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A aproximação da verdade através da cognição da cena de crime.

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Agenda 10/09/2017 às 13:55

Conclusão:

É basilar para a investigação, bem como para a persecução penal como um todo, a cognição de que a cena do crime, enquanto matriz inicial do fenômeno criminal, deve ser analisada com pormenores, cautela e zelo por parte do pesquisador policial. Tendo em vista que no instante em que qualquer ação humana se opera, esta acaba por deixar rastros e vestígios onde aconteceu e em suas imediações, estes fragmentos da verdade factual serão capazes da condução à aproximação máxima da autenticidade dos acontecimentos.

O trabalho de campo do investigador assume contornos relevantíssimos, na medida que o transcurso do tempo acaba, inexoravelmente, por apagar, desviar ou mesmo transformar os elementos abandonados pelos envolvidos na cena criminal, dificultando, sobremaneira, a possível elucidação delituosa. O avançar das horas representa a fluidificação da verdade.

Entretanto, o tempo não é o único algoz da investigação policial, a má preservação de um local de crime presta enorme desserviço neste sentido, colaborando, em muito, para a impunidade. São corriqueiros na rotina policial relatos de locais de crime repletos de populares curiosos, policiais não envolvidos na ocorrência, jornalistas ávidos por “furos” de reportagem etc. Enfim, personagens que ali estão por motivos outros e acabam por conduzir ao local componentes que acabarão turbando a investigação. Especialmente, em razão de que ali não deveriam estar, posto que não tem qualquer relação com a primordial e, por que não dizer, única urgência daquele momento: a apuração do crime.

Instrumentos como a recognição visuográfica do local de crime devem ser valorizados e o seu ensino difundido nas Academias de Polícia de todo país, pois mostra-se uma construção de doutrina policial eficiente, atenta aos ditames impostos ao hábil combate da criminalidade contemporânea e dirigida à imperiosa necessidade da associação dos métodos científicos ao raciocínio lógico e indutivo por parte do policial moderno.


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Notas

[1]“Investigators should approach the crime scene investigation as if it will be their only opportunity to preserve and recover these physical clues. They should consider other case information or statements from witnesses or suspects carefully in their objective assessment of the scene. Investigations may change course a number of times during such an inquiry and physical clues, initially thought irrelevant, may become crucial to a successful resolution of the case”.


A porta da verdade estava aberta

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

porque a meia pessoa que entrava

só conseguia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia os seus fogos.

Era dividida em duas metades

diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era perfeitamente bela.

E era preciso optar. Cada um optou

conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

(DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Verdade. In Corpo – Novos Poemas, Editora Record)

Sobre o autor
Sandro Vergal

Delegado de Polícia Civil do Estado de São Paulo, Professor Universitário e de Cursos Preparatórios, Mestre em Direitos Sociais, Difusos e Coletivos, pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal, pós-graduando em Balística.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

VERGAL, Sandro. A aproximação da verdade através da cognição da cena de crime.: Aspectos investigativos ligados à preservação e verificação do local de crime. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5184, 10 set. 2017. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/57684. Acesso em: 22 nov. 2024.

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