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Nietzsche, Locke e Hobbes: Golpe Militar, Lava Jato e autonomia da vontade

Agenda 02/06/2017 às 19:58

A Pólis brasileira sempre fora ameaçada. O enredo de 'autonomia da vontade' jamais existiu, principalmente neste início de século XXI. Tanto o Brasil quanto outros países vivem sob a Filosofia da Alcova.

É inegável que nos livros ou best-seller tudo é maravilhosamente explicado, pormenorizado. Thomas Hobbes dizia que o homem — "O homem é o lobo do homem" — necessitaria de um Rei para governar e dominar a natureza animal dentro de cada ser humano. O Rei evitaria os conflitos sociais. É importante falar que Hobbes via no liberalismo uma ameaça, já que o próprio ser humano seria incapaz de manter a paz, pois cada ser humano tem uma forma de pensar sobre viver e como viver, ou seja, opiniões divergentes, pela liberdade de expressão, causariam revoltas, inquietações. E nas divergências, sempre existiriam seres humanos, mal-intencionados, para tomar o poder. Hobbes não acreditava na democracia, mas na igualdade entre os seres humanos. Admitia algum déspota, desde de que este assegurasse a paz do povo.

John Locke concordava com Hobbes quanto ao 'contrato social', todavia discordava da necessidade de um líder absolutista para manter a paz entre os seres humanos (grupo social). Locke defendia que o Estado deveria defender e garantir a vida, a propriedade e a liberdade (direitos fundamentais do homem). Caso o Estado não cumprisse o seu dever, os governados poderiam agir pela força contra o próprio Estado.

Depreende-se que ambos filósofos tinham algo em comum, o contrato social. E contrato é respeito aos direitos de cada indivíduo inserido no grupo social seja regional ou, principalmente, dentro do país.

O poder encanta, fascina e corrompe. "Corrompe", não acredito, pois depende do âmago do ser humano. Um indivíduo que ganha acima das necessidades básicas e comete crimes ao erário, ocasionando enormes prejuízos aos demais indivíduos do grupo social, age pela Filosofia da Alcova. Diferentemente o indivíduo que comete crime para, por exemplo, dar de comer aos seus filhos, quando não há alimentos, ou quando estes alimentos não garantem a nutrição correta dos filhos — e recuso-me qualquer defesa de que é só catar comida nas latas de lixo ou nos aterros sanitários; também me recuso aos que pensam que alimentação com farinha e feijão garante o mínimo existencial. Sendo o Brasil um país de excelência agrícola, não há qualquer justificativa quando a alimentação diária não possui a maioria dos alimentos, em abundância, no Brasil.

No Golpe Militar (1964 a 1985), os empresários apoiaram os militares. Interesse em defender o país? Não! E não podemos esquecer que os movimentos sociais, sejam dos trabalhadores ou não, eram rechaçados pelos próprios militares e a sociedade civil. Recomendo o site Comissão da Verdade Paiva Neto.

Na Lava Jato, os empresários, concomitantemente com os agentes, deflagram a maior crise econômica na História brasileira. O Estado Social ficou comprometidíssimo. O estarrecedor disso tudo, neste momento de Lava Jato, deve-se ao flexibilizar os contratos trabalhistas. Nessa questão, o advogado Jacinto Sousa Neto, através de seu artigo Reforma ou deforma trabalhista, explica muito bem sobre o Projeto de Lei nº 6.787/16.

Claro que não são todos os empresários ou agentes, porém quanto mais a Lava Jato cava, mais desenterram-se os objetos dos crimes. Tanto Hobbes quanto Locke acreditavam na imprevisibilidade do ser humano, na sua natureza ambígua, ora bom, ora perverso. Locke era otimista, Hobbes não. De forma 'acredito, mas quero garantias', foi promulgado a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. E a participação, ativa, da sociedade é importantíssima.

No entanto, o que se vê é defesa de interesses antissociais. De um lado, os que se dizem defensores do capitalismo, porque é liberdade. De outro, os que defendem a intervenção do Estado para garantir dignidade para todos. E a Lava Jato comprovou que ambos não passam de mentirosos, salvos alguns.

No Golpe Militar, a justificativa era de que os comunistas queriam modificar, perverter a sociedade brasileira. O que Nietzsche diria da sociedade brasileira daquela época? Um bando de alienados que não viviam pela própria potência, contudo erigindo ídolos, seguindo mitos. Uma era de superstições e medos. Para a Marcha da Família com Deus, os comunistas queriam destruir os valores sagrados da família — neste início de século XXI já sabemos quais são: mulher como mera serviçal do homem; sexualidade reprimida; filhos sem opiniões, pois são eternos idiotas, a menos que assumissem por inteiro o utilitarismo; liberdade de expressão conforme os ideais da cleptocracia e do Catolicismo; negros como subespécies etc. Seriam os comunistas, e filósofos afins, seres niilistas; indivíduos que promoveriam bacanais, pedofilia, bissexualismo, pois nada seria proibido. Deus Morreu!

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Para quem nunca leu Friedrich Wilhelm Nietzsche, a não ser resumos defendendo pontos de vista, Nietzsche era um pervertido de marca maior. Conquanto o niilismo de Nietzsche não é 'faça tudo o que sentir desejo'. Pelo contrário. Nas palavras dele, quem vive pelos desejos é conduzir a vida sem qualquer valor superior. Ora, e por qual razão Nietzsche era contra qualquer doutrina? Porque os seres humanos não deliberavam, apenas faziam o que os outros mandavam, recomendavam. E havia muita hipocrisia social e formas de pensamentos no ocidente de que a vida na Terra não valia nada, somente a vida fora da Terra; a Terra deve ser blasfemada, repudiada, assim como o corpo físico. Assim era o modelo mental de 'vida boa'. Na esteira dos 'perversos' e 'revoltados', Giordano Bruno, Baruch Spinoza, Martinho Lutero, Michel Foucault, Hanna Arendt. Porque todos foram além do utilitarismo, discordaram dos ídolos, das verdades absolutas, as utopias.

Qualquer assunto divergente é um perigo à paz. E o Código Penal do Inimigo deve ser amplamente aplicado. Salvo quanto aos atos 'normais': furto de energia elétrica; fraude no Enem, no processo de habilitação de trânsito terrestre; no refutar o 'politicamente correto' (não há nada demais chamar uma pessoa de 'macaca', 'rolha de bueiro' quando é gorda etc.); tirar o alarme da vestimenta ou trocar o preço para enganar o lojista; ter frota de ônibus que parece mais um 'trem dos horrores'; pagar um menor de doze anos para se ter sexo porque este já se prostituía; conseguir exame médico para justificar falta e ir ao jogo do Brasil ou aproveitar o final de semana estendido; vender o voto para conseguir cargo comissionado; mandar prender o administrado que reclama da lentidão do agente administrativo; punir agente de trânsito que teve a ousadia de não respeitar o deus juiz que está cometendo infração de trânsito; a proteção do foro privilegiado.

A PPPI (Parceria Público-Privada Ímproba) sempre existiu no Brasil. Porque no solo das oportunidades, vence quem segue Marquês de Sade. Há agentes e empresários probos, os quais querem um país humanizado. É necessário um martelo (Filosofia do martelo) para martelar os ídolos (modelos mentais escravizantes). Se existe uma liberdade (autonomia da vontade), por que os profissionais de marketing e publicidade gastam horas e mais horas pesquisando como atrair mais e mais consumidores? Por que usam e abusam da psicologia comportamental? Logo, o consumir é um deslocamento de tudo o que o ser humano quer para o que não é. E o consumismo é um mito, o qual permite alcançar os desejos. Seja feliz pelas pulsões ao extremo. Seja um niilista, não ao estilo de Nietzsche, sem qualquer objeção. E quando a realidade da vida surgir — não há abundância infinita —, procure aplacar suas frustrações com mais pulsões.

Como dizia Nietzsche, "Os homens inventaram o ideal para negar a realidade". E o que diria Nietzsche neste início de século XXI? Possivelmente:

"Os homens inventaram o consumismo como ideal para negar a realidade da vida. Se a felicidade estava fora da Terra, ela agora está na Terra. A felicidade pode ser comprada. Não há limites para saciar os desejos enquanto houver dinheiro. O outro é objeto de prazer. Um corpo a ser usado, saciado e, no final do gozo, descartá-lo. Não há necessidade de pensar enquanto celebridade, porque há a terceirização da tirania (modelo mental terceirizado) pelos novos ídolos, como estilistas, coach, produtor de eventos. Não há necessidade de pensar enquanto existem ídolos políticos e religiosos dizendo qual a melhor política ou religião. Primeiro porque o tempo é escasso. Segundo, pelo tempo escasso é necessário trabalhar mais e mais. No final, o que importa é a própria sobrevivência.

Os homens criaram leis de contenção à mulher para que estas pudessem servi-los. Os poderosos criaram o Código Penal do Inimigo para punir quem pensasse diferente ou agisse, mesmo que protegendo a própria dignidade humana, contra os valores supremos dos ídolos. Os homens criaram a monogamia como forma de vida boa, mas permitiam que somente eles mesmos pudessem saciar seus desejos em prostíbulos cujas mulheres já foram filhas de famílias honradas, mas por perderem a virgindade foram expulsas de seus lar doce lar. Em nome da paz social, manda aprisionar quem mata com arma de fogo, contudo não há mobilização tenaz contra quem mata no trânsito. Usa-se da religião para atrair dizimistas, pois Deus necessita de dinheiro. Invoca-se a justiça de Deus para punir a mulher adúltera, o sodomita, e depois vão rezar pedindo perdão pelos pecados praticados (gula, preguiça etc.). Dizem o que não se deve comer, mas contaminam o meio ambiente. No final, apenas ídolos sobre ídolos. Consagram a volumosa colheita agrícola, sem que se fale dos agrotóxicos. Exaltam o Produto Interno Bruto como possibilidade real de uma vida melhor para todos, porém, por que os países ditos democráticos e capitalistas possuem altíssimas taxas de desigualdades sociais? Dizem que cada qual pode fazer o que bem quiser, desde de que não faça mal ao outro. E o que é não fazer mal? Se o não fazer mal não é forçar uma pessoa a não fazer o que queira contra a sua própria vontade, então não há nada demais pagar uma criança de dez anos para ter relação sexual. Não há nada demais elevar o preço em tempos de desastres naturais. Por que Deus morreu, e não terá nada na Terra que vá punir o indivíduo que se aproveite da miséria alheia, da ingenuidade alheia. E cada pessoa poderá saciar as suas pulsões. Negá-las ou suplantá-las é contra a autonomia da vontade.

Essa autonomia niilista distorcida da minha. O outro é objeto de saciar o desejo de outro ser humano. E esse segue suas pulsões como se fosse um ídolo, um deus. Se antes o sacrifício era necessário para saciar os deus fora da Terra, agora o sacrifício antropofágico é necessário para agradar os próprios deus humanos.

Se uma sombra aterrorizou a Europa durante séculos, uma bem pior aterroriza a humanidade em todos os lugares deste orbe. É preciso martelar para destruir os novos ídolos e os modelos mentais de vida boa."

Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

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