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Análise da obra ‘São Bernardo’ de Graciliano Ramos à luz do direito da mulher:

Paulo Honório e a caracterização da opressão de gênero

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01/11/2014 às 12:40

Resumo:


  • O artigo analisa a opressão de gênero na obra "São Bernardo" de Graciliano Ramos, destacando a cultura do estupro e a coisificação da mulher representadas pelo personagem Paulo Honório.

  • Aborda o papel da mulher na sociedade patriarcal da época, a imposição do casamento e da maternidade, e a contradição entre a valorização da educação feminina e a manutenção de seu papel tradicional no lar.

  • Discute a educação e a emancipação da mulher, exemplificada pela personagem Madalena, que se destaca por sua inteligência e busca por igualdade, e cujo suicídio simboliza a resistência contra a opressão de gênero.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

4. A educação e a emancipação da mulher por meio das conquistas acadêmicas e profissionais

A sociedade na qual viveu Madalena valorizava a mulher casada, voltada para as atividades do lar, apta a maternidade, com comportamentos discretos, atitudes reservadas e um discurso de submissão ao marido. A mulher de Paulo Honório, entretanto, era professora, lia e escrevia bastante, tinha seus artigos publicados no jornal e era adepta de ideais de justiça e igualdade.

Paulo Honório, ao longo da narrativa, demonstrava aprovação aos conhecimentos da esposa, enaltecendo a sua inteligência e capacidade, bem superior às outras mulheres com quem costumava lidar, que não foram à escola normal.

E embuchei, afobado. Até então os meus sentimentos tinham sido simples, rudimentares, não havia razão para ocultá-los a criaturas como a Germana e a Rosa. A essas azunia-se a cantada sem rodeios, e elas não se admiravam, mas uma senhora que vem da escola normal é diferente. (RAMOS, 2001, p. 80).

Outras vezes, todavia, contraditoriamente, desagradava da instrução de Madalena, tratava os estudos como algo desnecessário e infrutífero, sem qualquer aplicação prática.

- Ah! Faz artigos!

- Sim, muito instruída. Que negócio tem o senhor com ela?

- Eu sei lá! Tinha um projeto, mas a colaboração no Cruzeiro me esfriou.

Julguei que fosse uma criatura sensata. (RAMOS, 2001, p. 84).

Bem como no trecho:

- Já. Lutou muito. Mas acredite que Dona Glória tem desenvolvido mais atividade que você.

- Estou esperando. Que fez ela?

- Tomou conta de mim, sustentou-me e educou-me.

- Só?

- Acha pouco? É porque você não sabe o esforço que isso custou. Maior que o seu para obter São Bernardo. E o que é certo é que Dona Glória não me troca por São Bernardo.

Vaidade. Professorinhas de primeiras cola normal fabricava às dúzias. Uma como São Bernardo era diferente. (RAMOS, 2001, p. 115-116).

O comportamento da esposa após as primeiras semanas de casamento começam a surpreender ainda mais Paulo Honório. O interesse dela por seu trabalho, pelas coisas da fazenda e pelos livros no escritório esfriam a excitação inicial do protagonista quando Madalena começa a falar das necessidades dos empregados e cobrar salários mais justos.

Mas aconselhei-a a não expor-se:

- Esses caboclos são uns brutos. Quer trabalhar? Combino. Trabalhe com Maria das Dores. A gente da lavoura só comigo.

- A ocupação de Maria das Dores não me agrada. E eu não vim aqui para dormir.

- São entusiasmos do princípio.

- Outra coisa, continuou Madalena. A família de Mestre Caetano está sofrendo privações.

- Já conhece Mestre Caetano? Perguntei admirado. Privações... é sempre a mesma cantiga. A verdade é que não preciso mais dele. Era melhor ir cavar a vida fora.

- Doente...

- Devia ter feito economia. São todos assim, imprevidentes. Uma doença qualquer, e é isto: adiantamentos, remédios. Vai-se o lucro todo.

- Ele já trabalhou demais. E está tão velho! (RAMOS, 2001, p. 95-96).

Madalena não segue o padrão vigente. O trabalho doméstico a entedia, prefere conversar com os trabalhadores, ouvir suas queixas, andar pela lavoura e, nas palavras do narrador, “expor-se[18]”.

Solteiras ou casadas, fictícias ou reais, são exemplos de mulheres rompendo com os papéis determinados para elas, no começo do século XX.

Madalena não tem o perfil da dona de casa, que satisfazia os padrões daquela época. Ela quer mais do que administrar uma casa; quer expor-se, ser útil publicamente, utilizar seus conhecimentos em benefício das pessoas. Toma parte nas conversas entre homens, porque é capaz de falar em pé de igualdade ou de superioridade. Preocupa-se com a escola que existe na fazenda; critica a metodologia utilizada pelo professor, sugere a aquisição de material didático. (NUNES e MORAIS, 2005).

Assim como a personagem de Graciliano Ramos, as mulheres na década de 30 também viviam sob a restrição do lar. Até a aprovação do Código Eleitoral de 1932 e a posterior recepção pela Constituição da República de 1934, o voto feminino ainda era proibido, a mulher não possuía qualquer lugar na política. De acordo com Maria Berenice Dias (2013):

O ingresso da mulher no mercado de trabalho ocorreu com a Revolução Industrial, que buscou na mão-de-obra feminina a forma de baratear custos. Sua baixa auto-estima a fez aceitar remuneração inferior, ainda quando no desempenho da mesma função. Esse fato levou-a para fora do lar, começando a contribuir no sustento da família, mas os encargos domésticos continuaram sob sua exclusiva responsabilidade. Mais: a sacralização da maternidade, a condição de rainha do lar, responsável pela mantença do perfil moral da família, não permite reverter a condição de submissão que lhe foi imposta. Por isso, em nome da família, por amor aos filhos, por medo da rejeição social, mantém-se a mulher em uma posição de inferioridade. Tal gera um sentimento de propriedade, arvorando-se o homem no direito de agredir quem ousa lhe desobedecer.

Será exatamente esse sentimento de propriedade de Paulo Honório que intensificará os atritos no matrimônio visto que, imbuído de um misto de desprezo, ciúmes e complexo de inferioridade diante da educação da mulher, o protagonista não conseguia mais lidar com a crescente influência de Madalena na fazenda.

Madalena comentava fatos da escola normal. [...] A escola normal! Na opinião de Silveira, as normalistas pintam o bode, e o Silveira conhece instrução pública nas pontas dos dedos, até compõe regulamentos. As moças aprendem muito na escola normal.

Não gosto de mulheres sabidas. Chamam-se intelectuais e são horríveis. Tenho visto algumas que recitam versos no teatro, fazem conferências e conduzem o marido ou coisa que o valha. Falam bonito no palco, mas intimamente, com as cortinas cerradas, dizem:

 - Me auxilia meu bem. (RAMOS, 2001, p. 135).

À mulher cabiam os serviços domésticos, as que ousassem sair do padrão eram ridicularizadas. Um binômio que se mantem, ou “santa” ou “puta”. A luta pelo ensino superior e chefia no emprego também são motivos para a depreciação, a perspectiva histórica é de que a mulher bonita deve procurar manter a estética exemplar e ter um bom casamento, sendo o esforço acadêmico privativo das feias e das assexuadas. É possível ainda hoje ouvir frases do tipo “não estude tanto, mulher inteligente assusta os homens”.

Pois Madalena rompia com o modelo de mulher ideal e o fato de “ler, inclusive em outras línguas, escrever para jornais, participar das conversas sobre política, [...], não demonstrar interesse por religião nem pelas atividades domésticas, causavam em Paulo Honório desconfiança e complexo de inferioridade” (NUNES; MORAIS, 2005).

A evolução dos costumes, o afastamento entre o Estado e a Igreja, a inserção da mulher no mercado de trabalho, o surgimento dos métodos contraceptivos, em nada contribuíram para o surgimento de uma nova imagem de mulher.

[...], o livre exercício da sexualidade até hoje é causa de desprestígio. Aliás, a forma de agredir uma mulher é chamá-la de prostituta. Quem “dá pra qualquer um” é maldita, é “boa pra cuspir”, a Geni da música de Chico Buarque de Holanda.

A tentativa de buscar um espaço de igualdade e resgatar a cidadania também acabou sendo rotulada. Quem empreendeu a luta emancipatória passou a ser chamada de “feminista”: mulher feia, mal amada, homossexual, que está querendo ocupar o lugar do homem. Essa reação teve o grande mérito de sustentar a hierarquização entre os gêneros.

Aliás, é muito confortável manter essa visão dicotômica das mulheres, ou boas ou ruins, ou santas ou putas. Assim, nada atrapalha a superioridade masculina, continuando os homens como os donos do poder. (DIAS, 2000)

Os conflitos de pensamento foram se intensificando até que o casamento se tornou insuportável, cansada das desconfianças e do ciúme excessivo, Madalena se suicida. Não há como afirmar que a culpa tenha sido de Paulo Honório, talvez antes, a culpa tenha sido da sua vida agreste, que lhe deu uma alma agreste (ROSA, 2001, p. 100).


5. Madalena: o suicídio e o grito de socorro

Vários estudiosos quando desejam descrever personagens como Madalena ou Ana Karenina de Tolstói e Emma Bovary de Flaubert usam a expressão “à frente do seu tempo”. A coincidência a se atentar é que todas elas sofreram amargamente por ter uma visão aguçada da realidade. São três fins trágicos, três mulheres que desistiram de viver.

O sufocamento, o tédio, os desejos não passíveis de realização. Talvez o comum nessas histórias seja o fato de que todas as personagens se cansaram de continuar em um século que não era o seu, não possuíam qualquer relação ou obrigação com aquela sociedade, talvez esperassem no além encontrar respostas para seus anseios. Triste constatar, entretanto, que muito daquilo que buscavam continua inalcançável para diversas mulheres mesmo nos dias atuais. Alguns maridos ainda agem como donos de suas esposas, controlados pelo ciúme e possessão, tratam-nas tal qual Paulo Honório tratava São Bernardo.

Além dos casos de suicídio, como o de Madalena, ou de agressão física, como o de Germana, há ainda histórias mais trágicas, nas quais mulheres são assassinadas em decorrência do gênero. É o chamado “feminicídio”[19]:

Em todos esses casos, o que se tem em comum é o fato de as vítimas serem mulheres, e estarem sendo coagidas a cumprir o papel que aquela sociedade destina a elas. As mulheres que não se adaptam a esse sistema (“desobedientes”, “vadias”, prostitutas, de gênio forte, dentre outros termos afins) perdem o direito à autonomia e à própria vida. As agressões a elas são toleradas, inclusive pelo Estado, suas mortes não são lamentadas e seus agressores não serão punidos; muitas vezes, serão até glorificados. (SEMÍRAMIS, 2011)

Segundo Semíramis (2011), o feminicídio está diretamente ligado às relações de poder, seja físico ou social. Mais uma vez o caráter de Paulo Honório se mostra determinante e precisamente representativo do que seria um perfil sexista, exemplo disso é o trecho que, ao conjecturar a possibilidade de estar sendo traído, ameaça: “Se eu soubesse que ela me traía, matava-a, abria-lhe a veia do pescoço, devagar, para o sangue correr um dia inteiro[20]”:

Analisando relações de poder ligadas à violência, a professora Rita Segato (UNB) observa dois eixos de atuação, relacionados ao agressor, sua vítima e seus pares. No eixo vertical ela inclui a relação assimétrica entre agressor e vítima (pois ele tem mais poder físico e simbólico que ela), enquanto que no eixo horizontal se encontram as relações entre o agressor e seus pares, uma “irmandade masculina” na qual todos trabalham para manter a simetria de suas relações, mesmo que com isso precisem reforçar a assimetria entre agressor e vítima. Nesse sentido, a sociedade patriarcal age para que a agressão contra mulheres seja minimizada em nome do profissional famoso e respeitável, do bom trabalhador, do pai de família ou do amigo incapaz de agredir um mosquito, sendo que nenhum deles hesita em agredir física ou psicologicamente uma mulher que ele considere que está desobedecendo ao modelo de feminilidade vigente e que, a seus olhos, torna-se merecedora de violência. (SEMÍRAMIS, 2011).

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Outra história de São Bernardo que é emblemática é a de Jaqueira. Apesar de não se tratar de um feminicídio, possui total relação com a possessão e a glorificação do agressor, anteriormente mencionada por Semíramis (2011):

Aqui vai, resumido, o caso do Jaqueira. Jaqueira era um sujeito empambado, e os moleques, as quengas de pote e esteira, batiam nele. Jaqueira recebia as pancadas e resmungava:

- Um dia eu mato um peste.

Toda a gente dormia com a mulher do Jaqueira. Era só empurrar a porta. Se a mulher não abria logo, Jaqueira ia abrir, bocejando e ameaçando:

- Um dia eu mato um peste.

Matou. Escondeu-se por detrás de um pau e descarregou a lazarina bem no coração de um freguês. No júri, cortaram a cabeça por seis votos (patifaria). Saiu da cadeia e tornou-se um cidadão respeitado. Nunca mais ninguém buliu com o Jaqueira. (RAMOS, 2001, p. 143-144)


6. Considerações Finais

Após a morte de Madalena, Paulo Honório faz uma reavaliação da sua vida, reflete sobre suas atitudes e o que poderia ter sido diferente caso houvesse tratado sua esposa de outra forma. A angústia que Graciliano Ramos nos deixa ao final do romance é sufocante, mas ao mesmo tempo esperançosa. Se a ficção finda, a experiência de seus personagens continua eternamente, cabendo a nossa sociedade agora dedicar um olhar atento àquelas confissões e tentar mudar esse quadro de opressão.

No trecho em que começa a ser dedicar ao trabalho braçal, tentando ocupar a mente e não pensar na falta da esposa, Paulo Honório diz uma frase que merece especial atenção: “Aquilo era meio de vida, não era meio de morte[21]”. Talvez esse desabafo aparentemente desconexo seja, na verdade, o resumo da mensagem que o presente trabalho visa apresentar.

O amor, assim como o ofício do proprietário de São Bernardo, é meio de vida. Relacionamentos, independente da espécie, tem como fundamento a busca da felicidade em conjunto, a união, o respeito. No momento em que a sociedade impõe padrões de comportamento que subjugam uma das partes, o que era para acrescentar apenas subtrai, fere, torna-se meio de morte.

Graciliano Ramos uma vez disse: “Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela”[22]. Enquanto a igualdade puramente formal continuar sendo a bandeira desta sociedade e enquanto tomarem como fundamento políticas que perpetuam a opressão e a subjugação de determinado grupo, só nos restará, assim como ao autor alagoense, fugir. Todavia, não fugir da luta por melhores condições, mas sim da aparência de justiça, que no final das contas, não é justiça de modo algum.


REFERÊNCIAS

BIAZETTO, Flávia Cristina Bandeca. Ascensão e declínio nas trajetórias dos protagonistas de São Bernardo e Yaka. Revista Crioula – nº 4 – novembro de 2008. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/crioula/edicao/04/Artigos%20e%20Ensaios%20-%20Flavia%20Cristina%20Bandeca%20Biazetto.pdf. Acesso em 5 de jun. 2013.

BRASIL. Ministério Público Federal. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil -  16 de julho de 1934. Disponível em: http://cdij.pgr.mpf.mp.br/noticias/cf-20-anos/particularidades-1934. Acesso em 9 de jun. 2013.

DIAS, Maria Berenice. As mulheres na vida pública. Disponível em: http://www.mariaberenice.com.br/uploads/11_-_as_mulheres_na_vida_p%FAblica.pdf. Acesso em 9 de jun. 2013.

DIAS, Maria Berenice. O dever de fidelidade. Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/artigos/detalhe/22. Acesso em 10 de jun. 2013.

DIAS, Maria Berenice. Adultério, bigamia e união estável: realidade e responsabilidade. Disponível em http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/9522-9521-1-PB.pdf. Acesso em 8 de jun. 2013.

DIAS, Maria Berenice. Nem Amélia, nem Geni. Portal Jurídico Investidura, Florianópolis/SC, 19 Dez. 2000. Disponível em: www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/sociedade/2237. Acesso em 10 Jun. 2013.

FARIA, Daniel. Realidade e consciência nacional: o sentido político do modernismo. História, Franca, v. 26, n. 2, p. 385-405, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v26n2/a19v26n2.pdf. Acesso em 4 de jun 2013.

NUNES, Maria Lúcia da Silva; MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Mulher e Educação e sua representação na obra de Graciliano Ramos. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0531.pdf. Acesso em 5 de jun. 2013.

SEMÍRAMIS, Cynthia. Feminicídio: a morte de mulheres em razão de gênero. 2011. Disponível em: http://cynthiasemiramis.org/2011/08/19/feminicidio-a-morte-de-mulheres-em-razao-de-genero/. Acesso em 7 de jun. 2013.

SEMÍRAMIS, Cynthia. Sobre a cultura do estupro. Revista Fórum: 2013. Disponível em: revistaforum.com.br/blog/2013/04/cultura-do-estupro/. Acesso em 8 de jun. 2013.

SOUZA, Ivone M. C. Coelho de; DIAS, Maria Berenice. Evolução feminina, como se insere na família? Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/artigos/detalhe/16. Acesso em10 de jun. 2013.


Notas

[1] MAIA, Pedro Moacir. Cartas Inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos. Benjamin de Garay e Raúl Navarro. Salvador: EDUFBA, 2008.

[2] BRASIL, Constituição (1934). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1934.

[3] “A palavra zoomorfismo significa ‘animal – forma’, porém é um fenômeno que pode ser abordado sob diversos olhares: tendência de ver características animais nos humanos; tomar forma de animais – como a persistência na iconografia cristã e nos ícones de povos antigos; como representação alegórica de algum rito de sagração real da pré-história e, ainda como animalização do homem no sentido de que o ser humano possa ser colocado em condições ínfimas de subsistência, embrutecendo-o e assim, ser equiparado ao animal...”. (LACERDA, 2007).

[4] Paulo Honório, mais ao final da narrativa, demonstraria outra vez a sua violência com as mulheres ao pensar em agredir Madalena, após uma crise de ciúmes: “O meu desejo era pegar Madalena e dar-lhe pancada até no céu da boca. Pancadas em Dona Glória também, que tinha gasto anos trabalhando como cavalo de matuto para criar aquela cobrinha”. (RAMOS, 1972, p.)

[5] BBC. Caso de menina de 8 anos 'deserdada por família após estupro' gera indignação nos EUA. Disponível em: www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/07/090725_estupro_eua_pu.shtml. Acesso em 09 de jun. 2013.

[6] BBC. Suicídio de jovem forçada a casar com seu estuprador causa protestos. Disponível em: www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/03/120315_amina_filali_rp.shtml. Acesso em: 09 de jun. 2013.

[7] BRUM, Eliane. Todo dia é dia de estupro. Pragmatismo Político: 2012. Disponível em: www.pragmatismopolitico.com.br/2012/07/a-naturalizacao-do-estupro-no-congo.html. Acesso em 09 de jun. 2013.

[8] RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 57.

[9] Ibid., p. 57.

[10] Ibid., p. 48.

[11] Ibid., p. 48.

[12] Ibid., p. 44.

[13] Ibid., p. 57.

[14] Ibid., p. 60.

[15] Ibid., p. 60.

[16] Ibid., p. 88.

[17] RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 86.

[18] RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 95.

[19] “Em 1993, Diana Russell e Jill Radford editaram o livro Femicide, que se tornou referência para os estudos de violência de gênero. Marcela Lagarde posteriormente diferenciou os termos femicídio (a morte de mulheres em geral, uma espécie de feminino de homicídio) e feminicídio, referente às mortes de mulheres causadas e legitimadas por um sistema patriarcal e misógino.

Feminicídio é algo que vai além da misoginia, criando um clima de terror que gera a perseguição e morte da mulher a partir de agressões físicas e psicológicas dos mais variados tipos, como abuso físico e verbal, estupro, tortura, escravidão sexual, espancamentos, assédio sexual, mutilação genital e cirurgias ginecológicas desnecessárias, proibição do aborto e da contracepção, cirurgias cosméticas, negação da alimentação, maternidade, heterossexualidade e esterilização forçadas”. (SEMÍRAMIS, 2011)

[20] RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 150.

[21] RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 72ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 169.

[22] Frase atribuída a Graciliano Ramos, apesar de existirem referências de data ou local do discurso. Retirada da Biografia resumida disponível na internet, através do endereço: http://leituraecinema.blogspot.com.br/2012/01/fraseando-graciliano-ramos.html. Acesso em 11 de jun. 2013.

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Sobre o autor
Ana Carolina Ribeiro Meireles

Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MEIRELES, Ana Carolina Ribeiro. Análise da obra ‘São Bernardo’ de Graciliano Ramos à luz do direito da mulher:: Paulo Honório e a caracterização da opressão de gênero. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4140, 1 nov. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30484. Acesso em: 22 dez. 2024.

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