Desde a CF de 1988, a Administração Pública passou por profundas alterações estruturais, voltadas para a descentralização e a gestão democrática dos recursos humanos, com destaque para as figuras do líder e seus seguidores no ambiente corporativo.
No âmbito policial, as coisas não foram diferentes, embora o radicalismo de uma vetusta e arcaica estrutura hierárquica centenária tenha diminuído o impulso e a velocidade das mudanças. Em suma, a atividade policial do Estado irrompe para a preservação da paz pública, a segurança dos presídios e para o exercício da investigação criminal, nos termos do art. 144, §§ 4º, 5º e 5ºA, CF.
As transformações operadas no mundo pela globalização da economia, pelos avanços da engenharia genética, pela robótica, pela nanotecnologia etc repercutiram em demasia na necessidade de serviços públicos essenciais eficientes e de qualidade, prestados pelo Poder Público, com redução de custos e satisfação dos interesses da coletividade.
Nessa trilha se encontra, por óbvio, o serviço público policial. A exigência de renovação comportamental da Administração, frente aos novos desafios do século XXI, mostrou que há indisfarçável compulsoriedade de conduta funcional uniforme por parte das autoridades policiais civis, baseada na autonomia decisória nos atos de polícia judiciária, na ética, comprometimento e adoção de um ideário comum de valores e princípios institucionais.
Destarte, para que a Administração Policial possa ser reconstruída, importante que se imponham alterações administrativas (como uma nova lei orgânica mais enxuta e garantista), políticas (eleição do DGP em lista tríplice, para mandato fixo de 2 anos) e financeiras (autonomia orçamentária), as quais somente serão possíveis, se existirem como instrumentos operacionais o líder e seus seguidores.
Para tanto, o líder deverá ter facilidade de trânsito entre seus discípulos, corrigindo falhas e faltas em busca da excelência da atividade-fim: a efetiva sensação de segurança dos cidadãos, que não pode ser mascarada com estatísticas criminais mirabolantes ou levianas.
No seio das corporações policiais há que se diferenciar chefe de líder. Chefe é qualquer pessoa investida no poder de mando e para ser chefe, basta dar ordens e “cobrar produção”. Geralmente, o Chefe centraliza as decisões em si, não as divide com os subordinados, retém as informações vitais, não estimula a formação de talentos e é subserviente com seus superiores, bajulador dos poderosos, mas implacável e vilão com seus subalternos.
É um modelo clássico e ultrapassado, mas ainda encontradiço no serviço público, mormente na seara policial, caracterizando-se no dia-a-dia por apontar falhas em seus subordinados para poder depois punir, humilhar, menoscabar, não raro comprometendo o desempenho estrutural da Instituição. Jamais ouve a opinião alheia, sempre procura mostrar os defeitos de seus subalternos para, assim, impor sua “autoridade” pelo temor. É o chamado chefe autocrático que manda, mas não comanda. A história é pródiga deles (Hitler, Mussolini, Vargas etc). Daí ser objeto de piadas e apelidos jocosos por parte de seus subordinados, tais como: “Capo”, “Chefão”, “El Diablo”, “Big Boss”, “Cavalo-Burro” (cavalo demais para ser burro e burro demais para ser cavalo) e outros que tais, inspirando apenas antipatia e desconfiança.
De outra parte, surge o líder, que é aquele capaz de influenciar e motivar as pessoas a fazerem o seu melhor. Incentiva a equipe em torno do objetivo comum à Instituição, fazendo-a crer no resultado melhor como consequência dos esforços mútuos! É um ser agregador de talentos, convergindo-os para o bem comum, representado pela investigação policial de ponta, de qualidade, com identificação e posterior prisão do criminoso.
Na atividade policial, o líder, a par dos indispensáveis conhecimentos técnico-jurídicos, deve se pautar pela ética, pela exemplaridade, confiabilidade e sempre demonstrar ao seu subordinado o elogio merecido, elevando sua autoestima e potencializando sua criatividade e autonomia. A liderança anda de mãos dadas com a coerência e a integridade.
Apesar de raros, os líderes ainda não foram extintos. O líder é a melhor usina de talentos de qualquer instituição que se preze. Ele fornece informações claras e precisas, encoraja e motiva o grupo a alcançar o resultado. Não há lugar para mistérios e segredos, próprios de chefetes covardes e inseguros. Além da habilidade e conhecimento, o líder deve ter integridade, revelada por suas ações.
Como bem anotou a profa. Vera Melo, da Universidade de Lisboa,
“tratar os outros como lixo enfraquece o desempenho das pessoas, a sua capacidade de tomar decisões, a sua produtividade, criatividade, mas acima de tudo, a sua disponibilidade e motivação. Uma falha clara na gestão de pessoas, um atraso no caminho para a competitividade organizacional. Quem o pratica, acredita piamente que se trata da melhor solução. No entanto, mais do que um idiota, não passa de um falhado como ser humano”.
Por isso, na frieza do ambiente policial, cabe ao líder motivar, unir, enaltecer, elogiar e reconhecer o trabalho de sua equipe, afinal o último objetivo de todos é a busca da felicidade, caracterizada em completude com o trabalho bem feito reconhecido. Nunca é demais lembrar que sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas.