conexão e acesso à educação (VÁSQUEZ, 2020).
Os países que conseguiram com sucesso adaptar os sistemas de ensino à modalidade remota foram aqueles que antes da pandemia já possuíam experiência no uso da tecnologia em sala de aula, o que não é o caso do Brasil. O problema da maior parte da população mundial se repete entre os estudantes brasileiros de escolas públicas e população de baixa-renda, os quais dificilmente possuem computador e acesso a conexão em casa (LUPION, 2020). Em alguns estados do país a medida adotada é de transmissão por canais de TV aberta ou rádio. Outra tentativa de levar a educação ao maior número possível de estudantes é a parceria entre alguns governos estaduais e operadoras de telefonia, para que o uso de dados de internet móvel não seja cobrado desde que usada para fins educacionais. Porém o que foi feito não resolve de todo o problema de muitos estudantes. Alunos membros de famílias com grande número de pessoas, todas com necessidades diferentes para seus respectivos trabalhos e por vezes apenas um aparelho disponível em casa, ainda possuem dificuldade ao acompanharem as aulas transmitidas (LUPION, 2020). Restringindo ainda mais o raio desta análise, dados do Governo Estadual do Estado do Ceará, em 2018, destacam a necessidade de preocupar-se com o abismo da desigualdade social. 26,9% dos estudantes ouvidos na pesquisa não possuíam acesso algum a internet; 65,8% não tinham computadores; e 25,3% não dispunham de livros didáticos para acompanhamento das aulas (Diário do Nordeste, 2020).
Alunos de todas as idades e de todos os níveis de escolaridade vêm sendo prejudicados pela disparidade social acentuada pela pandemia. Os mais jovens perderão boa parte da base do conhecimento e os estudantes de ensino médio não terão, mais uma vez, a mesma oportunidade de entrar em uma faculdade que a classe privilegiada que pôde se dedicar aos estudos durante todo o isolamento social. Estas injustiças existiam desde antes da crise do coronavírus, mas foram acentuadas diante da necessidade de isolamento social – problema que vai além do nordeste brasileiro ou da América Latina.
Referências
Covid-19 Strategy Update. World Health Organization, 14 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/covid-strategy-update-14april2020.pdf?sfvrsn=29da3ba0_19. Acesso em 09 de maio de 2020.
BROOM, Douglas. Coronavirus has exposed the digital divide like never before. World Economic Forum, 22 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2020/04/coronavirus-covid-19-pandemic-digital-divide-internet-data-broadband-mobbile/. Acesso em: 09 de maio de 2020.
GOLDSTEIN, Dana; POPESCU, Adam; JONES, Nikole. As School Moves Online, Many Students Stay Logged Out. The New York Times, 04 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/04/06/us/coronavirus-schools-attendance-absent.html. Acesso em: 09 de maio de 2020.
HOLPUCH, Amanda. US's digital divide 'is going to kill people' as Covid-19 exposes inequalities. The Guardian, 13 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2020/apr/13/coronavirus-covid-19-exposes-cracks-us-digital-divide. Acesso em: 09 de maio de 2020.
VÁSQUEZ, María Cristina. Mexico’s COVID-19 distance education program compels a re-think of the country’s future of education. Brookings, 21 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.brookings.edu/blog/education-plus-development/2020/04/21/mexicos-covid-19-distance-education-program-compels-a-re-think-of-the-countrys-future-of-education/. Acesso em: 09 de abr. de 2020.
LUPION, Bruno. Como a pandemia de coronavírus impacta o ensino no Brasil. Uol, 05 de abr. de 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2020/04/05/como-a-pandemia-de-coronavirus-impacta-o-ensino-no-brasil.htm. Acesso em: 09 de abr. de 2020.
Alunos de escolas públicas enfrentam obstáculos no acesso remoto. Diário do Nordeste, 01 de abr. de 2020. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/alunos-de-escolas-publicas-enfrentam-obstaculos-no-acesso-remoto-1.2228974. Acesso em 09 de abr. de 2020.
WILKERSON, Brenda D. COVID-19 Jeopardizes The Future For Students And Employers. Forbes, 29 de abr. de 2020. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/brendadwilkerson/2020/04/29/covid-19-jeopardizes-the-future-for-students-and-employers/#36df1d8758c7. Acesso em: 09 de abr. de 2020.
