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Análise da obra ‘São Bernardo’ de Graciliano Ramos à luz do direito da mulher:

Paulo Honório e a caracterização da opressão de gênero

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01/11/2014 às 12:40
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Refletimos acerca da opressão de gênero, com base nas atitudes do personagem Paulo Honório na obra São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos.

Resumo: O propósito deste trabalho é refletir acerca da opressão de gênero, com base nas atitudes do personagem Paulo Honório na obra São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos. O artigo está estruturado de forma a abordar os seguintes temas: cultura do estupro, identidade feminina, educação e emancipação da mulher, dentre outros assuntos pontuais relacionados ao sexismo.

Palavras-chave: Gênero, sexismo, opressão, mulher.


1. Introdução

Considerado um marco da literatura nacional, São Bernardo foi publicado em 1934 durante a segunda fase do Modernismo brasileiro. De acordo com as orientações da época, a obra incorporou a figura do homem interiorano, valorizando o regionalismo e se desprendendo da linguagem rebuscada, típica dos parnasianos.

Com ambientação na cidade de Viçosa - Alagoas, o romance tem início com a auto apresentação do narrador Paulo Honório, proprietário da fazenda que dá título ao romance. Solitário, o protagonista começa a refletir sobre o seu passado e decide escrever um livro, para isso procura a ajuda de especialistas, mas, ao se deparar com uma linguagem extremamente complexa, se impacienta e, sozinho, começa relatar sua história.

São Bernardo foi o segundo romance de Graciliano Ramos, autor alagoano que resumiu sua vida em poucas palavras, dirigidas ao tradutor Raúl Navarro, em 1937[1]:

Os dados biográficos é que não posso arranjar, porque não tenho biografia. Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital, coisas piores e três romances fabricados em situações horríveis – Caetés, publicado em 1933, S. Bernardo, em 1934, e Angústia, em 1936. Evidentemente, isso não dá uma biografia. Que hei de fazer? Eu devia enfeitar-me com algumas mentiras, mas talvez seja melhor deixá-las para romances.

Se o momento literário e a série de desastres a que se referiu Graciliano contribuíram para a construção do romance, o período histórico foi o elemento que consolidou a sua formação, sendo o governo Vargas, de acordo com Daniel Faria (2007), o cenário ideal para a propagação das novas ideias modernistas:

Efeito da ação estatal, que criara condições materiais para a visão adequada da realidade nacional, o modernismo em sua segunda fase se tornara menos destruidor, mais construtivo. A idéia [...] de um modernismo instintivo depois de 1928, tornado corpo e consciência da nação, era diretamente associada ao Estado [...]. Daí, [...], o fato de a poética dos anos 1930 não se pautar por escolas ou movimentos, sendo a própria expressão da realidade, [...]. [...], o Estado garantia a cada autor, individualmente, a livre expressão de sua sensibilidade, além de sustentar a possibilidade da observação direta da realidade, sem as ilusões que teriam marcado o romantismo, as utopias e o liberalismo.

É interessante analisar brevemente a época em que a obra foi publicada. No ano de 1934 houve a promulgação da terceira Constituição brasileira. Esta trouxe avanços significativos na área social, especialmente no que tange aos direitos das mulheres, positivando o voto feminino e a assistência remunerada às trabalhadoras grávidas[2].

Todavia, o desejo de retratar uma realidade distante, especialmente os desmandos dos coronéis no nordeste, afastaram das narrativas da década de 30 o teor de protesto, isso porque, de acordo com Faria (2007), “a ‘realidade’ cultural dos anos 1920 a 1940 foi inventada para ocultar os conflitos da política, seu radical e constitutivo desentendimento”. Explica o autor:

A questão não era tanto a de se imporem normas para a escrita (em casos extremos, a censura estava em ação, mas muitos relatos da época sugerem que os escritores desfrutavam de certa liberdade de criação...), quanto ensinar a ler. “Ler”, no caso, seria procurar em romances ou poesias a parcela de realidade que lhes coubesse. Assim, não era preciso proibir a circulação dos livros de um autor como Graciliano Ramos, bastava ensinar ao leitor que eles discutiam uma realidade social degradada pelo atraso ou pelas intempéries naturais. Num horizonte de leitura assim dirigido, falar sobre a miséria social do sertão não constituía uma ameaça, uma vez que teria sido o próprio Estado quem começara a descer aos porões da realidade nacional. Ou, discutindo os desmandos de “coronéis”, o mesmo Graciliano Ramos poderia estar apenas descrevendo um problema histórico do Brasil, o das oligarquias em fase de superação.

No que tange aos problemas sociais e históricos do Brasil, caberá ao presente trabalho analisar um viés aparentemente secundário na obra do autor alagoense: o olhar do protagonista em relação às mulheres. Não só Madalena, mas também outras figuras femininas a que a narrativa faça menção.

Tratar-se-á agora de algumas pautas feministas à luz de trechos de São Bernardo. Tendo como ponto de partida a agressão a Germana e o assassinato de João Fagundes, ambos praticados por Paulo Honório.


2. O sentimento de posse e a cultura do estupro

O sentimento de posse é uma das características mais marcante de Paulo Honório. Isso fica claro desde sua obsessão pelas terras de São Bernardo à forma com que trata as mulheres. No princípio da narrativa, diz o personagem:

A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que me deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las. (RAMOS, 2001, p. 39).

Ou seja, para o narrador, antes de buscar meios corretos, o importante era saciar seus desejos e intenções. É interessante atentar também para o fato de que o próprio nome do personagem remete a uma atitude exploratória, designando um homem de poucas honras (Paulo = pequeno e Honório = merecedor de honras). (Biazetto, 2008).

No fragmento em que conta como conheceu Germana, podemos notar mais uma vez o tom possessivo e dominante do protagonista:

Até os dezoito anos gastei muita enxada ganhando cinco tostões por doze horas de serviço. Aí pratiquei o meu primeiro ato digno de referência. Numa sentinela, que acabou em furdunço, abrequei a Germana, cabritinha sarará danadamente assanhada, e arrochei-lhe um beliscão retorcido na popa da bunda. Ela ficou-se mijando de gosto.

Depois botou os quartos de banda e enxeriu-se com o João Fagundes, um que mudou o nome para furtar cavalos. O resultado foi eu arrumar uns cocorotes na Germana e esfaquear João Fagundes. Então o delegado de polícia me prendeu, levei uma surra de cipó de boi, tomei cabacinho e estive de molho, pubo, três anos, nove meses e quinze dias na cadeia, onde aprendi leitura com o Joaquim sapateiro, que tinha uma Bíblia miúda, dos protestantes. Joaquim sapateiro morreu. Germana arruinou. Quando me soltaram, ela estava na vida, de porta aberta, com doença do mundo. (RAMOS, 2001, p. 11-12).

No trecho “abrequei a Germana, cabritinha sarará danadamente assanhada, e arrochei -lhe um beliscão retorcido na popa da bunda. Ela ficou-se mijando de gosto”, pode-se notar uma linguagem bem próxima a do Naturalismo, com o uso de zoomorfização[3] e atitudes baseadas no instinto natural. Há aqui a coisificação da mulher, que passa a representar uma res falante, com o único intuito de satisfazer os desejos sexuais masculinos. Tal visão, longe de ser privativa do século passado e da visão coronelista, rondou por muito tempo a mentalidade contemporânea, tendo adeptos até os dias atuais, especialmente no que tange ao abuso sexual.

No início da década de 1970, nos Estados Unidos, o estupro era considerado uma doença, uma anomalia, uma “necessidade” masculina, uma mentira ou culpa da vítima. Esses conceitos foram questionados à medida que os comentários das pessoas nos grupos de sensibilização apresentavam visões completamente diferentes sobre o tema. (SEMÍRAMIS, 2013).

O estupro está conectado ao sentimento de poder, no qual o homem subjuga a mulher por meio da violência sexual. Porém, cabe atentar para o fato de que não só a coação física demonstra essa dominação, mas também o discurso de ódio e posse decorrente do gênero. Exemplo disso é justamente a animalização da mulher, que se torna “cabra”, “galinha”, “vaca”, “égua”, “cachorra”, a vítima perde a essência de ser para regredir ao status de propriedade.

[...] fica nítida a relação de poder: as mulheres não têm vontade própria, sendo consideradas propriedade dos homens. E a respeitabilidade masculina só é obtida na medida em que a mulher pode ser coagida a seguir as regras sociais e obedecer ao pai ou marido. A coação é feita criticando as mulheres que não aceitam se submeterem a essas regras e culpando as vítimas de crimes sexuais. Com medo de serem hostilizadas e violentadas, acabam se submetendo à autoridade masculina para evitar mais violência. (SEMÍRAMIS, 2013)

O fragmento “o resultado foi eu arrumar uns cocorotes na Germana e esfaquear João Fagundes” demonstra uma das consequências trágicas dessa hostilidade: a agressão física.

[...], a forma utilizada para constranger mulheres a se submeter aos homens está no controle do corpo e de sua sexualidade: deveriam ser virgens ou sexualmente recatadas, não deveriam usar determinadas roupas ou frequentar certos locais. E a punição para as que não aceitassem era a legitimação da violência por meio de hostilidade e, em casos extremos, estupro e morte. (SEMÍRAMIS, 2013)

É interessante notar, por ora, o desfecho do relato. Paulo Honório foi preso ao que parece muito mais pelo assassinato de João Fagundes do que pela agressão dirigida a Germana. Como mencionado, à mulher daquela época (e, por que não, da nossa também) cabia a culpa de ter instigado a violência, de não ter se comportado de forma casta, seduzindo dois homens e portanto merecendo a surra que levou[4].

Forçada ao isolamento social, Germana arruína-se (ou a arruínam?), procurando o sustento na prostituição, onde, ao que parece, contrai alguma doença sexualmente transmissível. Tal fim é mais real do que se imagina, a vergonha e o desespero causados pelo estupro, ou até mesmo pela disseminação de comentários preconceituosos que ofendem a honra das vítimas é causa recorrente de suicídios, assassinatos, deserdação e problemas psicológicos.

Em 2009, nos Estados Unidos, por exemplo, uma menina de oito anos foi deserdada pela família após ser estuprada por quatro garotos[5]. Em 2012, no Marrocos, Amina Al Filali, 16 anos, cometeu suicídio após ser obrigada a ficar casada por cinco meses com o homem que a violentou[6]. No mesmo ano, Eliane Brum entrevistou Marie Nzoli, congolesa criadora de uma ONG que trabalha com vítimas de estupro, que relatou:

Os ruandeses e também os ugandenses, mas mais os ruandeses, querem exterminar a população do Kivu do Norte, onde eu vivo, para ocupar o nosso território. Antes, a guerra era com faca, com fuzil. Mas, hoje, além da faca e do fuzil, existe a doença. Eles estupram as mulheres, transmitem a Aids e assim vão nos matando. É um genocídio. E é um genocídio há muito tempo[7].

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Talvez não com tamanha proporção, mas há tantas outras Germanas pelo mundo, arruinadas após a dominação e carentes de voz. Há aquelas que têm como algoz o silêncio, a impossibilidade de denunciar o agressor, que em alguns casos é o próprio Estado. Outras são subjugadas por um inimigo mais velado, o preconceito social. Serão esses tabus que irão exigir da mulher uma postura irrepreensível, voltada ao casamento e à maternidade. Temas também abordados em São Bernardo.


3. O casamento, a maternidade e a identidade feminina

Conquistada a fazenda, tendo ganhado estima da região e com o ativo superior ao passivo, Paulo Honório decide que é hora de constituir uma família — não por amor, como ele deixa claro, “o que sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de São Bernardo[8]”.

Começa então a imaginar como seria a mulher ideal: “Tentei fantasiar uma criatura alta, sadia, com trinta anos, cabelos pretos, mas parei aí[9]”. É interessante notar, mais uma vez, a forma como coisifica a figura feminina, tratando-a por criatura. Característica, aliás, que não é privativa do nosso narrador. Pouco antes no romance, seus amigos também fizeram comentários sexistas: “Excelente aquisição, mulher instruída[10]”, disse João Nogueira, “Até lhe enfeita a casa[11]” gritou Azevedo Godim, além dos elogios que o grupo destinou a “umas pernas e uns peitos[12]”.

Os homens de Viçosa não buscavam uma esposa, mas adquirir pernas e peitos capazes de enfeitar a casa. O que, na opinião de Paulo Honório, nunca lhe veio à cabeça, já que a ele sempre “pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar[13]”. Ao protagonista também não era interessante mulher com “muita tinta no rosto[14]”, mas reconhecia, depois de feitas as exigências, “Perfeito só Deus[15]”.

Ao propor Madalena em casamento, tratou de elencar as qualidades que sua futura esposa deveria ter: “A senhora, pelo que mostra e pelas informações que peguei, é sisuda, econômica, sabe onde tem as ventas e pode dar uma boa mãe de família[16]”. Também importante à mulher (e só a ela), de acordo com Paulo Honório, é a prática religiosa:

Tenho, portanto, um pouco de religião, embora julgue que, em parte, ela é dispensável num homem. Mas mulher sem religião é horrível.

Comunista, materialista. Bonito casamento! Amizade com o Padilha, aquele imbecil. "Palestras amenas e variadas." Que haveria nas palestras? Reformas sociais, ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo. (RAMOS, 2001, p.132-133)

Naomi Wolf (1991, p. 12), em sua obra “O mito da beleza”, comenta acerca dessas exigências e expectativas impostas sobre as mulheres. Um fardo que, infelizmente, não é ficção graciliânica:

Durante a última década, as mulheres abriram uma brecha na estrutura do poder. Enquanto isso, cresceram em ritmo acelerado os distúrbios relacionados à alimentação, e a cirurgia plástica de natureza estética veio a se tornar uma das maiores especialidades médicas. Nos últimos cinco anos, as despesas com o consumo duplicaram, a pornografia se tornou o gênero de maior expressão, à frente dos discos e filmes convencionais somados, e trinta e três mil mulheres americanas afirmaram a pesquisadores que preferiam perder de cinco a sete quilos a alcançar qualquer outro objetivo. Um maior número de mulheres dispõe de mais dinheiro, poder, maior campo de ação e reconhecimento legal do que antes. No entanto, em termos de como nos sentimos do ponto de vista físico, podemos realmente estar em pior situação do que nossas avós não liberadas. Pesquisas recentes revelam com uniformidade que em meio à maioria das mulheres que trabalham, têm sucesso, são atraentes e controladas no mundo ocidental, existe uma subvida secreta que envenena nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle.

Ainda nessa seara, complementa Semíramis (2011):

Na sociedade brasileira, as meninas são treinadas desde a infância em um modelo de feminilidade bastante restrito: devem ser bonitas, sem opiniões fortes, de comportamento (inclusive sexual) discreto quando em público e, em privado, focado em satisfazer o namorado. O prestigio social ocorre através do casamento e, em menor medida, da maternidade, portanto uma mulher que não atenda aos requisitos desse modelo de feminilidade sofrerá pressão para se enquadrar, chegando ao ponto de ser incentivada a sacrificar sua integridade física e psicológica em nome da manutenção do casamento e da família. 

O sentimento de posse de Paulo Honório também fica latente no que tange à maternidade, quando enxerga na companheira um mero receptáculo destinado a gerar seu futuro herdeiro. “Para o personagem, o casamento era um negócio, por isso escolhe sua mulher como quem busca um animal que procriará um descendente com as mesmas qualidades” (Biazetto, 2008):

- Está visto que o casamento para as mulheres é uma situação...

- Razoável, Dona Glória. E até é bom para a saúde.

- Mas há tantos casamentos desastrados... Demais isso não é coisa que se imponha.

- Não, infelizmente. É preciso propor. Tudo mal organizado, Dona Glória. Há lá ninguém que saiba com quem deve casar?

- Quanto a mim, acho que em questões de sentimento é indispensável haver reciprocidade.

- Qual reciprocidade! Pieguice. Se o casal for bom, os filhos saem bons; se for ruim, os filhos não prestam. A vontade dos pais não tira nem põe. Conheço o meu manual de zootecnia.

(RAMOS, 2001, p. 86-87, grifo nosso)

Assim como para o narrador, é vigente na sociedade patriarcal a ideia de que a mulher não só deve se casar, como deve ansiar por isso. Sendo a reprodução uma consequência natural, “zootécnica”. De acordo com Maria Berenice Dias (2001):

A família moderna constitui-se em um núcleo evoluído a partir do desgastado modelo clássico, matrimonializado, patriarcal, hierarquizado, patrimonializado e heterossexual, centralizador de prole numerosa que conferia status ao casal e assegurava a continuidade da família como representante do legado de costumes e tradições da sociedade, as quais se considerava então impensável cambiar. O número de filhos também ligava-se à garantia de perpetuação das individualidades familiares, já que as condições de assistência materno-infantil estavam longe do que de hoje se dispõe. Os ônus para a mãe, absorvida pelos cuidados da prole e frequentes gestações, são fáceis de deduzir. Restavam-lhe os ganhos pelo atestado de fertilidade e capacidade, papel imprescindível à feminilidade daquela época. A educação das meninas era inteiramente voltada para essas funções, em que também se lhes transmitiam os conceitos de idealização da figura da mãe-mulher, em troca da observação incondicional aos ditames sociais autoritários ou da submissão ao marido-autoridade. Tudo se resumia nesse âmbito, em que era introduzida ainda muito jovem.

E complementa em outro artigo:

A monogamia – que é só monogamia para a mulher, [...] – não foi de modo algum um fruto do amor sexual individual, mas uma mera convenção decorrente do triunfo da propriedade privada sobre o condomínio espontâneo primitivo. A constituição da família pelo casamento tem por finalidade a procriação de filhos, que têm de ser filhos do patriarca, pois estão destinados a se tornar os herdeiros da sua fortuna. (DIAS, 2001)

Convém se atentar ainda ao comentário de Dona Glória que, ao ser questionada sobre a causa de sua sobrinha não procurar um marido, melindrou-se e respondeu: “Minha sobrinha não é feijão bichado para se andar oferecendo[17]”. Mulheres não são feijões bichados, nem animais ou propriedades e só a consciência disso é que trará o seu empoderamento e a sua emancipação social.

Assim como a liberdade de amar e o direito de escolher sobre o casamento e a maternidade, a mulher deve ser respeitada também na prática de sua profissão. Todavia, na Viçosa de Graciliano Ramos, o estudo não é sempre bem quisto e Paulo Honório, como se verá adiante, possui opiniões contraditórias a respeito da escolarização da mulher.

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Sobre o autor
Ana Carolina Ribeiro Meireles

Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MEIRELES, Ana Carolina Ribeiro. Análise da obra ‘São Bernardo’ de Graciliano Ramos à luz do direito da mulher:: Paulo Honório e a caracterização da opressão de gênero. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 19, n. 4140, 1 nov. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/30484. Acesso em: 21 nov. 2024.

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