Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

Michel Temer e seu regime fora-da-lei

Agenda 02/08/2016 às 10:53

As demissões em massa no Judiciário pretendidas pelo tirano acarretarão sérias consequências para os cidadãos e para o Brasil.

A CF/88 garante aos brasileiros e estrangeiros o direto de petição ao Poder Judiciário, bem como à rápida solução das demandas judiciais:

"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação."

O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que respectivamente prescrevem o seguinte:

"Artículo 8.  Garantías Judiciales

  1. Toda persona tiene derecho a ser oída, con las debidas garantías y dentro de un plazo razonable, por un juez o tribunal competente, independiente e imparcial, establecido con anterioridad por la ley, en la sustanciación de cualquier acusación penal formulada contra ella, o para la determinación de sus derechos y obligaciones de orden civil, laboral, fiscal o de cualquier otro carácter."

"Artigo 8°

Toda a pessoa direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei."

O governo interino está tentando reduzir as dívidas dos Estados mediante demissões em massa nos Judiciários estaduais http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/30/politica/1469839787_349415.html. Os líderes do golpe certamente pretendem usar isto como um pretexto para poderem, no futuro, enxugarem a Justiça Federal e a Justiça do Trabalho. Além de mais privatização e menos direitos sociais, a nova tirania quer afastar o povo brasileiro do Poder Judiciário. 

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

É absolutamente inadmissível o que se pretende fazer no Brasil. Se a tese do golpe vingar, a Justiça se tornará uma mercadoria cara e rara colocada à disposição apenas de uma ínfima parcela da população. Os brasileiros “menos iguais” perderão, numa canetada, o direito de recorrer ao Poder Judiciário sendo transformados em cidadãos de segunda categoria.

Na prática, o golpe estimulará a auto-tutela (a ser reprimida com violência policial extrema) e o renascimento de instituições coloniais. No Brasil, durante os primeiros séculos da colônia, havia uma clara distinção entre os nobres, agregados e negros/índios. Os primeiros resolviam suas disputas mediante acordos e raramente recorriam à Justiça do Rei. Os agregados, brancos pobres e mulatos livres, estavam sob a tutela dos senhores de terras e donos de engenho, que distribuíam justiça entre seus dependentes. Os demais eram coisas semoventes com valor econômico (negros) ou indesejadas (índios).

Suprema ironia, a destruição do Judiciário brasileiro ocorrerá com a ajuda dos juízes. Eles apoiaram o golpe do impedimento protagonizado por um criminoso (Eduardo Cunha) e liderado pelo agente da Embaixada dos EUA infiltrado no governo (Michel Temer). Em troca do aumento de salário que ganharam, os juízes serão obrigados e engolir tudo o que a nova tirania fizer.  

As dispensas em massa de servidores judiciários, porém, acarretarão uma imensa redução de prestígio e poder dos juízes. Eles serão os maiores derrotados pelo golpe que apoiaram. O mesmo pode ser dito da OAB e do MPF e dos Ministérios Públicos estaduais. Michel Temer pretende transformar juízes, procuradores e promotores em passarinhos numa gaiola de ouro enquanto os advogados passam fome porque não tem clientes ou porque os processos, além de serem poucos, não são resolvidos rapidamente.

O perigo para o novo regime é, contudo, evidente. Ao desmantelar seu Poder Judiciário o Brasil certamente provocará uma enxurrada de reclamações na Comissão de Direitos Humanos da OEA e no Tribunal da ONU. Em pouco tempo o país será declarado um Estado fora-da-lei , com as previsíveis sanções comerciais que apressarão o fim amargo e, eventualmente, violento da era Michel Temer.  

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!