5. CONCLUSÃO
O presente ensaio buscou relacionar alguns aspectos analíticos que, na opinião do autor, ficaram mais latentes após a obra de Virgínia Woolf. A obra parece um grande incentivo a uma reflexão crítica sobre a temática do feminismo e de gênero, sem se render a estereótipos e sectarismos.
Estas leituras são importantes não só para uma reflexão acadêmica tradicional, comumente repetida nas salas da graduação e da pós-graduação pelo Brasil. Discutir o tema de Gênero e Direito é refletir sobre as reais possibilidades de emancipação de homens e mulheres, não negando o processo histórico desumanizador e opressor ocorrido, que, infelizmente, mesmo não sendo o mesmo da época de "Um teto todo seu" ainda perdura.
As possibilidades de um diálogo entre a tradição feminista, as correntes da teoria crítica com uma leitura materialista da história, parecem-nos ainda em aberto. Na verdade, além de aberto, esse diálogo é necessário, para evitar naturalizar o que é produto histórico. Parafraseando Brecht, poderíamos dizer que "em tempos de humanidade desumanizada, nada pode ser impossível de mudar".
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVILA, Maria Betânia. O tempo e o trabalho das mulheres. In: LIMA, Maria Ednalva Bezerra de (et all). Um debate crítico a partir do feminismo: reestruturação produtiva, reprodução e gênero. São Paulo: CUT, 2002.
COMBES, Daniéle; HAICAULT, Monique. Produção e reprodução: relações sociais de sexos e de classes. In: KARTCHEVSKY, Andrée (et all). O sexo do trabalho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
DUARTE, Eduardo de Assis. Virginia Woolf: a androginia como desconstrução. UFMG, 2004. Disponível em: http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/artigo_eduardo.htm
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MÜLLER, Ricardo Gaspar. Realismo e Utopia: E. P. Thompson e o Exterminismo. Comunicação apresentada no Simpósio 5, Mundos do Trabalho, durante o X Encontro Estadual de História: Trabalho, Cultura e Poder e II Jornada Nacional de História do Trabalho. ANPUH/SC, 2004. Disponível em: www.labhstc.ufsc.br/jornada/textos/Ricardo_Muller.doc
OLSEN, Frances (2000). El sexo del derecho, In: RUIZ, Alicia E. C. (Compil.). Identidad femenina y discurso jurídico. Buenos Aires: Editorial Bilos.
SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter (Org) A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.
WOOLF, Virgínia. Um teto todo seu. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Notas
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Tal imagem é descrita no filme "As horas", baseada em livro homônio de Michael Cunningham, que conta a história de três mulheres de épocas distintas, uma delas a própria Virgína Woolf interpretada por Nicole Kidman. Uma obra de Woolf une as três personagens, o romance "Mrs. Dalloway", que narra a história de uma mulher preparando uma festa num único dia.
A esse respeito, ver algumas considerações biográficas no site: http://www.leme.pt/destaques/diadamulher/
Até pouco tempo antes, no fim do séc. XIX, não era permitido o acesso das mulheres ao ensino superior. Na época, o acesso ainda era extremamente limitado, havendo duas Faculdades criadas para receber as mulheres.
Nunca é demais relembrar que falamos da Inglaterra em pleno desenvolvimento capitalista do início do séx. XX.
Para mais sobre as relações entre produção e reprodução, indicamos o artigo. "Produção e reprodução: relações sociais de sexos e de classes" de Combes e Haicault (1986). Ver bibliografia.
Para mais sobre o tempo das mulheres, ver o texto de Maria Betânia Ávila (2002) na bibliografia.
Para mais sobre o processo de sexualização e hierarquização do direito enquanto instância masculina. Ver Olsen (2000).
Embora consideremos que o termo "independência" não é o mais correto, decidimos utilizá-lo no lugar de "liberdade", posto que seria contraditório falar, materialistamente, que o dinheiro liberta. O vocábulo aí é usado no sentido de deslocamento (do poder exercido pelo homem e pela pobreza).
Materialista no sentido marxiano do termo: a anterioridade do concreto em relação às ideias, que não tem "autonomia" descolada da realidade.
É interessante notar a liberdade da autora na construção do ensaio, que é ao mesmo tempo romance e ensaio, ensaio e ficção. Com tantos recursos imagéticos, a exposição aparece rica e profunda sem parecer supérflua e os saltos entre essas três perspectivas é profundamente inovador esteticamente.
Edward Thompson é um grande historiador inglês responsável por várias obras que recuperam uma "História Social Inglesa" buscando nas fontes dar voz aos que foram sempre escamoteados da história oficial. Esse processo de dar voz aos marginalizados da história chama-se "história vista de baixo". Para mais, ver MULLER (2004)
Por exemplo, SCOTT (1982) e Duarte (2004). Os dois textos relacionam a idéia de suplemento como descontrução e indicam uma postura pós-estruturalista de negação da dialética enquanto método para compreender as interações entre opostos.