De novo – ou como sempre – um escândalo internacional envolve o banco HSBC. O banco sempre esteve associado à lavagem de dinheiro, como um verdadeiro paraíso fiscal para mega traficantes de armas e de drogas. Mais alguns detalhes do enredo sórdido do capitalismo que se alimenta do crime organizado, há mais de um século – desde a Guerra do Ópio, entre Inglaterra e China –, podem ser lidos na Revista Carta Capital, de 15/02/2015, em artigo de Vladimir Safatle. O banco nasceu com o título de HKSC, exatamente para lavar o dinheiro do tráfico de ópio.
Além da curiosidade mórbida, o que nós temos com isso? É simples, estima-se que 8.667 BRASILEIROS têm contas clandestinas neste banco, num total superior a 20 bilhões de dólares. O Brasil até agora não fez nada, especialmente depois que o HSBC foi posto na linha de tiro por jornais estrangeiros. Por que, então, entre nós nada se sabe, ninguém fala uma vírgula sobre o dinheiro esquentado dos “diamantes de sangue”?
Como se sabe, os diamantes de sangue são aqueles retirados de áreas de conflito na África e que estão envolvidos no financiamento de guerras étnicas e genocidas. Temos bilionários envolvidos nisso. Alguns com falência fraudulenta decretada e com ordem de despejo fajuta, fizeram sua imensa fortuna com esses diamantes sujos de sangue e sobre os cadáveres de mulheres e crianças. O capitalismo praticado por essas pessoas – além de envolvidos em crime internacional – nunca teve escrúpulo em escolher suas vítimas. Primeiro os chineses, depois os negros: todos pobres e famélicos.
Temos governadores ou senadores com as contas recusadas pelo TCE – Tribunal de Contas de seus Estados. Só um deles desviou cinco bilhões de reais que seriam destinados à saúde. Quanto disso estará na offshore? Quantos dos mais ricos do país não terão suas aplicações neste banco de diamantes de sangue? Quantos monopolizadores da mídia – mais interessados no impeachment da presidenta Dilma – não contam os lucros imorais e lá depositados?
A história toda – e que nem conhecemos um milésimo – tem assombrosa miscigenação realista entre o Mito do Fausto, no contrato de sangue com o Demônio, e a literatura de Dante. No seu Inferno, Dante diz há um lugar bem especial para os banqueiros. Balzac, no memorável Melmoth Apaziguado traz a descrição do papel social exercido por um caixa de banco ou agência de crédito (ou tráfico?). Um ser que lhe parece o verdadeiro produto antropomorfo da enfadonha vida burguesa. É equivalente à sorte do gato que sempre fica cara a cara com o rato engaiolado: o dinheiro escorre por seus dedos. Até o dia em que pactua com o Deus do capital, o Diabo em pessoa.
E o que mais dizer de seu Código dos Homens Honestos? Balzac é um literato, mas acima de tudo um autor preocupado com as sutilezas e revelações que suas personagens e enredos possam trazer à análise social. “A vida pode ser considerada um perpétuo combate entre ricos e homens”, nos diz. Os pobres assaltantes são “cossacos do Estado social”. É a luta de classes que distribui renda por meio da expropriação de privilégios? Está aí nossa relação demonizada com o HSBC.