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Atenção ao real alcance da Súmula 385 do STJ:

a inscrição anterior no Serasa/SPC como devedor não exclui a reparação de danos morais ao consumidor quando há nova inscrição indevida pelo fornecedor

Resumo:


  • Recente julgado do STJ esclareceu a aplicação da Súmula 385 em casos de inscrição equivocada em órgãos de proteção ao crédito.

  • A Súmula 385 se aplica especificamente a ações contra os órgãos de cadastro que não realizam notificação prévia, não afastando a responsabilidade de fornecedores por inscrições indevidas.

  • O STJ orienta que fornecedores devem responder por danos morais mesmo em casos de inscrições indevidas, independentemente de existirem inscrições anteriores, contrariando interpretações genéricas da Súmula 385.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

São equivocadas as decisões que negam reparação de danos aos consumidores com débitos irregularmente inscritos junto aos órgãos de cadastro de inadimplentes, por terem inscrições anteriores, com base na Súmula 385 do STJ.

Um recente julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) merece atenção, pois explicita a motivação e a aplicação da sua Súmula 385 causadora de grande repercussão aos consumidores.

A Súmula 385, do STJ foi proferida para unificar o entendimento de que quando um órgão de proteção ao crédito (SPC, SERASA, etc) inscreve um devedor em seus cadastros de inadimplentes de forma equivocada, mas, caso haja em nome desse devedor débitos legítimos inscritos anteriormente, não haveria dano moral a ser ressarcido. A rasa aplicação dessa súmula repercutiu seriamente inúmeras demandas judiciais de consumidores que foram indevidamente cadastrados por fornecedores, sendo negado o seu direito de reparação pelo dano moral causado por esses atos. (exemplos.: Rec.Cível n. 710037881531, 3a. Turma Recursal Cível do TJ/RS, julg. 29.11.2012;  Ap. Cível n. 61152/2013, 1a. Câmara Cível do TJ/MT, DJE 21/11/2013; Ap. Cível n. 87522720118260405, 3ª Câmara de Direito Privado do TJ/SP, DJ 01/12/2011).

Contudo, no Agravo em Recurso Especial n. 364.115-MG, da 4ª Turma do STJ, julgado no final do ano de 2013 (DJ 11.12.2013), a origem e a finalidade da súmula 385 foram esclarecidos. Conforme o julgado, a interpretação da Súmula 385 é específica, aplicando-se apenas a ações de reparação do danos ajuizadas contra  os órgãos de cadastro de proteção ao crédito, quando esse deixa de realizar notificação prévia prevista no art. 43, §2º, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Assim, não afasta a responsabilidade pelos danos causados por outros agentes (fornecedores) que, baseados em cobrança de dívidas em excesso, indevidas ou já pagas, realizam a inscrição do consumidor/devedor em tais cadastros. Salientam-se trechos do voto condutor, proferido pelo Rel. Min. Raul Araújo (sublinhados nossos):

“Conforme consignado na decisão ora agravada, o acórdão recorrido não contraria  o entendimento consolidado na Súmula 385 desta Corte. Isso, porque, consoante se verifica na  leitura dos julgados que deram origem ao referido enunciado sumular, esse tem aplicação  específica, referindo-se apenas às hipóteses em que a indenização é pleiteada em face do órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito, que deixa de providenciar a notificação prevista  no art. 43, § 2º, do CDC antes de efetivar a anotação do nome do devedor no cadastro. A  propósito, confiram-se os AgRg no REsp 1.046.881/RS, AgRg no REsp 1.057.337/RS, AgRg no REsp 1.081.404/RS, AgRg no REsp 1.081.845/RS, REsp 992.168/RS, REsp 1.002.985/RS,  REsp 1.008.446/RS e o REsp 1.062.336/RS(…)

(...)

A hipótese dos autos, porém, refere-se à inscrição indevida pela inexigibilidade do débito, situação que não se amolda à questão tratada nos precedentes que deram origem ao referido enunciado sumular. Portanto, a existência de inscrições regulares realizadas anteriormente não afasta o dever de indenizar.”

Ademais, as decisões judiciais que negam reparação de danos aos consumidores com débitos irregularmente inscritos junto aos órgãos de cadastro de inadimplentes, por terem inscrições anteriores, com base na Súmula 385 do STF, fundamentam-se em entendimento inadequado segundo a própria súmula.

A real orientação do STJ é de que quando o fornecedor inscreve arbitrariamente o cliente no cadastro de proteção ao crédito, havendo ou não inscrições anteriores, não o isenta de responder pelos danos morais decorrentes de tal ato. Isso porque a súmula tem aplicação específica nos casos de ações movidas contra os órgãos de cadastro de proteção ao crédito.

Dessa forma, está clara a necessidade de revisão da jurisprudência dos tribunais que aplicam de forma genérica a Súmula 385, do STJ, para alinharem seus entendimentos a corte superior, e garantirem o direito a reparação dos danos morais aos consumidores prejudicados por inscrições indevidas nos órgãos de proteção ao crédito.

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Sobre os autores
Gustavo Vettorato

advogado militante em Porto Alegre e Cuiabá, pós-graduando em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) e em Economia Agroindustrial pela Universidade Federal do Mato Grosso

Camila Fleury CanesinVettorato

Advogada em Cuiabá-MT, graduada em Ciência Jurídicas e Sociais (PUC/GO - 2005), especialista em Direito Processual (UNISUL-2009).

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

VETTORATO, Gustavo ; CANESINVETTORATO, Camila Fleury. Atenção ao real alcance da Súmula 385 do STJ:: a inscrição anterior no Serasa/SPC como devedor não exclui a reparação de danos morais ao consumidor quando há nova inscrição indevida pelo fornecedor. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 3909, 15 mar. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/26915. Acesso em: 22 dez. 2024.

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